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Aplicativo ‘Eu Amazônia’, do Grupo Rede Amazônica, é finalista do prêmio IBC 2025

Rede Amazônica lança nova ferramenta de interação com telespectadores. Foto: Reprodução/Grupo Rede Amazônica AM

O aplicativo ‘Eu Amazônia’, desenvolvido pelo Grupo Rede Amazônica, é finalista do prêmio da International Broadcasting Convention (IBC) 2025. O app funciona como uma grande rede social de notícias da Região Norte e conta com a participação dos telespectadores como fonte ativa de conteúdos jornalísticos.

O aplicativo ‘Eu Amazônia’ está disponível para Android e iOS.

A plataforma chega à final na categoria Impacto Social, que reconhece iniciativas com efeitos positivos no setor midiático e na sociedade. O aplicativo ‘Eu Amazônia’ se destaca por dar voz e visibilidade às populações amazônicas e fortalecer a inclusão digital, além de conectar informações de usuários em toda a região diretamente às redações do Grupo Rede Amazônica.

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Idealização do aplicativo

O app ‘Eu Amazônia’, idealizado em parceria com a plataforma SOUV, tecnologia da SNEWS Broadcast Solutions, permite que o usuário envie textos, fotos, vídeos, mensagens de saudações e até denúncias anônimas. Todas as informações são analisadas pela equipe de jornalismo do Grupo Rede Amazônica antes de serem disponibilizadas na plataforma e em pautas para os telejornais e portais de notícia.

Eu Amazônia
Foto: Reprodução/Google

Leia também: Eu Amazônia: Rede Amazônica lança nova ferramenta de interação com telespectadores

O diretor de Tecnologia da Rede Amazônica, Eduardo Lopes conta que a tecnologia ajuda a vencer o desafio de ter repórteres em todos os lugares em uma região tão grande quanto a Amazônia.

“Enquanto os moradores das áreas urbanas lidam com certos tipos de problemas, as comunidades ribeirinhas e mais isoladas vivenciam outras dificuldades. O aplicativo ‘Eu Amazônia’, surge justamente como uma ponte, permitindo que essas populações tenham voz direta na redação. Oferecer a oportunidade de relatar, em tempo real, o que acontece em suas localidades é o que torna essa ferramenta tão inovadora e valiosa”, destaca Lopes.

Disponível gratuitamente para Android, o aplicativo ‘Eu Amazônia’ reforça o princípio de que o jornalismo é a presença que faz a diferença.

A cerimônia de premiação de inovação do IBC 2025 vai acontecer no dia 14 de setembro, às 18h, em Amsterdã. O Grupo Rede Amazônica será representado no evento pelo CEO Phelippe Daou Junior, o vice-presidente Alexandre Caxias, o diretor de Mercado Eduardo Fiore e o diretor de Tecnologia Eduardo Lopes.

Sobre o International Broadcasting Convention (IBC)

O International Broadcasting Convention (IBC) 2025 é uma das maiores feiras e conferências globais voltadas para o setor de mídia, entretenimento e tecnologia. O espaço ajuda a definir o futuro da indústria global no setor ao movimentar o mercado, oferecer conteúdo em múltiplas plataformas e incentivar novas discussões. O evento conecta as comunidades criativa, tecnológica e empresarial para trocar conhecimento, formar parcerias e explorar novas oportunidades.

Leia também: Grupo Rede Amazônica celebra 53 anos com foco renovado nas pessoas e no desenvolvimento da região

Foto: Marianne Ottemann

Na edição de 2025, expositores e especialistas de diversos países apresentarão inovações de impacto e tratarão das principais tendências e desafios do setor. O evento é voltado às emissoras, produtores de conteúdo, detentores de direitos, prestadores de serviços e outros profissionais.

Comprometida com a indústria, a IBC promove transformações através de liderança intelectual, debates relevantes, estímulo à criatividade e geração de resultados concretos para o mercado.

Pesquisadores identificam alta concentração de terras raras no interior de Roraima

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Terras raras são minerais que compõem um grupo de 17 elementos químicos encontrados na natureza. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

Pesquisadores do curso de geologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR) identificaram rochas argilas com alta concentração de elementos de terras raras, minerais químicos essenciais para o setor de tecnologia, em uma área privada em Caracaraí, município ao Sul de Roraima. O grupo agora estuda a existência de uma jazida no local.

Terras raras (ETRs) são minerais que compõem um grupo de 17 elementos químicos, encontrados na natureza, normalmente misturados a outros minérios nas rochas ou no solo e com alto valor comercial.

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Os elementos foram encontrados em quase toda a superfície, o que indica o potencial da área. Os pesquisadores ainda precisam confirmar se também estão presentes na camada abaixo do solo e em quantidade suficiente para exploração econômica. Nesse caso, o local será classificado como uma jazida.

