Receitas tradicionais ganham releituras com a inclusão de formigas Maniwara entre os ingredientes

As comidas típicas de povos indígenas tem conquistado mais espaço em diversas regiões do país. Um desses itens é a maniwara, uma espécie de formiga.

A ‘maniwara’ ou ‘saúva que ferra’, é uma formiga de cor alaranjada, muito utilizada como iguaria na culinária indígena. No Amazonas, principalmente nos municípios mais distantes da capital Manaus, as formigas são cozinhadas com água e sal e preparadas para consumo. Os nativos acreditam na capacidade nutritiva presente na maniwara.

Esta característica culinária considerada por muitos como exótica – inclusão das formigas – é tema de uma pesquisa sobre a vasta gastronomia amazônica, que além de apontar suas propriedades nutritivas, também mostrou ser possível utilizá-las para a criação até mesmo de uma farinha, capaz de fortalecer as massas para a produção de pizza e pães.

Essa pesquisa foi idealizada pela gastrocientista, especializada em hábitos alimentares na Amazônia, Elisangela Valle, que contou com o apoio do laboratório de tecnologia dos Alimentos da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Somado ao estudo em laboratório, foram realizadas pesquisas na comunidade Dâw, em São Gabriel da Cachoeira.

Ao Portal Amazônia a chef Elisangela explicou o processo da pesquisa, seus obstáculos e também revelou quais são os pratos regionais que fazem sucesso em outras regiões do Brasil.

Caruru feito com creme de arroz e formiga maniwara.  Foto: Cedida/ Elisangela Valle

A pesquisa iniciou em 2016, com o intuito de identificar os hábitos alimentares das comunidades em São Gabriel da Cachoeira, o que levou a identificação da formiga maniwara. Em 2021, a equipe realizou a segunda expedição à cidade amazonense.

“Trouxemos a formiga para Manaus, onde realizamos no laboratório de química e tecnologia dos alimentos da UFAM, com a professora doutora Lídia Medina, a análise dos nutrientes da formiga que são fontes de vitamina A e muita proteína. Fizemos a segunda expedição à São Gabriel para acompanhar a coleta da formiga na comunidade Dâw que está quase extinta e para a elaboração do documentário ‘Formigas Maniwaras Science Cooking”, 

destacou a chef.

Recentemente, o documentário foi apresentado no Science Cooking World Congress, em Barcelona (Espanha). No processo da pesquisa e elaboração, a chef revelou que houveram alguns obstáculos, como o custo com hospedagem e com a pandemia, que desencadeou um atraso e dificultou o acesso da equipe até às comunidades indígenas.

“Em 2021 fui representar a gastronomia amazonense no Planalto em Brasília. Foi apresentada a releitura de pratos tradicionais utilizando formiga. Fizemos a quinhapira e o risoto de quinhapira, também tivemos um petisco de formiga na folha do caruru selvagem frita, creme de arroz e abacaxi com tucupi negro, todos com a formiga maniwara e saúva”, comentou. 

Confira o documentário:

Pratos com a formiga saúva 

E por falar em pratos feitos com as formigas, em eventos realizados na região sudeste do Brasil, são apresentados alguns deles com o digestivo cumaru, planta típica da região amazônica, que dentre tantas possibilidades pode ser servido com espuma do xarope da formiga saúva macerada. Já a bebida que faz sucesso Brasil afora é uma releitura do ‘Moscow Mule‘, que ganha um sabor parecido com o de gengibre.

“O Moscow Mule é servido com espuma de formiga saúva, porque nele não se come diretamente a formiga, mas se sente o sabor, aroma e se absorve os nutrientes dela. É preciso ter cuidado, quem é alérgico a frutos do mar não pode comer formiga, pois ela tem a mesma carapaça do frutos do mar e a mesma substância química que é alergênica”, alertou a chef Elisangela. 

Creme de buriti com formiga saúva.
Foto: Cedida/ Elisangela Valle

Abacaxi assado com tucupi negro, pimenta baniwa e formiga saúva. Foto: Cedida/ Elisangela Valle

Elisangela destacou ainda algumas sobremesas que podem ser feitas com outros ingredientes amazônicos apreciados em outras regiões do país: ‘Botacoco’, o bolo de macaxeira caramelizado com sorvete de tapioca; e o ‘Chocuca’, um brownie de chocolate com doce de cupuaçu.

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