Vila Limeira: conheça a primeira comunidade 100% solar do sul do Amazonas

Comunidade Vila Limeira, na Resex Médio Purus, tem energia solar por 24 horas após instalação, em agosto

Criada a partir do ciclo da borracha, na década de 1950, a comunidade de Vila Limeira é uma das quase 100 que integram a Reserva Extrativista Médio Purus, entre os municípios de Lábrea e Pauini, no sul do Estado do Amazonas. Os primeiros moradores foram nordestinos que chegaram à região para trabalhar com borracha. 

Com a mudança do ciclo econômico, tornaram-se extrativistas, vivendo do que a floresta lhes dá: pesca, madeira, frutos, mel, roçado.

Hoje com cerca de 80 pessoas vivendo na comunidade, Vila Limeira tem uma organização social estabelecida, com associação de moradores própria e atuante, em sua maioria de profissão religiosa evangélica. De lá saíram lideranças extrativistas, professores e estudantes. A comunidade conviveu por muitos anos com obstáculos impostos pela falta de energia, que impedia a ampliação de sua produção sustentável, e de seus conhecimentos.

Alessandra Mathyas / WWF-Brasil

Como todas as áreas remotas sem acesso à energia convencional, só tinham eletricidade por três horas noturnas a partir de um motor gerador a diesel, que consumia cerca de 10 litros por dia. E o sul do Amazonas é um dos lugares onde o combustível está mais caro no país (gasolina R$ 7,50, diesel R$ 6). O valor, dividido entre todas as famílias de forma antecipada para comprar o combustível pode ser considerada a energia mais cara do Brasil, variando de R$ 80 a R$ 120 por mês.

Em 2018 a comunidade quis saber mais sobre a energia solar. Queria entender como funcionava, qual era o custo, o que precisava fazer para ter eletricidade 24 horas por dia e assim aumentar sua produção com oferta de refrigeração e gelo, ampliar o acesso à educação e comunicação, e claro, ter mais lazer aos moradores.

Foi assim que surgiu o projeto Vila Limeira 100% Solar, numa iniciativa conjunta da Apavil (Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus da Vila Limeira), do WWF-Brasil, com apoio da Fundação Mott e autorização do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Inicialmente, o projeto era para ter sido instalado em 2020, mas a pandemia atrasou o sonho até agosto deste ano – quando a usina solar foi instalada e inaugurada.

Alessandra Mathyas / WWF-Brasil

Na Vila Limeira, todas as casas, a escola, centro comunitário e a maioria das atividades produtivas acontecem muito próximas. Por isso, optou-se por uma minirrede off grid, conhecida no Brasil como MIGDI (Microssistema Isolado de Geração e Distribuição de Energia Elétrica). Somando todas as demandas energéticas locais, concluiu-se que uma rede de 30kWp seria suficiente para as expectativas comunitárias. E o sistema foi projetado com os equipamentos mais modernos, incluindo banco de baterias de lítio, com durabilidade de 15 anos e medidores individuais em todas as unidades consumidoras.

A comunidade participou de todo o processo, desde o início do projeto até a instalação final. Foi responsável pelas obras físicas de estrutura e foi treinada na instalação para dar manutenção básica ao sistema, além de monitorar remotamente a geração, o consumo e o carregamento de baterias. Saber quanto é gerado e controlar o consumo é fundamental para a sustentabilidade do sistema e bem-estar de todos.

Agora os moradores locais não precisam mais ir até o rio lavar roupas e louça e terão tempo para outras atividades, para o lazer e para a educação. Na semana da instalação, iniciou a primeira turma de educação de jovens e adultos, com aulas noturnas. E agora, os jovens da comunidade já sonham em fazer cursos, talvez até faculdade, por ensino à distância.

A Vila Limeira é a primeira comunidade remota com eletricidade 24 horas e 100% solar do sul do Amazonas. E está disposta a contribuir na melhoria de políticas públicas para que todas as outras comunidades também tenham energia limpa e renovável e duradoura o mais rápido possível.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Arte rupestre amazônica: ciência que chega junto das pessoas e vira moda

Os estudos realizados em Monte Alegre, no Pará, pela arqueóloga Edithe Pereira, já originaram exposições, cartilhas, vídeos, sinalização municipal, aquarelas, história em quadrinhos e mais,

Leia também

Publicidade