Complexo Mineral Barreira fica na zona Rural de Caracaraí, distante cerca de 140 km da capital Boa Vista. A área de 36 hectares — aproximadamente 50 campos de futebol — é de propriedade do advogado Gustavo Hugo de Andrade, de 34 anos, e o empresário Lucergio Barreira Abreu da Silva, de 46.

A pesquisa é conduzida por três professores da UFRR: Vladimir de Souza, doutor em bioestratigrafia, Carlos Eduardo Lucas Vieira, doutor em geociências, e Lorena Malta Feitosa, doutoranda e mestre em geofísica. Eles começaram a estudar a área a convite dos proprietários, há cerca de um mês, em agosto.

O estudo está na fase de caracterização mineralógica, processo que identifica a quantidade de minerais presentes em uma amostra. Segundo os pesquisadores, análises do solo apresentaram resultados fora do comum, com alta concentração de elementos terras raras, além de outros elementos críticos, essenciais para setores estratégicos, como tecnologia e transição energética.

O pesquisador Vladimir de Souza explica que a ocorrência de terras raras em Roraima é comum, mas algumas áreas apresentam mais elementos e minerais do que outras, como é o caso da propriedade em Caracaraí.

“Tem a ocorrência e os valores desta ocorrência estão bem acima do normal encontrado. Então, você encontra [elementos com teores] 100 vezes acima do que é normal. Já é um bom indicativo, porque as outras ocorrências que a gente encontra são pequenas, com um elemento muito alto. Essa área tem vários elementos com altíssima concentração”, explicou Vladimir ao Grupo Rede Amazônica.

Pesquisadores da UFRR estudam existência de jazida de terras raras em Roraima. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

Entre os elementos identificados na região, o ítrio — metal que é usado na produção de diversos eletrônicos — apresentou concentração de 296 partes por milhão (ppm), considerado acima do normal pelos pesquisadores quando comparado ao encontrado no solo de outros lugares.

“Nossa grande questão agora é descobrir se esses teores se mantém ao longo do corpo e que tamanho tem esse corpo, porque daí a gente vai poder dizer o quanto que existe de um determinado depósito”, explicou o pesquisador Carlos Eduardo.

Para confirmar a existência de uma jazida mineral, os pesquisadores seguem várias etapas. O trabalho começa pelo mapeamento de superfície, quando os geólogos vão a campo, coletam amostras e analisam sua composição química.

Jazida é uma área geológica que contém um depósito natural de elementos minerais ou fósseis com valor econômico.

Em seguida, são aplicadas técnicas de geofísica. Depois, realizadas perfurações, sondagens, trincheiras e poços. Após isso, é feita a cubagem, que determina o tamanho e a quantidade do corpo mineralizado. Caso tenha um valor econômico, a área é oficialmente considerada uma jazida.

“Aí deixa de ser uma ocorrência para ser uma jazida, um depósito […] Para confirmar uma jazida são necessárias várias pesquisas geológicas, iniciadas pelo mapeamento de superfície, que os geólogos vão lá bater martelo, como a gente fala, e fazer coleta para a química. Depois, se utiliza a geofísica e por fim se faz furos, sondagens, trincheiras, poços e por aí vai. Se tiver um um valor econômico, ele é considerado como uma jazida”, explicou Lorena Feitosa.

O estudo busca mapear a ocorrência e identificar a viabilidade de extração. A iniciativa ainda não tem vínculo oficial com a UFRR, mas o termo de acordo de cooperação deve ser firmado, segundo os pesquisadores.

Carlos Eduardo Lucas, Lorena Malta e Vladimir de Souza, pesquisadores do Departamento de Geologia da UFRR. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

Material brilhoso despertou interesse

O solo do Complexo Mineral Barreira começou a ser estudado em junho de 2025 em Caracaraí, com pesquisas privadas e a análises laboratoriais. O terreno tem um solo brilhoso, que despertou o interesse dos proprietários.

“Nossa área aflora um material brilhoso na superfície, uma argila com mica brilhosa. Em razão disso, iniciamos as análises geoquímicas e todas apontaram para essas terras raras e outros minérios estratégicos. O afloramento desse material em toda a superfície motivou as pesquisas, até por uma eventual viabilidade econômica de extração”, explicou Gustavo.

A área já passou por processo de licenciamento de pesquisa privada, com a autorização do Conselho de Defesa Nacional e alvará de pesquisa emitido em junho de 2025 pela Agência Nacional de Mineração (ANM).

“Fechamos vários quadrantes com perfurações, todas com amostras recolhidas e testadas, corroborando [os resultados]. Estamos concluindo o relatório com a geofísica e o próximo passo é a cubagem, onde quantificaremos o potencial completo dessa área de 36 hectares, autorizada para pesquisa”, afirmou.

O objetivo dos proprietários é conseguir licenças ambientais para a área de mineração na Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Roraima (Femarh) e na ANM para iniciar operações, “gerar empregos e avançar para a exploração e comercialização” na região.

