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Pesquisadores disponibilizam novo mapa de erodibilidade dos solos do Brasil

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Área do município de Gilbués (PI) afetada pela erosão hídrica. Foto: Reprodução/Embrapa.

A Embrapa lançou uma nova versão do mapa de erodibilidade dos solos do Brasil, que expressa a capacidade do terreno de resistir ao desgaste provocado pela água da chuva. A erosão hídrica é um dos principais fatores de degradação das terras em escala global. Estimar a sua ocorrência permite ao País, entre outras aplicações, apoiar a implementação de políticas públicas de controle do problema, com foco no desenvolvimento econômico sustentável no meio rural, por meio do fomento e da adoção de práticas de conservação de solo e água.

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Museu dos solos da Amazônia. Foto: Divulgação

A erodibilidade dos solos é influenciada, exclusivamente, pelos chamados atributos intrínsecos do solo, como a composição granulométrica, estrutura, conteúdo de carbono orgânico na camada superficial, permeabilidade, profundidade efetiva do solo e a presença ou ausência de camada compactada e pedregosidade. Portanto, para a elaboração do mapa de erodibilidade dos solos do Brasil não foram considerados os fatores extrínsecos aos solos, como clima, relevo e cobertura vegetal.

O novo mapa está na escala 1:500.000, compatível para usos em nível estadual ou de grandes bacias hidrográficas. Nele, os solos de todo o País foram classificados, a partir de uma avaliação semiquantitativa, quanto à sua erodibilidade em seis classes: muito baixa, baixa, média, alta, muito alta e extremamente alta, sendo que cada classe está relacionada a um intervalo de valores correspondentes ao índice de erodibilidade do solo, o chamado de fator K.

“O novo mapa nacional de erodibilidade dos solos tem potencial para ser utilizado em diversos estudos pela comunidade acadêmica, além de apoiar a implementação de políticas públicas, especialmente na seleção de microbacias hidrográficas em nível estadual ou regional. Muitos programas estaduais de conservação de solo desenvolvidos no País levaram em consideração a suscetibilidade do solo à erosão hídrica a fim de selecionar áreas prioritárias para ações de conservação e recuperação dos solos”, explica Maurício Rizzato, pesquisador da Embrapa Solos (RJ), que coordenou os trabalhos.

De acordo com ele, os dados que deram suporte à elaboração do mapa são oriundos de levantamentos pedológicos publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na escala 1:250.000.

solos
Foto: Claudio Capeche (voçoroca em área do estado do Mato Grosso)

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O mapa de erodibilidade e suas respectivas informações técnicas estão disponíveis para consulta pública na plataforma da Infraestrutura de Dados Espaciais da Embrapa (GeoInfo) – veja links no quadro 1. Os dados são apresentados por meio de um sistema de informações geográficas (SigWeb). 

Uma publicação editada pela Embrapa também traz todos os detalhes técnicos sobre a metodologia e os resultados alcançados pela equipe que desenvolveu o novo mapa de erodibilidade dos solos do Brasil.

Metodologia utilizada para construção do mapeamento

A equipe utilizou para o estudo a interpretação especialista das 8.143 unidades de mapeamento de solos (UMs) do Mapa de Solos do Brasil do IBGE, publicado na escala 1:250.000 e lançado em 2018, atribuindo valores de 1 a 6 para cada componente das UMs.

“Esses valores representam a suscetibilidade dos solos à erosão hídrica, sendo que o valor 1 corresponde à classe de suscetibilidade muito baixa, e os demais valores às classes, baixa, média, alta, muito alta e extremamente alta, respectivamente. Foram avaliados até o quarto componente de cada ‘UM’, quando presentes, calculando-se a média ponderada de seus valores”, detalha Rizzato.

Para esse cálculo, segundo o pesquisador, a equipe utilizou uma estimativa de porcentagem de ocorrência de cada componente da ‘UM’.

“Por exemplo, para uma ‘UM’ com apenas dois elementos, considerou-se que o primeiro ocupava 60% de sua área e o segundo, 40%. Após se efetuar os cálculos da média ponderada dos valores semiquantitativos de erodibilidade de cada unidade de mapeamento, os valores obtidos foram convertidos em um índice de erodibilidade – o chamado fator K da equação universal de perda de solo, baseando-se em dados de literatura que relacionam classes de solos com os seus respectivos valores de fator K”, explica.

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“Por meio desse procedimento, concluímos que os solos do Brasil se enquadram na classe de erodibilidade média, e que as maiores áreas contínuas dominadas por solos mais suscetíveis à erosão ocorrem, sobretudo, na Região Nordeste. Isso coincide com as áreas afetadas pelo processo da desertificação, atualmente um dos maiores problemas de degradação das terras do País”, revela Gustavo Vasques, também pesquisador da Embrapa Solos.

Foto: Reprodução/Embrapa.

A equipe aponta, ainda, que áreas expressivas de solos de elevada erodibilidade também ocorrem no Acre, estendendo-se para as cercanias do estado do Amazonas, em solos com elevados conteúdos de silte.

Vasques explica que, para validar o mapa produzido, a equipe comparou os seus valores de erodibilidade com medidas diretas do fator K obtidas em campo e existentes na literatura, com chuva natural e simulada. Dessa forma, chegou-se à conclusão de que as medidas do fator K do novo mapa desenvolvido possuem valores centrais próximos àqueles medidos em campo.

O mapa lançado pela Embrapa Solos é o segundo a disponibilizar o fator K para todo o território nacional. O primeiro, que utiliza outra metodologia, foi o mapa de erodibilidade do solo em alta resolução do Brasil, lançado em 2021 por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Joint Research Centre, órgão da Comissão Europeia. 

“A conversão dos valores semiquantitativos, de 1 a 6, em valores do fator K que utilizamos foi uma estratégia simples e experimental para estimar a erodibilidade do solo para todo o território brasileiro. Assim, recomendamos aos interessados que desejam utilizar o fator K para os mais diversos fins condensar as seis classes de erodibilidade – muito baixa, baixa, média, alta, muito alta e extremamente alta – em três classes: baixa, média e alta. Esse procedimento irá facilitar as interpretações para as quais os valores do fator K forem destinados, bem como possibilitar um aumento de qualidade das modelagens, dados ou informações obtidas”, pondera Rizzato.

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As ameaças da erosão

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) aponta que a erosão causada pela água, pelo vento ou pelo preparo inadequado do terreno é a maior ameaça à saúde do solo e aos seus serviços ecossistêmicos em diversas regiões do mundo, prejudicando a produção de alimentos, a disponibilidade futura de terras para a agricultura e a qualidade da água. Dessa maneira, a erosão afeta diretamente a saúde humana, a biodiversidade do planeta e a subsistência do meio rural.

Foto: Claudio Capeche (erosão em área do estado do Rio de Janeiro)

Vários estudos apontam que em áreas agrícolas a erosão do solo reduz sua capacidade de infiltração, disponibilidade e drenagem da água, prejudica a profundidade de enraizamento das plantas e favorece a perda de água, solo, matéria orgânica, fertilizantes e nutrientes.

Além disso, as partículas deslocadas dos locais erodidos levam à sedimentação e poluição de águas superficiais, bloqueio de cursos d’água e destruição de infraestruturas, causando perdas econômicas significativas para produtores e toda a sociedade.

*O conteúdo foi originalmente publico na Embrapa.

#Série l A cara da Amazônia: 5 animais que são a cara de Roraima

A diversidade de ecossistemas em Roraima é um dos principais fatores que contribuem para a riqueza de espécies de animais no estado, refletindo a variedade de biomas da região, como as florestas tropicais e o cerrado, conhecido como Lavrado Roraimense.

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O Portal Amazônia pediu ao biólogo João Pedro Costa Gomes para destacar cinco animais que são a cara de Roraima e representem essa complexa diversidade característica da Amazônia para a #Série ‘A cara da Amazônia’:

Galo-da-serra

O galo-da-serra, considerado ave símbolo do Estado de Roraima, é um pássaro difícil de ser avistado e possui uma plumagem marcante, de coloração alaranjada, que o destaca na paisagem amazônica. O animal recebeu esse nome devido à crista que cobre toda a cabeça e o bico. 

Leia também: Galo-da-serra: conheça o pássaro que serviu de inspiração para famosa toada do Boi Garantido

A ave chama a atenção tanto pela beleza quanto pelo comportamento, já que vive em ambientes rochosos e em matas próximas a serras, onde os machos se reúnem em arenas para realizar exibições coletivas de dança e vocalização para atrair as fêmeas. 

“A presença da ave é considerada um indicador de ecossistemas saudáveis e bem preservados”, afirmou o mestre em Ciências Biológicas, João Pedro Costa Gomes, ao Portal Amazônia.

