Turismo, a vocação natural de Rondônia

Estado oferece atrativos que ainda são pouco explorados.

São muitas as vertentes que circundam o turismo, que representa cerca de 7% do PIB (produto interno bruto) nacional e movimenta uma cadeia produtiva de mais de 50 segmentos.

O Estado tem diversos potenciais turísticos ainda à mercê de se tornarem produtos turísticos mais conhecidos fora do contexto “doméstico”. A natureza majestosa nos parques estaduais e federais, o Pico do Tracoá (ponto mais elevado de Rondônia, no município de Campo Novo), o Vale das Cachoeiras (Nova União), o encontro das águas dos rios Pacaás e Mamoré (Guajará Mirim), o Morro Chico Mendes (Ouro Preto do Oeste), a pesca esportiva no Vale do Guaporé (fronteira do Brasil com a Bolívia) são alguns dos atrativos no campo do ecoturismo.

Entretanto, Rondônia vai muito além. O turismo de negócios, por exemplo, movimenta o interior do Estado com as feiras agropecuárias e outros eventos do gênero que lotam hotéis, restaurantes e favorecem a economia local — do estacionamento de veículos ao transporte — gerando empregos e rendas. Neste mês de maio, aliás, será realizada em Ji-Paraná a Rondônia Rural Show, considerada a maior feira agropecuária do norte do País.

A capital Porto Velho: diversidade. Foto: Júlio Olivar/Arquivo pessoal

Cultura e eventos  

O turismo de eventos e o cultural também têm papel preponderante na economia criativa. Rondônia é pródiga nesta matéria. Na região do Baixo Rio Madeira — principalmente na comunidade de Nazaré — está localizada a partícula mais Amazônica do Estado, com seus folguemos, folclores e manifestações artístico-culturais. No Vale do Guaporé, assistem-se anualmente a Festa do Divino Espírito Santo. Usando embarcações tradicionais a remo — os batelões — bem enfeitadas com os símbolos do Divino, como é o pombo branco, e cobertas de esteiras de bambu, com fitas e bandeiras e cores branco e vermelho, os romeiros percorrem mais de 1300 quilômetros do Guaporé durante exatos 50 dias. As datas variam, mas sempre são no primeiro semestre de cada ano.

Dia de festa na tradicional Capela de Santo Antônio. Foto: Júlio Olivar/Arquivo pessoal

Cacoal é a cidade do interior onde acontecem alguns dos eventos mais badalados. Com o segundo aeroporto mais movimentado do Estado, Cacoal investe em gastronomia, tem uma boa rede hoteleira, produz café premiado internacionalmente, preza a cultura indígena e dispõe do badalado Selva Park, parque aquático e cenário de eventos que mobilizam grandes plateias, como é o tradicional Baile do Havaí.

Em Porto Velho, festa é o que não falta. As casas de shows, bares, teatros e eventos tradicionais estão sempre lotados. O carnaval é dos mais movimentados de todo o norte do Brasil. O bloco “Banda do Vai Quem Quer” atrai mais de 100 mil brincantes. E o arraial Flor do Maracujá garante a preservação das tradições que misturam informações nordestinas — justificando a formação migratória dos tempos dos ciclos da borracha — com elementos da cultura portuguesa. 

Os passeios de barco no Rio Madeira são uma atração à parte. Foto: Júlio Olivar/Arquivo pessoal

Porto Velho 

A capital de Rondônia tem um bom aparato para receber bem o turista — o aeroporto local é o quarto mais movimentado do Norte — e atrativos que vão do antigo ao contemporâneo. O Rio Madeira é um programa à parte; ênfase aos passeios de barco, admirando-se o por do sol a bordo, com direito a muitas histórias, comida regional, botos e uma boa água de coco. O rio é o 17º maior e tem a mais rica ictiofauna do Planeta (com mais de 900 espécies de peixes catalogadas). E falando em peixes, um grande atrativo é gastronomia à base de pescados. Fazem sucesso, entre outros, os peixes tambaqui, o dourado e o pirarucu. O prato oficial de Porto Velho é o “Purarucu Rondon”.

