Estudo aponta presença de elementos químicos em regiões do rio Tapajós

Trabalho detectou a presença de poluentes inorgânicos, também chamados ânions inorgânicos, presentes em pontos de Santarém e Itaituba

“A investigação dos indicadores de qualidade é de vital importância para avaliar o comportamento das espécies químicas que podem agredir o meio ambiente e a saúde humana”. Assim começa o artigo Quantificação de Ânions Inorgânicos em Regiões Antropizadas do Rio Tapajós, no Estado do Pará, Brasil, publicado recentemente na Revista Virtual de Química, que trata de uma pesquisa realizada em pontos do rio Tapajós para verificação da presença de poluentes químicos nas águas, em áreas de intervenção humana no meio ambiente.

A pesquisa foi liderada pelo professor Arthur Abinader Vasconcelos, do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em parceria com os pesquisadores Kelson Faial e Bruno Santana, do Instituto Evandro Chagas, e com a participação de outros professores da Ufopa.

O trabalho teve como objetivo investigar a presença de poluentes inorgânicos, também chamados ânions inorgânicos, presentes em pontos selecionados para coleta no rio Tapajós, a partir de ações antrópicas, ou seja, com a intervenção humana no meio ambiente.

Foto: Fabíola Musarra

Esses ânions são substâncias químicas que podem apresentar certas afinidades com componentes de nosso sistema biológico, como o nitrato, que pode gerar a chamada “doença (ou síndrome) do bebê azul” ou meta-hemoglobinemia, que afeta o transporte de oxigênio no corpo pela oxidação do ferro Heme presente na hemoglobina.

Destacam-se também outros ânions no estudo, como o cloreto, que pode causar problemas dermatológicos e estomacais; o fosfato e o sulfato, que podem afetar os rins.

A coleta das amostras da água do Tapajós foi realizada no baixo Amazonas, no Oeste do estado do Pará, nas cidades de Santarém e Itaituba. Foram três regiões envolvidas na pesquisa: em Santarém, a orla da cidade e a comunidade de Pajuçara; e, em Itaituba, a orla daquele município. De acordo com o professor Arthur Vasconcelos, os locais foram escolhidos, entre outras razões, por serem regiões populosas por onde o rio Tapajós corre. “Trata-se, exatamente, da região que concentra o maior aquífero de água doce do planeta, o aquífero do Tapajós”, destacou.

O pesquisador apontou a importância do estudo devido à não existência de registros dos parâmetros relacionados à contaminação de esgoto doméstico a partir de elementos químicos como o fosfato, o sulfato ou ácido sulfônico, que podem estar presentes em detergente e shampoo. Outros elementos são o cloreto e o nitrato, que podem estar presentes devido às áreas de agricultura, nas quais são usados produtos químicos. “O trabalho se deu em determinar esses parâmetros de nitrato, cloreto, sulfato e fosfato nas amostras de água em 12 pontos amostrados de cada região de estudo”, disse Vasconcelos. 

 Resultados

A região I, da orla de Santarém, teve as maiores concentrações de nitrato, apresentando algumas residências e a presença de esgotos despejados no rio. O esgoto de áreas urbanas é uma das causas mais comuns da poluição com nitrato nos rios, de acordo com relatório agroambiental da União Europeia.

Na região II, em Pajuçara, foram encontrados os maiores valores de concentração para o sulfato. Alguns pontos também indicaram a presença de fosfato em valores mais elevados. “Os altos valores de fosfato, possivelmente ocorrem devido ao depósito de esgoto doméstico no rio, pois estão localizados na região limítrofe da cidade de Santarém”, como aponta o artigo publicado.

Na orla de Itaituba, que corresponde à região III, apenas em dois pontos coletados se detectou a concentração do nitrato. Segundo o artigo, “o fluxo do rio nessa região é bastante intenso além disto, os valores não encontrados na maioria das amostras nesta região possivelmente representam a presença de atividade microbiana”.

Na conclusão do trabalho, o fluxo das embarcações é apontado como um possível responsável por parte dessa contaminação. Segundo o professor, “algumas embarcações podem ocasionalmente despejar efluente semelhante àquele despejado de uma residência. Resíduos de detergentes e alimentos podem contribuir para a presença destas substâncias”.

Além disso, o fenômeno de eutrofização, que é o excesso de nutriente no ambiente aquático, principalmente o fósforo, e possível presença de resíduos de defensivos agrícolas despejados no rio podem ter influenciado os resultados obtidos.

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