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Cúpula dos Povos exige soluções reais e alerta para risco de injustiça climática em Belém

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Visão panorâmica do Rio Guamá, que recebeu a barqueata da Cúpula dos Povos. Foto: Zé Netto/Cúpula dos Povos

Enquanto o Palácio das Nações Unidas se prepara para receber chefes de Estado e negociadores da COP30, movimentos sociais e comunidades de base do Brasil e do mundo se articulam de forma autônoma na Cúpula dos Povos Rumo à COP 30.

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Realizado em Belém, o encontro se consolida como a voz de quem está na linha de frente da crise climática, confrontando uma agenda oficial que, historicamente, privilegia o mercado e interesses corporativos em detrimento da vida e dos territórios.

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Barqueata, manifestação que abriu a Cúpula dos Povos.
Foto tirada durante a Barqueata, manifestação que abriu a Cúpula dos Povos. Foto: Ewerton Gomes

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O diagnóstico elaborado pela Cúpula é enfático: a crise climática é, antes de tudo, uma crise de injustiça: racial, social, de gênero e colonial. Para os movimentos, se a COP30 não incorporar a agenda popular, correrá o risco de se tornar mais uma arena de validação de “falsas soluções”.

O alerta recai especialmente sobre o foco em mecanismos de mercado, como a financeirização da natureza, e sobre a ausência de responsabilização pela dívida ecológica acumulada pelos países do Norte Global e pelas grandes corporações. Sem mudanças profundas, afirmam, a Amazônia e demais biomas seguirão submetidos ao avanço do racismo ambiental e à impunidade corporativa.

Imagem registrada na Barqueata, realizada no dia 12 de novembro, durante o manifestação que abriu a Cúpula dos Povos. Foto: Divulgação / Cúpula dos Povos

O enfrentamento passa por romper com o extrativismo insustentável e garantir uma transição energética realmente justa, inclusiva e popular.

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Seis eixos estratégicos

• Territórios e Maretórios Vivos: Defesa da demarcação de terras, da soberania alimentar e do reconhecimento da Natureza como sujeito de direitos.

• Reparação Histórica: Enfrentamento ao racismo ambiental, às falsas soluções e exigência de que a Dívida Ecológica seja paga.

• Transição Justa, Popular e Inclusiva: Superação da era dos combustíveis fósseis e construção de uma democracia energética pautada por saberes populares.

• Contra as Opressões: Articulação em defesa da democracia, do internacionalismo dos povos e contra a extrema-direita e os fundamentalismos.

• Cidades Justas e Periferias Urbanas Vivas: Combate ao racismo ambiental urbano e defesa da democratização do acesso a saneamento e energia.

• Feminismo Popular: Centralidade das mulheres nos territórios e defesa inegociável dos direitos sexuais e reprodutivos.

Saiba mais: Portal Amazônia responde: o que é a Cúpula dos Povos?

Carta Final

O ápice da mobilização será a construção da Carta Final da Cúpula dos Povos, documento que não se limita ao caráter protocolar. A carta nasce como uma ferramenta popular de pressão política internacional, reunindo denúncias, propostas e exigências dos movimentos sociais globais.

Imagem registrada na Barqueata, realizada no dia 12 de novembro, durante o manifestação que abriu a Cúpula dos Povos. Foto: Divulgação / Cúpula dos Povos

Forjado nas lutas e nos debates dos territórios, o texto funcionará como um mandato popular destinado a pressionar governos, corporações e a própria Organização das Nações Unidas (ONU) a romper com negociações climáticas formais e avançar rumo à Justiça Climática e ao Bem Viver.

A mensagem é direta: as soluções para a crise não nascerão das salas fechadas das COPs, mas do poder e da articulação dos povos.

No encerramento da Cúpula, em 16 de novembro, a Carta de Declaração dos Povos, construída por integrantes de mais de 1.100 entidades e movimentos de 62 países, será entregue ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30. Há expectativa de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteja presente na ocasião.

*Com informação da Ascom Operativo Nacional da Cúpula

Bumbá Beat: trio amazonense lança série de toadas eletrônicas; confira!

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Bumbá Beat é formado pelos músicos Viktor Judah (produtor musical), Pedro Kanan (cantor e percussionista) e João Serrão (charango e flautas). Foto: Demi Brasil/Dan Stump 

Formado pelos músicos Viktor Judah, Pedro Kanan e João Serrão, o trio Bumbá Beat propõe uma nova experiência sonora para o universo da toada, combinando tradição, tecnologia e identidade amazônica.

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O Bumbá Beat nasce do encontro entre a cadência da Marujada de Guerra e as atmosferas eletrônicas da música pop contemporânea.

O resultado é uma sonoridade retrofuturista, que mantém o peso rítmico da tradição e o projeta em novas frequências. 

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Sonoridade que une tambores e máquinas

Disponível nas plataformas de áudio o primeiro single da série Bumbá Beat, estreia com a faixa #1 – Kananciuê”, uma releitura retrofuturista do clássico composto por Ronaldo Barbosa em 1995 para o Boi-Bumbá Caprichoso.

A releitura de “Kananciuê” faz uso intenso de percussões típicas do boi-bumbá, acompanhadas por charango e flautas, que ganham novas dimensões ao se misturarem a sintetizadores e texturas digitais.

