Foto: Reprodução/Blog Porta Retrato-AP
O amapaense Raimundo dos Santos Souza, conhecido como Mestre Sacaca, foi uma figura importante para o cenário cultural do Amapá. Nascido em 1926, em Macapá, Sacaca era conhecedor da medicina natural, tocador de caixa de marabaixo e artesão de instrumentos, além de ter um papel fundamental na preservação da cultura indígena tucuju. Ele se casou com Madalena Souza, a primeira Miss Amapá, com quem teve 14 filhos.
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Ao longo da vida, foi uma liderança comunitária de destaque, pois participou da fundação da União dos Negros do Amapá (UNA) e da primeira associação de idosos do estado.
Ele também marcou presença no carnaval amapaense. Por mais de 20 anos foi coroado Rei Momo, desfilando com alegria e irreverência. Sua paixão pela cultura popular o tornou enredo de várias escolas de samba, como Solidariedade, Piratas da Batucada, Boêmios do Laguinho — sua escola do coração — e Império da Zona Norte, além de diversos blocos.
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Fora da avenida carnavalesca, também teve destaque nos campos de futebol. Atuou como técnico e massagista, sendo peça-chave no histórico título do Esporte Clube Macapá, campeão do primeiro Copão da Amazônia, em 1975, ao lado de craques como Bira.
Doutor da floresta
Mas foi mesmo na relação com a natureza que construiu seu maior legado. O ‘doutor da floresta’ ou ‘curador da floresta’, como era chamado, era procurado por moradores de todo o Amapá em busca de tratamentos naturais, chás e ervas medicinais.
Na década de 1990 apresentava o programa ‘A Hora do Campo’, da Rádio Difusora de Macapá, ensinando sobre as propriedades medicinais das plantas. Além disso, também escrever três livros, nos quais catalogou plantas com uso terapêutico.
Foi seu saber que o levou a ser homenageado de diversas formas, como o Museu Sacaca, espaço cultural e histórico que leva seu nome. O museu é um centro de preservação da cultura amazônica e está localizado na Avenida Feliciano Coelho, n°1509 – Trem, em Macapá. Funciona de terça a domingo, das 9h às 17h. A entrada é gratuita. No museu existe ainda o ‘Memorial Sacaca’, com documentos, fotos e objetos da trajetória do mestre.
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De acordo com informações do Governo do Amapá, Sacaca é “um dos dois brasileiros homenageados pela Divine Academia Francesa, entidade social que homenageia grandes personalidades pelo mundo”, e ainda teve o nome ‘doutor da floresta’ dado a uma orquídea e a um organismo aquático encontrado no Amapá.
“Seu trabalho com as plantas foi referência para muitos pesquisadores que desenvolviam estudos sobre a fauna e a flora amazônica. A Universidade Federal do Amapá (Unifap) concedeu à ele, o título de doutor ‘Honoris Causa – Post Mortem’, pelos diversos serviços ofertados para a comunidade”, informa o governo. Ele morreu em 1999, aos 73 anos de idade.

Homenagem histórica
Em 2026, Sacaca terá sua história eternizada no carnaval da Estação Primeira de Mangueira, no Rio de Janeiro. A tradicional escola carioca apresentou, no dia 16 de maio de 2025, o enredo ‘Mestre Sacaca do encanto Tucuju – o Guardião da Amazônia Negra’, que mergulha na ancestralidade afro-indígena do extremo Norte do país.
De acordo com o carnavalesco Sidnei França, o enredo da Mangueira é uma oportunidade de jogar luz sobre um Brasil pouco retratado nas grandes narrativas culturais.
“Estamos falando de algo inédito na historiografia da Mangueira: tratar de costumes afro-indígenas. Mesmo no Brasil, muitas vezes ainda predomina uma visão monolítica sobre a Amazônia”, destacou.
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