Roraima
Galo-da-serra. Foto: Reprodução/eBird

Sapo-do-Monte-Roraima 

O sapo de pele rugosa e comportamento curioso é endêmico do Monte Roraima, ou seja, só pode ser encontrado na região. O animal vive entre fendas úmidas e ambientes rochosos, e possui uma defesa única, já que em vez de saltar, ele se joga e rola morro abaixo, confiando na elasticidade de seu corpo para absorver o impacto. 

De acordo com Costa Gomes, sua existência delicada é ameaçada pelas mudanças climáticas e pela alta sensibilidade aos impactos ambientais no cume dos tepuis.

Roraima
Sapo-do-monte-roraima. Foto: Morten Ross

Camaleão-da-Amazônia

O camaleão-da-Amazônia é um lagarto arborícola que vive em troncos de árvores e se alimenta de insetos. A pele do animal é escamosa e a capacidade de mudar ligeiramente a tonalidade o ajudam a se camuflar entre as sombras da floresta. 

“Apesar do nome, não é um verdadeiro camaleão, mas apresenta comportamentos parecidos, como o movimento lento e a habilidade de se manter imóvel por longos períodos”, afirmou o biólogo.

Leia também: Cientistas avaliam como répteis e anfíbios lidam com mudança climática em ilha de Roraima

Camaleão-da-Amazônia. Foto: Artur Tomaszek

Macaco-barrigudo 

O macaco-barrigudo é um primata grande, de cauda preênsil e comportamento social complexo, já que vive em grupos coesos e percorre longas distâncias diariamente em busca de frutos. Seu nome, ‘macaco-barrigudo’, se dá devido à sua pelagem longa e escura no ventre, o que dá a impressão de elevação na barriga.  

Considerado um grande dispersor chave de sementes, o animal é fundamental para a regeneração da floresta. Além disso, o macaco também é conhecido por dar saltos acrobáticos entre as árvores.  

Leia também: Peru cria estratégias para conservar e proteger o macaco-barrigudo-de-cauda-amarela

Segundo Costa Gomes, a caça e a perda de habitat colocam em risco suas populações, principalmente nas zonas de transição entre floresta e savana.

Macaco-barrigudo. Foto: Reprodução/ Animalia.

Garça

A garça, figura presente no brasão do Estado de Roraima, representa a beleza e a importância da fauna local. A espécie vive à beira dos rios, lagos e praias em grupos de vários animais, mas realiza migrações para pequenos locais ou para além dos Andes durante o período de enchentes. 

Os principais predadores são o gavião pato e o socó dorminhoco. Além dos predadores naturais, a garça também enfrenta ameaças como a destruição do habitat; a conversão de manguezais, rios e áreas úmidas para agricultura, mineração e outras atividades humanas; a poluição da água com plástico e outros poluentes; e a caça que, embora ainda seja incomum, ocorre em algumas regiões para consumo e obtenção de penas ou outras partes do corpo. 

Garça. Foto: João Neto

*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Confira outros animais da série:

#Série l A cara da Amazônia: 5 animais que são a cara de Rondônia

A fauna de Rondônia reflete a diversidade de ecossistemas presentes no estado, abrigando uma ampla variedade de animais: aves, mamíferos, répteis, anfíbios e peixes que estão adaptadas a diferentes ambientes.

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A conservação da fauna rondoniense é essencial para a preservação da biodiversidade e para o equilíbrio dos ecossistemas, garantindo a estabilidade ambiental da região.

O Portal Amazônia pediu ao biólogo João Pedro Costa Gomes para destacar alguns animais que são a cara de Rondônia e representem essa complexa diversidade característica da Amazônia para a #Série ‘A cara da Amazônia’:

Macaco-prego-de-cara-branca

O macaco-prego-de-cara-branca, primata comum nas florestas do oeste amazônico, possui hábitos onívoros, e alimenta-se de frutos, sementes, pequenos vertebrados e insetos. O animal é considerado como uma espécie com estado de conservação pouco preocupante, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês). 

Leia também: Fauna de Rondônia é monitorada para tentar salvá-la do desmatamento

“Ele é conhecido pelo uso de ferramentas rudimentares, como pedras para quebrar frutos duros. Sua alta capacidade de adaptação também o torna vulnerável ao tráfico de animais silvestres”, afirmou o Mestre em biologia, João Pedro Costa Gomes, ao Portal Amazônia. 

Apesar de ser considerado como pouco preocupante, as populações da espécie são impactadas principalmente pelo comércio de animais de estimação e pela desflorestação. No entanto, a desflorestação também é a principal ameaça do maior predador do primata, a harpia, o que pode reduzir as chances do primata ser predado. 

Macaco-prego-da-cara-branca. Foto: Zweer de Bruin.

Urubu-rei

O urubu-rei, uma das maiores aves carniceiras do continente, possui coloração branca com penas pretas nas asas e uma cabeça nua multicolorida. O animal desempenha papel ecológico essencial na limpeza da floresta, consumindo carcaças e impedindo a proliferação de doenças.

De acordo  com Costa Gomes, apesar de ser menos abundante que outros urubus, é um importante indicador de equilíbrio ambiental.

Leia também: Conheça a história dos animais mais antigos do Bioparque da Amazônia em Macapá

Urubu-rei. Foto: Francis Canto Jr 

Jacu-de-barriga-castanha 

O jacu-de-barriga-castanha é uma ave de médio porte com corpo escuro e barriga castanho-avermelhada, é comum nas matas densas de Rondônia. Vive em casais ou pequenos bandos, alimentando-se de frutas, brotos e sementes. 

“Ele atua como importante dispersora de sementes na floresta. No entanto, a caça de subsistência e o desmatamento têm reduzido suas populações em algumas regiões”, afirmou o biólogo. 

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Além disso, outros fatores que colocam a espécie em posição de risco de extinção são a invasão e exploração humana do habitat natural do animal para fins de agricultura e pecuária, e as mudanças ambientais. 

Rondônia
Jacu-de-barriga-castanha. Foto: paul donahue

Mico Rondônia

Além das indicações do professor, de acordo com dados do ICMBIO, também se pode destacar o Mico Rondônia ou mico rondoni é um animal endêmico do Estado de Rondônia, o que deu nome ao animal, e habita a floresta ombrófila aberta da região. A coloração cinza de sua pelagem é o que diferencia a espécie de outros primatas.

Leia também: Mico rondoni: espécie de macaco que só pode ser vista em Rondônia está em risco de extinção

De acordo com o Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (SALVE), o animal corre risco de extinção devido à ameaças como a expansão urbana, a redução de habitat, os assentamentos rurais, a agricultura, a pecuária e principalmente a competição com o Saguinus weddelli, que vem dominando a sua área. Apesar de todas essas ameaças, a espécie ainda se mantém firme, pois tem tolerado modificações e perturbações no habitat.

Mico Rondoni. Foto: Paulo Henrique Bonavigo

Rã pimenta

Os dados do ICMBio também apontam a rã-pimenta como característica do estado. Trata-se de um anfíbio de grande porte, medindo cerca de 18 centímetros e possui um grande par de tímpanos localizados logo abaixo dos olhos.

Além disso, quando jovem, o animal possui uma coloração que vai do verde escuro ao marrom e quando adulto possui uma coloração quase totalmente vermelho alaranjado.

Encontrado nas margens dos rios, riachos, lagos, lagoas e várzeas, costuma habitar florestas abertas e se alimentar de insetos e artrópodes.

Rondônia
Rã pimenta. Foto: Pedro Reis

*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Confira outros animais da série:

#Série l A cara da Amazônia: 5 animais que são a cara do Amazonas

A Floresta Amazônica, bioma predominante no estado do Amazonas, abriga a maior diversidade de fauna do Brasil, com mais de 73% das espécies de mamíferos e 80% das aves do país. Além disso, estima-se que existam cerca de 30 milhões de espécies de animais, sem contar as ainda não catalogadas, incluindo mais de 1.300 aves, 311 mamíferos, 273 répteis, 232 anfíbios e 1.800 peixes continentais.

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Além da riqueza natural, a fauna amazônica tem papel essencial na cultura e nos modos de vida dos povos locais, já que práticas sustentáveis como caça, pesca e o uso medicinal de animais são comuns há gerações. 

O Portal Amazônia pediu ao biólogo João Pedro Costa Gomes para destacar cinco animais que são a cara do Amazonas e representem essa complexa diversidade característica da Amazônia para a #Série ‘A cara da Amazônia’:

Boto-cor-de-rosa 

Animal considerado símbolo do Amazonas, o boto-cor-de-rosa é um cetáceo exclusivo da bacia amazônica. Vive em águas calmas, principalmente nas várzeas durante a cheia, onde se alimenta de peixes e crustáceos. É uma espécie extremamente sensível à degradação dos rios, sendo ameaçada por redes de pesca, poluição e alterações ambientais.

As principais ameaças à espécie são os atropelamentos por barcos, as capturas acidentais por redes de pesca, o risco da poluição química nos rios amazônicos por estarem no topo da cadeia alimentar e a caça que, mesmo proibida desde 1967, ainda é comum. 

“Inteligente, brincalhão e cercado de lendas, sua figura está na cultura popular amazônica, como protagonista de histórias que misturam sedução, encantamento e respeito pelas águas”, afirmou o mestre em Ciências Biológicas, João Pedro Costa Gomes, ao Portal Amazônia

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Boto-cor-de-rosa. Foto: Reprodução/Facebook-Tunibra

Sauim-de-coleira

O sauim-de-coleira é um pequeno e ágil primata exclusivo da região metropolitana de Manaus. Com pelagem bicolor, o corpo branco e os membros escuros, ele é carismático, sociável e vive em grupos familiares. 

Leia mais: Sauim-de-coleira: macaco encontrado em Manaus é um dos mais ameaçados do mundo

Infelizmente, é uma das espécies mais ameaçadas de extinção do Brasil, pois seu habitat vem sendo substituído por expansão urbana, estradas e queimadas, uma vez que sem vegetação adequada, a espécie não consegue sobreviver.

Quando combinada com fatores como a caça, o tráfico de animais, doenças, a competição com espécies invasoras e eventos climáticos extremos, a situação se agrava ainda mais.

De acordo com Costa Gomes, a sobrevivência do animal depende da conexão entre fragmentos florestais e da conservação das matas urbanas remanescentes.

Foto: Reprodução/Agência Brasil

Anta-amazônica

A anta, considerada o maior mamífero terrestre da América do Sul, é herbívora e percorre grandes distâncias em busca de frutos e brotos, ajudando na dispersão de sementes de inúmeras espécies arbóreas.

Além disso, sua aparência robusta esconde uma natureza tímida e pacífica, já que ela vive solitária e prefere áreas densas e com água abundante. 

“Apesar de ser uma espécie resistente, a anta sofre com atropelamentos em estradas que cruzam seu habitat e com a caça ilegal’, afirmou Costa Gomes.

Anta-Amazônica. Foto: Reprodução/INaturalist.

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Pirarucu 

O pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do mundo, pode ultrapassar os 2 metros de comprimento. O animal é um predador de topo nos ambientes aquáticos amazônicos, e seu nome vem de dois termos indígenas: pira, “peixe”, e urucum, “vermelho”, devido à cor de sua cauda.

O peixe possui como característica especial a necessidade de subir à superfície para respirar, já que sua bexiga natatória modificada funciona como pulmão. 

De acordo com Costa Gomes, a carne do peixe é saborosa e valorizada, e o animal é uma espécie-alvo da pesca, mas também da conservação, já que várias reservas manejadas no Amazonas estão recuperando suas populações por meio de manejo sustentável, mostrando que é possível conservar e explorar de forma equilibrada.

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Pirarucu. Foto: Stephen Álvarez.

Aranha-golias-comedora-de-pássaros

A aranha-golias-comedora-de-pássaros é uma das maiores caranguejeiras do mundo, podendo chegar a 30cm de tamanho corporal, incluindo as pernas. As aranhas dessa espécie são predadoras vorazes que se alimentam desde pequenos invertebrados até mesmo pássaros e roedores. 

A dieta da espécie é composta por pássaros, cobras, insetos e pequenos vertebrados, como ratos e sapos.

“São aranhas que não oferecem riscos a seres humanos por não possuírem peçonha ativa e por seu comportamento defensivo ser a utilização de cerdas urticantes”, afirmou o biólogo. 

Aranha-golias-comedora-de-pássaros. Foto: João Pedro Costa Gomes

*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Confira outros animais da série:

Pesquisadora diz que memória indígena pode recuperar áreas degradadas

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Pesquisadora indígena Bárbara Borum-Kren. Foto: Arquivo pessoal

O encontro entre a águia e o condor selará a libertação de Abya Yala, de acordo com uma antiga profecia presente na cultura de diversos povos indígenas americanos. A águia representa o norte, enquanto o condor simboliza o sul, e esse voo simbólico significa a união de todos os povos originários de Abya Yala, como é chamado o continente americano.

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A pesquisadora Bárbara Flores Borum-Kren acredita que “a profecia se cumpre sempre que os povos indígenas atravessam fronteiras geográficas impostas para construir coletivamente o bem viver”. 

É o que Bárbara busca fazer com seu trabalho de pesquisa, que defende a reocupação de áreas degradadas pelos seus povos originários como a melhor maneira de promover recuperação ambiental e revitalizar práticas culturais, dando origem a “socioecossistemas resilientes e prósperos.”

Atualmente, Bárbara está nos Estados Unidos fazendo pós-doutorado na Universidade do Colorado, onde investiga a situação de territórios dos povos Ute, Walatowa, Navajo, Lakota, Odibwe e Yurokcomo em cinco estados norte-americanos. 

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Terra indígena degradada. Foto: Felipe Werneck.

“Eu estou buscando fazer uma troca de conhecimentos com povos indígenas, que estão passando por esse processo de restauração da memória biocultural ou que já passaram, e também me adentrando mais no movimento do land back (retomada da terra, em tradução livre), que aqui é bem forte, pelo reconhecimento dos Estados Unidos enquanto território indígena”, explica. 

A pesquisa foi viabilizada pelo Programa Beatriz Nascimento para Mulheres na Ciência, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Bárbara também foi uma das contempladas por um edital de apoio a cientista negros e indígenas do Instituto Serrapilheira. 

O trabalho da pesquisadora Bárbara Borum-Kren se baseia em dois conceitos principais, a memória biocultural e as cascatas socioecológicas. 

“Toda essa relação que é construída ao longo de muitas gerações, de milênios, dos povos com o território, cria um vínculo tão forte que passa a ser uma relação de parentesco, que a gente chama até de floresta genealógica. Isso seria a memória biocultural a partir dessa perspectiva indígena. Ela atrela as questões biológicas do território com as questões culturais”, explica.

A pesquisadora defende que terras devastadas devem receber intervenções considerando a memória biocultural dos seus habitantes originários, o que provocaria as cascatas socioecológicas, processos em cadeia que levam tanto à recuperação ambiental, quanto ao resgate da identidade desses povos.

“Por exemplo, fazer todo o levantamento das plantas que são culturalmente importantes para o nosso povo, onde elas estavam distribuídas dentro do território e em qual quantidade, assim como dos animais, também são culturalmente importantes. E a partir desse diagnóstico, a gente consegue ver onde precisa atuar e intervir”, defende. 

De acordo com Bárbara, algumas experiências estadunidenses podem apontar caminhos para o Brasil. 

Povos indígenas da Amazônia. Foto: Filipe Araujo

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“No Colorado e na Califórnia, eles já fazem, por exemplo, projetos de restauração ecológica em parceria com os povos indígenas, utilizando os conhecimentos tradicionais para fazer a restauração de áreas degradadas. Também fazem gestão pública de parques naturais e áreas verdes em parceria com os povos indígenas que vivem no território”, esclarece.

Novas iniciativas, no entanto, segundo a pesquisadora, têm sofrido com as políticas educacionais do governo de Donald Trump, que vêm cortando o financiamento para pesquisas de temáticas consideradas progressistas, como os direitos da população indígena e meio ambiente. 

O trabalho de Bárbara, por enquanto, não foi afetado, mas ela foi orientada pela Universidade do Colorado a não sair do país, nem mesmo para participar de eventos em outros países, pelo risco de ser impedida de retornar aos Estados Unidos. 

O objetivo principal de Bárbara é que a troca de conhecimento com os povos norte-americanos contribua com o trabalho que ela desenvolve desde a graduação, voltado para a retomada e a recuperação do território Borum-Kren, na região de Ouro Preto, em Minas Gerais.

Foi isso, inclusive, que motivou Bárbara a se tornar a primeira pessoa de sua família com ensino superior. Desde criança, ela tinha o anseio de conhecer melhor a história de seus antepassados, soterrada por séculos de massacres e dominação cultural. O povo Borum-Kren é descendente dos Botocudos que, segundo a pesquisadora, foram perseguidos e assassinados, para abrir caminho para a exploração do ouro. 

Os que restaram, ainda de acordo com a pesquisadora, sofreram diversas formas de assimilação cultural violenta.

“Os colonos que chegavam ganhavam o título da terra quando casavam com uma indígena, então isso desencadeou muitos sequestros de mulheres indígenas e muitos estupros. Houve também um comércio de crianças indígenas, para trabalhar nas carvoarias. Meu avô foi um trabalhador escravizado e o irmão dele foi uma dessas crianças sequestradas”, disse.

Sem acesso às próprias terras e enfrentando a miséria, a família de Bárbara se mudou para a capital, Belo Horizonte, em busca de melhores condições. Enquanto crescia, ela questionava sobre a história do seu povo, e o pai dizia que “todos já morreram”.

