Expedição de 1865 realiza registros históricos de negros e mestiços na Amazônia

MANAUS – Essa é a fotografia de uma mulher negra, sem identificação. Ela não está identificada assim como outras dezenas de negros que foram fotografados em todo Brasil, durante a Expedição Thayer em 1865. A viagem tinha o intuito de provar através de imagens que brancos, negros e índios tinham origens diferentes. O que os membros da expedição não sabiam é que estavam fazendo um registro histórico da presença negra na Amazônia.A expedição organizada pelo professor Louis Agassiz percorreu as cidades do Rio de Janeiro, Belém, Manaus e Tabatinga registrando a presença de negros e mestiços na época. Estes são um dos primeiros registros de pessoas negras da região Norte. Nos dias atuais, as fotos têm um valor histórico inestimável.Os motivosLouis Agassiz era geólogo e zoólogo nascido na Suíça. Ele trabalhou durante 13 anos com pesquisas em paleontologia e glaciologia enquanto era professor na Universidade de Neuchâtel na Suíça. Em 1846 ele chegou aos Estados Unidos com o objetivo de investigar a história natural e a geologia da América do Norte.Agassiz era criacionista e apoiava a poligenia. A poligenia supunha que brancos, negros e indígenas vinham cada um de um antepassado diferente. Diferente do que Darwin tinha suposto sobre o antepassado em comum da humanidade descrito no seu livro “A Origem das Espécies”. Diferente raças seriam classificadas com base em áreas diferentes do globo e seriam dotados de atributos distintos – ideias hoje consideradas parte do racismo científico.Uma das cartas que enviou a sua mãe indicava um pouco sobre esse pensamento. “Todos os empregados domésticos em meu hotel eram homens de cor. Mal posso expressar-lhe o penosa impressão que recebi, especialmente uma vez que a sensação de que eles inspiraram em mim é ao contrário de todas as nossas ideias sobre a confraria do tipo humano e a única origem de nossa espécie… No entanto, é impossível para mim para reprimir a sensação de que eles não são do mesmo sangue como nós”.
Desenho a mão do próprio Agassiz mostrando os tipos humanos e o seu bioma. Esse desenho pertence a introdução do livro “Types of Manking” de Nott & Gliddons no ano de 1851.Em 1865 ele veio para o Brasil comandando a Expedição Thayer. A viagem saiu de Nova York e passou pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Manaus e Tabatinga. Também participaram da empreitada os fotógrafos Augusto Stahl e Walter Hunnwell. A viagem está relatada no livro “A Journey in Brazil”, escrito por ele.Agassiz acreditava que a miscigenação deturpava a humanidade – fruto da criação divina. O naturalista pretendia comprovar, observando escravos e seus descendentes, que negros e brancos, pertenceriam a raças diferentes. Para isso ele fotografou dezenas de pessoas negras em cidades como Rio de Janeiro e Manaus, didaticamente arranjadas para representarem a veracidade de suas teorias.HojePara o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ygor Olinto Rocha Cavalcante, o futuro trouxe uma nova perspectiva para o trabalho que Agassiz fez. “As fotos são um resgate da presença africana na Amazônia. A gente sempre lembra dos índios, dos portugueses e dos italianos na região. De alguma maneira tentamos ignorar a presença negra”, diz.Ygor, que também é mestre em História Social, ressalta que os registros feitos pela  Expedição Thayer mostram um passado de diversidade étnica e cultural negra forte na região. “Elas nos  ajudam a reforçar que a nossa região foi e é negra”, conclui.A constatação do professor encontra apoio em pesquisas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou recentemente dados que mostram que o Pará tem a maior presença de pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas no Brasil. Segundo o levantamento 76,7% dos paraenses se declaram pretos ou pardos. Destes 69,5% se declaram pardos e 7,2% negros. O segundo estado com mais autodeclarantes pretos ou pardos foi a Bahia e em terceiro o Maranhão.
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