Ilha do Combu, cenário do novo modelo construção. Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará
O Governo do Pará, por meio da Companhia de Habitação (Cohab), vai construir casas ecológicas na região das ilhas de Belém, utilizando mais de 150 mil tijolos produzidos com caroços de açaí. A obra utilizará o benefício habitacional do Projeto ‘Sua Casa COP30 Sustentável’, para viabilizar a construção de 45 moradias sustentáveis, com recursos para compra de materiais de construção e pagamento da mão de obra.
Os tijolos ecológicos devem reduzir as emissões em torno de 28 toneladas de CO₂ na atmosfera. Parte das casas ecológicas serão construídas no modelo palafita, que se enquadra no conceito de habitação vernacular da Amazônia.
O economista Cassiano Figueiredo Ribeiro, um dos responsáveis pelo Projeto na Cohab, detalha que o ‘Sua Casa COP30 Sustentável’ leva em consideração a integração arquitetônica com o ‘Minha Casa, Minha Vida’ – programa do governo federal -, para se adequar ao padrão vernacular de construções ribeirinhas, as palafitas, mantendo as características do ‘Programa Sua Casa’.
Foi definida como solução mais adequada a Unidade Habitacional Sustentável (UHS), feita com tijolos ecológicos do tipo solo-cimento, sem queima. Nos tijolos é utilizada a tecnologia de adição de granulados com tratamento térmico, obtidos a partir do caroço do açaí.
“Levando em conta que a unidade integrada do ‘Minha Casa, Minha Vida’ já possui dois quartos, o projeto da Cohab tem 18 metros quadrados (m²), no formato de uma suíte, com uma pequena área de serviço e integração, sendo assim pensada como mais um cômodo para as famílias que serão beneficiadas, além de servirem para estimular o turismo de vivência ecológica e de base comunitária, aplicando o conceito moderno de habitação frente à adaptação climática, onde, para além da proteção, uma moradia digna deve estar ligada à garantia do sustento dos seus moradores, reforçando o tripé econômico da sustentabilidade ambiental, econômico e social”, informa Cassiano Figueiredo Ribeiro.
Material garante isolamento térmico e acústico de casas ecológicas. Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará
Suporte
As famílias contempladas contam com a Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis), assegurada pela Lei Federal nº 11.888/2008. O Programa garante suporte gratuito de arquitetos, engenheiros e assistentes sociais durante a construção e melhoria das moradias ecológicas.
Para Adriele Mota, que nasceu na Ilha do Combu – um das 39 ilhas da capital paraense -, ter acesso à casa própria é realizar um sonho.
“Eu tenho um filho, e estou grávida de outro, que já nascerá na casa dele. Estou muito feliz e grata em ter minha casa”, diz Adriele.
Tijolo sustentável com material típico da Amazônia. Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará
Identidade amazônica
Engenheiro civil da Cohab, Sérgio Soares enfatiza que o “COP30 Sustentável” é mais do que um projeto de habitações ecológicas, “pois a gente traz para a região das ilhas um projeto com inovação tecnológica e identidade amazônica, utilizando tijolos com caroço de açaí, que fazem captura de dióxido de carbono”.
Ele acrescenta que o “projeto traz isolamento térmico, acústico e geração de renda. Enfim, é um projeto que traz inúmeras reduções de impactos ambientais, minimizando questões de assoreamento e alagamentos do solo, entre outros”.
O uso de tijolo ecológico permitirá redução de até 30% no tempo de construção em relação à alvenaria tradicional, além de oferecer conforto térmico, maior isolamento acústico e economia de até 40% nos materiais. O tijolo reduz consumo de água (90%), cimento (80%), ferro (50%) e elimina o uso de madeira, diminuindo resíduos sólidos e emissões de gases de efeito estufa.
Fabricação de tijolos usados na construção de casas ecológicas. Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará
A construção terá ainda telhas ecológicas, que reforçam a sustentabilidade, oferecendo maior durabilidade e aproveitamento de materiais reciclados. Também serão instalados biodigestores para tratamento de resíduos orgânicos, gerando biogás e biofertilizante.
Inspiração na COP30
Para o diretor-presidente da Cohab, Manoel Pioneiro, a iniciativa de viabilizar a construção das 45 moradias sustentáveis surgiu pela necessidade de um reposicionamento da Companhia em 2025, quando completou 60 anos, em relação à crise climática, e também para atender à determinação do Governo do Pará de desenvolver projetos inspirados na COP30, que deixassem legado à população.
Caroços de Açaí utilizados na construção de casas ecológicas. Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará
“O projeto tem parceria da Cooperativa Mista da Ilha do Combu (Coopmic) e da Central de Movimentos Populares (CMP), que estão executando um projeto habitacional na região das ilhas de Belém, inédito no Brasil, ao construírem as primeiras casas do ‘Programa Minha Casa, Minha Vida’, do governo federal, feitas de madeira e no padrão ribeirinho, possibilitando assim uma sinergia entre os dois projetos. O ‘Programa Sua Casa’ fornece ao beneficiário um cheque para aquisição de materiais de construção, além de um auxílio para o pagamento da mão de obra”, explica Manoel Pioneiro.
O ‘Sua Casa’ é uma política habitacional criada pelo governador Helder Barbalho em 2019, e já beneficiou mais de 156 mil famílias nas 12 regiões de Integração do Pará.
Protocolo busca unir forças da Marinha e do Ministério no enfrentamento de catástrofes climáticas. Foto: Mariana Ferreira/Rede Amazônica AP
A Marinha do Brasil e o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) assinaram, no dia 8 de dezembro, na sede da Marinha no Amapá, em Santana, um protocolo de intenções para reforçar a prevenção e resposta a desastres naturais em todo o país.
O documento busca unir forças da Marinha e do Ministério no enfrentamento de catástrofes climáticas. A escolha do Amapá para a assinatura foi simbólica, como forma de destacar a proteção e o investimento na região amazônica.
Segundo o ministro Waldez Góes, o protocolo vai trazer mais rapidez nos atendimentos. A iniciativa surgiu após tragédias recentes, como a registrada no Rio Grande do Sul.
“Com o protocolo, basta uma requisição simples. Se o ministério precisar de homens, navios ou lanchas, a Marinha estará pronta para ajudar o governo do Brasil”, disse Góes.
O vice-almirante Adriano Marcelino Batista, comandante do 4º Distrito Naval, lembrou que o Brasil tem várias áreas vulneráveis, com rios e comunidades isoladas. Para ele, a cooperação é essencial.
