Psicologia dos pássaros: técnicas de observação e cuidados no uso do playback

Entre as técnicas de observação de pássaros, existe o “playback”, prática que se baseia em reproduzir o canto da ave para estimular uma reação, ajudando nos estudos, mas que deve ser realizada com critério.

Pássaros da Amazônia podem atender por meio de playback, diz estudo. Foto: Anselmo D’Affonseca

Compreender o comportamento e a psicologia dos pássaros é um dos grandes desafios enfrentados por pesquisadores e observadores de aves. A Amazônia, com sua imensa diversidade de espécies de pássaros, é também um dos lugares em que mais se aplicam técnicas de observação, desde instrumentos ópticos sofisticados até recursos sonoros.

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Entre os métodos mais utilizados no campo está o chamado “playback”, uma prática que se baseia em reproduzir o canto da ave para estimular uma reação. Essa técnica permite que observadores consigam aproximar-se dos animais ou direcioná-los a um ponto mais favorável para estudo e fotografia.

Apesar de sua eficácia, o playback não é universal. Nem sempre funciona, pois depende de condições específicas, como o período reprodutivo, a disposição territorial da espécie e até mesmo fatores climáticos. Esses detalhes fazem parte do complexo conjunto de elementos que formam a psicologia dos pássaros e orientam a resposta de cada indivíduo a estímulos externos.

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Pássaros da região amazônica estão mudando. Foto: Anselmo D’Affonseca/Divulgação
Pássaros da região amazônica atendem algumas vezes por playback. Foto: Anselmo D’Affonseca

Por isso, ao mesmo tempo em que possibilita avanços no registro e observação de aves, o uso do playback exige cuidado. Especialistas destacam que a repetição excessiva pode causar estresse nos animais, alterando seu comportamento natural e afetando negativamente seu bem-estar.

A técnica do playback e a resposta das aves

De acordo com o ornitólogo especializado em aves amazônicas Mário Cohn-Haft, “o playback consiste em reproduzir a gravação do canto da ave para ela mesma”.

Ele explica no canal do Youtube Cantos da Amazônia que a ave canta para marcar território e, ao ouvir o som gravado, interpreta o estímulo como um intruso que precisa ser afastado.

No entanto, nem todas as situações resultam em resposta positiva, como esperado, para registros fotográficos e de estudo. “Muitas vezes, por razões que nem sempre conseguimos determinar, a ave não responde”, observa Cohn-Haft.

Entre os fatores, estão o ciclo reprodutivo, as condições climáticas e até a luminosidade da noite, que podem influenciar diretamente o comportamento.

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Outro aspecto técnico apontado é a intensidade do som. Se o volume for baixo demais, a ave pode entender que o canto vem de longe e ignorá-lo. Já se for alto demais, a ave pode interpretar a reprodução como ameaça e afastar-se.

Moderação e impactos do uso nos pássaros

Embora eficaz, o playback traz custos para a ave observada. Segundo Cohn-Haft, “é importante ressaltar que o playback tem um custo: o estresse que ele causa na ave”.

A comparação feita por ele ajuda a ilustrar: seria como alguém repetindo continuamente, em frente à sua casa, a frase “Eu quero a sua casa!”.

Não há métodos precisos para medir o impacto do estresse, mas a prática indica que o uso constante e prolongado pode comprometer os padrões naturais de comportamento. A recomendação é limitar a reprodução ao necessário para a observação, evitando repetições excessivas.

Para reduzir os impactos, o especialista sugere variar as estratégias: “pessoalmente, prefiro assobios caseiros. Por serem menos precisos, causam menos perturbação”. Mesmo assim, ele reconhece que a gravação mais eficaz é a do próprio canto da espécie.

Outro ponto de alerta é evitar a repetição em um mesmo local. Em áreas de visita frequente, aves podem ser expostas repetidamente ao playback, o que altera de forma duradoura sua dinâmica territorial e social.

Entre ciência e cuidado

O estudo da psicologia dos pássaros mostra que quanto mais se compreende o comportamento natural das aves, menos será necessário recorrer a estímulos artificiais.

Cohn-Haft reforça: “Quanto mais se conhece as aves, menos se precisa do playback e, consequentemente, ele será usado de forma mais efetiva e adequada”.

Assim, o playback permanece como uma ferramenta para a observação e para a ciência, desde que seja utilizada com responsabilidade. A recomendação principal é de moderação: observar, registrar e compreender, mas sempre respeitando os limites das espécies e seu habitat natural.

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