No centro histórico da capital, destaques à praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, às margens do Rio Madeira, onde surgiu a povoação porto-velhense entre 1907 e 1912; o Museu da Memória no antigo Palácio Presidente Vargas (ex-sede do Governo Estadual), o Mercado Cultural com suas serestas, sambas e comidas típicas, a Catedral do Sagrado Coração de Jesus (que tem um museu sacro), as Três Caixas d’Água (iconografia oficial da cidade), a Casa de Cultura Ivan Marrocos (onde também funciona a galeria de artes Afonso Ligório) e o Mercado Municipal que comercializa muitos produtos tipicamente rondonienses — a exemplo do “bacalhau” de pirarucu e artesanatos indígenas.

Perto do centro histórico, vale um passeio pelo histórico bairro do Caiari, admirar os cafés, restaurantes charmosos, a Calçada da Fama, a sede do Consulado Italiano e o casario bem preservado desde a década de 1940.

Porto Velho tem, ainda, o maior teatro do Norte — o Palácio das Artes — , o complexo de lazer Espaço Alternativo — que reúne instalações arquitetônicas e ícones dos monumentos históricos do Estado —, o Memorial Rondon — que dispõe de mais de 400 peças e mantém um mini cinema contando a saga do Marechal Cândido da Silva Rondon, herói nacional e patrono do Estado de Rondônia. Ao lado do memorial está a Capela de Santo Antônio de Pádua, edificação de 1913. 

Interior 

No interior do Estado também há muitas referências a Rondon, a exemplo dos museus da Comunicação, em Ji-Paraná, e Casa de Rondon, em Vilhena. Ainda no viés histórico, vale a pena conhecer o monumental Forte Príncipe da Beira, no município de Costa Marques, construído ainda nos tempos do Brasil Colônia; é a maior obra de Portugal fora da Europa.

Em Presidente Médici, região central do Estado, há o Museu da Arqueologia, muito relevante por contar a história pré-colombiana no que hoje é o território do estado de Rondônia.

O monumental Forte Príncipe da Beira. Foto: Júlio Olivar/Arquivo pessoal

O outro nome de Rondônia poderia ser diversidade. Tudo é grande e muito: arquipélagos, biomas diversos — Cerrado, Amazonas e Pantanal —, rios, dezenas de etnias indígenas, quilombos, fauna e flora riquíssimas, histórias e culturas diversas traduzidas por gente do mundo todo que formou Rondônia, estado cortado pela BR-364 fundada em 1960 pelo presidente Juscelino Kubitscheck, seguindo o traçado das linhas linhas telegráficas abertas pelo desbravador Marechal Rondon, comandante de diversas expedições científico-militares que formataram Rondônia — palavra que significa Terra de Rondon. A terra do indigenista e sertanista três vezes indicado ao Prêmio Nobel da Paz.

O Vale das Cachoeiras, em Nova União. Foto: Júlio Olivar/Arquivo pessoal

Necessidades 

O turismo ainda requer muito para ser profissionalizado. Precisa de ações contundentes e assertivas com mais orçamento público para investimentos em infraestrutura, melhorias e mais voos nos aeroportos regionais, um centro de convenções em Porto Velho, mais estratégias de marketing para colocar Rondônia, definitivamente, na “prateleira” e nas principais rotas da América Latina.

Falta um tanto de dedicação e decisão afirmativa para dizer sim ao setor econômico que mais cresce no mundo. Mas, o certo é que o potencial está aí. À espera dos turistas que amam desbravar e conhecer um Brasil ainda pouco conhecido. 

Sobre o autor

Às ordens em minhas redes sociais e no e-mail: julioolivar@hotmail.com . Todas às segundas-feiras no ar na Rádio CBN Amazônia às 13h20.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Novo grupo de indígenas isolados no Amazonas está sem proteção há mais de um ano

Funai não publica portaria de restrição de uso nem monta base para monitorar isolados; empresa madeireira e de exploração de gás e óleo atuam na região.

Leia também

Publicidade