Na prática, as investigações privadas já realizaram a abertura de 13 pontos de perfuração, distribuídos em áreas de afloramento do material. As trincheiras, variam de um metro de largura por até três metros de comprimento, com profundidades que vão de 50 cm a três metros. Em locais onde o minério se mostrou mais profundo, as escavações chegaram a sete metros.

O que são terras raras?

Amostra de rocha com terras raras encontrada em Caracaraí (RR). Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos encontrados na natureza, geralmente misturados a outros minérios e de difícil extração. São eles: lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hálmio, érbio, escânio, túlio, itérbio, lutécio e ítrio.

Apesar do nome, elas não são necessariamente raras — mas difíceis de isolar em alta pureza, o que torna o processo caro e complexo. O desafio é encontrar depósitos (jazidas) onde a extração seja economicamente viável.

Leia também: Brasil tem cerca de 23% das reservas mundiais de terras raras; veja onde estão na Amazônia

Esses minérios são indispensáveis para a produção de turbinas eólicas, motores de carros elétricos, cabos de transmissão de energia, foguetes, equipamentos médicos e dispositivos eletrônicos de última geração.

Os elementos também são fundamentais para a indústria de defesa, presentes em aviões de caça, submarinos e equipamentos com telêmetro a laser. Também é por essa relevância estratégica que o valor comercial é elevado.

O Brasil tem a segunda maior reserva de terras raras do mundo, atrás apenas da China. São 21 milhões de toneladas, o equivalente a 23% do total global, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME).

Um levantamento do Serviço Geológico do Brasil (SGB) apontou que 12 estados brasileiros apresentam potencial para a presença de terras raras no solo, incluindo Roraima. São áreas em que há estudos para detectar se, de fato, há presença desses minerais ou regiões em que já foram confirmados depósitos desses elementos químicos, como é o caso de Goiás e Minas Gerais.

*Por Yara Ramalho, da Rede Amazônica RR

Cappuccino gelado de açaí? Startup do Amapá lança novidade como opção saudável para o calor

Capuccino gelado de açaí criado por startup do Amapá. Foto: Isadora Pereira/Rede Amazônica AP

O empreendedor Francisco Soares, fundador da startup Café de Açaí Faustina, do Amapá, lançou nesta semana um produto inédito no mercado de bebidas saudáveis: o cappuccino gelado de açaí. A novidade foi apresentada na 54ª edição da Expofeira do Amapá, em Macapá, e tem como público-alvo estudantes e praticantes de esportes.

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A bebida é vendida em garrafinhas e não contém cafeína nem aditivos químicos. Segundo o criador, ela pode ser consumida como parte da merenda escolar ou como alternativa nutritiva para quem busca se hidratar sem recorrer a refrigerantes.

“A proposta é oferecer o cappuccino gelado de açaí como uma bebida refrescante, nutritiva e que pode acompanhar a merenda, como um suco ou refrigerante. Ele mantém os valores nutricionais do açaí, que já faz parte da base alimentar dos estudantes aqui no estado”, explicou Francisco.

O produto foi pensado especialmente para o clima quente de Macapá, onde as temperaturas médias chegam a 40 °C. “Como vender café quente para alunos em uma cidade tão quente? A versão gelada é mais adequada e ainda valoriza um ingrediente regional”, disse.

Além do capuccino: o café de açaí em pó

Além do cappuccino gelado, a startup também produz café de açaí em pó. A ideia surgiu da combinação entre memória afetiva e preocupação ambiental. Francisco conta que se inspirou na avó, que fazia café tradicional no interior do Nordeste.

capuccino de açaí
Foto: Isadora Pereira/Rede Amazônica AP

Leia também: Protocolo viabiliza mudas em larga escala para cultivo sustentável de açaí-solteiro na Amazônia

“Minha avó fazia café tradicional no interior do Nordeste, torrava e pilava o pó no pilão. Eu quis aplicar essa mesma receita ao café de açaí, aproveitando um produto abundante que muitas vezes é descartado e acaba indo para o lixo, causando problemas ambientais”, afirmou.

O cappuccino gelado ainda está em fase de testes e o rótulo definitivo será lançado em breve. A garrafinha deve custar R$ 10 no varejo, mas o valor pode cair para R$ 5 em compras feitas por escolas, dependendo da demanda.

“A ideia é tornar o produto acessível, especialmente para instituições que queiram oferecer uma opção saudável na merenda escolar”, completou o empreendedor.

*Por Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP

‘Exposita’: bezerra que nasceu durante a Expofeira do Amapá ganha nome por meio de votação do público

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‘Exposita’, a bezerra que nasceu durante a Expofeira do Amapá e virou mascote do evento. Foto: Cleito Souza/GEA

Exposita” é o nome da bezerra da raça Nelore que nasceu na madrugada de segunda-feira (1º), durante a 54ª Expofeira do Amapá. O animal chegou saudável e é fruto do primeiro parto de uma vaca jovem em exposição. O nascimento foi natural e sem complicações.