Povos indígenas do Amazonas — Foto: Marcos Vicentti/Secom

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Hoje, ela sabe que isso é uma meia-verdade, e tem defendido que os Borum-Kren não somente resistiram à extinção alegada oficialmente, apesar de grande parte ter sido obrigada a deixar suas terras originárias, como a retomada dessas terras seria a melhor forma de restaurá-las após anos de exploração. 

“Na medida que a gente restaura o território, a gente também restaura a cultura. Da mesma forma, quando a gente restaura a cultura, a gente também restaura o território”, defende. 

Mas segundo Bárbara, uma condição primordial para que isso aconteça é o reconhecimento dos territórios usurpados das suas populações originárias e a demarcação.

“Ele [reconhecimento dos territórios] garante que você possa fazer esse trabalho que leva à recuperação ambiental, porque a partir do momento que você tem garantida por lei o usufruto da terra pelo povo indígena, é que a gente pode desenvolver ações. E muitas vezes essas terras estão em uma área de amortecimento, na divisa com parques naturais. Então, com a demarcação, a gente acaba criando um corredor ecológico e ampliando essas áreas protegidas”. 

Bárbara tem se articulado com outros jovens Borum-Kren remanescentes e também integra o Movimento Plurinacional Wayrakuna, o primeiro grupo de pesquisa do Brasil composto por mulheres indígenas. Wayrakuna significa “filhas do vento”.

“É uma necessidade muito forte que a minha geração sentiu de mudar esses destinos de morte, que eram como uma predestinação. A gente quer mostrar que não é bem assim, que a gente pode fazer diferente, pode fazer algo efetivo em prol da ressurgência”, conclui.  

Leia também: Manuscritos de mais de 150 anos são usados por indígenas para resgate e memória dos antepassados

*O conteúdo foi originalmente publicado na Agencia Brasil, escrito por Tâmara Freire.

#Série l A cara da Amazônia: 5 animais que são a cara do Amapá 

O Amapá possui uma das áreas de maior biodiversidade do país, e apesar de serem estimadas cerca de 700 mil espécies, menos de 10% da fauna e da flora são conhecidas. Além disso, a região possui uma distribuição altitudinal que vai do nível do mar até 702.701 metros de altitude. 

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“A altitude fica lá no complexo da serra das montanhas do Tumucumaque, e nessa região não tem muita amostragem de fauna. A gente pode ter várias espécies distribuídas nessas serras porque o que a gente da biologia costuma perceber quando caminha no topo das montanhas é que existe toda uma fauna e toda uma flora extremamente adaptada”, declarou o doutor em ecologia Rogério Fonseca. 

De acordo com Fonseca, os topos de morro das pequenas montanhas, das serras do Tumucumaque, por exemplo, formam núcleos de endemismos com espécies que só ocorrem naquele lugar.

“A natureza do Amapá é fortemente marcada por um equilíbrio entre terra, água e biodiversidade. Mas, diferentemente de outros estados amazônicos, o Amapá tem mais de 90% de sua vegetação nativa preservada, tornando-se um dos últimos refúgios de espécies que já desapareceram em outras partes da Amazônia”, destacou o mestre em biologia, João Pedro Costa Gomes, complementando a explicação de Fonseca. 

Leia também: Em ação conjunta, animais silvestres são devolvidos à natureza no Amapá

Segundo Costa Gomes, o estado é privilegiado por suas paisagens praticamente intocadas, já que grande parte de seu território está sob proteção ambiental. Além disso, o Amapá combina florestas tropicais densas, rios imponentes, manguezais e campos abertos de savana amazônica.

O Portal Amazônia pediu aos biólogos para destacarem cinco animais que são a cara do Amapá e representem essa complexa diversidade característica da Amazônia para a #Série ‘A cara da Amazônia’:

Flamingo 

Segundo Rogério Fonseca, o flamingo não está em todo o território brasileiro, sendo restrito somente ao Amapá, e se destaca na região litorânea do estado.

O flamingo possui uma perna extremamente alta, e de uma função ecológica de filtragem. Além disso, o animal come micro crustáceos que permitem que ele possua uma coloração avermelhada, assim como o guará, e o bico adaptado. 

“A gente tem essa distinção de que no Amapá tem esse animal que nas demais partes do Brasil a gente não vai ver fora do zoológico, na natureza a gente não vai ver esses animais”, afirmou Fonseca.

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Amapá
Flamingo. Foto: Reprodução/eBird

Peixe-boi-da-Amazônia 

O peixe-boi-da-Amazônia é um dos poucos mamíferos aquáticos herbívoros da América do Sul, com alimentação baseada em plantas aquáticas. É dócil, tímido e muito vulnerável à ação humana, especialmente devido à caça e ao tráfego de embarcações. 

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O animal é considerado a menor espécie de peixe-boi do mundo, chegando a medir até 3 metros de comprimento e 450 kg de peso. Sua coloração varia de cinza à preto, possuindo uma mancha de cor branca ou rosada na barriga que pode ser comparada à uma impressão digital.

De acordo com Costa Gomes, este animal desempenha um papel ecológico vital ao manter o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos e ajudar na dispersão de sementes submersas. Além disso, sua presença é rara, mas não impossível, e é alvo de programas de proteção e reabilitação.

Peixe-boi-da-Amazônia. Foto: Reprodução/Associação Amigos do Peixe-boi

Macaco-aranha-preto

O macaco-aranha-preto é um dos maiores e mais ágeis primatas amazônicos, possuindo uma cauda preênsil que atua como um quinto membro, ele se locomove com grande destreza entre as árvores. 

Medindo cerca de 60 centímetros e pesando em média 8 kg, os machos da espécie possuem um chamado, utilizado para alertas de predadores e localização de alimentos, que pode ser ouvido a cerca de 500 metros pelos outros animais da espécie.

“O macaco-aranha é frugívoro e cumpre um papel fundamental na dispersão de sementes, o que o torna indispensável para a regeneração da floresta. No entanto, está sob ameaça pela caça e pelo desmatamento, sendo uma das espécies mais afetadas pela fragmentação florestal”, afirmou o biólogo João Pedro Costa Gomes. 

Macaco-aranha-preto. Foto: Reprodução/Proteção Animal Mundial

Arraia-de-água-doce 

A arraia-de-água-doce, com padrão circular semelhante aos olhos no dorso, é um predador do fundo dos rios, alimentando-se de pequenos invertebrados. Apesar de sua beleza, é temida por moradores ribeirinhos, pois possui um ferrão venenoso na cauda que pode causar acidentes dolorosos.

A espécie pertence a família Potamotrygonidae, e apresenta o corpo achatado em formato de disco, em que as nadadeiras peitorais, bem desenvolvidas e projetadas para as laterais, constituem a maior parte do corpo

De acordo com Costa Gomes, a arraia tem papel importante nos ecossistemas aquáticos, controlando populações de organismos bentônicos e indicando boa qualidade de água.

Arraia-de-água-doce. Foto: Itamar Júnior Tonial

Tartaruga-da-Amazônia

A tartaruga-da-Amazônia é uma das maiores tartarugas de água doce do mundo. Conhecida localmente como “tracajá” ou “jurará”, é uma espécie que desova nas praias fluviais durante a época seca, e que sofre há séculos com a coleta ilegal de ovos e caça dos adultos. 

“Ela é considerada uma espécie “engenheira ecológica”, pois ao escavar ninhos e revirar as margens dos rios, ajuda a oxigenar o solo e promove o equilíbrio dos ambientes ripários. Hoje, é foco de ações comunitárias de conservação em várias regiões do Amapá”, afirmou Costa Gomes.

Além disso, a tartaruga-da-Amazônia possui como inimigos naturais, quando filhotes, os urubus, as piranhas, os jacarés e alguns outros peixes.

Leia também: Infográfico – Saiba quantas e quais espécies de quelônios existem na Amazônia

Tartaruga-da-Amazônia. Foto: Reprodução/Mundo Ecologia

*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Confira outros animais da série:

#Série l A cara da Amazônia: 5 animais que são a cara do Acre

O Acre, situado no sudoeste da região Norte, tem como limites os estados do Amazonas e Rondônia e os países Bolívia e Peru. O estado é lar de uma das maiores biodiversidades, sendo considerado um santuário ecológico e berço das mais variadas pesquisas sobre biologia no mundo.

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“O Acre abriga uma das porções mais preservadas da floresta amazônica brasileira. Sua paisagem é dominada por florestas de terra firme, várzeas e igarapés sinuosos, onde a biodiversidade prospera em níveis impressionantes”, declarou o mestre em biologia, João Pedro Costa Gomes. 

Segundo o biólogo, a fauna do Acre é extremamente rica e diversificada, refletindo a imensidão e a complexidade da Floresta Amazônica, que cobre grande parte do estado. Essa biodiversidade destaca a importância ecológica do Acre, tornando-o um dos principais redutos de vida silvestre do Brasil.

