Veterinária explica se as onças que vivem no CIGS podem voltar para a floresta

No Brasil ainda não existe um protocolo oficial para a soltura de felinos selvagens, como as onças-pintadas, de volta ao seu habitat.

Foto: Clarissa Bacellar/Portal Amazônia

Você que já visitou o Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) e se deparou com as onças que vivem no local talvez já tenha se perguntado: será que um dia esses animais poderiam voltar a viver livres na floresta?

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A equipe do Portal Amazônia conversou com a tenente Evely Moreira, médica veterinária especialista em clínica e manejo de animais silvestres, que explicou os principais desafios de reintroduzir grandes felinos na natureza.

Segundo a oficial, os obstáculos para devolver onças-pintadas ao ambiente natural ainda são muitos. O primeiro registro desse tipo de reintrodução na Amazônia ocorreu apenas em 2024, no estado do Pará, um marco para a conservação da espécie.

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Desafios de soltar uma onça-pintada na natureza são grandes. Foto: Gustavo Figueirôa/SOSPantanal

No Brasil, porém, ainda não existe um protocolo oficial para a soltura de felinos selvagens. A legislação ambiental exige que o animal seja devolvido ao mesmo bioma onde foi capturado, mas o processo precisa seguir critérios rigorosos de segurança.

“O felino deve ser monitorado por um período e, sobretudo, precisa temer a presença humana, afastando-se das comunidades. Isso garante não só a segurança das pessoas, como também do próprio animal”, destacou Evely.

Leia também: Onças pintadas são diferentes na Amazônia e no Pantanal; entenda

E as onças do CIGS?

No caso das onças do Zoológico do CIGS, a reinserção na vida selvagem não é possível. Por viverem em um ambiente onde há contato direto com humanos, elas já estão condicionadas a essa presença.

Além disso, algumas apresentam patologias crônicas que inviabilizam qualquer tentativa de soltura.

onças-pretas podem ser encontradas em várias regiões
Algumas onças não podem ser reintroduzidas. Foto: Reprodução/Acervo Instituto NEX

Apesar disso, o papel do ZooCIGS continua sendo fundamental para a conservação da espécie.

“A avaliação contínua é necessária, tanto para os animais que vivem sob cuidados quanto para aqueles que possam, um dia, ser considerados aptos a retornar à natureza. Esse trabalho precisa estar sempre alinhado com os órgãos ambientais competentes, como o IBAMA e o ICMBio”, ressaltou a médica veterinária.

A discussão sobre a reintrodução das onças-pintadas reforça a importância de políticas de conservação integradas, que considerem não apenas a sobrevivência individual de cada animal, mas a preservação do equilíbrio ecológico em toda a Amazônia.

Sobre as onças

A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas, podendo chegar até 2,41 metros de comprimento (da ponta do rabo até o focinho) e pesar até 158 Kg no caso do machos adultos, que são maiores que as fêmeas. Esses animais são reconhecidos pela pelagem característica, amarelo-dourado, coberta com pintas pretas na cabeça, pescoço e patas.

Leia também: Maior felino das Américas, ótima nadadora e de família? Descubra 6 curiosidades sobre a onça-pintada

As onças-pintadas se alimentam de uma grande variedade de presas, sendo registrados mais de 85 espécies na dieta desses animais, dentre elas mamíferos como capivaras, répteis como jacarés e sucuris, e aves como araras.

Apesar de terem essa ampla variedade de presas, se as onças pudessem escolher, elas se alimentariam somente de presas maiores, como antas e porcos-do-mato, e isso tem uma explicação.

A onça-pintada, espécie Panthera onca, é o maior felino das Américas Foto: Emiliano Ramalho/

Presas grandes podem ser consumidas por até quatro dias e isso pouparia muita energia para a onça. O problema é que presas maiores dependem de áreas naturais maiores para sobreviver, o que cada dia é mais difícil com o aumento do desmatamento no país.

Dessa forma, com o seu território diminuindo cada dia mais, as onças precisam se adaptar, e para persistir em áreas relativamente perturbadas, não podem se dar ao luxo de negar presas menores, como tatus.

Anteriormente, as onças estavam presente em todos os biomas brasileiros: Amazônia, Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa. Porém o cenário atual é bem diferente: na Mata Atlântica e na Caatinga as onças são fortemente ameaçadas, podendo deixar de existir num futuro próximo e nos Pampas elas já são consideradas extintas.

A Amazônia e o Pantanal são os biomas que hoje abrigam as maiores populações de onça-pintada em vida livre em todo mundo. 

Leia também: Distribuição geográfica: você sabe onde é possível encontrar onça-pintada no Brasil?

A onça-pintada é uma espécies considerada Quase Ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). As principais ameaças a essa espécie são a destruição de habitats juntamente com a caça predatória.

A destruição do habitat é causada principalmente pelo desmatamento das áreas naturais para fins de pecuária e agricultura, e a caça, segundo os caçadores, se deve ao prejuízo econômico que as onças supostamente causariam às criações de gado. 

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