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O nome foi escolhido pelo público nas redes sociais. Exposita se tornou a segunda mascote da feira, nascendo menos de 24 horas após outra bezerra da mesma raça. Com os dois nascimentos, o rebanho da Fazenda Guarani, proprietária dos animais, passou a contar com 102 animais, entre vacas, touros e os novos filhotes.

Segundo o gerente da fazenda, Danilo Trajano, de 40 anos, o parto foi tranquilo e a mãe, com dois anos e meio, já demonstra instinto materno.

“Já dá para ver que é uma boa matriz leiteira, o que é muito importante para a fêmea. Ela tem um grande instinto materno, é uma novilha muito forte e saudável, que já está amamentando. Estamos monitorando com apoio da equipe veterinária para garantir que ambas continuem bem”, afirmou.

Leia também: Mascote da Expofeira: bezerra nasce durante evento no Amapá e encanta visitantes

bezerra nascida na Expofeira 2025 exposita
Foto: Sal Lima/GEA

Durante a visitação, a organização da feira orienta o público a evitar contato direto com os animais e não jogar alimentos nos currais, para preservar o bem-estar dos filhotes e garantir a segurança dos visitantes.

*Por Crystofher Andrade, da Rede Amazônica AP

Expofeira na Rede

A Expofeira na Rede tem o objetivo de valorizar e ampliar o impacto social, cultural, econômico e turístico da tradicional ExpoFeira do Amapá. É uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio do Grupo Equatorial, Tratalyx e Governo do Amapá.

Município do Acre volta a aparecer entre 10 que mais desmatam na Amazônia

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Feijó é a cidade com indicação geográfica para o açaí, atividade que é a identidade do município. Foto: Marcos Vicentti/Secom

O município de Feijó, no interior do Acre, está no ranking dos 10 municípios que mais desmataram na Amazônia entre agosto de 2024 e julho deste ano segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

O levantamento mostrou que a cidade teve 78 km² de área desmatada, o equivalente a, aproximadamente, 7.222 campos de futebol.

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A terra do açaí, como é conhecida, ocupa a sétima posição à frente de Itaituba, no Pará, com 67 km², e União do Sul, no Mato Grosso, com 65 km².

Feijó está no ranking pelo segundo ano consecutivo. Entre agosto do ano passado, e julho desse ano, o município subiu de 47 km² para 78 km² desmatados, um aumento de 66%.

O município acreano também está entre os dez com maior risco de novas derrubadas, que inclui áreas já identificadas com alta pressão. Apesar do numero no último ano, a derrubada de florestas no Acre teve regressão de -4%, representando 372 km² desmatados, ainda segundo o Imazon.

Tarauacá, que ocupou a 4ª posição do ranking entre 2023 e 2024, com 24 km² desmatados, ficou fora da lista desta vez. Ainda assim, segundo o Imazon, o estado do Acre degradou, no último ano, cerca de 230km².

A degradação na Amazônia mais do que duplicou, passando de 175 km² em julho de 2024, para 502 km² em julho de 2025. Segundo os dados da pesquisa, o salto pode ter ocorrido principalmente pelas grandes áreas de mata que são afetadas por queimadas nos períodos de estiagem, é o que afirmou Manoela Athaíde, pesquisadora do instituto.

“A degradação florestal fragiliza a floresta, aumenta a emissão de carbono e deixa a Amazônia ainda mais vulnerável, ameaçando sua biodiversidade e as populações locais. O salto que vimos em 2025 é um sinal de que precisamos olhar com mais atenção para esse tipo de dano”, afirmou.

Leia também: Açaí de Feijó ganha primeira Indicação Geográfica para o produto no país

*Por Walace Gomes, da Rede Amazônica AC

Ações de desintrusão fazem garimpo recuar nas maiores Terras Indígenas da Amazônia, aponta Greenpeace

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Terra Indígena Yanomami. Foto: Leonardo Prado/PGR

Dados inéditos de monitoramento do Greenpeace Brasil revelam que, no primeiro semestre de 2025, o garimpo foi forçado a recuar em todas as terras indígenas alvos das operações de desintrusão sob a coordenação do Ministério dos Povos Indígenas. Nas TIs Yanomami e Munduruku, a redução foi de 95,18% e 41,53%, respectivamente, quando comparadas ao mesmo período do ano passado.

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Apesar da TI Kayapó ter registrado um aumento de 1,93%, o território não registrou a abertura de novas áreas de garimpo após o início da desintrusão em maio. Em junho, a abertura de novas áreas de garimpo nos três territórios chegou a zero. 