“Os desastres naturais são um flagelo, e a melhor maneira que temos de atuar é prevenindo. Esses acordos buscam que o país tenha a capacidade de minimizar principalmente as mortes ou os flagelos causados pelos desastres naturais” afirmou o Vice-Almirante.
Marinha do Brasil compra o navio HMS Bulwark, da Marinha Real Britânica. Foto: Divulgação/Marinha do Brasil
Além do protocolo
Como parte das ações na Amazônia, a Marinha comprou o navio HMS Bulwark, que será incorporado à frota em 2026 com o nome Navio-Doca Multipropósito Oiapoque.
A embarcação será o segundo maior navio da Esquadra e o principal para resposta a desastres naturais. Ele vai reforçar operações de defesa, apoio humanitário e proteção da Amazônia Azul — área marítima estratégica e rica em recursos naturais.
Com o protocolo, a ideia é que os custos do navio sejam divididos entre a Marinha e outros órgãos. De acordo com o comandante da Marinha, almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, o navio ficará no Rio de Janeiro, mas sua primeira parada será no Amapá.
“Ele chega no meio do ano que vem e o primeiro porto será aqui. Queremos responder mais rápido e fortalecer a proteção da Amazônia”, disse Olsen.
Com a exploração de petróleo na costa do Amapá, a expectativa é que a presença da Marinha na região seja ampliada.
Obras do Linhão de Tucuruí, em Boa Vista. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinou no dia 9 de dezembro a efetiva interligação de Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN) a partir de 1º de janeiro de 2026.
Isso significa que o estado começará a receber as instalações de transmissão e distribuição necessárias para a interligação plena dos sistemas. O estado era o único do país que estava isolado da rede nacional e dependia da energia gerada por usinas termelétricas.
Além disso, a Aneel determinou que os agentes geradores concluam a implantação e operacionalização dos Sistema de Medição para Faturamento (SFM), assim como a adesão, cadastramento e modelagem dos ativos na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), até, no máximo, 20 de junho de 2026.
A CCEE também deve contabilizar a energia que flui entre o Sistema Boa Vista e o SIN, considerando que a geração das usinas abaterá a carga da distribuidora, tanto a das termoelétricas como a geração das usinas cujas autorizações competem à Roraima Energia.
Na decisão, a Aneel também determinou que a Roraima Energiaconclua a separação dos seus ativos até o dia 1º de julho de 2027.
Em setembro, o governo federal deu início do processo de energização da Linha de Transmissão Manaus – Boa Vista, conhecida como Linhão do Tucuruí. Após anos de impasse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou uma ordem de serviço para o início das obras.
A linha de transmissão liga Manaus a Boa Vista e vai conectar Roraima ao SIN. A obra era pedida há anos pelo governo do estado, que sofre frequentemente com a falta de energia.
Durante mais de 18 anos a energia de Roraima foi fornecida pela Venezuela. No entanto, o país parou de enviar energia ao estado em março de 2019. Desde então, a energia elétrica consumida pelos 15 municípios do estado é fornecida pela Roraima Energia.
O parque térmico do estado é formado por 17 Centrais Geradoras Termelétrica (UTE) e uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), que geram uma média diária de 200 megawatt. Ao todo, são quase 176 mil consumidores que dependem da empresa no estado.
A obra do Linhão de Tucuruí começou em 2022, quando os indígenas Waimiri Atroari aceitaram a proposta de compensação do governo federal, pois 122 km de torres passam pelo território indígena. Durante a construção, foram gerados cerca de 3 mil empregos diretos e indiretos, segundo o governo.
Escola Raimundo Eloy Gomes conquista dois prêmios e recebe R$ 45 mil para investimentos. Foto: Jonathas Oliveira/PMBV
A 13ª edição do Prêmio Gestão Escolar Profª Delacir de Melo Lima foi marcada por muita emoção. O evento, que ocorreu nesta última quarta-feira, 10, no Parque do Rio Branco, reuniu educadores, gestores e equipes pedagógicas em reconhecimento às 15 escolas que mais se destacaram em áreas como gestão, resultados pedagógicos e práticas inovadoras de ensino ao longo do ano.
A grande vencedora desta edição foi a Escola Municipal Raimundo Eloy Gomes, que conquistou dois primeiros lugares e recebeu R$ 45 mil, destinados exclusivamente a investimentos pedagógicos e administrativos. A unidade foi premiada na categoria Destaque Alfabetização, com R$ 20 mil, e na categoria Ensino Fundamental – Grande Porte, com R$ 25 mil.
“É a primeira vez que a escola conquista dois pódios no Prêmio Delacir. Estou muito feliz e honrada em representar uma comunidade escolar com mais de 1.200 alunos. Temos uma equipe empenhada em garantir educação de qualidade. Este ano, trabalhamos fortemente a conexão entre saberes, família, SAEB e alfabetização”, afirmou a gestora Edinar Castro.
O Prêmio Delacir é considerado o “Oscar da Educação” em Boa Vista. Foto: Jonathas Oliveira/PMBV
Escolas avaliadas por desempenho pedagógico e indicadores de gestão
Nesta edição, 80 escolas municipais participaram do prêmio, distribuídas nas categorias: Educação Infantil – Creche; Educação Infantil – Pré-Escola; Indígena e do Campo (até 300 alunos); Ensino Fundamental – Médio Porte (até 900 alunos) e Ensino Fundamental – Grande Porte (a partir de 901 alunos).
Já o Prêmio Destaque Alfabetização é voltado para turmas do 1º e 2º ano, com a participação de 19 unidades. Segundo o secretário municipal de Educação e Cultura, Lincoln Oliveira, foram levados em consideração um conjunto amplo de indicadores, como o dossiê com autoavaliação e visita técnica, relatórios pedagógicos das Macroáreas, além do relatório financeiro de aplicação dos recursos, entre outros itens.
“A educação municipal só tem a ganhar. Avaliamos tudo: o acompanhamento pedagógico das crianças, a aplicação dos recursos, o funcionamento da alimentação escolar. Cada critério contribui para melhorar o desempenho das unidades. E quem ganha, no fim, são nossas crianças”, destacou o secretário.