Leia também: ‘Órfãos do fogo’: mais de 100 animais são levados para reabilitação no Acre por conta de queimadas

O Portal Amazônia pediu ao biólogo para destacar cinco animais que são a cara do Acre e representem essa complexa diversidade característica da Amazônia para a #Série ‘A cara da Amazônia’:

Macaco-de-cheiro 

O macaco-de-cheiro é um primata de hábitos diurnos que vive em grandes bandos nas copas das árvores da floresta. Ágil, comunicativo e sociável, o animal desempenha um papel ecológico fundamental como dispersor de sementes, sendo também um importante indicador da saúde do ecossistema.

Na espécie, os machos são maiores que as fêmeas e, com o avançar da idade, apresentam uma coloração geral mais clara no pelo. Seus braços e pernas são curtos, enquanto a cauda é longa, peluda, forte e preênsil, geralmente com a ponta enrolada, para ajudar na locomoção sobre as árvores.

De acordo com Costa Gomes, sua aparência simpática, com olhos grandes e expressão curiosa, o torna um dos queridinhos da fauna amazônica. 

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Macaco-de-cheiro. Foto: Rudimar Narciso Cipriani

Onça-pintada

Conhecido como o maior felino das Américas e predador de topo nos ecossistemas amazônicos, a onça-pintada pertence ao gênero Panthera, mesmo gênero dos leões, leopardos, tigres e leopardos-das-neves. Dotada de força extraordinária e uma mordida capaz de perfurar cascos e carapaças, ela é uma caçadora habilidosa, silenciosa e solitária. 

Além disso, o padrão de pintas é único para cada onça, funcionando como uma espécie de ‘impressão digital’ do animal, o que ajuda a identificar o indivíduo e melhor estudá-lo.

“Presente em mitologias indígenas e temida por seu poder, a onça é também uma guardiã ecológica: sua presença indica um ecossistema equilibrado, onde a cadeia alimentar funciona plenamente. Infelizmente, ela sofre com o avanço do desmatamento e a fragmentação de habitat”, afirmou o biólogo. 

Leia também: Onça-pintada: o grande felino da Amazônia com mais de 300 nomes em séculos de história

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Onça-pintada. Foto: Rogério Cunha

Tamanduá-bandeira 

O tamanduá-bandeira possui corpo grande, pelagem espessa e focinho longo, além de uma cauda grande e peluda, lembrando uma bandeira hasteada, o que dá origem a seu nome popular.

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O animal percorre as florestas e campos em busca de cupins e formigas, que captura com sua língua pegajosa e rápida. Apesar de parecer lento e inofensivo, possui garras fortes que usa para se defender. 

Segundo Costa Gomes, o tamanduá é importante no controle natural de insetos e também enfrenta ameaças, como atropelamentos e queimadas. 

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Tamanduá-bandeira. Foto: Reprodução/Onçafari

Traíra 

A traíra, conhecida localmente também como “curupira”, é um peixe de comportamento sorrateiro, que caça à espreita e possui mandíbulas poderosas com dentes afiados. Alimenta-se de outros peixes, insetos aquáticos e até pequenos vertebrados. 

A traíra é um peixe utilizado em açudes e represas como controlador de populações que se proliferam muito rápido e de forma descontrolada, como tilápias e piabas. Além disso, o peixe pode atingir 60 cm de comprimento e 4 kg de peso.

“Embora seja considerada um peixe ‘comum’, ela é vital para o equilíbrio das cadeias alimentares aquáticas e tem grande valor na pesca de subsistência e na culinária tradicional”, afirmou o biólogo.

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Traíra. Foto: Reprodução

Jacaré-açu

O jacaré-açu, considerado um dos maiores répteis do continente, pode ultrapassar os 5 metros de comprimento. O animal, predador noturno e oportunista, se alimenta de peixes, aves aquáticas, mamíferos e até carcaças, desempenhando papel essencial na limpeza dos corpos d’água. 

Ele apresenta uma coloração escura e manchas, quando jovens, que somem com o tempo. Além disso, sua reprodução ocorre uma vez por ano, quando as fêmeas põem de 40 a 50 ovos. 

De acordo com Costa Gomes, o jacaré-açu já esteve à beira da extinção devido à caça ilegal por sua pele valiosa, mas sua população vem sendo recuperada graças a áreas protegidas como a Reserva Extrativista Chico Mendes e políticas de conservação. 

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Jacaré-açu. Foto: Reprodução/Instituto Marcos Daniel

*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Estação Ecológica do Rio Acre: refúgio isolado protege espécies ameaçadas na Amazônia

Estação Ecológica do Rio Acre. Foto: Reprodução/Estação Ecológica Rio Acre

A Estação Ecológica Rio Acre (EERA), criada por meio do decreto 86.061 de 2 de junho de 1981, fica localizada no município de Assis Brasil, no Acre, e possui uma área de 79.395,22 hectares. Além disso, a estação é uma área de proteção integral gestada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e uma das Unidades de Conservação de difícil acesso na Amazônia, o que dificulta a permanência de humanos residentes na área.  

“Acerca da Estação Ecológica do Rio Acre, o primeiro aspecto importante é destacar que ela é uma unidade de conservação regulada pelo Sistema Nacional de Unidade de Conservação, que é uma lei federal que estabelece as unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável. A Estação Ecológica, juntamente com a Reserva Biológica, são as unidades de conservação mais restritivas, que quase não se pode fazer muita coisa ali”, declarou o doutor em geografia, Deivison Molinari, ao Portal Amazônia

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De acordo com Molinari, a ideia da estação é preservar a fauna e a flora para futuras gerações e para reprodução, focada em estudos, pesquisas, iniciação científica, dissertação de mestrado, tese de doutorado, trabalhos na área de biológica, de botânica, de alguma espécie animal que só tem ali, e de as espécies endêmicas. 

A EERA antecede a constituição federal de 88, e possui um plano de gestão que organiza o funcionamento, o que pode ser feito e o que não pode ser feito nos limites da estação. Como se trata de uma unidade de conservação federal, ela é administrada pelo governo federal através de um órgão chamado ICM-1000 e possui quase 100% do seu território intacto.

Leia também: Saiba quantas Unidades de Conservação possuem cada Estado da Amazônia

Espécies ameaçadas de extinção encontradas na Estação Ecológica

O biólogo Nonato Amaral informa que, acerca de dados do IBAMA, apesar da reserva possuir uma área pequena em comparação com o restante do país, são encontradas no Acre cerca de 40% das espécies de mamíferos e 45% das espécies de aves do Brasil, além de 16% das espécies de animais brasileiros ameaçados de extinção.

Tatu-canastra. Foto: André Borges.

Tatu-canastra– Apesar de ser o maior tatu existente e ter ampla distribuição geográfica, essa espécie é considerada rara e está em perigo de extinção devido à caça e à destruição de seu habitat. Na EERA, foram encontradas apenas quatro tocas do animal, cuja dieta é baseada em cupins, o que indica que sua ocorrência na reserva é pouco comum.

Macaco-preto- O animal, considerado extinto ou com baixas densidades nas UC do Acre, possui baixas taxas reprodutivas e uma necessidade de grandes áreas de vida, além de ser facilmente extinto mesmo sob uma pressão de caça moderada. Segundo Amaral, o grande número de observações do animal na EERA evidencia o grau de preservação da área, pois essa é uma excelente espécie indicadora de pressão de caça no estado do Acre. 

Tamanduá-bandeira. Foto: Luiz Carlos Rocha

Tamanduá-bandeira– Embora ocorra em todo o Brasil, o tamanduá-bandeira apresenta as maiores densidades populacionais no cerrado e no Planalto Central. Contudo, a intensificação do fogo e a caça predatória colocam a espécie sob ameaça em seus habitats principais. Na EERA, segundo Amaral, o tamanduá-bandeira parece ter alta abundância, tendo sido observados quatro indivíduos, além de dois rastros distintos e afastados, indicando presença significativa na área.

Soim-preto– Naturalmente raro e com distribuição restrita aos estados do Acre, Rondônia e ao trecho do rio Juruá, no Amazonas, o soim-preto não costuma ser alvo de caçadores devido ao seu pequeno porte. No entanto, sua baixa densidade populacional natural o torna vulnerável, sendo classificado pela IUCN como “Quase Ameaçado”.

Anta- De acordo com Amaral, apesar da sua ampla distribuição natural, a anta já desapareceu de diversas regiões (extinção local). Devido ao seu porte, é um animal muito visado pelos caçadores e seu hábito semi-aquático favorece a sua captura.

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Estação Ecológica
Lontra. Foto: Nadezda Murmakova.

Lontra– A espécie foi registrada na EERA, no Igarapé do Tombo, por meio de observação direta feita por Alexandre Aleixo e pela identificação de fezes, confirmando sua presença na área.

