VÍDEO: Conheça a história do rio que ferve na Amazônia Peruana

O que causaria o fenômeno? Para responder a pergunta, o geocientista Andrés Ruzo passou a investigar e tentar encontrar o local de onde o mito poderia ter saído.

Quando criança, Andrés Ruzo, nascido no Peru, ouvia da avó casos sobre a conquista dos espanhóis na Amazônia. As histórias contavam que depois que os conquistadores mataram o último imperador inca, eles adentraram profundamente na Floresta Amazônica em busca de ouro. Muitos morreram e os poucos que voltaram contavam histórias de cobras gigantes, fome, doenças e um rio fervente.

Ruzo cresceu, se tornou geocientista e passou a estudar fenômenos geotérmicos no mundo inteiro. Entretanto, aquela história nunca saiu da cabeça. Afinal, seria possível mesmo existir um rio fervente? O que causaria o fenômeno? Para responder a pergunta, ele passou a investigar e tentar encontrar o local de onde o mito poderia ter saído. 

“Perguntei a colegas da Universidade, ao governo, à companhias de petróleo, gás e mineração, e a resposta sempre foi um unânime ‘não'”, dizia o geocientista em seu perfil no Medium, em 2016. Para ele, a resposta faria total sentido já que não existia nenhuma atividade vulcânica a menos de 700km e geralmente esses fenômenos estão associados a isso.

Entretanto, ao conversar com os familiares sobre a desapontadora ideia, a tia de Ruzo disse já ter ido até o lugar: “Não, Andrés, já estive lá. Eu me banhei neste rio”. E seu tio confirmou: “Não é mentira. Só é possível nadar nele depois de uma chuva forte e o lugar é protegido por um poderoso xamã”.

A revelação o levou a adentrar a Amazônia Peruana, assim como fizeram os espanhóis. Ele percorreu mais de 700km junto com a esposa e um guia, e eles chegaram até uma foz onde desaguava um rio mais largo que uma rua de duas vias. O guia pediu que Andrés colocasse a mão dentro d’água ao passar pelo encontro dos rios. “A água ficava cada vez mais quente enquanto adentrávamos o rio”, comenta.

Eles encostaram o barco na margem e caminharam durante duas horas até começarem a ouvir um som como de ondas baixas. “Que som é esse? Eu perguntei ao guia, que levantou os olhos para mim e sorriu: o rio”. Ao se aproximar mais, Andrés se deparou com o que tanto procurava.

Foto: Sofia Ruzo

A temperatura do rio era próxima de 86ºC. O rio flui quente dessa maneira por 6,24 km e sua largura ao longo do seu curso é geralmente mais larga que uma rodovia. É possível encontrar piscinas termais e cascatas de mais de seis metros de altura. Uma cortina de vapor d’água cobre boa parte desse percurso.

O xamã na beira interrogou Andrés sobre suas motivações por trás de conhecer o rio. Com sua permissão ele passou a investigar e buscar dados ao entorno da pergunta que o levou a ir atrás deste rio. Se o rio existe, o que causa esse estranho fenômeno?

Foto: Sofia Ruzo

Porque o rio ferve? 

Fenômenos como esse tem três explicações possíveis:

  1. É criado por causa de alguma força magmática vulcânica;
  2. São águas geotérmicas trazidas para a superfície das profundezas da terra;
  3. É produzido pelo homem. 

Andrés sabia que algumas técnicas de exploração de petróleo podiam muito bem causar o fenômeno e que havia perto daquela região alguns poços abandonados de petróleo.

Felizmente, depois do estudo, em meados de 2016, ficou comprovado que o caso é de origem geotermal. 

“A água pode vir das geleiras dos Andes e, após ser filtrada nas profundezas da Terra, brota fervendo, aquecida pelo gradiente geotérmico, tudo graças a uma situação geológica única”,

diz Andrés. Entretanto, essa hipótese não foi confirmada.

Foto: Delvin Gandy

Apesar de todos esses estudos, diz Ruzo, uma pergunta permanece: Qual é o significado do rio fervente? “Para o xamã, é um local sagrado. Para o geocientista, é um fenômeno geotérmica único. Para madeireiros ilegais e criadores de gado, é apenas mais um recurso para explorar. Para o governo peruano, é apenas mais um trecho de terra desprotegida pronto para o desenvolvimento. Meu objetivo é garantir que quem controla esta terra entenda o significado e a singularidade do rio em ebulição”.

“A questão é nós definirmos a importância. Somos nós, nós temos esse poder. Chamamos a linha entre o sagrado e o trivial. Nesta época em que tudo parece mapeado, medido e estudado, nesta era da informação, eu quero lembrar a todos que as descobertas não são feitas apenas no vazio negro do desconhecido, mas sim, no ruído branco dos dados. Resta muito a explorar. Vivemos em um mundo incrível. Então, saia, seja curioso! Porque nós vivemos em um mundo onde os xamãs ainda cantam para os espíritos da selva, onde os rios fervem, e onde as lendas vêm à vida”, finaliza. 

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