Secretário Lincoln Oliveira destaca que a avaliação do prêmio considerou dossiê, visita técnica e relatórios pedagógicos e financeiros. Foto: Jonathas Oliveira/PMBV
Premiação aos Destaques de 2025
As premiações variam de R$ 25 mil a R$ 15 mil para investimentos pedagógicos e administrativos nas escolas, além de um repasse correspondente a um mês de remuneração para todos os servidores da unidade.
Na categoria Indígena e do Campo, a vencedora foi a Escola Leila Maria da Silveira. A gestora, Jocinaira Costa, que assumiu a unidade no ano passado, contou que esta foi sua primeira participação no prêmio.
“Toda a equipe se mobilizou para participar e hoje conquistamos esse resultado com muita honra. Focamos bastante na alfabetização e vamos seguir fortalecendo essa metodologia. A ideia é investir os recursos em novos projetos de aprendizagem”, afirmou.
Gestora Jocinaira Costa celebra com a equipe escolar sua primeira participação no prêmio. Foto: Jonathas Oliveira/PMBV
As premiações seguem o seguinte formato:
1º lugar: R$ 25 mil para a escola, além de R$ 5 mil para o gestor e uma viagem de intercâmbio nacional para ele e um coordenador, com foco em conhecer boas práticas educacionais;
2º lugar: R$ 20 mil para a escola e R$ 3 mil para o gestor;
3º lugar: R$ 15 mil para a unidade e R$ 2 mil para o gestor.
No Destaque Alfabetização, a escola recebe R$ 20 mil e o gestor, um coordenador pedagógico e um professor representante do 1º ou 2º ano são contemplados com uma viagem de intercâmbio e/ou Congresso na área de educação a um Estado da Federação.
Confira as escolas vencedoras da 13ª edição do Prêmio Delacir, por categoria:
I – Destaque Alfabetização – edição 2025
Escola Municipal Raimundo Eloy Gomes
II – Educação Infantil: Creche
1º Lugar – Núcleo Cidadão
2º Lugar – Núcleo Nova Cidade
3º Lugar – Núcleo Senador Hélio Campos
III – Educação Infantil: Pré-Escola
1º Lugar – E. M. Waldinete de Carvalho Chaves
2º Lugar – E. M. José Arnóbio da Silva
3º Lugar – E. M. Eunice Queiroz de Faria
IV – Indígena e do Campo
1º Lugar – E. M. do Campo Leila Maria da Silveira
2º Lugar – E. M. Indígena Vovô Jandico da Silva
3º Lugar – E. M. Indígena Clemente dos Santos
V – Ensino Fundamental Médio Porte (até 900 alunos)
1º Lugar – E.M. Maria Teresa Maciel da Silveira Melo
2º Lugar – E. M. Balduíno Wotrich
3º Lugar – E. M. Jael da Silva Barradas
VI – Ensino Fundamental Grande Porte (acima de 901 alunos)
No garimpo, mercúrio geralmente é utilizado para separação do ouro. Área degradada pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Foto: Divulgação/HAY
Licenças ambientais para atividades de garimpo que utilizem mercúrio não serão mais concedidas noAmazonas, segundo o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). A decisão atende recomendação do Ministério Público Federal (MPF) e tem como objetivo reduzir os riscos de contaminação de rios e comunidades da região.
De acordo com o MPF, três autorizações de mineração de ouro já foram suspensas de forma cautelar. Os responsáveis terão 30 dias para comprovar, com documentação técnica, que não usam mercúrio nos processos de beneficiamento. Caso contrário, as licenças podem ser anuladas.
Uma norma específica deve ser publicada em até 30 dias para formalizar a proibição do uso da substância na mineração de ouro no estado. O texto vai exigir que empreendedores detalhem, desde o início, quais técnicas de beneficiamento serão aplicadas e comprovem que são ambientalmente seguras.
O que está previsto:
Nenhum novo pedido de licença será aceito se houver previsão de uso de mercúrio.
Licenças já concedidas poderão ser revistas e canceladas.
Só haverá exceções se houver autorização do Ibama.
Mercúrio é usado em garimpos ilegais. Foto: Divulgação/Ipen
Amazonas e o garimpo
Segundo a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), o Amazonas está entre os principais pontos de entrada de mercúrio contrabandeado na América do Sul. O órgão apontou que o estado é atravessado por rotas clandestinas que ligam países vizinhos, como Peru e Colômbia, ao interior do Brasil, abastecendo garimpos ilegais com o metal pesado usado na extração de ouro.
A recomendação do MPF buscou garantir maior controle sobre atividades minerárias que utilizam mercúrio, devido aos graves riscos ambientais e à contaminação de rios e populações amazônicas.
O uso da substância no garimpo é considerado uma das principais fontes de poluição e representa ameaça direta à saúde pública, especialmente a comunidades ribeirinhas e indígenas.
Os serviços geológicos do Brasil (SGB) e da Colômbia (SGC) assinaram, no dia 2 de dezembro, um ‘Acordo de Cooperação Técnica’ (ACT) com o objetivo de desenvolver ações para ampliar o conhecimento geológico e aprimorar as capacidades técnicas e científicas das instituições. A assinatura ocorreu na sede do SGB em Brasília (DF), com a participação do diretor-presidente interino do SGB, Valdir Silveira, e do diretor geral do SGC, Julio Fierro Morales.
A parceria prevê intercâmbio de informações e de profissionais, além de pesquisas colaborativas em temas diversos, como mapeamento geológico, pesquisas minerais, geoconservação e patrimônio paleontológico, prevenção de desastres e fortalecimento de rotinas laboratoriais. Essa iniciativa não envolve a transferência de recursos financeiros.
“Esperamos avançar no conhecimento tanto naquelas áreas onde temos afinidade, quanto nas áreas de fronteira e nas pesquisas aplicadas em vários temas de interesse comum. Há uma janela de oportunidade para também avançar nas pesquisas laboratoriais em ambas as instituições. Portanto, é um momento ímpar e que vai trazer muitos frutos para nossos países”, reforçou o diretor-presidente interino do SGB, Valdir Silveira, durante a assinatura do ACT. Silveira também ocupa o cargo de diretor de Geologia e Recursos Minerais do SGB.
O diretor geral do Serviço Geológico Colombiano, Julio Fierro Morales, ressaltou que a parceria permitirá avançar em temas emergentes:
“Iremos trabalhar em linhas tradicionais de minerais, geotermia e riscos geológicos, mas também linhas mais novas que os serviços geológicos de todo o mundo estão trabalhando e que as geociências são fundamentais, como geologia oceânica e paleoclima. Com isso, nós pretendemos fortalecer nossos serviços geológicos em projetos de cooperação que nossos países estão realizando. Uma latinoamérica unida é um futuro melhor para os outros países”.