Mais do que um experimento musical, o projeto nasce da interseção entre as muitas Amazônias. Foto: Demi Brasil/Dan Stump 

“A série Bumbá Beat foi pensada por nós três. A gente se reuniu para realizar esse desejo de trazer o boi-bumbá para uma roupagem mais atual, unindo elementos modernos do pop, mas também resgatando a cadência dos anos 90 do Caprichoso, trazendo um olhar retrofuturista para essas toadas que apaixonaram tanta gente”, explica Pedro Kanan.

A Amazônia que pulsa entre o tambor e o beat

Mais do que um experimento musical, o projeto nasce da interseção entre as muitas Amazônias, da florestal à urbana, e de como elas dialogam no imaginário e na arte de seus criadores. 

O Bumbá Beat reflete a Amazônia que se reinventa nas cidades, nas misturas culturais e nas novas linguagens musicais, sem perder o elo com suas raízes.

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“Temos um profundo respeito pela tradição do boi-bumbá. Esse projeto é resultado do impacto que o Caprichoso teve na nossa musicalidade e concepção artística, misturado com outras referências que chegam nessa Amazônia urbana, que é uma das muitas Amazônias. Buscamos essa conexão entre o ancestral e o contemporâneo”, destaca João Serrão.

O grupo se propõe a expandir as possibilidades da toada para além dos limites do Festival de Parintins, transformando o boi-bumbá em fonte de influência para outras estéticas musicais.

O grupo ‘Bumbá Beat’ se propõe a expandir as possibilidades da toada para além dos limites do Festival de Parintins. Foto: Demi Brasil/Dan Stump 

“O Bumbá Beat é esse espaço que criamos para fazer misturas e ampliar o alcance da toada fora do festival. O projeto não vem mostrar como o boi-bumbá pode ser influenciado por referências de fora, mas sim como essas referências podem ser influenciadas pelo boi-bumbá e desvendar o que podemos esperar dessas outras estéticas quando colocadas em função da toada”, afirma Viktor Judah.

Tradição em movimento

Trinta anos após o lançamento de “Kananciuê”, o Bumbá Beat revisita esse marco sonoro da música amazonense. Com a fusão entre o peso dos tambores e os beats eletrônicos, o trio reafirma que a tradição não é estática, ela pulsa, se move e se mistura, como o som, como o povo, como a própria Amazônia.

O Bumbá Beat é uma série musical criada pelos artistas amazonenses Viktor Judah, Pedro Kanan e João Serrão.
O Bumbá Beat é uma série musical criada pelos artistas amazonenses Viktor Judah, Pedro Kanan e João Serrão. Foto: Demi Brasil/Dan Stump 

O projeto

O Bumbá Beat é uma série musical criada pelos artistas amazonenses Viktor Judah, Pedro Kanan e João Serrão, dedicada a reinterpretar clássicos do boi-bumbá de Parintins sob uma ótica contemporânea. Com uma estética que une o peso da marujada às texturas eletrônicas da música pop mundial, o projeto busca traduzir o diálogo entre o ancestral e o moderno, refletindo a pluralidade da Amazônia Urbana.

Defensoria Pública e Sema assinam protocolo para implementação do Cinturão Verde em Manaus durante a COP30

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O cinturão verde contribui para a redução da temperatura local. Foto: Rafael Aleixo/g1 Amapá

Durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), a Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) firmaram no dia 13 de novembro, um Protocolo de Intenções para viabilizar a implementação do projeto Cinturão Verde em Manaus

Saiba mais: Cinturão verde: o escudo natural contra o calor e a expansão urbana

A assinatura ocorreu no estande das Defensorias do Brasil, na Green Zone, área dedicada ao diálogo com a sociedade civil. Para o defensor público-geral do Amazonas, Rafael Barbosa, o momento é simbólico. “Estamos discutindo justiça climática, que está diretamente ligada à justiça social”, afirmou. 

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Assinatura de Protocolo de Intenções Cinturão Verde - Defensoria Pública e Sema.
A assinatura ocorreu no estande das Defensorias do Brasil, na Green Zone, área dedicada ao diálogo com a sociedade civil. Foto: Thamires Clair

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Barbosa destacou que o apoio da Sema deve acelerar a execução da proposta. “A parceria surge em um momento crucial para o Cinturão Verde e deve contribuir para a definição das áreas beneficiadas pela iniciativa. A secretaria possui técnicos que atuam diretamente com esse tipo de análise”, ressaltou. 

O protocolo também foi assinado pelo secretário da Sema, Eduardo Taveira, que enfatizou a importância de políticas que garantam direitos aos agricultores familiares e ajudem a frear o avanço urbano desordenado em Manaus. 

“A partir de agora, serão identificadas as áreas-piloto, delimitados os territórios e definidas as prioridades para a implementação”, explicou. 

O projeto

O Cinturão Verde é um projeto estruturante da Defensoria, desenvolvido em parceria com o Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA/USP) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

A iniciativa busca promover a sustentabilidade ambiental por meio da segurança fundiária, fortalecendo comunidades rurais e contribuindo para um planejamento territorial mais equilibrado. 

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O Cinturão Verde é um projeto estruturante da Defensoria, desenvolvido em parceria com o Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA/USP) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Foto: Thamires Clair

“A assinatura do memorando de intenções pelo Estado do Amazonas através da Secretaria do Estado do Meio Ambiente é extremamente importante porque o projeto Cinturão Verde tem apontado juntamente com a academia a necessidade da construção de soluções estruturantes para um problema complexo que é a insegurança fundiária”, afirma o titular da Defensoria Pública Especializada em Direitos Coletivos (DPEIC), defensor Carlos Almeida Filho. 