“As ações de desintrusão coordenadas pelo Ministério dos Povos Indígenas têm se mostrado eficazes no controle da atividade garimpeira dentro dos territórios Yanomami, Munduruku e Kayapó, diferente de anos anteriores onde o crescimento estava descontrolado. Nossos dados de monitoramento apontam que em junho, a abertura de novas áreas de garimpo dentro desses territórios chegou a zero! E como resultado, nós temos a diminuição dos impactos causados pelo garimpo na biodiversidade amazônica e a possibilidade dos povos indígenas desenvolverem seus modos de vida de forma segura. Por isso, defendemos que a desintrusão aconteça também em outros territórios onde o garimpo é uma ameaça.”, afirma o porta-voz da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace Brasil, Grégor Daflon.

Localização das Terras Indígenas monitoradas pelo Greenpeace Brasil. Imagem: Departamento de Pesquisa/Greenpeace Brasil

Em números absolutos, ao longo dos primeiros seis meses de 2025, foram perdidos cerca de 252 hectares de floresta para a atividade de garimpeira, frente aos 417 hectares perdidos nos mesmo período de 2024. A Terra Indígena Yanomami foi a que apresentou o melhor resultados entre as três, com uma perda de 8,16 hectares de floresta; frente a 11,81 hectares na TI Munduruku e 232,1 na TI Kayapó (que só foi alvo de desintrusão em maio deste  ano).

O monitoramento de garimpo do Greenpeace Brasil foi realizado por meio da interpretação de imagens de satélite de alta resolução fornecidas pelo sistema Planet Labs, com resolução espacial de 4,77 metros.

Leia também: Terras Indígenas são as áreas mais preservadas do Brasil, aponta estudo

TI Sararé e a pressão pelo garimpo

Os dados mostram que a Terra Indígena Sararé (MT), território tradicional dos povos Nambikwara, é a mais pressionada pela exploração ilegal de ouro atualmente: ali, o garimpo já ocupa aproximadamente 4,38% dos 67 mil hectares do território.

Entre janeiro e junho de 2025, foram identificados 773,02 hectares de novas áreas desmatadas pelo garimpo, o equivalente a cerca de 1.082 campos de futebol padrão FIFA, mesmo tendo passado por pelo menos quatro operações de combate ao garimpo até maio de 2025.

Garimpo na Terra Indígena Sararé (Mato Grosso). Foto: Departamento de Pesquisa/Greenpeace Brasil
Garimpo na Terra Indígena Sararé (Mato Grosso). Foto: Departamento de Pesquisa/Greenpeace Brasil

O pico de devastação ocorreu em janeiro, com 268,52 hectares, seguido por maio, com 174,86 hectares. As comunidades mais afetadas por essa expansão são as aldeias Pivi, Serra da Borda e Paukalira.

“Na Terra Indígena Sararé, temos acompanhado a operação de combate ao garimpo, protagonizada pelo Ibama e pela Polícia Federal, e celebramos o desmantelamento dos mais 400 acampamentos de garimpo identificados, bem como a inutilização de 100 escavadeiras hidráulicas que potencializam a destruição do território. Esperamos que essas ações de repressão possam evoluir para um processo de desintrusão capaz de também desarticular a logística e os fluxos financeiros, que em geral, viabilizam o retorno da atividade após a desmobilização das ações de repressão”, completa Daflon

Aliança em Defesa dos Territórios

Nos dias 13 e 14 de agosto, estiveram reunidas em Manaus, lideranças Yanomami, Munduruku e Kayapó, que fazem parte da Aliança em Defesa dos Territórios – articulação criada em dezembro de 2021, com povos oriundos das Terras Indígenas mais afetadas pelo garimpo na Amazônia.

O encontro foi marcado pela conclusão de que as ações sistêmicas que marcaram as operações de desintrusão das três Terras Indígenas foram, sem dúvida, efetivas. Ficou evidente também que os planos de pós-desintrusão serão fundamentais para garantir que esses territórios permaneçam livres do garimpo.

Na ocasião, as lideranças receberam em primeira mão os dados do monitoramento realizado pelo Greenpeace Brasil, que confirmam a relação direta entre as operações de desintrusão e a redução da atividade garimpeira em suas terras.

Alessandra Korap Munduruku reforçou a importância das ações estratégicas que combinam a retirada dos invasores, com oportunidades de geração de renda: “O povo Munduruku consegue viver sem garimpo. Temos terra, caça, pesca, artesanato, extrativismo. Mas sem investimento nessas alternativas econômicas, o indígena acaba indo para o garimpo. Precisamos de projetos de etnodesenvolvimento, turismo de base comunitária, cadeias produtivas que fortaleçam nossa autonomia”.

Para Julio Ye’kwana Yanomami, os sistemas de alerta são fundamentais para coibir o garimpo, mas é essencial que o monitoramento seja realizado também pelos próprios indígenas: “Nós, povos indígenas, precisamos estar sempre ativos na defesa do território, não apenas esperar pelo governo. Nossa terra é grande e fiscalizar custa caro. Não podemos depender apenas da Funai ou do governo. Queremos formar jovens para operar drones e realizar o monitoramento territorial por meio das associações Yanomami”.

