Portal Amazônia responde: por que a ferroada da jiquitaia arde tanto?

Também conhecida como formiga-lava-pé, a jiquitaia é famosa por provocar sintomas de queimação e irritabilidade na pele. 

Dor, vermelhidão, coceira, inchaço e sensação de queimação são alguns sintomas da ferroada de uma formiga Jiquitaia. Você provavelmente já deve ter sido ‘picado’ por uma. Mas sabe por que a ferroada dessa formiga arde tanto? 

O Portal Amazônia conversou com Rogério Silva, biólogo e pesquisador titular do Museu Paraense Emílio Goeldi, que explicou o porquê.

Formiga-lava-pé ou jiquitaia. Foto: Alexander Wild

Segundo Rogério, existem mais de 14 mil espécies de formigas que injetam ou expelem substâncias, usadas para defender o ninho contra predadores, micro-organismos patógenos, competidores (como outras formigas) e para caçar suas presas. Essas substâncias podem ser tóxicas e até consideradas veneno, algumas até com perigo de morte.

“O veneno de uma formiga pode ter atividades tóxicas, como paralisar uma presa, quebrar células vermelhas do sangue, destruir células para passagem de neurotoxinas que rapidamente matam a presa, provocar alergia, provocar inflamação e provocar dor”,

explica o biólogo.

Uma parte do sucesso ecológico das formigas está relacionada à essas substâncias do veneno. No entanto, esses venenos são pouco estudados, mesmo a ‘formiga de fogo’ sendo objeto de estudo. 

“Os venenos de formigas têm sido poucos estudados porque são produzidos em pequena quantidade , mas técnicas modernas de análise estão revelando a diversidade de estruturas das toxinas e suas funções. Um dos venenos mais estudados são aqueles das formigas-fogo, cerca de 20 espécies, devido às reações alérgicas frequentes que o veneno causa, o qual pode levar a choques anafiláticos e, em alguns casos extremos, à morte”,

comenta Rogério.

Jiquitaia é o mesmo que formiga de fogo?

Falar sobre isso exige atenção pois pode haver erros na hora da identificação das espécies e do gênero da formiga, como informa o biólogo: “o nome vulgar (jiquitaia) pode ser um problema para responder esta pergunta, porque diferentes pessoas podem usar o mesmo nome para se referir a diferentes espécies de formiga. E, esse é o caso de Jiquitaia – algumas vezes não é uma formiga-fogo, mas sim formigas de outros dois grupos de espécies (como o gênero Allomerus e o gênero Wasmannia). A formiga-de-fogo é do gênero Solenopsis. Portanto, a resposta desta pergunta na Amazônia precisa de atenção. Pode ser uma formiga do grupo das formigas-fogo, e pode não ser uma formiga-fogo. A melhor solução é pedir ajuda para um especialista para olhar a formiga. Assim, você terá certeza qual espécie de formiga está sendo chamada de Jiquitaia”.

Na maioria dos casos, a Jiquitaia ou formiga-lava-pé (Solenopsis saevissima) é considerada a mesma formiga-de-fogo, por ser marrom-clara ou avermelhada, mas não é um algo certo, como Rogério Silva disse, é sempre bom pedir ajuda a um especialista.

Solenopsis saevissima. Foto: Reprodução/Guia para os gêneros de formigas do Brasil

Mas afinal, por que a ferroada da Jiquitaia arde tanto?

É interessante ressaltar que o nome ‘Jiquitaia’ (do tupi antigo îukytaîa, “sal ardido”ː îukyra, “sal” e taîa, “ardido”) é uma espécie de pimenta produzida com vinagre, cebola roxa, sal e pimenta de cheiro, logo, eis aí o motivo de ter sido aderido para batizar a formiga.

O nome característico é explicativo. Por causa da ardência, que chega perto de ser fogo queimando, muita gente resolve colocar a parte do corpo atingida na água para aliviar os sintomas. A ferroada da Jiquitaia deixa a área vermelha e dolorida, sendo considerada uma reação intensa, no entanto, costuma passar em aproximadamente 45 minutos. Na hipótese de um grande número de picadas, há perigo de convulsões. Isso sem contar as reações alérgicas extremas.

“A ferrada da Jiquitaia arde tanto, provavelmente, porque é um veneno que contém proteínas que danificam o tecido (necrose moderada da pele), o que causa uma resposta inflamatória massiva do corpo e formação de pústulas dentro de horas. Além disso, provoca sensação de queimação e alergia”,

afirma o biólogo. 

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