O monitoramento da certificação ocorre anualmente, para que os produtores agroextrativistas sigam fornecendo copaíba para empresa do mercado de estética e bem-estar.
As comunidades quilombolas do território de Alto Trombetas II, em Oriximiná, no Pará, compõem o seleto grupo na Amazônia de fornecedores do óleo-resina orgânico de copaíba. O produto, que vem de práticas sustentáveis de manejo das florestas, é fornecido para o mercado de estética e bem-estar. Recentemente, uma auditoria foi realizada na comunidade Jamari para garantir a origem orgânica do produto.
A auditoria foi uma ação participativa. Na ocasião, os processos de coleta e armazenamento da copaíba foram examinados detalhadamente. “Esta auditoria é essencial para assegurar que as práticas de coleta e armazenamento atendam aos padrões orgânicos exigidos pelo mercado”, explicou Rosimeire Borges, analista técnica do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
A verificação abrangeu desde a coleta até a rastreabilidade realizada pela Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora), responsável pela comercialização.
Mateus Feitosa, também analista técnico do Imaflora, ressaltou a importância da certificação orgânica obtida em 2017 para a comunidade de Curaça-Mirim e Jamari. “O selo orgânico traz um valor agregado significativo ao produto, além de promover práticas sustentáveis de extração e armazenamento”, afirmou.
As comunidades enfrentam desafios e oportunidades únicas na produção de copaíba. Localizadas em áreas remotas, elas desenvolveram métodos de coleta que respeitam a floresta e mantêm a biodiversidade. A produção de copaíba no território vai além de apenas uma fonte de renda, é também uma forma de conservação ambiental e manutenção da cultura local.
A auditoria envolveu representantes da Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora), Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Alto Trombetas (ACRQAT), entidades como a empresa Beraca – a Clariant company group, Ecocert e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Sociobiodiversidade (ICMBio), acompanhados pelos analistas do programa Florestas de Valor, iniciativa do Imaflora.
O processo de auditoria revelou o comprometimento das comunidades com as práticas sustentáveis. “A coleta da copaíba por essas comunidades quilombolas é um exemplo de como é possível aliar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental”, comentou Mateus.
As ações do programa Florestas de Valor, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e Governo Federal, incluindo a auditoria da copaíba orgânica, refletem um compromisso com a sustentabilidade e com a valorização das comunidades tradicionais. O trabalho conjunto com a Coopaflora e outras organizações fortalece essa rede de produção sustentável, garantindo que a copaíba extraída preserve não apenas as árvores, mas também as tradições e o bem-estar das comunidades quilombolas de Oriximiná.
Certificação e sustentabilidade
A mudança significativa veio com a introdução da copaíba orgânica em 2017. A Ecocert, empresa certificadora, conferiu a certificação a grupos das comunidades Curaça-Mirim e Jamari. Esta certificação não apenas valoriza o produto, mas também assegura a adoção de práticas sustentáveis na coleta e no armazenamento, garantindo um preço mais justo pelo quilo grama do produto.
As discussões durante a auditoria também abordaram os desafios enfrentados pelas comunidades na expansão da produção orgânica. O Imaflora tem ajudado a Coopaflora a se preparar para a certificação, o que poderia potencialmente ampliar o número de coletores e mercados acessíveis.
O Florestas de Valor tem atuado como ponte entre as comunidades locais e o mercado, oferecendo apoio e assessoria contínuos. Desde 2012, o instituto tem se envolvido em múltiplas facetas da produção de copaíba, incluindo o treinamento em boas práticas de coleta, mapeamento de áreas potenciais para coleta na Floresta Nacional (FLONA) Saracá-Taquera, por exemplo, assistência na composição de preços, e identificação de oportunidades de mercado.
Tem sido um catalisador para o empoderamento das comunidades locais, não apenas na produção de copaíba, mas também em outras cadeias produtivas. A busca por inovações e práticas sustentáveis, aliada à necessidade de um comércio justo e responsável, coloca o Imaflora e as comunidades do Alto Trombetas II na vanguarda de um movimento de conservação e desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Desafios da certificação
Um dos principais desafios enfrentados no processo de certificação orgânica é a adequação às rigorosas normas estabelecidas para a coleta e armazenamento da copaíba.
“A certificação exige uma série de práticas sustentáveis e documentação detalhada, o que pode ser desafiador para comunidades remotas”,
explicou Rosimeire.
Além disso, o custo associado à obtenção e manutenção do certificado orgânico representa uma barreira significativa, especialmente para pequenos produtores.
Atualmente, a certificação orgânica para a copaíba em Oriximiná é limitada a grupos específicos, devido aos custos associados e à capacidade de gerenciamento. “A Beraca, uma das principais compradoras, financia a certificação, mas os recursos são limitados, o que restringe a expansão para outras comunidades”, destacou Mateus. A proposta em discussão é que a Coopaflora assuma a responsabilidade pela certificação, ampliando a participação de mais coletores e diversificando os mercados.
As comunidades envolvidas na coleta de copaíba demonstram um entendimento profundo do valor da certificação orgânica, não apenas em termos econômicos, mas também como um selo de suas práticas sustentáveis. Este processo também é percebido como uma oportunidade para melhorar continuamente as práticas de coleta e armazenamento, garantindo a sustentabilidade a longo prazo da atividade.
Confira a cartilha sobre as boas práticas de manejo de copaíba: