Parque Nacional da Serra do Divisor: ecoturismo atrai turistas do mundo todo ao Acre

Belezas naturais de oito cachoeiras catalogadas, trilhas, piscinas naturais e um mirante no topo da serra encantam turistas e pesquisadores que visitam a unidade de conservação.

O Parque Nacional da Serra do Divisor, no Acre, é o ponto mais ocidental do Brasil. Ele atrai olhares do mundo todo por ter, em seus 837 mil hectares preservados, a beleza e a diversidade de pássaros, borboletas, árvores endêmicas e cachoeiras que encantam os visitantes.

Situado na região do Juruá, um dos maiores biomas do planeta, é também o quarto maior parque nacional brasileiro e possui uma comunidade consciente do seu valor, incluindo as duas etnias indígenas, Naua e Nukini, que são completamente integradas às famílias ribeirinhas que vivem ao longo do Rio Moa.

Foto: Pedro Devani/Secom AC

Buraco Central

Beleza à parte, o rio cheio de curvas que abraça o parque nacional possui corredeiras, cachoeira que deságua direto no afluente e uma queda d’água um tanto inusitada, pois surgiu por uma interferência humana e se tornou um dos grandes atrativos turísticos da região: o Buraco Central, utilizado como ‘ofurô’ pelos banhistas.

Com cerca de 600 metros de profundidade, o buraco foi cavado há mais de seis décadas pelo Conselho Nacional do Petróleo, que atualmente é a Petrobras. A prospecção visava o petróleo, mas a riqueza descoberta no local foi água, muita água, que jorra com tanta força que não permite que o banhista afunde. A profundidade alcançou o lençol freático e a água que sobe de lá tem a temperatura bem diferente das águas frias do rio e cachoeiras da região.

“Esse lugar é incrível, é a terceira vez que venho ao parque e todas as vezes entro no Buraco Central porque a água é quentinha e relaxante, parece ser água termal”, disse a turista Rosy Souza, 25.

Os turistas chegam ao Buraco Central com facilidade, por estar a menos de 200 metros da margem do rio – a 15 minutos de barco das pousadas localizadas no parque – e entram um por vez para experimentar o exótico ‘ofurô’. 

Trilhas e cachoeiras são indicações para relaxar em uma imersão à natureza 

 O casal Raimundo Silva e Aline Bezerra escolheu a Serra do Divisor para comemorar um ano de casamento. Moradores de Cruzeiro do Sul, eles saíram em uma sexta-feira da cidade e percorreram meia hora de estrada até Mâncio Lima (município que abriga 34% do parque), onde já havia um barco à sua espera, para transportá-los até o Parque Nacional da Serra do Divisor.

Após oito horas de viagem pelos rios Japiim e Moa, com o bônus de contemplar as belezas típicas da Amazônia, o casal desembarcou no Pé da Serra, a última comunidade do ponto mais ocidental do Brasil. É lá que os turistas se hospedam, local que atualmente possui três pequenas pousadas, próximas dos principais pontos turísticos. Raimundo e Aline se hospedaram em um chalé de casal na Pousada do Miro, mas levaram barraca para pernoites dentro do parque.

Eles contam que estavam em dúvida sobre o destino escolhido, mas que valeu cada momento em que ficaram no paraíso serrano. “A Serra do Divisor é um lugar aconchegante, para quem procura paz e conhecimento também. Meu marido é biólogo, então para ele está sendo muito especial passar estes dias aqui”, disse Aline.

Sair do estresse da zona urbana e se conectar à natureza é algo muito prazeroso, segundo Raimundo, que recomendou a Cachoeira do Ar Condicionado como um dos pontos que os turistas não podem deixar de conhecer: “É uma cachoeira belíssima, bastante alta, que te leva a um momento de muita paz e sossego. Foi o local que mais gostamos de visitar”, reforçou.

Cachoeira do Amor 

Com menos de 1km de caminhada, maior parte dela com os pés dentro de uma água cristalina, o turista chega à Cachoeira do Amor. A trilha é uma das mais bonitas a ser visitada. Desde o comecinho já se pode ouvir o barulho da queda d’água, que por sinal, é a mesma que percorre todo o caminho por onde o turista pisa.