Foto: Igor Estrela/SGB
Próximos passos do acordo
Após a assinatura do acordo, o diretor geral e a diretora de Recursos Minerais do SGC, Juanita Sierra Salamanca, visitaram as instalações do SGB. Na ocasião, conheceram o Laboratório de Microanálises da instituição.
O próximo passo no âmbito do ACT será a elaboração de planos de trabalho, sendo o primeiro sobre ações conjuntas no Projeto Ouro Brasil do SGB – iniciativa que contribui para identificar a origem do ouro no país, permitindo a rastreabilidade e apoiando ações para combate à cadeia ilícita do minério.
Em setembro, as pesquisadoras Maisa Abram, chefe Departamento de Recursos Minerais (DEREM); e Stella Bijos, coordenadora do Projeto Ouro Brasil, participaram de missão técnica à Colômbia. Na ocasião, apresentaram ao Serviço Geológico Colombiano as ações e resultados do projeto.
Os diálogos para formalizar um acordo iniciaram em abril de 2025, durante a 30ª Assembleia Geral da Associação de Serviços de Geologia e Mineração Ibero-americanos (ASGMI), realizada em Cusco, no Peru, com a participação do assessor de Assuntos Internacionais do SGB, Rafael Duarte.
Essa aproximação permitiu identificar os principais pontos de convergência e as propostas de trabalho em potencial entre o SGB e o SGC.
A Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) está utilizando inteligência artificial (IA) de forma inédita para estudar o comportamento reprodutivo do pirarucu (Arapaima gigas). A pesquisa, desenvolvida em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), adapta técnicas já usadas na análise comportamental de roedores para a realidade da aquicultura. O objetivo é aumentar a previsibilidade da reprodução do maior peixe amazônico e abrir caminho para novas aplicações tecnológicas na criação.
O uso de IA na piscicultura ainda é muito recente no Brasil. A maior parte das pesquisas em inteligência artificial está concentrada em áreas como saúde, agronegócio de grãos, pecuária e estudos biomédicos.
“Aplicações em piscicultura, especialmente com espécies nativas como o pirarucu, representam uma nova fronteira”, destaca o professor da UFMG Cleiton Aguiar, parceiro do projeto.
Ele acrescenta que esse tipo de abordagem de rastreamento comportamental automatizado no País coloca o projeto em uma posição pioneira na integração de tecnologia de ponta com a produção aquícola.
Ao rastrear automaticamente os movimentos do pirarucu em gravações ininterruptas de vídeos, a IA possibilita mensurar comportamentos como deslocamento, tempo de atividade, interações e até detectar padrões relacionados ao estado de saúde ou ao ambiente de cultivo.
Em vez de depender apenas da observação humana, que é limitada e subjetiva, a inteligência artificial gera dados quantitativos, contínuos e padronizados, facilitando o acompanhamento da produção e a tomada de decisões no manejo.
Pesquisador segurando um pirarucu. Foto: Cleiton Aguiar/Acervo pessoal
No caso da pesquisa da Embrapa, 12 câmeras foram instaladas em 12 viveiros escavados, filmando durante o período de luz solar, das 6h às 18h. A cada subida do pirarucu – que é um peixe de respiração aérea – a IA detecta e faz uma marcação com um ponto na imagem do viveiro.
“A máquina conta quantas vezes o pirarucu sobe e faz uma planilha de Excel com dia, hora e as coordenadas do viveiro onde houve a aparição do peixe”, explica Lucas Torati, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura (foto à direita). “Mas antes de chegar a esse ponto há um longo caminho de aprendizado de máquina”, complementa.
O projeto é financiado com recursos do consórcio de pesquisa internacional Aquavitae, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (FAPT) e de emenda parlamentar do senador do Tocantins, Eduardo Gomes.
Redes neurais profundas
O modelo adota treinamento de redes neurais profundas para que a máquina consiga identificar automaticamente a subida do pirarucu na superfície.
Primeiro, são marcados os quatro cantos do viveiro e onde o peixe aparece na superfície. Isso é feito para várias imagens e, na sequência, a rede é treinada para aprender o que é um pedaço do peixe e o que é um canto do viveiro.
“É como treinar um cérebro virtual, a partir de cerca de 200 quadros. Essa técnica de aprendizado de máquina, ou machine learning, faz com que ela consiga analisar os vídeos com base nos padrões ensinados, que são os viveiros e as partes do corpo dos peixes (cabeça, tronco e cauda)”, explica Torati.
Ele acrescenta que durante esse trabalho de aprendizado de máquina, deve-se levar em conta ias variações climáticas e de luminosidade dos viveiros para que a máquina consiga fazer a análise das imagens em todas as condições.
“Para isso, é necessário utilizar imagens com diferentes condições de incidência luminosa (manhã, sol do meio-dia e entardecer) e quadros em diferentes condições climáticas (sol nublado, chuva, céu aberto). É um treinamento longo e minucioso para que a máquina possa depois analisar vídeos em todas essas condições”, pontua o pesquisador.
Segundo o professor da UFMG, as redes neurais profundas (deep neural networks) são modelos computacionais inspirados no funcionamento do cérebro, compostos por várias camadas de processamento que permitem aprender representações complexas a partir de dados.
“No contexto do projeto, essas redes são treinadas com vídeos do pirarucu: primeiro, um conjunto de imagens é anotado manualmente (marcando pontos de interesse no corpo do peixe) e, em seguida, a rede aprende a reconhecer automaticamente esses pontos em novos vídeos”, afirma o professor. Ele observa ainda que esse processo é feito com o auxílio do software open source DeepLabCut (DLC), uma ferramenta de aprendizado profundo amplamente utilizada para rastreamento de animais. “Assim, a rede vai ficando cada vez mais precisa em identificar e acompanhar o movimento dos peixes em diferentes condições”, reforça Aguiar.
No Laboratório de Neurociências Comportamental e Molecular (LANEC) da UFMG, a inteligência artificial é utilizada, principalmente, para análise de sinais neurofisiológicos e de comportamento em roedores. Nesse contexto, o DLC tem a função de rastrear movimentos dos ratos durante tarefas de aprendizagem. Os estudos contam com a colaboração da engenheira e doutoranda Natália Martínez, do Programa de Pós-Graduação em Neurociências da UFMG.