“O apontamento que nós fazemos é que a necessidade de construção de política pública se torna agora muito mais concreta com a entrada do Estado nesse processo. Já temos alinhamento inclusive para estabelecer um plano de trabalho tão logo se encerra a COP e com as parcerias que estamos construindo ao longo dos meses podemos apresentar projetos pilotos para demonstrar a sustentabilidade do nosso modelo”, completa o defensor público.

Ao longo da COP30, a Defensoria tem ampliado articulações com instituições públicas, privadas e organizações internacionais para viabilizar o projeto. A programação inclui palestras e mesas-redondas com pesquisadores, especialistas e representantes da sociedade civil. 

Assinatura de Protocolo de Intenções Cinturão Verde – Defensoria Pública e Sema. Foto: Thamires Clair

Proposto pela Defensoria Pública do Amazonas, o Cinturão Verde visa impulsionar políticas públicas voltadas à regularização fundiária, ao fortalecimento da agricultura familiar e à proteção ambiental. 

A iniciativa parte da premissa de que garantir direitos a quem vive e produz no meio rural é essencial para combater a expansão urbana irregular e preservar o equilíbrio ecológico da região.

Cinturão verde

Um cinturão verde é uma faixa de vegetação preservada, geralmente composta por árvores nativas, que exerce funções ecossistêmicas fundamentais. De acordo com especialistas, essas áreas contribuem para a redução da temperatura local, oferecem sombra natural e melhoram a qualidade do ar. Além disso, agem como barreiras contra a expansão urbana descontrolada, protegendo ecossistemas frágeis e importantes para o equilíbrio climático.

Em tempos de mudanças climáticas e urbanização acelerada, os cinturões verdes se destacam como ferramentas estratégicas para tornar as cidades mais resilientes, sustentáveis e saudáveis. Mais do que áreas de sombra e frescor, são patrimônios naturais que merecem atenção e preservação.

*Com informação da DPEAM

Painel ‘Agro Sustentável’ encerra projeto Expofeira na Rede 2025

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Foto: Divulgação/ Secom-RR

O Painel ‘Agro Sustentável’, parte do projeto Expofeira na Rede da Fundação Rede Amazônica (FRAM), encerra a edição de 2025. O painel está marcado para ser gravado no dia 19 de novembro no auditório da Reitoria da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e a exibição ocorre dia 28 de novembro pelo canal Amazon Sat.

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De acordo com especialista em projetos na FRAM, Denis Carvalho, o painel tem duração prevista de 60 minutos e contará com a apresentação e mediação do jornalista da Rede Amazônica, Luciano Abreu. A proposta é reunir especialistas, gestores públicos e representantes do agronegócio para debater os avanços, desafios e oportunidades da produção agrícola em Roraima, em um momento de expansão das cadeias produtivas e fortalecimento das políticas de inovação e preservação ambiental.

O evento faz parte do conjunto de ações organizadas no projeto para a Expoferr Show 2025, considerado o maior encontro do setor agropecuário de Roraima. A inclusão do painel na programação reforça a importância da aproximação entre academia, produtores e instituições públicas no planejamento de estratégias mais eficientes para o desenvolvimento agrícola no estado.

Carvalho adianta que antes da gravação, ocorrerão duas etapas relacionadas à organização do painel:

  • a visita técnica, marcada para 17 de novembro, às 11h;
  • e a montagem da estrutura, prevista para 18 de novembro, às 13h.

“Esses preparativos visam assegurar a qualidade do conteúdo que será disponibilizado pelo Amazon Sat no dia 28”, afirma o especialista em projeto da Fundação.

expoferr show 2025 em roraima
Foto: Willame Sousa

Painelistas e convidados

Três especialistas compõem o grupo de painelistas convidados para o debate:

  • Aluízio Nascimento, secretário de Atração de Investimentos do Estado de Roraima e ex-secretário de Agricultura;
  • Murilo Ferrari, diretor-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (APROSOJA) em Roraima;
  • e Marcilio Rocha, representante da empresa AMAGGI, empresa de agronegócio responsável pelo corredor hidroviário de escoação dos produtos.

O painel também contará com convidados institucionais: Joel Gomes, diretor executivo na Rede Amazônica em Roraima; Márcio Grangeiro, da Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação do Governo de Roraima; e o professor doutor José Geraldo Ticianeli, reitor da Universidade Federal de Roraima.

Temas em debate

A Fundação Rede Amazônica, organizadora do encontro, informa que o painel pretende discutir de forma ampla como tecnologias inovadoras e práticas sustentáveis podem transformar a produção agrícola regional.

“O encontro vai destacar como a produção agrícola, quando aliada à tecnologia, à inovação e às práticas sustentáveis, pode impulsionar a economia regional, gerar emprego e fortalecer a preservação ambiental. Será um espaço estratégico para debater desafios, oportunidades e caminhos para um futuro mais produtivo e sustentável na Amazônia”, destaca Denis Carvalho.

Os painelistas devem abordar temas como escoamento da produção, infraestrutura, agroindustrialização, energia, governança ambiental e expansão das cadeias produtivas. Parte das discussões também será dedicada ao impacto do Linhão de Tucuruí no estado e às novas possibilidades abertas para a instalação de indústrias e fortalecimento da economia rural.

Leia também: 5 curiosidades sobre os leilões da Expoferr Show 2025

Aluízio Nascimento ressaltou a importância do momento vivido por Roraima e sua experiência no setor: “Estou muito feliz de participar deste painel agro sustentável. Com a minha experiência aqui de 24 anos em Roraima, nós temos, provavelmente, muito a contribuir e aprender também. É um estado jovem […] e agora nós entramos com o advento do linhão numa nova etapa, que é a agro industrialização dos produtos que nós já estamos produzindo aqui”.