Cachoeira do Amor possui trilha curta e maior parte do caminho é percorrido por água e pedras. Foto: Marcos Vicentti/Secom AC

Mirante da Serra, o topo mais alto do parque 

A trilha ao lado da Cachoeira do Amor é a que sobe para o Mirante da Serra, onde está o topo mais alto do parque, com 609 metros de altura. É um dos pontos mais visitados, com uma trilha bem íngreme, de 1,2km. Apesar da distância relativamente curta, a trilha exige muito fôlego de quem resolve se aventurar por ela. A recompensa é uma bela vista de todo o Parque Nacional da Serra do Divisor.

É possível fazer os dois passeios em uma única manhã. A recomendação dos guias locais é para que o turista suba até o mirante primeiro e depois desça para pegar a trilha ao lado e relaxar na Cachoeira do Amor.

Cachoeira Formosa, a escolhida para acampar 

Aos que preferem um pouco mais de aventura, o parque possui outros atrativos, como a Cachoeira Formosa, que pode ser contemplada após 14km de trilha dentro da floresta.

Por ser mais distante que as demais cachoeiras, os turistas têm duas opções: sair muito cedo da pousada para ir e voltar no mesmo dia, ou levar barraca e comida para acampar no local e retornar no dia seguinte.

Ao todo, são oito cachoeiras para explorar dentro do parque: Ar Condicionado, do Amor, Pedernal, Pirapora 1, Pirapora 2, Grande, Mapinguari e Formosa. 

Novos pontos turísticos 

O Parque Nacional da Serra do Divisor foi criado há 30 anos e sua grande biodiversidade deixa pesquisadores convictos de que há muito ainda a ser descoberto no local, inclusive novas cachoeiras.

O território do parque está distribuído nos municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Porto Walter, Santa Rosa do Purus e Marechal Thaumaturgo, e faz fronteira com o Peru. “Há evidências de grandes descobertas a serem feitas, principalmente na região do parque que cobre Mâncio Lima. Recentemente tomamos conhecimento de um lago até então desconhecido, dentro de uma elevação de serra”, destacou o secretário de Meio Ambiente e Turismo do Município de Mâncio Lima, Rosaldo Marques.

O lago foi visto por meio de uma foto de satélite, há menos de um ano. Ainda não se sabe qual a dimensão dele, mas está a cerca de 5km da fronteira com o Peru, dentro do município de Mâncio Lima. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, é quem administra o parque. Pesquisadores já estão em tratativa com o órgão para que um estudo mais aprofundado sobre o lago seja autorizado.

Além do lago, uma caverna com aproximadamente 15 metros de diâmetro, próximo à comunidade Pé da Serra, foi descoberta, porém, não é de fácil acesso e nem está liberada para o turismo, ainda, por questões de segurança.

Comunidade Pé da Serra, a guardiã da riqueza natural 

O turismo no Parque Nacional da Serra do Divisor está em plena expansão. De uns três anos para cá, os seis barqueiros que atuavam transportando turistas ao paraíso natural se transformaram em 16. “Já recebi turistas da França, Bélgica, Argentina, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia. Do Brasil, recebi muitos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Mas, do Acre mesmo, passei a receber recentemente, eram poucos os que vinham aqui antes”, disse o guia turístico Edmilson Cavalcante, que já foi proprietário de uma pousada na Serra.

Edmilson é um dos guias mais experientes do local. Ele conta com orgulho que o parque em que mora com a sua família é muito rico em “turismo de passeio e turismo de pesquisa”, mas esse valor a comunidade aprendeu a reconhecer com o tempo, depois de cursos e ações que qualificaram os profissionais da região para a condução dos turistas e visitantes em espaços naturais ou áreas legalmente protegidas.

“Aprendemos a proteger o meio ambiente, a valorizar o patrimônio natural que temos. Aqui dentro do parque as nossas famílias são as guardiãs de toda essa riqueza”, destaca. Ao todo, 97 famílias habitam no parque. Entre elas estão as famílias das etnias Nukini e Naua. 

Turismo de base movimenta economia local 

Muito querido na comunidade, Agimiro Magalhães, mais conhecido como Miro, é um grande incentivador do turismo na região. Há 20 anos ele tem uma pousada que leva o seu nome, a primeira do parque. Antes disso, trabalhava como guia turístico de pesquisadores, logo que o parque foi criado. “Eles vinham pesquisar a variedade de morcegos, borboletas, cobras, lagartos e abelhas. Temos também uma variedade de plantas típicas da região, como as bromélias gigantes, que conhecemos como abacaxi brabo, por causa da semelhança com o abacaxi”, explica.

A pesquisa leva um tempo considerável em campo e, como os pesquisadores não tinham onde ficar, Miro acabava abrigando-os em sua casa. Foi quando teve a ideia de abrir uma pousada. 

A visão empreendedora e de ecoturismo que Miro possui recebe o incentivo do governo do Estado do Acre, por meio de ações que, somente na atual gestão, já levaram mais de R$ 445 mil ao parque, entre valores investidos e em andamento, por meio de ações relativas ao turismo de base comunitária.

“Esse modelo proporciona para as comunidades a continuidade da atividade econômica, porque nele a comunidade é o principal ator das ações de turismo. Com isso, temos dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor um grande atrativo turístico, não somente pelos investimentos feitos pelo governo, mas pelo compromisso que o modelo gera com a comunidade. O governo atua como fomentador do processo e não como mantenedor. Isso tem sido o diferencial para o avanço do ecoturismo na região”, explica o secretário de Empreendedorismo e Turismo do Estado, Jhon Douglas Silva.

O secretário anunciou que o próximo investimento do governo no parque será um projeto de ampliação das pousadas, em parceria com o Sebrae e o Banco da Amazônia. O Estado oferecerá o projeto sustentável de ampliação das três pousadas. 

1º Festival Gastronômico Sabores da Serra do Divisor 

Algo que se comenta muito sobre a Serra do Divisor é a culinária local. Por causa de um café regional bem farto, almoço e janta que têm os sabores típicos da Serra, o dono da Pousada do Miro inscreveu o projeto do 1º Festival Gastronômico Sabores da Serra do Divisor na Lei Aldir Blanc, que recebe o apoio do governo do Estado, por meio da Fundação Elias Mansour (FEM).

O projeto foi aprovado com o valor de R$ 40 mil, investidos em tendas, locação de barcos, material publicitário, contratação de mão-de-obra e outros serviços para a realização do festival. Além da culinária, o evento mostrou um pouco da cultura amazônica, com apresentações de danças e rituais de comunidades indígenas e, ainda, a produção do artesanato local.

A chef de cozinha Vanessa Pinheiro falou um pouco sobre os pratos que escolheu para o festival: “Começamos o dia com o nosso café da manhã bem regional, com a tradicional baixaria [pão de milho, carne moída, ovo frito, tomate e cheiro verde], mingau de banana, banana frita, bolo de macaxeira e outras iguarias. Depois, no almoço, oferecemos piau na folha da bananeira, galinha caipira, risoto de porco e feijoada da serra”.

Vanessa disse que o resultado do festival foi muito positivo para atrair turistas e difundir a cultura local. Cerca de cem pessoas estiveram presentes no festival, realizado nos dias 2 e 3 de abril, e a ideia é realizar novos eventos a partir desta experiência. “Estamos pensando em fazer o Festival da Pesca, com a participação da comunidade e de turistas, ainda este ano”, anunciou. 

Resgate da cultura indígena 

Presente no evento, um grupo da Aldeia Nukini fez apresentação de músicas e danças indígenas, realizou pinturas na pele e expôs artesanatos. O vice-líder da etnia, Txane Pistyani, disse que aceitou o convite para participar do festival com muita alegria, pois para ele o evento é uma oportunidade de valorização do canto e da floresta.

“A Serra do Divisor é um lugar muito importante para nós, somos um povo daqui e nossos ancestrais também são. Poder participar de eventos como esse, mostrando um pouco da nossa cultura para quem nos visita é algo muito valoroso e mostra também que possuímos uma conexão de comunidades, unidas em um só pensamento de preservação da natureza. Essa aliança de amizade é muito significativa para o nosso povo”, enfatizou.

A equipe da Assistência Social do Município de Mâncio Lima também esteve no festival com um projeto solidário voltado para as mulheres da comunidade. Elas receberam diversos atendimentos de beleza, como corte de cabelo, design de sobrancelha e serviço de manicure.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pará perde Mestre Laurentino; artista completaria 99 anos em janeiro de 2025

Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

Leia também

Publicidade