A mesma ferramenta está sendo usada para o monitoramento do pirarucu. A diferença principal está no objeto de estudo e na conjuntura: em roedores, o foco é compreender os mecanismos de formação de memória e aprendizagem utilizando ratos como modelos animais, enquanto na piscicultura a IA é empregada para monitorar padrões comportamentais dos animais na superfície da água que possam refletir de alguma forma o seu bem-estar, crescimento e comportamento reprodutivo, com impacto direto na produção e manejo sustentável.
Detecção precoce de alevinos
Na pesquisa da Embrapa, a ideia é mapear a formação do ninho formado pelo casal de pirarucus. Esse momento é crucial para os produtores, que preferem recolher os alevinos o mais cedo possível. “Após a implantação de hormônio nos peixes, eles se reproduzem e foram o ninho para que a fêmea possa depositar ovos, a serem fertilizados pelo macho”, esclarece Torati.
Na sequência, há um comportamento típico da espécie, que é o do cuidado parental, em que o macho e a fêmea ficam sempre no mesmo lugar. Outro sinal é que o casal não busca mais comida. Com a inteligência artificial será possível identificar o momento exato em que esse processo acontece, de forma precoce.
“Se fosse possível, a coleta de ovos recém-fertilizados, certamente, aumentaria a taxa de sobrevivência. Geralmente, os produtores têm uma perda de milhares de alevinos, pela demora em retirá-los do viveiro”, ressalta o pesquisador.
O uso de IA na aquicultura não se restringe a estudos de reprodução do pirarucu. Os resultados obtidos nessa pesquisa abrem portas para outros tipos de explorações científicas com a espécie, como, por exemplo, avaliar como fatores relacionados à temperatura da água e á quantidade de oxigênio e de amônia podem interferir na frequência de respiração do pirarucu.
Também será possível pesquisar qual é o período em que o pirarucu é mais ativo, o quão estressado o peixe fica após o manejo, durante a biometria; será possível pesquisar o reflexo de cada doença no comportamento do peixe, entre outras aplicações.
“A IA também permite monitorar a eficiência alimentar e o consumo de comida dos peixes, de forma automática, sem necessidade de contagem manual. Quem sabe, em um futuro próximo, consigamos calcular automaticamente a biomassa desses animais (saber o quanto engordaram) a partir da biometria por meio de fotos propiciada pela inteligência artificial. Isso minimizaria muito o estresse e todo o trabalho de manejo de um peixe que pode chegar a mais de 100 quilos”, projeta Torati.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa
Real Forte Príncipe da Beira, em Costa Marques (RO). Foto: Reprodução/6º Batalhão de Infantaria de Selva
O Real Forte Príncipe da Beira, em Costa Marques (RO), ganhou no início deste mês o reconhecimento internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O monumento histórico passou a ter Proteção Reforçada, um título raro que garante prioridade máxima em ações de preservação e destaca o Forte como um patrimônio de valor único para a humanidade.
Com a alta classificação, o Forte passa a fazer parte de um conjunto de patrimônios mundiais reconhecidos pelo Direito Internacional Humanitário que merecem mais proteção.
Construído no século XVIII às margens do Rio Guaporé, o Real Forte Príncipe da Beira é considerado uma das maiores fortificações coloniais da América do Sul. Ele foi erguido pelos portugueses como parte da estratégia de defesa das fronteiras da Amazônia Ocidental. O local deveria ser usado para defender as terras já conquistadas por Portugal durante a disputa com a Espanha.
De acordo com o Exército Brasileiro, para conseguir esse reconhecimento da UNESCO, o Brasil teve que mostrar que o Forte tem importância histórica para o mundo, que existem leis garantindo sua preservação e que o espaço não é usado para fins militares.
Atualmente, considerado um sítio arqueológico, o Forte está sob responsabilidade do 6º Batalhão de Infantaria de Selva, que cuida da vigilância e conservação.
Segundo o Exército Brasileiro, o reconhecimento da UNESCO reforça a importância do Forte Príncipe da Beira como parte da história do país. O monumento é visto como um testemunho da formação do território brasileiro e uma referência para entender a engenharia militar, a ocupação da Amazônia e os processos que ajudaram a construir o país.
Real Forte Príncipe da Beira
O forte tem uma dimensão de 970 metros e é considerado a maior edificação militar portuguesa construída fora da Europa, durante o período do Brasil Colonial. A construção fica distante aproximadamente 730 km da capital Porto Velho.
No Real Forte Príncipe da Beira foram construídos quatro baluartes de 59 metros de largura. Os baluartes foram chamados de “Nossa Senhora da Conceição, Santo Antônio, Santa Bárbara e Santo André Avelino”. Cada um tinha espaços para canhões, que com o passar do tempo foram furtados.
Parte do forte foi construído com pedras retiradas do rio Guaporé. Ele também continha um calabouço que adiante seria usado como celas para prender os chamados “degradados”.
Atualmente com mais de 230 anos de história, o monumento arquitetônico é diariamente visitado por turistas. Ele foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1950 e é de propriedade do Exército Brasileiro.
Foto: Reprodução/6º Batalhão de Infantaria de Selva
Lendas
Em 2022, A construção foi associada a uma suposta cidade perdida: Ratanabá, uma civilização secreta no coração da Amazônia. Segundo as postagens, que viralizaram no TikTok, no Twitter e no Instagram, a cidade seria “maior que a Grande São Paulo”, e era “a capital do mundo” e “esconde muita riqueza, como esculturas de ouro e tecnologias avançadas de nossos ancestrais”.
Porém essas informações são consideradas sem fundamento. De acordo com o arqueólogo Eduardo Goés Neves, professor do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos do Museu de Arqueologia e Etnologia da mesma instituição, “tudo isso é um delírio”.
O evento ‘Fortalecimento da Rede em Prol das Áreas Protegidas nos Países do Escudo das Guianas’ ocorreu em Macapá. Foto: Divulgação/ICMBio
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) divulgou que, no fim de novembro, voltou a contribuir no tema do Escudo das Guianas, comprometendo-se e assinando a ‘Carta de Macapá‘, um protocolo de intenções para proteção da região e um plano de ação para os próximos passos da iniciativa.
A assinatura foi resultado do evento ‘Fortalecimento da Rede em Prol das Áreas Protegidas nos Países do Escudo das Guianas’, que ocorreu em Macapá (AP), nos dias 24 e 25 de novembro. O convite partiu do Parc Amazonien de Guyane ao Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (AP) como fruto das ações da Carta de Intenções Brasil-França, assinada entre os parques nacionais em março de 2024 visando ações cooperativas entre as duas áreas protegidas.