Ele também destacou os avanços percebidos após o início da desintrusão, em 2023: “Depois da desintrusão, vimos a água voltar a ficar limpa, as crianças retornando para a aldeia e mais segurança. A desintrusão é muito positiva, mas não basta apenas retirar o garimpo, é preciso também criar alternativas econômicas para as cidades vizinhas ao território e para os jovens”.

Patkore Kayapó destacou ao Greenpeace que o garimpo não provoca apenas destruição ambiental, mas também desunião entre as comunidades: “Hoje sofremos com rios contaminados, como o Rio Fresco e o Rio Branco, tomados pelo barro e pela lama. O garimpo traz facções criminosas, drogas, armas e bebidas alcoólicas. Quando os invasores saem, deixam para trás a terra revirada, maquinário queimado e óleo derramado. Precisamos recuperar o território com projetos sustentáveis que garantam nossa sobrevivência e mantenham a floresta viva”.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Greenpeace Brasil, escrito por Camila Garcez

5 lugares para aproveitar no Amapá além da Expofeira

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A 54ª Expofeira do Amapá acontece entre os dias 30 de agosto a 7 de setembro no Parque de Exposições da Fazendinha, na Zona Sul de Macapá. Com entrada gratuita, o evento prevê reunir mais de 500 atrações culturais, musicais e de negócios.

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Mas que tal aproveitar para conhecer alguns pontos turísticos famosos do Amapá durante o período da Expofeira?

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Expofeira na Rede

A Expofeira na Rede tem o objetivo de valorizar e ampliar o impacto social, cultural, econômico e turístico da tradicional ExpoFeira do Amapá. É uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio do Grupo Equatorial, Tratalyx e Governo do Amapá.

Rio Madeira deve permanecer acima de 2 metros em 2025, indica SGB

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Foto: Divulgação

O cenário na Bacia do Rio Madeira é mais favorável do que o observado em 2024, quando Porto Velho (RO) registrou mínima histórica (35 cm). De acordo com projeções do Serviço Geológico do Brasil (SGB), o nível deve se manter acima dos 2 metros durante todo o ano.

A previsão é que a cota fique abaixo dos 4 m por aproximadamente 70 dias, entre agosto e outubro. A cota atual é de 3,15m – dentro da faixa de normalidade. Os dados são apresentados em boletim extraordinário, divulgado nesta terça-feira (2) (Confira aqui)

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“Os sinais meteorológicos que sustentam essa previsão favorável são a previsão de chuvas dentro da normalidade para o próximo trimestre e nenhum indicativo de atraso no início da estação chuvosa, o oposto do que ocorreu em 2024”, explica o pesquisador em geociências Marcus Suassuna.

sgb
Seca do Rio Madeira em 2024. Foto: Edson Gabriel

O SGB reforça que as projeções estão sujeitas a incertezas e, caso ocorra um atraso no início da estação chuvosa, o cenário pode ser mais severo do que o projetado.

Quando a cota do Madeira fica abaixo dos 4 m, a Marinha do Brasil impõe restrições à navegação noturna com o objetivo de garantir a segurança das embarcações e formações de balsas.

Leia também: Entenda como funciona a dragagem, técnica utilizada para garantir navegabilidade em rios

Monitoramento contínuo do SGB

O SGB continuará com o monitoramento contínuo dos níveis em todas as estações e envio de boletins de monitoramento. As informações também são compartilhadas com órgãos responsáveis pela navegação, saneamento e defesa civil. Nesta terça-feira (2), o pesquisador Marcus Suassuna participou da 4ª Reunião de Avaliação das Condições Hidrometeorológicas da Região Norte, promovida pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

*Com informações do SGB

6 dicas de nutricionista para manter o equilíbrio e aproveitar a 54ª Expofeira do Amapá

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Foto: Aog Rocha/Arquivo Secom AP

Com negócios, comida boa, música e diversão, a 54ª Expofeira do Amapá segue até o dia 7 de setembro no Parque de Exposições da Fazendinha, em Macapá. Para os apaixonados pela culinária regional, são mais de 130 opções na praça de alimentação.

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Com tantas opções, a nutricionista Tássia Ferreira, que atua no Serviço de Assistência Especializada e Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA), compartilhou algumas dicas práticas de como saborear cada momento, sem culpa e com mais bem-estar.

Tássia Ferreira, nutricionista da Sesa - dicas pra expofeira

“Como são vários dias de Expofeira, a melhor dica é não tentar consumir tudo de uma vez. Vá experimentando aos poucos: em um dia, um sanduíche; no outro, uma chapa ou um doce. Faça uma boa base alimentar durante o dia e permita-se aproveitar a culinária local como uma refeição livre. A ideia é manter o equilíbrio, sem deixar de curtir a festa”, orienta Tássia.

