O jovem, o vento e a rainha

Qual é a minha missão? O que pode ser o meu propósito neste momento da minha vida? Qual é o meu maior sonho?

Estamos a poucos minutos de nosso segundo encontro, de um total de quatro, dirigido a jovens da nona série de uma escola pública da periferia de Curitiba. O trabalho envolve duas turmas e somos em quatro, todos voluntários de um projeto social do MCI, cuja causa é a construção consciente da felicidade. Os alunos estão na faixa entre 14 e 16 anos. A proposta do projeto é incentivar no jovem o desenvolvimento de um propósito, um sonho, um sentido.

Nosso primeiro encontro foi destinado a gerar aproximação com atividades voltadas para o autoconhecimento. Após um teste de perfil comportamental e uma atividade em grupo, trabalhamos as cinco linguagens do amor (Gary Chapman, disponível no Youtube), o que deixou todos um pouco agitados. Já no final da atividade, um pequeno trecho do filme O Extraordinário inspirou a nossa equipe a bater palmas de pé para os alunos, fazendo jus à mensagem de que todos merecem ser aplaudidos de pé, pelo menos, uma vez na vida. Não estava programado. Foi uma reação espontânea.

A pergunta de encerramento do primeiro dia foi a tradicional: “o que você está levando de nosso encontro?”. Apesar da timidez dos alunos, ouvimos palavras como: aprendizado, conhecimento, gratidão, emoção e felicidade. Saímos, os quatro, gratificados, com o sentimento de que, até ali, missão cumprida.

Isto foi no primeiro encontro e o objetivo era mesmo esquentar para o segundo, com desafios bem maiores. Trataríamos de temas mais complexos como missão, propósito e sonhos. Mais do que participar, eles deveriam se permitir abrir para as nossas provocações. Precisariam quebrar bloqueios, superar resistências, combater vergonhas de se expor e vencer o medo, o medo da frustração.

Pouco minutos antes, revendo a programação, me sinto inseguro. Será que vai dar certo? Conceitos de missão e propósito, mesmo para pessoas adultas, costumam não ser tão claros. Boa parte delas ainda não parou para buscar a sua missão, atarefadas que estão com as coisas do dia a dia. A maioria não desenvolveu um propósito. Muitos abandonaram seus sonhos, que agora parecem utopias. A ausência de sentido e o vazio existencial aparecem como uma das marcas de nosso tempo. Como esperar que jovens ainda tão imaturos, vindo de uma condição social dura, pudessem ser sensíveis a questões tão existenciais? E ainda, em apenas duas horas de atividades? Não, as chances vistas agora, não pareciam muito favoráveis. Não havia volta, porém. Tarde demais. Era seguir o plano de voo traçado.

Mais uma vez, tivemos a ajuda do cinema. Desta vez, foi o filme O Menino que Descobriu o Vento, como exemplo do que o conhecimento, a confiança e o sonho são capazes de fazer, tornando reais coisas que pareciam impossíveis. O círculo da confiança, a dinâmica do “complete a história com uma frase”, tendo como tema inicial um careca (desconfiei quando todos riram e olharam para mim) e mais algumas perguntas mais leves, também prepararam o caminho.

Ao contrário do que imaginei, não foi difícil eles entenderem a proposta conceitual do sentido de vida, como uma busca inerente do ser humano e a sua relação com os talentos, história e os anseios de cada um. Ao final, três perguntas que, afirmei para eles com toda a convicção, valeriam um milhão de dólares. Seriam eles capazes de respondê-las?

Qual é a minha missão? O que pode ser o meu propósito neste momento da minha vida? Qual é o meu maior sonho?

Eles teriam para cada pergunta apenas quatro minutos para refletir e arriscar sem compromisso, escrevendo a resposta com as suas próprias palavras. Ninguém era obrigado a fazê-lo. Todos o fizeram. Alguns compartilharam. Apareceram coisas fantásticas do tipo: “minha maior missão é fazer felizes as pessoas ao meu redor”. “Por meio do quê?”, perguntei. “Por meio do meu dom de destacar as semelhanças e não as diferenças”. Ou como: “Meu propósito é gerar orgulho para a minha família”. Ou ainda: “O meu maior sonho é fazer da minha mãe uma rainha e fazer tudo para que ela nunca mais sofra o que já sofreu na vida”.

Quem disse que não podemos descobrir o vento, fazer feliz quem estiver por perto e transformar em rainha a quem amamos? 

Sobre o autor

JulioSampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista


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