Representando a AMAGGI, Marcilio Rocha lembrou sua vivência em diferentes fronteiras agrícolas, mencionando desafios logísticos e avanços tecnológicos.

“O agronegócio tem papel decisivo no desenvolvimento econômico e social, criação de empregos, geração de riqueza para o estado, aproveitamento dos profissionais formados pela academia e desenvolvimento tecnológico”, destacou.

Expofeira na Rede

O projeto Expofeira na Rede é uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio de Amatur, Dois90, Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) e Governo de Roraima.

Ritual de Bilibeu, a resistência do povo indígena Akroá-Gamella

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Povo Akroá-Gamella durante a celebração do Ritual de Bilibeu. Foto: Ana Mendes

Rituais indígenas são manifestações milenares que celebram a vida, os costumes e a conexão entre o mundo espiritual e natural dos povos originários. As práticas consistem em danças, pinturas corporais e diversas práticas de adoração aos deuses e envolvem todos os pertencentes desses grupos.

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No interior do Maranhão, os indígenas da etnia Akroá-Gamella celebram anualmente, no dia 30 de abril, o ritual de Bilibeu, tradicional festa que consiste numa caminhada coletiva que percorre todo o território do grupo, como uma forma de agradecimento ao São Bilibeu, o santo que concede fertilidade à terra e proteção àquele povo. Toda a comunidade indígena se mobiliza na celebração e que dura geralmente quatro dias.

Quem é Bilibeu?

Também conhecido por Bilibreu ou Oracio, Bilibeu é uma entidade cultuada pelo povo Akroá-Gamella e simboliza fertilidade e resistência pela terra. Reza a lenda que Bilibeu foi encontrado durante uma queima de lavoura dentro da área territorial daquele povo, por conta disso, contos antigos remetem o santo como o protetor das terras, o milagreiro da cura e responsável por fecundar as mulheres.

Leia também: Massacre dos Akroá-Gamella: o maior ataque contra indígenas maranhenses

Indígena segurando a representação do santo Bilibeu. Foto: Ana Mendes

O ritual de Bilibeu

Tradicionalmente, o ritual de Bilibeu começa com a busca do mastro enfeitado com frutas e levantado com uma bandeira no topo. Após isso, os indígenas se reúnem para definir quem será a onça, o gato-maracajá e o cachorro-chefe, responsáveis pela coordenação da chamada “corrida dos cachorros de Bilibeu”: a marcha que percorre todas as aldeias do território Taquaritiua.

Caça ao mastro ornamentado de frutas simboliza o início do Ritual de Bilibeu. Foto: Ana Mendes

Pintados de preto-Jenipapo, vermelho-Urucum e preto-carvão, dezenas de corredores incorporados dos “filhos de Bilibeu”, saem em busca de caças como galinhas, patos, porcos e outros tipos oferecidos à entidade. Os caçadores buscam comida e bebida para oferecer ao santo.

“Filhos de Bilibeu” na corrida pela caça dos alimentos. Foto: Ana Mendes

As caças, quando aves, são jogadas para o alto, atiçando os “cachorros” que executam um ritual de presa e morte e sendo estraçalhadas numa disputa de presas. O cachorro vencedor corre, carregando na boca, a cabeça da ave que conquistou.

Garrafas de conhaque ou de cachaça são enterradas no chão para serem encontradas por eles. As caças podem ser também refrigerantes, que são dados às crianças, tidas como os cachorrinhos de Bilibeu.

Ave sendo disputada pelos “cães”, tradição do Ritual de Bilibeu. Foto: Ingrid Barros

Simbologia

De acordo com a lenda, Bilibeu se alimenta através dos seus “cães”, nutridos das oferendas dadas pelos donos das casas.

Na corrida, considerada o ápice do Ritual de Bilibeu, os presentes do santo são jogados aos ares ou enterrados para que os cachorros, com suas patas, encontrem.

Dono de casa com sua oferenda aguardando a passada dos “cachorros de Bilibeu”. Foto: Ingrid Barros

Durante todo o ritual, os indígenas dão voltas, jogam água em si mesmos, se amontoam ao chão, rolam, se lambuzam de terra e lama, emitem grunhidos e latidos. E é assim que a festa preserva, dentro de suas características, um ritual no qual os brincantes, ao pintar seus corpos, dar seus gritos e piques, se reencontram com uma identidade silenciada por décadas.

Indígenas Akroá-Gamella se molhando durante o ritual de Bilibeu. Foto: Ingrid Barros

Contos antigos relatam, ainda, que a corrida dos cachorros de Bilibeu também representa um rito de passagem para as crianças Akroá-Gamella.

Criança pintando adulto para o início da celebração do Ritual de Bilibeu. Foto: Ingrid Barros

Celebrada antigamente no período do carnaval, a data do ritual se remete ao ano de 2017, quando o povo Akroá-gamella sofreu o pior massacre da sua história.

Leia também: Teia de Povos e Comunidades Tradicionais: carta lembra massacre dos Akroá Gamella e destaca retomada do território

Na ocasião, pistoleiros, grileiros e fazendeiros da região de Viana atentaram violentamente contra o grupo indígena, resultando em mais de vinte feridos, fato que ficou conhecido como o “Massacre dos Akroá-gamella”.

Após a corrida, é realizado um momento de cantorias ao som dos maracás para Bilibeu e João Piraí. À noite, a sentinela na casinha de reza representa, simbolicamente, o adoecimento, a morte e a ressurreição de Bilibeu. O ritual é finalizado com a derrubada do mastro.

Portal Amazônia responde: quem são os mateiros?

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Mateiros nas expedições científicas. Foto: José Mederios/Arquivo/Revista O Cruzeiro, 1951

O contato do ser humano com a floresta precisa ser mantido e equilibrado. E esse é um dos papeis dos mateiros, pessoas que conhecem o comportamento da natureza desde a infância.

Eles são verdadeiros profissionais da floresta, formados pelo conhecimento geracional, que sabem reconhecer rastros, identificar espécies dentro da mata, compreender os ciclos da natureza e navegar por territórios desconhecidos com a sabedoria ancestral.

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De acordo com o projeto “Mateiros do Brasil”, do Museu da Pessoa, os mateiros são pessoas que conhecem a floresta como ninguém. A maioria dessas pessoas são de povos originários, como os indígenas, quilombolas e ribeirinhos, que adquiriram suas habilidades por meio dos ensinamentos de seus ancestrais. 

Foto: Reprodução/Mateiros do Brasil/Museu da Pessoa
Foto: Reprodução/Mateiros do Brasil/Museu da Pessoa

Mateiros: os guias da floresta

Os mateiros sabem interpretar os sinais da mata, prever mudanças climáticas, encontrar água e alimentos e produzem medicação natural através dos recursos da floresta. Guiam turistas, cientistas em expedições pela natureza, além de serem fundamentais para ações de conservação ambiental.

Nas expedições da época de colonização no Brasil, de acordo com o artigo Luta e labor nas matas do interior: os mateiros na expansão da fronteira colonizadora do Brasil na primeira metade do século XX‘, de Sandro Dutra, esses indivíduos exerciam múltiplas funções nessas viagens científicas.

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Atuavam como guias nas selvas brasileiras, mas também exercendo funções que exigiam tanto esforço físico quanto habilidades aprendidas no roteiro expedicionário, como coletar espécimes, auxiliar na localização de recursos naturais e transmitir seus conhecimentos sobre os ecossistemas locais.

No trabalho de coleta e observação dos naturalistas, contribuíam de maneira prática para o avanço do conhecimento científico, especialmente nas áreas da botânica, da zoologia e da geografia.

No artigo, Sandro explica que, nas plantações de cacau no sul da Bahia, no período colonial, o mateiro também é descrito como “contratista”, que consistia em um tipo de relação de trabalho acordado no qual o contratado deveria derrubar e queimar as áreas de mata, podendo usufruir da terra para o plantio de roça de subsistência.

“Os mateiros são agentes históricos associados à concepção de frente de expansão ou de fronteira que avança sobre os recursos naturais disponíveis no território brasileiro, de forma distinta tanto histórica quanto ecologicamente”, afirma Sandro no artigo.

O mateiro também era considerado como um sertanista, isto é, um explorador dos sertões e das matas brasileiras.

Mateiro nas expedições científicas. Foto: José Mederios / revista O Cruzeiro, 1951.

Reconhecimento dos saberes dos mateiros para a ciência

Apesar de carregarem tamanha sabedoria, esses conhecimentos não eram valorizados. Mas, cientistas, pesquisadores e acadêmicos começaram a reconhecer o ensino dos mateiros para a ciência.

No projeto “Mateiros do Brasil”, do Museu da Pessoa, há relatos de mateiros que participam da ciência acadêmica.

Entre eles, Edilson Consuello de Oliveira, que vive no Acre e colaborou com instituições como o The New York Botanical Garden e a Universidade Federal do Acre (UFAC).

Ele enfatiza que seu saber geracional auxilia cientistas a identificarem novas espécies e a compreenderem melhor o comportamento da mata.

“A nossa floresta é uma farmácia completa e uma biblioteca para quem a quer estudar”, disse o mateiro para o Museu da pessoa.

*Com informações do Museu da Pessoa e do artigo “Luta e labor nas matas do interior: os mateiros na expansão da fronteira colonizadora do Brasil na primeira metade do século XX”, de Sandro Dutra

Governo anuncia que fechou parceria para expandir energia renovável na Amazônia

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Acordo quer eliminar pobreza energética e fortalecer bioeconomia local. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O governo brasileiro e a Global Energy Alliance for People and Planet (GEAPP) firmaram neste sábado (15), em Belém (PA), uma parceria de cinco anos para expandir o acesso à energia renovável nas regiões mais isoladas da Amazônia. O anúncio ocorre em meio à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

O acordo tem como objetivo eliminar a pobreza energética, além de fortalecer a bioeconomia e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.

Leia também: Brasil precisa transformar promessas em ações práticas na COP30, alertam pesquisadores

Uma fase piloto do projeto começou este ano com o investimento da GEAPP de US$ 3 milhões. A meta é triplicar esse valor nos próximos três anos através de captação adicional de fundos.

A parceria com o governo federal tem duas frentes: apoiar políticas públicas para ampliar o acesso à energia e à geração de renda; financiar projetos piloto e oferecer suporte técnico e regulatório.

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Tecnologia

Na prática, o sistema de energia renovável funciona a partir de microgrids, que são uma rede de distribuição de energia com uma ou mais fontes de geração.

No caso do projeto na Amazônia, serão plataformas solares comunitárias com baterias. A equipe do GEAPP realiza estudos prévios, como o diagnóstico energético da comunidade, para dimensionar corretamente as demandas e que tipo de equipamentos são necessários.

“Vamos construir e instalar sistemas solares com baterias, um pouco maiores que os sistemas individuais. Assim, eles poderão abastecer atividades geradoras de renda, dia e noite. A energia excedente será armazenada para permitir que a produção continue mesmo no período noturno”, explica Luisa Valetim Barros, que lidera a GEAPP no Brasil.

Leia também: Entenda a diferença entre os tipos de fontes de energia na Amazônia

Pessoas chegam na entrada da área da Green Zone (Área Verde), na COP30. Belém/Pará/Amazônia/2025. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Pessoas chegam na entrada da área da Green Zone (Área Verde), na COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Depois da instalação, o controle dos microgrids fica totalmente com a comunidade. Líderes comunitários recebem treinamento técnico básico de manutenção.

A equipe da GEAPP, junto com a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), visitou diferentes comunidades para entender necessidades locais e identificar potenciais produtivos.

“A ideia é que o sistema seja associado à comunidade. Eles serão treinados para fazer manutenção básica. O que for mais avançado contará com apoio técnico das distribuidoras”, disse Luisa Barros.

“Havia comunidades sem necessidade de uso produtivo comunitário, então seguimos para outra. Perguntamos se queriam ampliar a produção de açaí, colocar no mercado, ou se havia áreas para irrigação agrícola”, complementou

O foco principal está na chamada Amazônia profunda — áreas sem acesso à rede elétrica — especialmente nos estados de Amazonas, Pará e Roraima, incluindo comunidades indígenas.

Inclusão social

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silva, destacou que a parceria representa um marco na combinação entre inclusão social e compromisso climático.

“O Brasil está mostrando que é possível combinar inclusão energética, responsabilidade climática e oportunidade econômica. Esta parceria com a Global Energy Alliance reforça o compromisso nacional de levar energia renovável e universal a todas as famílias brasileiras. Estamos transformando a ambição climática em ação concreta”, disse o ministro.

O diretor-executivo da GEAPP, Woochong Um, reforçou que o acordo vai muito além da infraestrutura elétrica.

“Temos orgulho de firmar esta parceria para transformar energia limpa em oportunidade para comunidades em toda a Amazônia. Isso vai além da eletricidade — trata-se de dignidade, meios de subsistência e um futuro justo para cada família. O que construirmos na Amazônia pode se tornar um modelo de eletrificação equitativa e crescimento inclusivo em toda a América Latina e além”, disse.

Após a COP30, o tema seguirá em destaque no 2º Workshop Energias da Amazônia, previsto para dezembro em Manaus. O encontro reunirá autoridades, concessionárias e parceiros internacionais para discutir resultados dos leilões de sistemas isolados e novos projetos de eletrificação limpa em comunidades remotas.

*Com informações da Agência Brasil

Por que jacarés e crocodilos são parecidos?

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Jacaré-açu. Foto: Sebastian Viczara

Os jacarés são animais muito conhecidos no Brasil, especialmente por habitarem rios, lagos e igarapés de regiões como a Amazônia e o Pantanal. Apesar de sua aparência imponente e do comportamento que inspira respeito, muitas pessoas ainda confundem o jacaré com o crocodilo, outro réptil semelhante, mas que pertence a um grupo diferente.

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Ambos são parentes próximos, mas eles apresentam características distintas que os diferenciam na aparência, no comportamento e até na forma como caçam e se alimentam, dependendo do habitat. Essas diferenças são resultado da evolução e da adaptação de cada espécie ao ambiente em que vivem no mundo todo.

O jacaré, no Brasil, pertence à família Alligatoridae (encontrados nas Américas), enquanto o crocodilo faz parte da família Crocodylidae (distribuído na África, Ásia, Américas e Austrália). Essa separação taxonômica já indica que, embora compartilhem um ancestral comum, seguiram caminhos evolutivos distintos ao longo de milhões de anos.

Leia também: Jacarés X crocodilos: três diferenças entre esses predadores tão parecidos

No Brasil, todas as espécies encontradas são jacarés — o crocodilo não é nativo do país. Eles desempenham papel essencial nos ecossistemas aquáticos, controlando populações de peixes e outros animais, além de contribuírem para o equilíbrio ambiental.

Aparência e características físicas

Uma das formas mais simples de diferenciar os dois é observando o formato do focinho. O jacaré possui um focinho mais largo e arredondado, em forma de “U”, enquanto o crocodilo apresenta um focinho mais estreito e pontudo, semelhante a um “V”.

Essa diferença anatômica influencia a alimentação de cada espécie: os jacarés tendem a esmagar presas de casca dura, como tartarugas e caramujos, enquanto os crocodilos têm mordidas adaptadas para capturar peixes e mamíferos de porte médio.

Outro detalhe importante está nos dentes. Quando os que são encontrados no Brasil fecham a boca, apenas os dentes superiores ficam visíveis; já nos encontrados fora do país, os dentes da parte inferior também aparecem, criando a impressão de um sorriso “denteado”. Isso ocorre porque o maxilar inferior do crocodilo é mais largo e se ajusta de maneira diferente ao superior.

A coloração da pele também é um indicativo. O jacaré costuma ter uma tonalidade mais escura, variando entre o verde-oliva e o marrom, o que o ajuda a se camuflar em águas turvas e vegetações densas.

O crocodilo, por sua vez, apresenta uma coloração mais clara e esverdeada, ideal para ambientes de água salgada ou mista, onde costuma viver.

Distribuição e comportamento

Além disso, os jacarés preferem águas doces e calmas, como rios e lagoas, enquanto os crocodilos são encontrados tanto em água doce quanto salgada, podendo se adaptar melhor a diferentes tipos de ambientes. Essa característica faz com que crocodilos sejam mais amplamente distribuídos no mundo.

Os jacarés são amplamente distribuídos pela América do Sul e América do Norte. No Brasil, existem seis espécies conhecidas, sendo o jacaré-açu (Melanosuchus niger) o maior representante. Ele pode atingir até 6 metros de comprimento e é encontrado principalmente na Amazônia. Outras espécies, como o jacaré-do-pantanal (Caiman yacare) e a jacaretinga (Caiman crocodilus), habitam áreas alagadas do Centro-Oeste e Sudeste.

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Imagem colorida mostra jacaré a esquerda e crocodilo a direita
Fotos: Jean Beaufort e Public Domain

Os crocodilos, por outro lado, estão mais presentes em regiões tropicais da África, Ásia e Oceania. O maior deles é o crocodilo-de-água-salgada (Crocodylus porosus), que pode ultrapassar 7 metros de comprimento e é considerado o maior réptil vivo do planeta.

Comportamentalmente, os jacarés costumam ser menos agressivos que os crocodilos, embora ambos sejam predadores eficientes. Os encontrados no Brasil preferem caçar à noite e permanecer imóveis durante o dia, camuflados entre galhos e vegetação aquática. Já os de fora tendem a ser mais territoriais e reagem mais rapidamente diante de ameaças.

Importância ecológica e conservação

Ambos exercem papel fundamental na manutenção dos ecossistemas aquáticos. Eles controlam populações de peixes e outros animais, evitando desequilíbrios ambientais. Além disso, ao abrir trilhas e cavidades na lama, contribuem para a circulação da água e o crescimento de plantas aquáticas.

Apesar de sua importância ecológica, muitas espécies enfrentam ameaças devido à caça ilegal, destruição de habitat e poluição dos rios. No Brasil, o jacaré-açu esteve em risco de extinção nas décadas passadas por causa da extração de couro. Atualmente, programas de conservação e fiscalização ambiental têm ajudado a recuperar suas populações em várias regiões.

COP30: Aquecimento acelera enquanto resiliência do sistema terrestre diminui, indica relatório

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Relatório foi apresentado na COP30, em Belém (PA). Foto:

Os cientistas do clima estão mais preocupados do que nunca, afirma Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático, da Alemanha. O cientista sueco, que propôs o conceito de limites planetários para definir as margens seguras para a pressão humana sobre processos ambientais essenciais para a estabilidade do planeta, tem chamado a atenção, com diversos outros pesquisadores, para novas evidências científicas que indicam que o aquecimento global está acelerando, enquanto a resiliência do sistema terrestre diminui.

“Estamos em apuros. O planeta está mostrando os primeiros sinais de redução da capacidade de amortecer e resfriar o estresse que estamos causando por meio de nossas emissões de gases de efeito estufa. Estamos nos aproximando rapidamente do ponto de inflexão e precisamos agir mais rápido do que temos feito até agora”, disse Rockström em palestra de inauguração do Pavilhão da Ciência Planetária, no primeiro dia da COP30.

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Um relatório coordenado pelo pesquisador, lançado em setembro, indicou que sete de nove limites da segurança planetária já foram ultrapassados. Entre eles, as mudanças climáticas, a integridade da biosfera, o uso do solo, o uso de água doce, os ciclos biogeoquímicos (nitrogênio e fósforo) e a introdução de novas entidades (como produtos químicos e plásticos).

Agora, um novo relatório elaborado por 70 renomados cientistas de 21 países – entre eles do Brasil –, que foi lançado oficialmente durante a COP30, aponta que os sumidouros naturais de carbono do planeta – entre eles as florestas tropicais – estão atingindo limites críticos, absorvendo menos emissões que as esperadas, enquanto décadas de mudança climática têm debilitado sua capacidade.

Leia também: Florestas tropicais não estão se adaptando rapidamente às mudanças do clima, alerta estudo global

Até o oceano, outro sumidouro vital de carbono e calor, está absorvendo menos dióxido de carbono (CO2), enquanto intensas ondas de calor marinhas devastam os ecossistemas e os meios de subsistência costeiros.

“O planeta inteiro está apresentando sinais de diminuição na capacidade de absorção de carbono”, disse Rockström, que é membro do conselho editorial do relatório. “A maior preocupação, com base nos dados atuais, reside nas regiões temperada e boreal e na zona do permafrost [solo congelado em regiões muito frias que retém gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono]”, disse Rockström.

De acordo com dados compilados para o relatório, os ecossistemas do hemisfério Norte começaram a indicar, a partir de 2016, uma redução na capacidade de absorção de carbono.

“Isso está ficando muito preocupante porque sabemos que muitas áreas da parte brasileira da floresta amazônica já deixaram de ser sumidouros e se tornaram fontes de carbono, mas a mesma coisa está acontecendo com as florestas temperadas e boreais”, ponderou.

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Remoção de dióxido de carbono

A ampliação da remoção de dióxido de carbono (CDR, na sigla em inglês) é necessária para complementar – e não substituir – cortes rápidos nas emissões, ponderam os autores do relatório.

O desenvolvimento de diretrizes internacionais robustas e o apoio à pesquisa e à inovação são essenciais para preencher a lacuna de CDR e apoiar tanto as metas de curto prazo quanto a estabilidade climática de longo prazo, garantindo, ao mesmo tempo, salvaguardas ambientais e sociais, apontam.

“As políticas climáticas mais ambiciosas discutidas hoje visam reduzir as emissões em 45% até 2030 e ter uma economia mundial com emissões líquidas zero até 2050, mas ninguém está cumprindo essa meta. Se não ampliarmos a CDR, teremos que descarbonizar a economia global até 2040”, apontou Rockström.

Segundo o cientista, mesmo com as melhores atualizações das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) pelos países, será possível conseguir reduzir as emissões globais em 5% até 2035. Mas as evidências científicas mostram que esse ritmo não será suficiente, ponderou.

“Na verdade, precisamos reduzir as emissões em 5% por ano, e não por década. É isso que a ciência nos diz para, no mínimo, desviar do perigo”, sublinhou.

Pessoas em frente a fachada do pavilhão, chegam para participar de plenárias na COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Pessoas em frente a fachada do pavilhão, chegam para participar de plenárias na COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Subsídio para as negociações das COPs

O relatório é fruto de uma iniciativa da Future Earth, da Earth League e do Programa Mundial de Pesquisa Climática, que todos os anos reúnem alguns dos principais cientistas do clima de todo o mundo para analisar as descobertas mais urgentes na pesquisa sobre mudanças climáticas. Os resultados são apresentados em um artigo acadêmico revisado por pares e um relatório de ciência e política para oferecer uma síntese aos formuladores de políticas e à sociedade em geral para subsidiar as negociações das COPs.

“Espero que as conclusões do relatório estimulem o senso de urgência nos formuladores de políticas para que comecem a agir com base nas descobertas científicas”, disse Deliang Chen, professor da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e um dos autores da síntese.

O relatório é complementar aos publicados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mas com algumas diferenças, comparam os autores.

“Analisamos, todos os anos, os dados científicos do ano anterior que mostram evidências relacionadas às mudanças climáticas e sintetizamos isso em uma mensagem muito clara e direta. Esperamos que isso funcione de forma muito mais eficiente para a formulação de políticas e, de fato, subsidie as ações que serão tomadas e as negociações”, disse Regina Rodrigues, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das autoras da publicação.

O relatório 10 New Insights in Climate Science 2025/2026 pode ser acessado em AQUI.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por Elton Alisson 

Comércios de cidade do Acre devem parar de vender bebidas alcoólicas a indígenas, recomenda MP

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Imagem de Manfred Richter por Pixabay

Os proprietários de estabelecimentos comerciais em Feijó, no interior do Acre, vão precisar deixar de vender bebidas alcóolicas para indígenas. Isto é o que recomenda um procedimento do Ministério Público do Acre (MP-AC), publicado no início desta semana.

De acordo com o documento, a medida busca proteger as comunidades originárias de “graves impactos sociais, sanitários e culturais decorrentes do alcoolismo, especialmente as de recente contato”.

No Diário Oficial do MP da última segunda-feira (10), a promotora de justiça Giovana Kohata de Toledo Postali Stachetti detalhou que, além da venda, a doação ou qualquer forma de disponibilização de bebidas alcoólicas para indígenas serão proibidas.

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A proibição também vai valer para álcool 70% e produtos com álcool que não são destinados para o consumo humano.

O MP afirmou que o descumprimento implicará responsabilização penal e determinou ainda um reforço da fiscalização em todos os estabelecimentos comerciais de Feijó, para impedir a venda ou facilitação do consumo de bebidas por indígenas.

A promotora pede que as Polícias Militar e Civil atuem instaurando Termo Circunstanciado ou Inquérito Policial sempre que houver indício de infração, assegurando a responsabilização dos envolvidos conforme o Estatuto do Índio.

Além disso, solicitou a vereadores e lideranças indígenas que observem e informem ao Ministério Público do Acre caso percebam que as recomendações estão sendo descumpridas.

“Cabe especialmente às lideranças locais divulgar os efeitos nocivos do alcoolismo e promover a conscientização de suas comunidades, atuando como agentes fundamentais na defesa da saúde, da cultura e da integridade social dos povos originários”, disse ela.

Relatos

A decisão da magistrada levou o relato de lideranças durante a reunião no dia 23 de maio de 2025, onde participaram representantes do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), da Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira (OPIRE) e do Núcleo de Apoio e Atendimento Psicossocial (NATERA/Projeto TXAI).

O Grupo Rede Amazônica entrou em contato com a prefeitura da cidade acreana e com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas para saber se há um posicionamento do órgão quanto à proibição e aguarda retorno.

municpio de feijo no acre
Feijó, cidade do Acre. Foto: Marcos Vicentti/Secom AC

Leia também: Pesquisadores de Tocantins desenvolvem novo método para detectar metanol em álcool combustível

Proibição para menores

Em 2016, entrou em vigor uma lei que proíbe a venda de bebida alcoólica a indígenas menores de 18 anos em estabelecimentos do município de Manoel Urbano, também no interior do Acre.

A lei também proibia a venda de fumo e dizia que os vendedores ficavam obrigados a pedir o documento de identificação do comprador.

Além disso, os locais onde há a venda de álcool e cigarro devem fixar, em local visível, placas e cartazes alertando para a pena de 6 meses a dois anos de prisão para quem adquirir, usar e disseminar bebida alcoólica a indígenas.

*Por Hellen Monteiro, da Rede Amazônica AC