Para quem vai curtir a feira cedo e ficar até a hora dos shows, a nutricionista recomenda começar o dia com refeições leves, ricas em frutas, vegetais e proteínas. Isso prepara o organismo para uma noite de maior variedade alimentar. “Evite alimentos muito pesados antes de ir ao evento, para não comprometer a digestão”, completa.

Confira dicas simples para manter a saúde na 54ª Expofeira do Amapá:

  • Mantenha-se bem hidratado, especialmente no calor. Se for consumir bebidas alcoólicas, intercale com água e reponha minerais;
  • Vá com calma no álcool. Uma cerveja gelada ou um drink são bem-vindos, mas o excesso pode causar mal-estar, desidratação e atrapalhar a festa no dia seguinte;
  • Energia no alto: não misture bebida alcoólica com energéticos, que podem acelerar a frequência cardíaca e aumentar a pressão arterial;
  • Opte por sucos naturais, que hidratam e oferecem nutrientes.
  • Se tiver alguma restrição alimentar, tente equilibrar bem suas refeições ao longo do dia, para poder aproveitar com mais liberdade o que desejar no evento.
  • Movimente-se! Caminhar pelo evento já é uma forma de manter o corpo ativo.
  • E, claro, não subestime o poder de uma boa noite de sono. Dormir bem ajuda na digestão, no humor e dá energia para aproveitar todos os dias da Expofeira.

A nutricionista Tássia Ferreira finaliza dizendo que sim, é possível aproveitar tudo o que o a 54ª Expofeira do Amapá tem a oferecer com consciência.

“Com equilíbrio e consciência, é possível saborear desde um lanche rápido até aquele churrasco suculento ou o vatapá feito com carinho, sem deixar de lado a saúde e o bem-estar”, destaca.

Leia também: 11 dúvidas e respostas sobre a 54ª Expofeira do Amapá

Expofeira na Rede

A Expofeira na Rede tem o objetivo de valorizar e ampliar o impacto social, cultural, econômico e turístico da tradicional ExpoFeira do Amapá. É uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio do Grupo Equatorial, Tratalyx e Governo do Amapá.

‘Escuta Escrita’: tese promove diálogo com cosmologia Yanomami

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Davi Kopenawa recebendo o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de São Paulo. Foto: Alex Reipert/Unifesp

A Queda do Céu‘, obra do xamã Yanomami Davi Kopenawa e do antropólogo francês Bruce Albert, constitui um marco da literatura contemporânea. Publicado originalmente em 2010 na França e traduzido para o português em 2015, o livro tece a narrativa autobiográfica de Kopenawa, abordando sua iniciação xamânica, as violências históricas e os genocídios perpetrados contra o povo Yanomami e os processos de ecocídio em curso, bem como faz um crítica contundente à sociedade ocidental.

Tomando essa obra como objeto central e focando a temática da alteridade – a capacidade de se colocar no lugar do “outro” e de enxergá-lo como sujeito –, Janaina Tatim desenvolveu sua tese de doutorado sob a orientação do professor e pesquisador Márcio Seligmann-Silva, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), propondo uma abordagem interpretativa que questiona e renova os paradigmas estabelecidos da teoria e crítica literária.

Leia também: Hutukara: o ‘mundo’ unificado dos povos Yanomami

livro do xama yanomami davi kopewana
Foto: Divulgação

O estudo, desenvolvido no programa de Pós-Graduação em Teoria e Crítica Literária, parte da premissa de que ‘A Queda do Céu‘ não deve ser interpretada como um testemunho indígena nos moldes tradicionais, nem tampouco como uma obra etnográfica convencional. Tatim a apresenta como uma “enunciação cosmopolítica” que opera uma inversão epistemológica radical: somos nós, leitores não indígenas, que nos tornamos objeto de leitura, interpelação e nomeação por parte do xamã.

“De repente, o que eu sempre li como o ‘outro’ nos livros era o ‘eu’ que estava narrando. E, para ele, eu sou o outro”, observa a pesquisadora, evidenciando o desafio fundamental que essa inversão de perspectiva representa para as estruturas do pensamento ocidental.

Pensamento xamânico Yanomami é ponto de partida

A metodologia desenvolvida por Tatim constitui uma ruptura epistemológica. Em vez de subordinar o pensamento de Kopenawa aos paradigmas teóricos ocidentais, a hoje doutora adota uma abordagem que toma o pensamento xamânico Yanomami e sua cosmologia como ponto de partida para, posteriormente, estabelecer diálogos com autores do pensamento ocidental contemporâneo bem como com a tradição filosófica que parte do paradigma da tragédia grega.

“Tentei compreender o que ele está falando nos termos dele, sem achatar suas palavras com aquilo que a gente entende com os nossos termos”, explica a pesquisadora.

