Felicidade: construção consciente ou efeito indireto?

Existem nuances que, observadas de perto, mostram que elas mais se complementam do que negam umas às outras

Tenho defendido a ideia de que precisamos, mesmo diante das dificuldades que a vida nos traz, construir a felicidade conscientemente. Isto, aparentemente, contraria a tese de que a felicidade não pode ser conquistada como um fim, sendo um efeito indireto, uma consequência de diversos fatores.

Mas serão mesmo conceitos opostos? Existem nuances que, observadas de perto, mostram que elas mais se complementam do que negam umas às outras. Analisemos inicialmente o efeito indireto, presente em várias situações.

O desejo ou o instinto sexual promovem a perpetuação da espécie. É um truque na natureza. Não é preciso que o ser humano ou outros seres tenham o objetivo da reprodução. Ao contrário, ela ocorre de maneira involuntária e, muitas vezes, até de forma contrária à vontade dos parceiros, como todos nós sabemos. Quando querem obstinadamente ter filhos, porém, casais também podem ter dificuldades de engravidar, o que contribui para a criação de um círculo vicioso de tensão e de frustração.

Felicidade, construção consciente ou efeito indireto. Foto: Freepick

No prazer sexual, isto ainda é mais evidente. Se um dos lados, concentra-se em si mesmo, precisa provar desempenho ou busca individualmente o prazer, ele não ocorre. Quanto mais se concentra mais ele se afasta. Quando há o relaxamento e o oferecimento ao outro, o prazer surge naturalmente.

Também com o dinheiro acontece isso. Não sei se você já observou, caro leitor, mas pessoas que só pensam no dinheiro, frequentemente, sofrem perdas e situações inesperadas. Outras, com o mesmo nível de qualificação e esforço, mas centradas em um objetivo maior, veem o dinheiro fluir. O mesmo ocorre com os que começam a atrair dinheiro, após se libertarem de preocupantes dívidas.

E o que dizer das pessoas que miram no chamado sucesso e percebem ele se distanciar cada vez mais? Ou dos que desejam parecer sábios ou intelectuais, e que reforçam a cada momento as suas limitações? Os que se preocupam em parecer isto ou aquilo, serem famosos e não desconhecidos, importantes e não pessoas comuns? Para sua contrariedade, cada esforço, parece gerar exatamente o efeito oposto.

Estes exemplos ilustram a teoria dos Efeitos Contrários citada por Mokiti Okada ou a da Intenção Paradoxal, criada por Victor Frank l. Ambas mostram que, diferente de nossas expectativas, atraímos pessoas, sentimentos e acontecimentos, quando não nos preocupamos com eles, mas os soltamos, deixamos fluir.

Há outras coisas ainda que somente podem ser obtidas como efeito e não como um fim direto. Parece ser o caso da felicidade, que precisa ser entendida não apenas como prazer, que é apenas uma de suas dimensões. Outras podem ser citadas como: a qualidade das relações interpessoais, a conquista de objetivos, o engajamento (flow) e, especialmente, a existência de um sentido, o somatório da consciência de uma missão e o desenvolvimento de um propósito.

Compreender que a felicidade é uma conquista de efeito, elimina a importância da consciência do que a promoverá? Absolutamente, não. Serei feliz, amado, terei sucesso, dinheiro e saúde, como efeito indireto, se conscientemente, construir isso, por meio de atitudes como: a gratidão, a resiliência, o plantar o bem para o meu entorno, o desapego, o desfrutar o belo e o sentimento de um sentido maior (missão+propósito).

A felicidade construída inclui a consciência de que a felicidade pessoal é, sim, um efeito secundário. Consciência e efeito indireto, dois conceitos que se complementam na construção da felicidade.


Sobre o autor

JulioSampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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