Composta por participantes de Suriname, Guiana Francesa, Guiana e Brasil, a oficina estabeleceu os objetivos para a segunda fase do Projeto Renforesap, de abordagem transnacional entre os gestores de áreas protegidas da Guiana Francesa, do Suriname e da Guiana. A primeira fase aconteceu durante os anos de 2018 a 2021, mas o Brasil, embora convidado, não participou.
O projeto envolve a gestão de áreas protegidas na região e em sua primeira etapa vinha sendo implementado pelo Parque Amazônico da Guiana Francesa (Guiana Francesa); pela Comissão de Áreas Protegidas (Guiana); pelo Ministério do Planejamento, Ordenamento Fundiário e Florestal (Suriname); e pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (Suriname). A nova fase incluirá o Brasil por meio da participação do ICMBio e de outras instituições nacionais.
Localizado ao longo da costa norte da América do Sul, o Escudo é uma formação geológica de aproximadamente 1,7 bilhão de anos. Com 270 milhões de hectares, a região engloba a Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela e partes da Colômbia e do Brasil, incluindo os estados brasileiros de Roraima, Amapá, Pará e Amazonas. Em sua totalidade, o Escudo corresponde a 40% da área do bioma amazônico.
As ações específicas para se alcançar estes objetivos são a organização de oficinas regionais reunindo os gestores das áreas protegidas e a produção de encontros temáticos participativos, que buscam delinear uma visão geral acerca da melhor forma de se apoiar o desenvolvimento local em áreas isoladas em termos de desenvolvimento do ecoturismo. Adicionalmente, busca-se fomentar a ciência participativa para o manejo sustentável dos recursos naturais no ambiente amazônico, desenvolver estratégias de controle contra as ameaças de mineração ilegal de ouro e promover a transmissão do conhecimento tradicional e do patrimônio cultural.
“O Escudo das Guianas é umas das regiões mais preservadas da Amazônia e de efetiva contribuição para o controle climático do planeta, mas sua sociobiodiversidade, ainda pouco estudada, vem sofrendo pressões de atividades econômicas degradantes. Então, essa iniciativa é, sem dúvida, um passo importante para que os governos dos países que compõem o território pensem, planejem e executem ações integradas para proteção das paisagens e povos que habitam a região”, destacou Carla Lessa, gerente regional do Norte pelo ICMBio (GR1)
Além da participação da gerente regional, o ICMBio esteve também representado pelos coordenadores territoriais de Belém e Manaus, Willian Fernandes e Wilzer Cristiane Gonçalves, pelo coordenador geral de Proteção (CGPRO/DIMAN), Ricardo Brochardo, e pela chefe do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) Amapá Central, Fernanda Brandão. O NGI inclui o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque.
Participaram também integrantes da Secretaria de Meio Ambiente do Amapá e instituições civis como a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e o Instituto Panthera.Servidores do ICMBio que compuseram o evento.
O território amazônico tem sido marcado pela intensificação de atividades ilegais que ameaçam a integridade dos ecossistemas, entre as quais a mineração clandestina se destaca pela amplitude de seus impactos. Como mostra a Figura 1, grande parte dessa pressão ocorre em áreas próximas ou sobrepostas às Terras Indígenas, evidenciando a vulnerabilidade desses espaços frente à expansão do garimpo.
Figura 1. Delimitação dos Estados da Amazônia Legal e das Terras Indígenas Demarcadas
Fonte: MapBiomas – Plataforma de Mineração, versão 9.0 (2023).
Ao longo das últimas décadas, o avanço da mineração ilegal aprofundou processos de degradação ambiental associados ao desmatamento, à contaminação por mercúrio, ao assoreamento de cursos d’água e à perda de biodiversidade. Além dos danos ecológicos, a atividade também afeta diretamente as populações indígenas e ribeirinhas, que enfrentam riscos sanitários, conflitos territoriais e desestruturação de modos de vida tradicionais. Esse conjunto de impactos exige análises que articulem a dimensão ambiental com dinâmicas históricas e territoriais de ocupação da Amazônia.
Nesse contexto, este estudo tem como objetivo examinar a evolução espacial e temporal da mineração ilegal na Amazônia Legal, no período de 1985 a 2023, destacando como a intensificação dessa atividade representa um obstáculo crescente à conservação ambiental na região. Para isso, utiliza-se a série histórica disponibilizada pelo MapBiomas, que permite identificar padrões de expansão, estados mais pressionados e mudanças na intensidade da atividade ao longo dos últimos 38 anos.
Ao revelar tendências e concentrações territoriais, a análise busca contribuir para o debate sobre os desafios contemporâneos da conservação ambiental na Amazônia, evidenciando a necessidade urgente de ações integradas de fiscalização, gestão territorial e proteção dos ecossistemas.
A análise apresentada nesta seção baseia-se na série histórica disponibilizada pelo MapBiomas, uma das plataformas mais completas para o monitoramento sistemático do uso e cobertura da terra no Brasil. Considerou-se exclusivamente o recorte geográfico da Amazônia Legal, abrangendo os estados do Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. O estado do Acre não aparece nos resultados por ausência de registros de mineração — industrial ou garimpeira — na base consultada, o que explica sua exclusão das comparações posteriores.
1. Evolução da área minerada (1985–2023)
A série histórica analisada, que se estende de 1985 a 2023, permite acompanhar de forma contínua a evolução da mineração na região e identificar tanto sua expansão territorial quanto as mudanças em sua intensidade ao longo do tempo. Entre os indicadores disponibilizados pela plataforma, destacam-se dois: a área anual ocupada pelas diferentes classes de mineração, expressa em hectares, e a proporção relativa dessas áreas no conjunto da Amazônia Legal. Esses elementos são fundamentais para compreender o ritmo de expansão e a escala dos impactos ambientais associados.
Embora o recorte fundiário — como Terras Indígenas e Unidades de Conservação — não esteja discriminado nos dados do MapBiomas, é amplamente reconhecido que boa parte da mineração ilegal ocorre justamente nesses territórios, que figuram entre os mais vulneráveis da região. Isso torna ainda mais relevante observar como a atividade se distribui espacialmente ao longo da Amazônia, considerando que grande parte do avanço garimpeiro incide sobre áreas oficialmente protegidas.
O Gráfico 1 sintetiza a evolução das áreas ocupadas por mineração industrial e garimpo entre 1985 e 2023. Os dados revelam um padrão inequívoco: ao longo de quase quatro décadas, o garimpo se consolidou como a modalidade dominante na Amazônia Legal, tanto em extensão territorial quanto em velocidade de expansão. Desde 1985, quando já ocupava cerca de 22 mil hectares, a atividade avançou de forma contínua, alcançando mais de 264 mil hectares em 2023.
Gráfico 1. Evolução da Área Ocupada por Mineração Industrial e Garimpo na Amazônia Legal (1985-2023)
Fonte: Elaboração própria com base em dados do MapBiomas – Plataforma de Mineração, versão 9.0 (2023).
Em contraste, a mineração industrial apresentou crescimento muito mais lento e moderado: passou de aproximadamente 8 mil hectares em 1985 para cerca de 59 mil hectares em 2023. Como resultado, sua proporção relativa diminuiu ao longo do período, representando apenas cerca de 22,5% da área ocupada pelo garimpo no último ano da série.
Essa disparidade evidencia não apenas o caráter expansivo da mineração ilegal, mas também a fragilidade institucional no controle e fiscalização das frentes garimpeiras, especialmente após 2016, quando se observa uma aceleração expressiva da atividade. O intervalo entre 2016 e 2021, em particular, marca um dos períodos de crescimento mais intenso da série, refletindo a intensificação de redes ilegais, a valorização do ouro no mercado internacional e a redução das ações de fiscalização ambiental.
Por outro lado, a mineração industrial — por estar sujeita a processos mais rígidos de licenciamento e controle — apresenta um comportamento mais estável, com variações graduais ao longo do tempo. O contraste entre as curvas reforça o papel crítico do garimpo como principal vetor de pressão ambiental na região.
A Tabela 1 apresenta a distribuição da área ocupada por diferentes classes de garimpo no ano de 2023, totalizando 264.227 hectares. A composição revela forte concentração na categoria de garimpo metálico, que representa 96,23% de toda a área garimpada. Dentro desse grupo, destaca-se amplamente o garimpo de ouro, que sozinho responde por 232.261 hectares — o equivalente a 91,34% da extração ilegal registrada.
Tabela 1. Distribuição da Área Ocupada por Classe de Garimpo na Amazônia Legal em 2023
Garimpo Classes
264227
100,00
Metálicas
254274
96,23
Manganês
690
0,27
Estanho
21322
8,39
Ouro
232261
91,34
Não Metálicas
7506
2,84
Minerais Classe 2
7506
100,00
Pedras preciosas e rochas ornamentais
2446
0,93
Pedras preciosas
2058
84,14
Rochas ornamentais
388
15,86
Fonte: Elaboração própria com base em dados do MapBiomas – Plataforma de Mineração, versão 9.0 (2023).
Minerais metálicos como estanho (8,39%) e manganês (0,27%) aparecem em proporções muito inferiores, evidenciando sua participação residual na dinâmica garimpeira da Amazônia. A extração não metálica representa 2,84% da área total, concentrada principalmente em Minerais Classe 2. Pedras preciosas e rochas ornamentais ocupam uma área bastante reduzida, reforçando que o garimpo amazônico segue predominantemente orientado à exploração de metais de alto valor no mercado.
Esse perfil demonstra um padrão consolidado e historicamente estável: o garimpo de ouro permanece hegemônico, impulsionado tanto pela facilidade de extração quanto pela demanda crescente no mercado global. Tal predominância intensifica os danos ambientais, dado que a extração aurífera costuma envolver dragas, maquinário pesado e uso intensivo de mercúrio — um dos principais contaminantes dos ecossistemas amazônicos.
3. Distribuição espacial do garimpo entre os estados
O Gráfico 2 compara a área ocupada pelo garimpo em 2023 com a média histórica calculada para o período 1985–2023. Os resultados apontam para fortes assimetrias territoriais. O Mato Grosso aparece como o epicentro da atividade, com 68.354 hectares garimpados em 2023 — valor significativamente superior à sua média histórica (40.096 hectares). A magnitude dessa diferença revela uma intensificação recente da atividade no estado, que já era, historicamente, o principal polo minerário da região.
Gráfico 2. Distribuição da Área Ocupada pelo Garimpo na Amazônia Legal por Estado, 2023
Fonte: Elaboração própria com base em dados do MapBiomas – Plataforma de Mineração, versão 9.0 (2023).
O Amazonas ocupa a segunda posição, com 16.046 hectares, também muito acima de sua média histórica (4.303 hectares). Rondônia (10.758 hectares) e Maranhão (6.872 hectares) apresentam comportamento semelhante, com valores recentes que ultrapassam com folga suas médias históricas, indicando um avanço acelerado do garimpo nesses estados.
Amapá e Roraima registram áreas menores em termos absolutos, mas ambas também apresentam valores superiores às médias históricas, evidenciando que o crescimento da atividade é um fenômeno disseminado por toda a Amazônia Legal, ainda que em diferentes intensidades.
Por outro lado, Pará e Tocantins aparecem com as menores áreas ocupadas — 384 e 78 hectares, respectivamente — embora ainda acima de suas médias históricas, sugerindo um crescimento mais discreto, porém ainda presente.
O conjunto desses resultados mostra que a expansão garimpeira recente não se concentra apenas nos estados tradicionalmente mineradores, mas se dissemina por toda a região, alcançando inclusive áreas onde a atividade historicamente era menos expressiva. Isso reforça a tendência de interiorização do garimpo ilegal e a ampliação de sua área de influência territorial.
4. Análise conjunta dos efeitos espaciais e temporais
Para compreender de forma integrada a influência das diferenças territoriais e das mudanças ao longo do tempo, realizou-se uma ANOVA de dois fatores, avaliando simultaneamente o impacto do Estado e do Ano sobre a área anual de mineração. Como a variável dependente não atendia plenamente ao pressuposto de normalidade, aplicou-se a transformação logarítmica natural. Ainda assim, a heterogeneidade de variâncias levou ao uso de estimativas robustas (HC3) no SPSS.
Os resultados mostram efeitos altamente significativos tanto para o fator Estado quanto para o fator Ano. O primeiro apresenta a maior magnitude, indicando que a localização geográfica é determinante para explicar a variação observada na área de mineração. O fator temporal também é significativo, embora com menor impacto, mostrando que a atividade experimentou mudanças importantes ao longo das quase quatro décadas analisadas.
O modelo como um todo explicou 98% da variabilidade da variável transformada, com baixo erro residual, o que confirma sua forte capacidade explicativa. O elevado coeficiente de determinação reforça a robustez da análise e evidencia que os fatores espaciais e temporais atuam de forma articulada na expansão da mineração ilegal.
As comparações post hoc mostraram que o Mato Grosso supera significativamente todos os demais estados, enquanto Tocantins e Pará integram o grupo com menores médias. Amapá e Maranhão formam um par sem diferença estatística significativa, sugerindo dinâmica semelhante. Roraima e Pará também exibem valores próximos, ainda que com diferença significativa.
O Gráfico 3 ilustra essas diferenças, destacando a posição de liderança do Mato Grosso e a ampla distância que o separa de estados com menor presença minerária. As posições intermediárias de Amazonas, Maranhão e Amapá reforçam a ideia de que o garimpo se distribui de forma marcadamente desigual pela Amazônia Legal.
Gráfico 3. Médias Marginais Estimadas da Área Anual Ocupada por Classe de Mineração na Amazônia Legal (LN), por Estado (1985-2023)
Fonte: Elaboração própria com base em dados do MapBiomas – Plataforma de Mineração, versão 9.0 (2023), e análise realizada no IBM SPSS Statistics
Além disso, observa-se uma forte queda nas médias marginais estimadas para o Pará, seguida de um novo aumento em Rondônia, o que evidencia oscilações significativas entre estados vizinhos e demonstra que a atividade garimpeira não segue um padrão linear na região.
Roraima apresenta um comportamento intermediário, mas ainda inferior ao registrado em Rondônia, enquanto Tocantins aparece com o menor valor da série, encerrando o gráfico com a média marginal mais baixa. Esse conjunto de variações revela que, embora o Mato Grosso concentre a maior pressão minerária, a atividade se manifesta de maneira heterogênea e irregular ao longo de todo o território amazônico.
5. Implicações para a conservação ambiental na Amazônia Legal
Os resultados apresentados permitem afirmar que a expansão do garimpo ilegal na Amazônia Legal não é apenas um fenômeno de crescimento econômico informal, mas um processo de reconfiguração territorial com profundas consequências para a conservação ambiental. A predominância do garimpo sobre a mineração industrial ao longo de quase quatro décadas (Gráfico 1), a hegemonia da extração de ouro (Tabela 1) e a forte concentração da atividade em determinados estados (Gráficos 2 e 3) ajudam a dimensionar a escala das pressões exercidas sobre os ecossistemas amazônicos.
A centralidade do Mato Grosso e o avanço recente em estados como Amazonas, Rondônia e Maranhão indicam que grandes áreas de floresta estão sendo convertidas em frentes de extração mineral, muitas vezes em regiões de cabeceiras de rios e áreas de alta sensibilidade ecológica. Nesses contextos, o desmatamento associado à abertura de clareiras, estradas vicinais e acampamentos garimpeiros provoca fragmentação de habitats, perda de cobertura vegetal e alteração de ciclos hidrológicos, comprometendo serviços ecossistêmicos essenciais, como regulação climática, proteção de solos e manutenção da biodiversidade.
A predominância do garimpo de ouro adiciona outra camada de gravidade à situação. A utilização recorrente de mercúrio nos processos de beneficiamento contamina cursos d’água e cadeias alimentares, afetando peixes, fauna silvestre e populações humanas que dependem desses recursos para sua subsistência. Assim, as áreas mapeadas pelo MapBiomas não representam apenas manchas de uso econômico do solo, mas também zonas potenciais de risco toxicológico, muitas vezes sobrepostas a Terras Indígenas e territórios de comunidades tradicionais, como já sinalizado pela distribuição geográfica evidenciada na Figura 1.
A desigualdade espacial identificada pela ANOVA e pelas comparações post hoc também tem implicações diretas para a gestão ambiental. Estados com maior intensidade de garimpo concentram impactos mais profundos e complexos, exigindo estruturas robustas de fiscalização, monitoramento e recuperação ambiental. Já aqueles com participação relativa menor, mas em crescimento, demandam políticas preventivas capazes de evitar que novas frentes de expansão reproduzam o mesmo padrão de degradação observado nas áreas historicamente mineradas.
Do ponto de vista da conservação, os resultados indicam três desafios centrais. O primeiro é a necessidade de integrar informações de monitoramento, como as fornecidas pelo MapBiomas, às estratégias de comando e controle, permitindo respostas mais rápidas às novas frentes de garimpo e aos focos de expansão ilegal. O segundo é fortalecer a proteção de territórios vulneráveis, especialmente Terras Indígenas e Unidades de Conservação, que se encontram na linha de frente da pressão minerária. O terceiro diz respeito à urgência de articular políticas ambientais com alternativas econômicas sustentáveis, capazes de reduzir a dependência de atividades de alto impacto e baixa sustentabilidade.
Em síntese, a dinâmica espacial e temporal da mineração ilegal na Amazônia Legal evidencia um processo contínuo de intensificação das pressões sobre a floresta e seus povos. A consolidação do garimpo como forma dominante de ocupação minerária reforça o caráter estrutural do problema e demonstra que a conservação ambiental na região depende, de maneira crescente, da capacidade do poder público e da sociedade de enfrentar essa atividade em múltiplas frentes: monitoramento, fiscalização, ordenamento territorial e promoção de modelos de desenvolvimento que preservem a integridade dos ecossistemas amazônicos.
Com a colaboração de:
Prof. Dr, Yunier Sarmiento Ramírez possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Amazonas, mestrado em Gestão de Empresas pela Universidad de Holguín – Cuba e doutorado em Economia pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Atualmente é professor da Universidade Federal do Amazonas no Departamento de Economia e Análise – DEA e no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia – PPGSS. Desenvolve pesquisas na área de Economia aplicada, teoria econômica e métodos quantitativos
Sobre o autor
Prof. Dr, José Barbosa Filho possui graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Ceará (1989), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (1992) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Atualmente é professor Titular da Universidade Federal do Amazonas. Desenvolve pesquisas na área de Contabilidade Ambiental, Matemática Financeira e Econometria, com ênfase em Gestão Ambiental, atuando principalmente nas seguintes áreas: valoração ambiental, desenvolvimento sustentável, avaliação de impactos ambientais e gerenciamento de processos.