A retirada de vegetações como samaúma e jatobá para a produção comercial do açaí impacta o ecossistema e a produtividade da floresta amazônica.
É fato que o açaí faz parte do dia a dia e da cultura dos amazônidas. A exemplo dos estados do Amazonas e do Pará, existem pessoas que consomem diariamente a polpa da fruta. O açaí possui vários benefícios nutricionais, rico em antioxidantes e fibras, além de um alto valor energético.
Esses fatores, além do sabor inigualável – há quem discorde – contribuíram para que o consumo da fruta se expandisse, nos últimos anos, para outras regiões brasileiras, em especial sul e sudeste. Após a comercialização nacional, não demorou muito para que outros países importassem o nosso açaí.
Contudo, o crescimento exponencial da produção comercial do açaí através de monoculturas pode estar ameaçando a biodiversidade amazônica, segundo um estudo publicado em 2021. O Portal Amazônia explica esse fenômeno que vem sendo conhecido como açaização.
Do Pará para o mundo
O estado do Pará é o maior consumidor interno e maior exportador do açaí (polpa congelada). De acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), nos últimos dez anos houve um aumento de quase 15 mil % em exportações do açaí (14.380% exatamente). São 5.397 toneladas vendidas para fora do país anualmente.
Outro órgão que contribui com dados do açaí é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que constatou o aumento de 15% do consumo do açaí a cada ano, com destaque para a região sudeste. Já fora do país, os maiores consumidores são os Estados Unidos e Japão.
Para conseguir atender a essa demanda que só tende a crescer, a área plantada teve que ser expandida, de 77,6 mil para 188 mil hectares em 10 anos, ainda segundo a Fiepa.
Porém, essas monoculturas de açaí trazem impactos sobre a floresta de várzea, de acordo com recente estudo publicado na revista Biological Conservation que analisou 47 áreas de várzea na foz do Rio Amazonas.
Açaização
O açaizeiro (Euterpe oleracea) é uma planta de área de várzea acostumada com sol e água e que precisa de muitos nutrientes que vem de outras espécies de plantas que trazem a matéria orgânica da terra.
Quando outras vegetações, como samaúma e o jatobá, são desmatados e retirados da vegetação para dar lugar aos açaizeiros, esses nutrientes absorvidos pela planta diminuem, e reduz também insetos polinizadores, essenciais para a produção de açaí.
Esse fenômeno de retirada da vegetação em torno dos açaizeiros ficou conhecido como “açaização da Amazônia” uma vez que impacta o ecossistema e a produtividade da floresta.
No estudo fica evidente que o aumento da demanda do mercado levou a uma mudança florística e estrutural na floresta de várzea.
Quantidade significa qualidade?
Consumidores do açaí, a população em geral e até mesmo alguns agricultores podem acreditar que uma maior quantidade de açaizeiro garante uma melhor colheita. Mas isso não é um fato. De acordo com o doutor em biologia vegetal e um dos autores do estudo Madson Freitas, o volume e a qualidade dos frutos é melhor com a preservação da floresta, garantindo que os serviços ambientais funcionem adequadamente.
Ou seja, quantidade nesse caso não significa qualidade. Além disso, a determinação máxima da estipes (troncos) da planta é de 400 touceiras (conjunto de plantas) por hectare. Contudo, a pesquisa mostra que existem lugares com até mais de mil touceiras por hectare.
Alternativa sustentável
Uma das alternativas seria o manejo sustentável dos açaizeiros. Um dos lugares que possui essa proposta sustentável é o Centro de Referência em Manejo de Açaizais Nativos no Marajó, ou Manejaí, projeto desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O o projeto promove a formação dos agricultores ribeirinhos nas técnicas de produção de baixo impacto do açaí.