Ariranha- Segundo Amaral, não houve registro da ariranha na EERA durante a coleta de dados, mas sua ocorrência é provável, pois a UC está inserida em sua área de distribuição e pelo registro feito pelos auxiliares de campo em expedição passada. Apesar de sua ampla distribuição, já está extinta em várias partes do País.

Onça-pintada– A destruição do habitat e a pressão de caça são as principais ameaças à sobrevivência da onça-pintada. Atualmente, grandes populações da espécie existem quase exclusivamente na floresta amazônica.

Onça-vermelha– Segundo maior carnívoro da EERA, atrás apenas da onça-pintada, a onça-vermelha também sofre com a destruição de seu habitat e a caça. De acordo com Amaral, esses animais costumam ser mortos por fazendeiros e moradores locais, geralmente mais por medo do que pelos prejuízos que possam causar a criações domésticas.

*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar (Com informações do Instituto Socioambiental)

Conheça 20 livros de escritores indígenas de diferentes povos originários no Brasil

Livros indígenas. Foto: Isabelle Lima/Portal Amazônia

Em um país marcado pela diversidade cultural como o Brasil, os livros de escritores indígenas têm conquistado cada vez mais espaço nas prateleiras. Eles trazem à tona a riqueza das culturas, línguas e saberes dos povos originários, além de explorarem a riqueza das línguas originárias, o protagonismo dos autores indígenas e os saberes e narrativas ancestrais. 

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Produzidas por autores indígenas de diferentes etnias, esses livros transitam entre a tradição oral e a escrita contemporânea, preservando memórias ancestrais e reafirmando identidades. Os variados estilos, que vão da poesia à narrativa autobiográfica, do conto ao pensamento filosófico, oferecem uma nova maneira de compreender os povos indígenas, seus mitos e modo de vida. 

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Pétala e Isa Souza, do perfil no Instagram afrofuturas fizeram uma curadoria com indicações que “podem ser uma ação de rompimento com imaginários coloniais estigmatizantes e reducionistas”. Elas informam que essa é uma lista “que fala da busca pela diversidade literária e o encontro com a pluralidade sociocultural dos povos indígenas, que no Brasil, somam mais de 300 povos”.

A ação foi também pensada para o desafio @leiarepresentatividade, para o tema ‘narrativas originárias – leia um livro ou HQ pra descolonizar imaginários sobre povos originários a partir da escrita de autores indígenas’. Confira a lista:

‘Ideias para adiar o fim do mundo’ – Ailton Krenak (Povo Krenak)

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Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

Em Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, o líder e filósofo indígena Ailton Krenak desafia os alicerces do pensamento ocidental ao questionar a separação entre natureza e humanidade. Com base em palestras e entrevistas realizadas em Portugal, o autor denuncia o colapso ecológico como uma consequência direta da visão de mundo antropocêntrica e mercantilista. 

“Nosso tempo é especialista em produzir ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, dançar e de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta e faz chover. […] Minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história”, declarou o autor na sinopse do livro.

Krenak propõe uma nova forma de habitar o mundo, com base no reconhecimento da diversidade e na escuta dos saberes ancestrais dos povos indígenas. Um livro que aborda a necessidade de repensar a relação da humanidade com a natureza e a busca por um futuro mais sustentável.

Mapinguari, o dono dos ossos’ – Yaguarê Yamã (Povo Maraguá)

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

Misturando tradição oral e elementos da literatura fantástica, Yaguarê Yamã apresenta sete contos que mergulham no imaginário do povo Maraguá, localizado no rio Abacaxis. As histórias narradas giram em torno de criaturas míticas como o Mapinguari, o terrível monstro comedor de carne humana, a Pókwára, a monstrenga de mãos furadas, e o Zuruãga, aquele que vagueia, apreciador das noites escuras e luas cheias, dos nevoeiros e temporais noturnos. Essas histórias habitam o universo noturno das aldeias e assombram crianças e adultos com sua presença.

O livro também aborda as histórias de Matī tapewéra, que aparece sob a forma de uma mulher velha, de um garoto maltrapilho ou de um pássaro negro, Jougororou, que assombra e come as pessoas, Tipuã, transformado pela magia numa entidade devoradora de pessoas e, por fim, um ser maldoso que adquire o aspecto físico de pessoas desaparecidas para devorar os parentes

Além disso, a obra transmite lições sobre coragem, comunidade e o valor da escuta, revelando como o medo pode ser enfrentado coletivamente.

Ay Kakyri Tama, eu moro na cidade’ – Márcia Kambeba (Povo Kambeba)

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

Em ‘Ay Kakyri Tama, eu moro na cidade’, em tupi-kambeba, Márcia Kambeba constrói uma ponte entre sua origem indígena e a vida em Belém do Pará, apresentando a história de seu povo e sua luta em poesias e imagens. A autora compartilha sua experiência como mulher indígena que vive entre dois mundos, sem abandonar suas raízes. 

Com uma população conhecida de 50 mil pessoas, entre aldeados e moradores da cidade, o leitor pode conhecer e se encantar pela etnia Omágua/Kambeba pelo olhar de Márcia, uma de suas vozes mais expressivas.

A obra inclui poemas intercalados com fotografias de crianças indígenas em seus ambientes de brincadeira, domésticos e rotineiros. As poesias compostas por rimas diversas marcam os rituais e às marcações feitas com os pés, durante, por exemplo, as danças sagradas e as comemorações pertencentes aos povos originários.

Leia também: Livro sobre cantos e danças do povo Sateré-Mawé reúne vivências de escritora indígena

‘Os herdeiros de Jurema’ – Eva Potiguara (Povo Potiguara)

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

Vencedora do Prêmio Carolina Maria de Jesus, Eva Potiguara narra no romance a trajetória de Jurema, uma jovem indígena dotada de dons espirituais e profundamente conectada com a força da terra e de seus ancestrais. 

A história acompanha sua luta contra a invasão de terras por fazendeiros, ao mesmo tempo em que constrói uma narrativa de resistência e pertencimento. Além disso, a autora denuncia o apagamento histórico dos povos originários e evidencia a força da espiritualidade e da ancestralidade como elementos fundamentais da luta indígena.

“E eis que Eva Potiguara nos oferece, em forma de romance, cheio de poesia e generosidade, a história e a sabedoria que recebeu de seu povo e não guarda só para si. Obrigada, Eva, por nos ajudar a encontrar o caminho para fora do abismo que nos ameaça”, declarou a escritora Maria Valéria Rezende no texto de apresentação do livro.

Antes o mundo não existia’ – Umúsin Panlõn Kumu e Tolamãn Kenhíri (Povo Desana)

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

Publicado originalmente em 1980, o livro é uma coletânea de narrativas míticas que descrevem a história da criação do mundo sob a gênesis do povo Desana, habitante da região do Alto Rio Negro, no estado do Amazonas. Além disso, a coletânea marca um momento histórico, pois é o primeiro livro escrito e ilustrado por indígenas no Brasil. 

Os autores, pertencentes ao povo Desana, apresentam mitos de criação que explicam a origem do mundo, dos seres humanos, dos rios e da floresta, conforme sua tradição. O prefácio e introdução da sua primeira edição em 1980, ficou a cargo da antropóloga Berta Ribeiro, que em 1978 se encontrava na região do Alto Rio Negro para estudar o trançado indígena.

Em 2018 Tõrãmü Këhíri foi convidado para ir ao Rio de Janeiro. Através de longas conversas foi estabelecido algumas alterações referentes às edições anteriores. Além disso, Tõrãmü Këhíri também criou novas ilustrações, respeitando a narrativa anterior, que foram inseridas ao longo do texto e não no final como nas edições anteriores.

‘A queda do céu’ – Davi Kopenawa e Bruce Albert (Povo Yanomami)

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

Resultado de décadas de convivência entre o xamã Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert, a obra combina autobiografia, cosmologia Yanomami e manifesto político. Foi publicada originalmente em francês em 2010, na coleção Terre Humaine. O livro narra as meditações do xamã a respeito do contato com o homem branco, e a ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. 

Os capítulos do livro narram a vocação de xamã desde a primeira infância, fruto de um saber adquirido graças ao uso de potentes alucinógenos, o avanço dos brancos pela floresta e seu cortejo de epidemias, violência e destruição, e a odisseia do líder indígena para denunciar a destruição de seu povo.

Recheada de visões xamânicas e meditações etnográficas sobre os brancos, a obra é uma porta de entrada para um universo complexo e revelador. Além disso, o livro é uma ferramenta crítica para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami chamam de “povo da mercadoria”.

Leia também: Conheça sete livros de autores indígenas para ler com a criançada

‘Eu sou Macuxi e outras histórias’ – Trudruá Dorrico e Julie Dorrico (Povo Macuxi)

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

Julie Dorrico constrói, por meio de textos curtos e poéticos, um exercício da memória ancestral, reivindicando a força da circularidade e do pertencimento. Além disso, a autora explora a identidade indígena em meio à modernidade, convidando o leitor a mergulhar nas águas profundas da história de seu povo. 

Ao recuperar histórias, sentimentos e símbolos que compõem a cosmovisão Macuxi, ela afirma que ser indígena é, acima de tudo, resistir, lembrar e criar. 

“Julie Dorrico fez o caminho de esvaziar-se para ser preenchida pela memória e pelo pertencimento. Essas duas coisas estão presentes nos escritos poéticos e imagéticos que as palavras escritas agora dão forma. Ela nos presenteia com um mergulho em suas memórias ancestrais e contemporâneas para nos ajudar a criar coragem de trilharmos o mesmo caminho, aceitarmos o que há de originário em cada um nós e fazermos o caminho de volta, da aceitação, do desprendimento, da ancestralidade”, prefácio de Daniel Munduruku escrito no livro.

A Terra uma só’ – Timóteo Verá Tupã Popyguá (Povo Guarani Mbya)

Capa do livro. Reprodução/Amazon

Com base em sua vivência como liderança espiritual e intelectual do povo Guarani Mbya, o autor compartilha mitos de criação, narrativas sagradas e reflexões sobre a relação entre os seres humanos e a natureza. O livro propõe uma releitura do mundo sob a ótica indígena, evidenciando a espiritualidade como um eixo essencial para compreender a origem da linguagem, dos animais e das florestas.

O livro foi pensado durante os caminhos que o autor percorreu pela “Ka’a porã”, a Mata Atlântica, junto ao seu povo e foi a primeira obra contada pela primeira vez, por um Guarani Mbya, sem intermediário de um “juruá”, não indígena.

As narrativas dos Guarani Mbya sobre a origem da terra, do ser humano, da linguagem humana e dos animais e plantas da Mata Atlântica foram documentadas e traduzidas pela primeira vez por León Cadogan em Ayvú Rapyta. Cadogan dedicou-se por mais de 40 anos à defesa dos direitos dos Guarani Mbya, por quem foi apelidado de Tupa Cuchuví Vevé.

‘Awyató-Pót: Histórias indígenas para crianças’ – Tiago Hakiy (Povo Sateré-Mawé)

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

Voltado ao público infantil, o livro reúne quatro contos protagonizados por Awyató-Pót, personagem mítico que representa coragem, astúcia e liderança. Em uma linguagem acessível e cheia de fantasia, Tiago Hakiy aproxima o universo mítico dos Mawé ao cotidiano das crianças da cidade, mostrando que a sabedoria indígena também habita o universo lúdico.

A primeira história conta sobre o nascimento do curumim, fruto da união de uma índia metamorfoseada em cobra com um gavião real. A segunda narra a valentia e o caráter de liderança de Awyató-pót que conseguiu negociar com a Surucucu a Noite para levá-la a sua tribo.

Na terceira, o indígena derrotou o monstro Juma, devorador de seus parentes. Já na quarta e última história, Awyató-pót, já viúvo e dominado pelo ciúme que tinha da filha, e é enganado pelo sapo que desposou a moça.

‘A boca da noite’ – Cristino Wapichana (Povo Wapichana)

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon.

Ambientado em uma aldeia repleta de encantos e mistérios, o livro narra a aventura de dois irmãos curiosos diante do mistério da noite. Além disso, o livro conta um pouco da infância, da família, do cotidiano e da criatividade do povo Wapichana.

O que será que acontece quando o sol mergulha no rio? Será que ele toma banho antes de dormir? E depois disso, será que ele passa a noite dormindo dentro do próprio rio? São algumas dúvidas que levam os irmãos Dum e Kupai a subirem a Laje do Trovão, o lugar mais perigoso da aldeia.

Os garotos ainda tiveram que ir dormir depois da história que seu pai contou sobre a Boca da Noite. Kupai, protagonista dessa história, ficou se indagando antes de dormir: será que essa boca tem dentes? Ela fala? Tem nariz? E se tem boca, deve ter cabeça e corpo, não é mesmo?

‘Canumã’ – Ytanajé Coelho Cardoso (Povo Munduruku)

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

Estreando na literatura, Ytanajé Coelho Cardoso oferece ao leitor um retrato do cotidiano, das memórias e das transformações vividas pelo povo Munduruku. Situada na região do rio Canumã, a narrativa enfatiza o papel dos anciãos, a ameaça do desaparecimento da Língua Munduruku, com a morte dos velhos, e a vida na comunidade.

O livro também denuncia a extinção progressiva da língua materna e propõe a escrita como forma de resistência cultural e afirmação de identidade.

“Eu venho observando que nessa última década, na verdade, a literatura indígena tem ganhado cada vez mais destaque, sobretudo com as políticas desenvolvidas pelos povos indígenas de falarem, de exporem as suas perspectivas, as suas vozes, e sobretudo a partir da lei 11.645 de 2008, que é uma lei que obriga as escolas, por exemplo, a colocarem em seus currículos o estudo de história afro-brasileira e culturas indígenas em sua grade curricular”, declarou o autor, ao Portal Amazônia.

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Ytanajé traz para o leitor, numa linguagem simples, o conhecimento da cultura, o dia a dia, as relações de amor, de amizade e da infância, do povo munduruku, habitantes do rio Canumã, na região de Borba-AM.

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

‘Umbigo do mundo’ – Francy Baniwa e Francisco Baniwa (Povo Baniwa)

Resultado de um diálogo entre pai e filha, o livro alterna as vozes narrativas inserindo palavras em Baniwa e Nheengatu.

A obra convida o leitor a adentrar um mundo habitado por entidades míticas, forças espirituais e saberes ancestrais, por meio de relatos sobre ciclos de vingança, benzimentos, metamorfoses e cantos sagrados.

Capa do livro. Foto: Reprodução/Estante Virtual

‘Wanrêmé Za’ra: mito e história do Povo Xavante’ – Vários autores (Povo Xavante)

Publicada 50 anos após o primeiro contato dos Xavante com os brancos, a obra resgata a história oral e a memória coletiva do povo.

Com narrativas míticas ilustradas por desenhos feitos por artistas Xavante, o livro dá forma e cor às histórias sagradas e aos rituais desse povo do cerrado.

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

‘Estrela Kaingáng, a lenda do primeiro pajé’ – Vãngri Kaingáng (Povo Kaingáng)

A obra narra a origem do primeiro pajé do povo Kaingáng por meio da figura de uma estrela que desce dos céus para viver entre os humanos, e se apaixona por uma bela índia, com quem logo se casa.

Misturando elementos cósmicos com valores espirituais, a narrativa apresenta a luta entre o bem e o mal e destaca o papel fundamental dos líderes espirituais na proteção e na condução do coletivo.

Com a ajuda da sua Mãe Lua, a estrela terá de enfrentar espíritos do mal que tentarão atacar seu filho e sua esposa. Assim começa a história do primeiro pajé da tribo kaingáng, o líder que protegerá seu povo de todas as ameaças e os guiará para uma vida de paz, sabedoria e harmonia com a natureza.

Capa do livro. Foto: Reprodução/Livraria Maracá

‘Coração na aldeia, pés no mundo’ – Auritha Tabajara (Povo Tabajara)

Utilizando da literatura de cordel e da poesia nordestina, Auritha Tabajara constrói um livro que é, ao mesmo tempo, memória pessoal e manifesto coletivo.

A autora narra sua trajetória como mulher indígena, nordestina e artista, compondo um retrato plural de resistências e afetos. 

Com xilogravuras que dialogam com a estética popular brasileira, o livro valoriza a persistência e a reinvenção cultural dos povos indígenas.

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Capa do livro. Foto: Reprodução/Livraria Maracá

‘Boacé Uchô – A história está na Terra’ – Aline Rochedo Pachamama (Povo Puri)

Aline Rochedo Pachamama apresenta em “Boacé Uchô”, expressão que, em Puri, significa “palavra que pulsa na terra”, um documento de resgate e valorização da memória de seu povo. 

Filha da Serra da Mantiqueira, Aline narra as histórias dos Puri a partir dos relatos de seus anciãos, denunciando o apagamento histórico e o silenciamento cultural resultado pelo colonialismo. 

‘Um estranho espadarte na aldeia’ – Edson Kayapó (Povo Kayapó)

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

Ambientado no limite entre o real e o mítico, o romance de Edson Kayapó retrata o inusitado encontro entre um fugitivo italiano de um presídio na floresta amazônica e uma aldeia Karipuna, no extremo norte do Brasil. A partir desse choque cultural, o autor conduz o leitor por uma narrativa repleta de reflexões sobre pertencimento, reciprocidade e o olhar estrangeiro sobre o modo de vida indígena. 

A trama, entrelaçada com fatos históricos do início do século XX, questiona a lógica da prisão, da civilização e da resistência, ao mesmo tempo em que explora a sabedoria e a espiritualidade dos povos da floresta.

