Cartunista, escritor, quadrinista e roteirista: conheça a trajetória do parintinense Romahs Mascarenhas

Nascido em Parintins, município do interior do Amazonas, o artista conta sua história, como entrou nos Estúdios Maurício de Souza e dá dicas aos iniciantes na área.

Artistas do Norte do país, em especial do Amazonas, sempre tiveram dificuldades em ter projeção nacional pelos mais diversos fatores, desde falta de investimentos ao isolamento geográfico.

Ainda assim, a região é uma verdadeira fábrica de produções artísticas, com cada vez mais profissionais tendo destaque Brasil a fora. E, para compreender como é possível alcançar tal projeção, o Portal Amazônia conversou com o parintinense Romahs Mascarenhas: cartunista, escritor, quadrinista e roteirista dos Estúdios Maurício de Souza.

Ilustração por Romahs da obra Gato, Garoto, Gaivota, de Beatriz Mascarenhas. Arte: Romahs Mascarenhas/Acervo pessoal

Quem é Romahs?

Rogério Lima Mascarenhas nasceu em 9 de março de 1971, no município de Parintins, no Estado do Amazonas. Desde a infância o artista já gostava do universo dos desenhos.

“Como todo artista, primeiramente fui um consumidor da arte que pratico”,

conta o cartunista.

Escrever, desenhar, roteirizar, muitas são as habilidades artísticas exigidas de um quadrinista. E, foi justamente como quadrinista que Mascarenhas começou no mundo das artes.

Fã inveterado de todos os tipos de produção cultural – quadrinhos, cinema, literatura, séries, desenhos animados e até vídeo games -, sua trajetória no mundo das artes começou justamente a partir de suas paixões.

Percebendo seu talento para o desenho ainda quando criança, seus rascunhos logo viraram personagens, que só estariam completos com suas próprias histórias. No entanto, até o seu primeiro emprego como desenhista, Romahs trilhou um caminho árduo.

“Eu comecei no mundo das artes, primeiramente, saindo de Parintins para estudar em Manaus. Me empreguei como ilustrador freelancer para agências de publicidade, escritórios de designers, ilustrador de livros para editoras. Até meu primeiro emprego como desenhista do Jornal do Norte, nos anos 90, como chargista e ilustrador”,

relata o autor.

Desde seu primeiro emprego, Mascarenhas trabalhou, no decorrer de mais de 20 anos, em quase todos os jornais de Manaus, sendo o último o jornal A Crítica, no qual mantém uma tirinha diária chamada ‘Bia e Luli’, em homenagem às suas duas filhas.

Quando perguntado a respeito de suas inspirações, o cartunista destacou: “Maurício de Souza; os quadrinhos Disney; desenhos animados da Hanna Barbera; quadrinhos de super-herói. Em especial o arte finalista Alfredo Alcala, que finalizava as obras do Conan. Gostava, no estilo cartoon, dos franceses Urdezo e Goscinny, que faziam o Asterix”. E outra referência nacional de destaque para ele é Laerte, famosa cartunista brasileira.

No decorrer dos anos, Romahs já concorreu ao prêmio HQ Mix com a obra ‘A última flecha’, produzida em parceria com o roteirista Emerson Medina. Já como escritor, concorreu ao prêmio Jabuti com a obra ‘Todos os meus gatos de volta’.

Roteirista dos Estúdios Maurício de Souza

A história que levou Romahs a roteirizar para os Estúdios Maurício de Souza começa no “clube dos quadrinheiros de Manaus”, um clube de aficionados por quadrinhos, que, como Mascarenhas, produziam suas próprias histórias e fanzines (revistas em quadrinhos feitas por fãs, baseadas em outras séries já existentes), chegando a comercializar suas obras.

 

“Eventualmente, conseguimos chamar a atenção de uma editora, aqui de Manaus, que publicou uma graphic novel com as melhores histórias extraídas das nossas fanzines. E tinha bastante material meu lá”,

relembra o artista.

Um tempo após a publicação, algumas das graphic novels acabaram nas mãos de Sidney Gusman, o ‘Sidão’, um dos maiores nomes dos quadrinhos brasileiros, e consequentemente, nos Estúdios Maurício de Souza, onde ele trabalhava.

