Jovens Yanomami aprendem a usar drones para mapear território e ajudar na fiscalização da floresta

Mapear e ajudar na fiscalização da maior terra indígena do Brasil, a Terra Yanomami. Esta é a nova missão de seis jovens indígenas.

Jovens Yanomami participaram da oficina na Terra Indígena Tabalascada, no Cantá — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Mapear e ajudar na fiscalização da maior terra indígena do Brasil, a Terra Yanomami. Esta é a nova missão de seis jovens indígenas do povo Yanomami e Y’ekwana que participaram do curso de operação de drones, na Terra Indígena Tabalascada, no Cantá, interior de Roraima.

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Os jovens indígenas têm apostado na tecnologia como uma das alternativas para atuar no monitoramento e proteção do território, ameaçado, principalmente, pelo garimpo ilegal.

A formação foi uma iniciativa da Hutukara Associação Yanomami (HAY), a mais representativa deste povo, que tem como presidente Davi Kopenawa, líder indígena reconhecido nacionalmente pela luta em defesa dos povos e do meio ambiente.

As etapas do curso incluem aulas práticas e teóricas. Para participar, os seis jovens saíram das suas comunidades, em Roraima e no Amazonas. Uma delas foi a jovem Tais Mainaa, da região do Missão Catrimani, em Roraima. Foi a primeira vez que ela saiu da terra indígena, onde nasceu.

Jovens Yanomami
Jovens mulheres Yanomami operam drone durante curso — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

“Aprendi a fazer isso, mas quero aprender mais sobre o drone. Estou iniciando agora, mas estou gostando muito de aprender”, disse a jovem, na língua Yanomami.

Esta é a segunda turma a se formar pelo curso. A formação foi realizada pela HAY, com o apoio financeiro da agência oficial de ajuda humanitária da Igreja Católica na Inglaterra e no País de Gales (CAFOD) e a Size of Wales, uma organização de caridade que visa proteger florestas tropicais e conscientizar sobre a importância da proteção do ambiente natural.

Os jovens realizam o monitoramento com fotos georreferenciadas, que incluem dados de localização geográfica, e vídeos. Cidiclei Palimitheli, de 26 anos, da comunidade Palimiú, em Roraima, foi monitor da turma. Ele se formou no primeiro curso e agora auxilia os novos alunos.

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Jovens Yanomami
Tais Mainaa saiu pela primeira vez da Terra Yanomami para aprender a pilotar drone — Foto: Samantha Rufino

Cidiclei é de uma das comunidades mais afetadas por invasores. Em 2021, a região foi atacada a tiros por garimpeiros. O rio Uraricoera, que banha a comunidade, era usado pelos invasores para acessar as áreas de garimpo ilegal.

O cenário mudou após a instalação de um cabo de aço de uma ponta a outra no rio, em fevereiro de 2023, para impedir a entrada dos invasores. Agora, Cidiclei usa o drone para ajudar a fortalecer a vigilância.

“Eu aprendi para pensar no futuro, poder fazer denúncias e mandar para organizações [indígenas]. Aprendi a monitorar com drone e tirar foto, fazer vídeo para poder denunciar os invasores que estão entrando dentro do nosso território”, disse.

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Cidicley Yanomami foi monitor na turma de operadores de drone — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Gestão do território

Além de possíveis ameaças, os drones também podem ser usados para controle das roças das comunidades e mapeamento de áreas de difícil acesso. A Terra Yanomami é formada por vegetação de floresta e por serras.

O engenheiro agrônomo Giofan Erasmo Mandulão é quem ministra as aulas. Além de ensiná-los, o professor cadastra os alunos Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), obrigatório para operar drones no Brasil.

“O uso dessa tecnologia é para eles enxergarem de uma forma diferente, ter um contato diferente com a tecnologia e ver a terra indígena do alto, ter maiores áreas para cobrir de forma que eles consigam enxergar a áreas antes que eles não conseguiam acessar. Eles podem usar essa ferramenta para fazer o monitoramento territorial”, explicou.

Alunos durante oficina de drones — Foto: Ronny Alcântara/Rede Amazônica

As aulas foram ministradas na Terra Indígena Tabalascada, pois a vegetação se assemelha com a encontrada na Terra Yanomami, segundo ele. Mandulão também formou a primeira turma dos operadores.

Para Guilherme Kepropeteri Dias Yanomami, de 36 anos, da Região Ajuricaba no Amazonas, a ferramenta vai auxiliar a comunidade. Ele pretende repassar o que aprendeu para outros indígenas.

“Quando eu subi ele [drone] bem alto, eu consegui ver as margens de tudo que está aqui por perto, a estrada, as serras e o igarapé. A gente consegue localizar a distância das aldeias, podemos registrar, tirar foto. Isso eu vou passar para os parentes, para lideranças e para os jovens que atuam nas escolas”.

Ênio Yanomami, tesoureiro da Hutukara, enxerga as oficinas de drones como uma possibilidade de manter a vigilância do território, independente da presença de forças de segurança no território. A ideia é que futuramente os jovens operadores levem os drones e os mantenham nas comunidades.

Drones usados na oficina — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

“Os não-indígenas chegam na comunidade, ajuda um pouquinho, depois vai embora. Então, o nosso objetivo era formar os jovens porque eles são permanentes. Muita gente não confia [nas denúncias] essas imagem são comprovantes para poder denunciar qualquer invasor. Sem essas tecnologias, como que a gente pode mostrar com prova?”.

O curso foi realizado entre os dias 26 a 30 de maio, em Boa Vista e no Cantá.

Terra Yanomami

Com 9,6 milhões de hectares, a Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial. Localizado no Amazonas e em Roraima, o território abriga 31 mil indígenas, que vivem em 370 comunidades. O povo Yanomami é considerado de recente contato com a população não indígena e se divide em seis subgrupos de línguas da mesma família, designados como: Yanomam, Yanomamɨ, Sanöma, Ninam, Ỹaroamë e Yãnoma.

O território stá em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal, a partir da posse de Lula (PT), começou a criar ações para atender os indígenas, como o envio de profissionais de saúde e cestas básicas. Além de enviar forças de segurança a região para frear a atuação de garimpeiros.

Por Samantha Rufino — g1, Boa Vista

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