Ela caracteriza esse processo como um “exercício de escuta escrita” – uma prática de escutar antes de interpretar, permitindo-se ser afetada pelo que transcende a lógica do conhecimento acadêmico tradicional.

Tal posicionamento metodológico responde a uma crítica mais abrangente ao funcionamento da academia que, conforme observa Seligmann-Silva, frequentemente configura-se como um “bastião desse pensamento único, monolíngue, que não sabe se abrir para esse multilinguismo promovido pelo pensamento ameríndio”.

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Da identidade à alteridade

Para compreender a dinâmica da alteridade, Tatim realiza uma análise crítica da construção da identidade colonial. A tese propõe um movimento conceitual do problema da identidade em direção à alteridade, um processo mediado pela figura do “outro”. A identidade colonial, segundo a pesquisadora, constituiu-se historicamente como instrumento de racialização de grupos sociais — negros e indígenas, sobretudo — visando à exploração sistemática de sua força de trabalho e de seus territórios.

Diferentes categorias identitárias foram forjadas para que os colonizadores pudessem classificar e hierarquizar os colonizados, de acordo com a pesquisadora. Tatim esclarece que “a identidade é usada para categorizar e valorar com fins de dominação colonial”.

Segundo a pesquisadora, Kopenawa opera uma desconstrução radical da noção de identidade colonial em sua obra, abrindo ao leitor o universo da alteridade a partir da concepção Yanomami do “outro”. Na experiência social e cosmológica Yanomami, o outro é sobretudo aquele que é estrangeiro para um determinado grupo de referência. Ele não é uma categoria essencial, mas o pivô das relações, do relacionar, tanto entre seres humanos quanto entre os seres não humanos. Para Tatim, “a noção de alteridade está posta o tempo todo e de vários ângulos” em A Queda do Céu e se articula em múltiplos níveis na obra.

Janaina Tatim. Foto: Reprodução/Jornal da Unicamp

“Não há um outro fixo: o outro muda conforme a posição, a linguagem, o pacto de escuta”, explica a pesquisadora. A alteridade, na perspectiva Yanomami, transcende a mera diferenciação humana, estendendo-se aos chamados xapiri — os espíritos-auxiliares — que constituem “outros-que-humanos” e com os quais os xamãs estabelecem alianças para assegurar a cura e a estabilidade cósmica.

A cultura do xamã revela uma forma de relacionar-se com a diferença que contrasta radicalmente com o paradigma ocidental. Segundo Tatim, “o nosso jeito de lidar com a diferença tem sido expresso muito pelo etnocídio, pela necessidade de fazer essa diferença virar o mesmo”.

Ao examinar a centralidade do luto na sociedade Yanomami e na memória de Kopenawa, a pesquisadora conecta as reflexões do xamã sobre vida e morte com as elaborações teóricas da filósofa Judith Butler acerca da precariedade e do enlutar. Butler problematiza como determinadas vidas são consideradas “passíveis de luto” enquanto outras permanecem invisibilizadas, evidenciando hierarquias de valor e reconhecimento social. Kopenawa, ao testemunhar o genocídio de seu povo e a impossibilidade de realizar os rituais funerários tradicionais, denuncia a violência de um sistema que priva certos grupos da dignidade tanto na morte quanto no processo de elaboração do luto.

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Segundo Seligmann-Silva, estabelecem-se também conexões significativas com o pensador Walter Benjamin, cujo conceito de “segunda técnica” — fundamentada no jogo, na arte e na não destruição — encontra ressonância nas práticas xamânicas Yanomami. Benjamin distinguia uma “primeira técnica” orientada para a dominação e a destruição de uma “segunda técnica”, baseada na arte e no jogo. Essa “segunda técnica” não visa dominar, mas “jogar com as forças do outro”, reconhecendo e respeitando sua autonomia.

Márcio Seligmann-Silva. Foto: Reprodução/Jornal da Unicamp

O orientador observa ainda que Benjamin recupera o conceito grego de techné — que abarcava simultaneamente arte e técnica — para propor uma modalidade de intervenção no mundo criativa e respeitosa, ao invés de destrutiva. Essa perspectiva benjaminiana, “Yanomamizada” pela tese de Tatim, conforme ressalta Seligmann-Silva, possibilita uma releitura dos próprios pensadores ocidentais, identificando elementos de uma técnica não dominadora que se alinham com os saberes ameríndios.

Para o professor do IEL, o trabalho de Tatim insere-se em um movimento mais amplo de abertura da academia a epistemologias não hegemônicas. “A literatura brasileira e a crítica literária ainda operam com estruturas eurocentradas. A academia continua sendo um bastião do pensamento único. A Janaina contribui com uma abertura rigorosa e delicada, no sentido do respeito ao outro”, destaca.

Não à toa, a tese de doutorado foi indicada para o Prêmio Capes de Tese de 2025, cujo resultado será divulgado no final deste ano.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da Unicamp, escrito por Marina Gama