“Na época o ‘Sidão’ estava organizando uma antologia em homenagem aos 50 anos do Maurício, o MSP 50, em que vários artistas de renome dos quadrinhos brasileiros pegavam personagens da Turma de Mônica e refaziam, do seu jeito. A primeira edição fez tanto sucesso que encomendaram uma segunda, pegando artistas de outros lugares. O Sidney lembrou da graphic dos quadrinheiros, me achou por lá e entrou em contato comigo me convidando para o projeto”,

relata.

De maneira icônica, o primeiro projeto de Romahs para o estúdio foi uma história que explicava como a Mônica adquiriu seu fiel companheiro, o coelhinho de pelúcia Sansão.

Já no lançamento desta antologia, que ocorreu em São Paulo, o artista descobriu que poderia trabalhar como roteirista sem morar na cidade, e assim ele fez. E não parou aí. Seguindo o legado do pai, Beatriz Mascarenhas, filha de Romahs, tornou-se a segunda amazonense nos Estúdios Mauricio de Souza.

Dificuldades de um artista do Norte

O isolamento geográfico, principalmente do Estado do Amazonas, por muito tempo foi um grande empecilho para a divulgação artística em escopo nacional, daquilo que é produzido no Norte.

Como destaca Romahs, antes do advento das tecnologias, principalmente da internet e da globalização, era ainda mais difícil “furar esta bolha”. As produções, principalmente de quadrinhos, estavam relacionadas com as regiões mais centrais do país.

Segundo ele, apenas com muito talento e esforço era possível para um artista adquirir reconhecimento ao nível nacional.

“As dificuldades para os artistas já foram maiores, antigamente tínhamos um ‘complexo de ilha’. Nossos quadrinhos não tinham muita penetração fora daqui. A gente foi furando a bolha, como em ‘A última flecha’, que lancei com o Medina, concorrente do HQ Mix. Foi a primeira obra do Amazonas a ser indicada a maior premiação dos quadrinhos brasileiros”,

evidencia Romahs.

Capa do livro “A última flecha”, em sua versão em inglês, de Medina e Romahs. Arte: Romahs Mascarenhas/Acervo pessoal

Por mais que esse panorama tenha melhorado, com o advento da internet, o cartunista destaca que ainda é difícil atingir o público de fora de região, principalmente pela arte daqui ser visto como “regional”, independente do estilo ou gênero da história. Entretanto, o artista afirma que atualmente “as oportunidades são para todos”.

Dicas para novos artistas

A afirmação é em função das facilidades de acesso proporcionadas pela internet. Tanto para estudos, quanto para se aventurar em trabalhos que podem, inclusive, serem produzidos para fora do país.

“Hoje, as distâncias se encurtaram. Essa geração nova de quadrinistas é mais “cara de pau”, cresceram com uma facilidade para o entrosamento e para a comunicação muito maior, com a internet, com a globalização. A dica que eu dou é: se aprimore, não seja preguiçoso. Faça sempre o seu melhor. Toda vez que sentar para fazer um quadrinho, dê o melhor de si, o melhor que você conseguir fazer”.

comenta.

Foto: Romahs Mascarenhas/Acervo pessoal

Novos projetos

Após o lançamento de dois livros, nos últimos dois anos (‘Todos os meus gatos de volta’, que concorreu ao prêmio Jabuti de literatura, e mais recentemente a obra pseudoautobiográfica ‘O menino que morava no poste’), Romahs destaca seu enfoque em voltar a produção de quadrinhos.

Sobre seus novos projetos, há um com sua filha Beatriz Mascarenhas para uma editora francesa, no qual ambos são corroteiristas de uma história Sci-fi; e outro para uma editora estadunidense, em parceria com Emerson Medina, que será lançado na L.A Comic Con – evento geek que ocorre em Los Angeles entre 1 à 3 de dezembro.

Capa do livro “Todos os meus gatos de volta”, de Romahs . Arte: Romahs Mascarenhas/Acervo pessoal
*Diego Fernandes, estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar
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