“Quando o homem se acalmou, o pajé veio e lhe soprou sobre a cabeça a fumaça densa do cachimbo, falando um tanto de coisas que eu ainda não entendo, mas desconfio que seja a linguagem dos Karuãnas. O homem respirou profundamente, como alguém que emerge do fundo do rio, quase sem fôlego” (trecho do livro).

‘Tecendo histórias do meu lugar’ – Ane Kethleen Pataxó (Povo Pataxó)

Em seu primeiro livro, a escritora Ane Kethleen entrelaça relatos biográficos, cantigas e histórias da vida e da liderança de Cacique Zé Fragoso e Luciana Zabelê, figuras centrais da luta Pataxó no sul da Bahia.

A obra revela a força da juventude indígena, que carrega consigo a memória dos antigos e o compromisso de recontar sua própria história.

‘O que falam as águas?’ – Ezequiel Vitor Tuxá (Povo Tuxá)

A obra de Ezequiel Vitor Tuxá propõe uma escuta poética e espiritual das águas como entidades vivas e sagradas. Ao refletir sobre os rios que atravessam o território e a existência do seu povo, o autor conduz o leitor por uma viagem onde natureza e cultura são inseparáveis. 

Além disso, o livro é uma denúncia contra os impactos ambientais causados por barragens e um convite à reconexão com a Terra, combinando relatos comunitários, experiências pessoais e cantos ancestrais. 

Capa do livro. Foto: Reprodução/Amazon

‘O presente de Jaxy Jaterê’ – Olívio Jekupé (Povo Guarani)

Olívio Jekupé apresenta a história de Kerexu, uma jovem indígena que busca fazer um pedido ao misterioso Jaxy Jaterê, guardião da floresta. Através de uma narrativa mágica, o autor mostra como a ancestralidade ainda orienta a vida das crianças indígenas e como a natureza é compreendida como um espaço sagrado e dotado de vozes. 

Voltado para o público infantojuvenil, o livro também funciona como uma ferramenta pedagógica e de valorização da língua guarani.

Portal Amazônia responde: o que é o diesel verde? 

Diesel verde. Foto: Michel Chedid

O diesel verde, também conhecido como diesel renovável ou HVO (Hydrotreated Vegetable Oil), é um biocombustível destinado a motores de ciclo diesel. Sua composição é semelhante ao óleo diesel de petróleo, porém é derivado de matérias-primas renováveis.

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Diferente do diesel convencional, um derivado do petróleo, e do biodiesel (FAME), que contém oxigênio em sua composição e pode exigir ajustes técnicos nos motores, o diesel verde se destaca por ser quimicamente semelhante ao diesel de origem fóssil, mas produzido a partir de fontes renováveis como óleos vegetais, gorduras animais e até resíduos orgânicos. 

Além disso, o diesel verde integra a segunda geração de biocombustíveis, sendo resultado de um processo tecnológico avançado que remove o oxigênio e outras impurezas por meio do hidrotratamento.

“Nesse processo, as matérias-primas (óleos vegetais e gorduras animais) são tratadas com hidrogênio em altas temperaturas e pressão. Isso remove o oxigênio e outras impurezas, resultando em um combustível composto por hidrocarbonetos parafinícos, quimicamente idênticos aos encontrados no diesel convencional derivado do petróleo”, explicou o doutor em engenharia de transportes, Geraldo Alves de Souza, ao Portal Amazônia

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Características do diesel verde

Entre as principais características do diesel verde estão sua maior estabilidade, longa vida útil (podendo chegar a 10 anos) e maior resistência à absorção de umidade, o que reduz significativamente os problemas de armazenamento. Segundo Souza, essa estabilidade contribui também para menor risco de entupimento de filtros, bicos injetores e bombas de combustível.

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Diesel verde pode ser misturado ao diesel convencional. Foto: Reprodução/Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás

Além disso, o diesel verde também apresenta um número de cetano elevado (medida da qualidade da ignição do combustível diesel), fator que melhora a qualidade da combustão e a eficiência do motor, além de ser isento de contaminantes, o que reduz o desgaste dos componentes dos veículos (IBP). 

De acordo com Souza, o diesel verde, conhecido como HVO, é um combustível “drop-in“, o que significa que pode ser usado puro (100% HVO) ou misturado ao diesel convencional em qualquer proporção, sem a necessidade de modificações nos motores ou na infraestrutura existente.

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Vantagens do biocombustível 

Um dos principais desafios do mundo atualmente é reduzir o impacto das fontes de energia sobre o clima. O grande problema está nos combustíveis fósseis, como o diesel, a gasolina e o carvão, que são responsáveis por grande parte das emissões de CO₂ (dióxido de carbono), um dos gases que intensificam o efeito estufa e contribuem para o aquecimento global.

“Esses combustíveis vêm do subsolo, onde o carbono está armazenado há milhões de anos. Quando extraímos e queimamos esse material, ele reage com o oxigênio do ar e libera energia, e também dióxido de carbono. O problema é que esse CO₂ não fazia parte do ciclo atual da natureza: ele estava ‘escondido’ e, ao ser liberado, aumenta a quantidade total de gases na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global”, explica Geraldo Souza.

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Diversos biocombustíveis. Foto: Reprodução/ BNDES

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De acordo com o Geógrafo, os biocombustíveis, como o etanol (álcool da cana-de-açúcar) ou o biodiesel (produzido a partir de soja, por exemplo), funcionam de forma diferente, já que plantas usadas para fabricar esses combustíveis crescem absorvendo CO₂ da atmosfera durante o processo de fotossíntese. Ou seja, quando queimamos esse combustível, o CO₂ que é liberado é o mesmo que foi retirado do ar antes pela planta.

“Isso significa que, embora também emitam CO₂, os biocombustíveis não aumentam a quantidade total de carbono na atmosfera, pois fazem parte de um ciclo natural de renovação. Essa é a grande vantagem deles em relação aos combustíveis fósseis”, afirmou Geraldo.

A combustão (queima de combustível no motor) libera CO₂ e consome oxigênio, já a fotossíntese consome CO₂ e libera oxigênio. Por isso, quando biocombustíveis são usados, o ciclo natural está apenas se repetindo, sem adicionar ‘carbono extra’ ao planeta, como acontece quando o petróleo é utilizado.

Por isso, o biodiesel e o diesel verde entram no grupo de energias limpas, já que eles representam uma forma mais consciente e equilibrada de produzir energia, sem contribuir para o aumento do efeito estufa.

Diferenças entre diesel convencional, biodiesel e diesel verde

De acordo com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, o diesel convencional é derivado do petróleo e vem sendo utilizado por séculos. O biodiesel e o diesel verde, embora sejam biocombustíveis e derivados de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras animais, são produzidos por processos químicos distintos e têm características diferentes.

O biodiesel (também conhecido como FAME – Fatty Acid Methyl Ester) é produzido por um processo chamado transesterificação. Nesse processo, óleos vegetais ou gorduras animais reagem com um álcool (geralmente metanol ou etanol) na presença de um catalisador.

Já o diesel verde ou HVO (Hydrotreated Vegetable Oil) é produzido por um processo de hidrotratamento, em que as matérias-primas (óleos vegetais e gorduras animais) são tratadas com hidrogênio em altas temperaturas e pressão.

Diesel verde na Amazônia 

No Amazonas, um projeto de pesquisa desenvolvido em iniciativa conjunta da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), da empresa Eneva e de outras instituições parceiras, ‘Diesel Verde na Amazônia’, tem como foco estudar o potencial de oleaginosas nativas da região amazônica como matéria-prima para a produção de diesel verde.

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Evento de lançamento do projeto. Foto: Reprodução/ Universidade Estadual do Amazonas.

“O diesel verde tem características muito parecidas com a do diesel fóssil, porém ele é uma fonte renovável. Sendo assim, nossa proposta visa apoiar comunidades locais que possam vir a produzir essa oleaginosa. Dentro dos nossos laboratórios, vamos verificar aquelas propriedades interessantes para que possamos escolher uma oleaginosa, de fato, capaz de suprir essa demanda”, explicou a Prof.ª Dra. Patrícia Melchionna, integrante do projeto e pesquisadora do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia (GP-QAT) da UEA.

Segundo Melchionna, o projeto lançado em julho terá duração de 30 meses e prevê a transformação das oleaginosas selecionadas em HVO, a implantação de uma planta-piloto, a realização de análises técnicas e econômicas, além da avaliação do uso do combustível renovável no transporte fluvial e na geração de energia elétrica.

“Estamos muito felizes com o início deste projeto na EST/UEA. Imagine se, ao final dessa pesquisa, comprovamos que o HVO derivado das oleaginosas amazônicas pode ser usado em rabetas no interior do estado. Isso significaria redução de custos, menor impacto ambiental e maior integração com as comunidades ribeirinhas”, afirmou Márcio Lira, coordenador da Eneva, maior operadora privada de gás natural do Brasil.

*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar