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Pesquisa revela que população de Belém é uma das que mais visita museus

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Foto: Bruno Cecim/Agência Pará

Com mais de 15 museus e memoriais em funcionamento, que preservam a memória e a identidade do povo paraense, o Pará ganha, cada vez mais, destaque nacional. De acordo com a pesquisa Cultura nas Capitais, da JLeiva Cultura & Esporte, com patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a população de Belém é uma das que mais os visita do Brasil. Cerca de 35% dos moradores têm o hábito de frequentá-los, enquanto a média nacional é de 27%.

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De 2019 a 2025, mais de 1,8 milhão de pessoas já foram atendidas nos espaços do Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIMM). A secretária estadual de Cultura (Secult), Ursula Vidal, ressalta que o aumento expressivo de visitantes mostra um Pará que se reconhece na sua própria história e que entende a cultura como um direito. 

“Esse resultado é fruto da política de democratização do acesso que o Governo do Pará vem implementando desde 2019. Criamos novos equipamentos, como o Museu das Amazônias, recém-entregue e já ultrapassou 25 mil visitantes em apenas 15 dias de funcionamento. Também criamos o Memorial da Cabanagem, o Palacete Faciola, o Parque Cemitério da Soledade, que é o primeiro cemitério-museu do Norte, e reestruturamos o do Marajó, a Estação Cultural de Icoaraci, o Memorial Verônica Tembé, todo o complexo Porto Futuro e o da Imagem e do Som, que ganhou uma nova casa no Faciola”, ressalta a titular da Secult.

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Entre as estratégias da política cultural, estão a garantia de entrada gratuita aos domingos, extensão de horários, a manutenção de preços simbólicos, a criação de programas como ‘Uma Noite no Museu’, e os esforços para fortalecer vínculos e transformar o cotidiano das pessoas em todos os equipamentos culturais gerenciados pela Secult.

“Esse movimento de pertencimento e de encontro com a arte é o que faz da cultura um bem essencial e do Pará, uma referência para o Brasil”, complementa Ursula Vidal.

Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará

O auxiliar de logística, Alvaro Mota, 22 anos, é um dos paraenses que adora visitar esses locais. “Cada visita sinto como uma viagem para a nossa própria cultura e história. Sinto que estou aprendendo e revisitando culturas que eu nunca presenciei antes, assim como histórias interessantes sobre o nosso passado como capital da Amazônia. Gosto de visitar e apreciar o patrimônio arquitetônico em edifícios como a Casa Francisco Bolonha e o do Estado do Pará. Sou mais fissurado em ciências e história por conta da riqueza que as ciências na Amazônia nos trazem além das histórias sobre Belém e sobre a Amazônia que muitos desconhecem e se mostram desacreditados quando ouvem por achar que por Belém ser uma cidade no Norte não poderia ter uma história assim”, diz.

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Incentivo à visitação aos museus

Armando Sobral, diretor do SIMM, explica algumas das medidas promovidas pelo Governo do Pará para fortalecer o Sistema. Os locais, que antes abriam, de modo geral, de 9h às 14h, passaram a funcionar de 9h às 17h; também houve a ampliação da acessibilidade e da democratização dos equipamentos; assim como a ampliação do regime de gratuidade. 

“Nós temos feito um trabalho interno muito grande, sobretudo, na manutenção desses espaços, como na construção de ações que levam os museus para as periferias e aproximação da comunidade escolar. Focamos na diversidade temática e tipológica dos museus que nos permite também o acesso de um amplo entendimento sobre a cultura e sobre a arte aqui na Amazônia”, finaliza Armando Sobral.

Entre os principais do estado, estão o de Arte Sacra do Pará, Forte do Presépio, o Museu do Estado do Pará, Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, Museu da Imagem e do Som, Museu do Círio, Museu de Gemas do Pará, Museu Amazônico da Navegação, Museu do Marajó e das Amazônias, além dos memoriais da Cabanagem e Verônica Tembé, e do Palacete Faciola e Parque Cemitério Soledade.

museu parque cemitério da soledade em belém
Foto: Ana Ribeiro/Agência Pará

*Com informações da Agência Pará

Acre apresenta crescimento de 40,3% no número de etnias, segundo dados do IBGE

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Foto: Marcos Vicentti/Secom AC

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no dia 24 de outubro, um novo recorte do Censo Demográfico 2022, revelando que o número de etnias indígenas registradas no Acre cresceu 40,35% entre 2010 e 2022, passando de 57 para 80.

A Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Acre (Sepi) atribui esse avanço às políticas públicas voltadas à demarcação territorial e ao fortalecimento das línguas maternas, consideradas pilares da atual gestão na promoção dos direitos dos povos originários.

Leia também: Com 391 etnias e 295 línguas indígenas, saiba quais possuem maior abrangência na Amazônia Legal

Considerando apenas os dados do Acre, 63,79% dos indígenas entre 2 e 19 anos falam a língua materna no ambiente doméstico.

O estado reúne 29.520 pessoas indígenas com 2 anos ou mais de idade, das quais 15.752 estão na faixa etária de 2 a 19 anos. Dentro desse grupo, 10.048 mantêm o uso da língua indígena em casa, reforçando a importância da transmissão cultural entre gerações.

Leia também: Educação em língua indígena: fortalecimento da cultura dos povos originários da Amazônia

Acre tem destaque nacional

No cenário nacional, o Acre se destaca como o estado com a maior proporção de jovens indígenas que falam a língua materna. Dos 18.211 indígenas com 2 anos ou mais que utilizam a língua indígena no estado, 10.048 têm entre 2 e 19 anos, o que significa que mais da metade (55,18%) dos falantes estão nessa faixa etária. Esse dado reforça o papel central da juventude na preservação e continuidade das línguas indígenas no Acre.

No país, apenas sete estados têm mais da metade da população indígena nessa faixa etária utilizando línguas indígenas no domicílio, um indicador importante da preservação cultural entre as novas gerações.

  • Acre (55,18%)
  • Maranhão (53,91%)
  • Mato Grosso (53,46%)
  • Tocantins (53,00%)
  • Pará (52,34%)
  • Paraíba (51,71%)
  • Minas Gerais (50,04%) 
Foto: Diego Silva/Secom AC

Compromisso e valorização cultural

O crescimento da população indígena no Acre, apontado pelo Censo Demográfico 2022, reforça a necessidade de ampliar políticas públicas voltadas à proteção territorial e à valorização cultural dos povos originários.

Para a secretária dos Povos Indígenas do Acre, Francisca Arara, o momento exige continuidade e aprofundamento das ações já em curso.

“O aumento da população indígena no Acre significa que será preciso, futuramente, garantir a continuidade da demarcação de terras para esses povos. É fundamental que existam políticas públicas que permitam que os povos indígenas vivam e mantenham seus territórios com dignidade, com acesso à tecnologia, energia limpa e renovável, segurança alimentar e, principalmente, com a inclusão de jovens e mulheres nos espaços de decisão”.

Segundo Francisca, o Estado tem concentrado esforços no fortalecimento da identidade cultural dos povos indígenas, com destaque para ações de resgate linguístico e promoção da diversidade.

“No passado, os povos indígenas eram obrigados a abandonar suas línguas para falar apenas o português. Hoje, por meio da educação escolar indígena bilíngue, intercultural e diferenciada, estamos resgatando esse direito”, explicou.

Geração para geração

Além disso, ela destaca que avós, pais e tios continuam ensinando as línguas aos jovens. “Falar a língua indígena é um ato de resistência. É manter viva nossa gramática, nosso alfabeto, nossas consoantes. É um trabalho que envolve professores indígenas e escolas que valorizam nossa cultura.”

Ela também destacou que o Acre tem promovido festivais e encontros culturais que fortalecem a identidade dos povos originários não apenas dentro do estado, mas também em articulação com outras regiões do Brasil e até com países vizinhos.

“Costumo dizer nas minhas palestras que, aqui no Acre, somos muito bem preparados. Não sofremos os mesmos massacres que ocorreram em outros estados. E é por isso que devemos manter viva essa cultura de respeito aos territórios e aos direitos dos povos indígenas”, completou.

O governador Gladson Camelí também reforçou o compromisso do Estado com as comunidades tradicionais. “Respeitar os povos indígenas é respeitar a história do nosso estado. Nosso governo tem trabalhado para garantir que esses povos tenham voz, território e dignidade. Eles são parte essencial da nossa identidade acreana”, declarou.

*Com informações da Agência Acre

Pacto em defesa do Código Florestal une conservação e produção agrícola

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Ampliar a implementação do Código Florestal é essencial para proteger a agricultura e cumprir as metas climáticas assumidas pelo Brasil. Foto: Eufran Amaral

Ampliar a implementação do Código Florestal é essencial para proteger a agricultura e cumprir as metas climáticas assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris, aponta o Pacto pelo Código Florestal, iniciativa que busca acelerar a aplicação da principal política de uso do solo do país. Às vésperas da COP30, o documento ressalta a conexão entre a efetiva proteção do Código e a mitigação das mudanças climáticas, além de seu papel no fortalecimento de uma agricultura sustentável e resiliente.

Saiba mais: Portal Amazônia responde: o que é o Código Florestal?

“Proteger a vegetação é proteger o clima e a agricultura. O Código é uma ferramenta poderosa nesse sentido, mas que ainda é subutilizada. Em um momento em que reconhecemos claramente a importância das florestas para os sistemas de produção de alimentos, precisamos de instrumentos que garantam a conservação da vegetação nativa e mantenham a resiliência da agricultura. Isso está diretamente ligado à preservação das florestas e ao Código Florestal”, destaca André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

Pacto em defesa do Código Florestal une conservação e produção agrícola
O documento ressalta a conexão entre a efetiva proteção do Código e a mitigação das mudanças climáticas. Foto: Reprodução/Arquivo Sema Amazonas

Principal marco legal sobre o uso do solo no Brasil, o Código Florestal busca conciliar a produção agropecuária com a proteção da vegetação nativa. Treze anos após sua aprovação, a lei continua sendo uma referência fundamental para o desenvolvimento sustentável do país, mas sua implementação e fiscalização em larga escala ainda representam grandes desafios.

“O Pacto pelo Código Florestal é um movimento que une toda a sociedade brasileira em prol de um objetivo comum: conciliar a conservação dos nossos ativos florestais com produção eficiente e ordenamento adequado do uso do solo. Isso é o que garante recursos hídricos e biodiversidade. Este é um momento importante para avançarmos nas análises do CAR [Cadastro Ambiental Rural] e, principalmente, na regularização ambiental das propriedades rurais no Brasil”, afirma Jarlene Gomes, pesquisadora e coordenadora de projetos em Políticas Públicas do IPAM.

O Pacto pelo Código Florestal é um movimento que une toda a sociedade brasileira em prol de um objetivo comum. Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará

De acordo com dados do Termômetro do Código Florestal, ferramenta do IPAM que acompanha a implementação da lei, o passivo de Reserva Legal chega a 16,3 milhões de hectares, área equivalente à do Estado do Acre.

Esses passivos correspondem a áreas que deveriam ser mantidas com vegetação nativa, mas foram desmatadas. Além disso, há 3 milhões de hectares que deveriam estar protegidos em APPs (Áreas de Preservação Permanente) e também foram suprimidos.

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Ação conjunta

O Pacto pelo Código Florestal estabelece responsabilidades e papéis claros para cada ator envolvido na aplicação da lei, visando fortalecer sua execução no combate ao desmatamento e na proteção da agricultura. Aos três Poderes da República, cabe evitar alterações na lei, reafirmar sua constitucionalidade e assegurar segurança jurídica para as ações de restauração, conservação e produção.

O Pacto pelo Código Florestal estabelece responsabilidades e papéis claros para cada ator envolvido na aplicação da lei. Foto: Reprodução/Secom

“Essa ainda é uma agenda que precisa sair do papel. Precisamos validar o CAR e implementar os planos de recuperação ambiental. Há um caminho a percorrer, mas quanto mais rápido avançarmos com o Código Florestal, mais estaremos preparados para enfrentar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, fortalecer a agricultura brasileira, que depende diretamente das chuvas geradas pelas florestas”, reforça André Guimarães.

O documento

Segundo o documento, governos federal e estaduais devem acelerar a análise e validação dos CARs e a implementação dos PRAs (Programas de Regularização Ambiental), valorizando os remanescentes de vegetação nativa nas propriedades rurais. Produtores rurais e agricultores familiares, por sua vez, têm a responsabilidade de promover a regularização ambiental de seus imóveis, aderindo aos PRAs e recuperando seus passivos.

O texto também destaca o papel do setor privado, que deve contribuir para a manutenção e fiscalização das cadeias produtivas, e do setor financeiro, que deve oferecer incentivos à regularização ambiental e restringir o crédito a quem permanecer irregular. Por fim, cabe à sociedade civil acompanhar, apoiar e valorizar a implementação do Código Florestal, reconhecendo-o como um patrimônio coletivo fundamental para o futuro do país.

*Com informação do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

Restos de pescado são usado na criação de ração alternativa para reduzir impactos ambientais no Amapá

Foto: Thiago Nunes/Rede Amazônica AP

Uma ração artesanal produzida a partir de resíduos da indústria pesqueira está sendo desenvolvida no Laboratório de Aquicultura e Pesca da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Amapá, em parceria com a Universidade do Estado do Amapá (Ueap). A proposta é transformar sobras de peixe em um alimento nutritivo e sustentável para a criação de pirapitingas.

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A pesquisa foi apresentada durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Macapá, e chamou a atenção de estudantes e visitantes.

O estudante Anderson da Silva, de 13 anos, da Escola Estadual Lucimar Amoras Del Castillo, foi um dos que se interessaram pela iniciativa.

“Eu gostei muito do fato dessa ração ser feita do peixe próprio. Achei bem interessante porque ajuda a gente, deixa a gente mais inteligente. Pra mim, vale muito a pena”, disse.

A ração é feita com farinhas produzidas a partir de carne e ossos de pescado, que seriam descartados. O processo evita desperdício, reduz impactos ambientais e ainda gera um produto rico em proteínas, vitaminas e minerais.

Leia também: Startup do Amapá que monitora peixes com IA vai representar o Brasil no exterior

Produção da ração

“Em parceria com a Ueap, a gente traz esse material para a universidade. Eles têm todos os equipamentos para produzir a farinha de resíduo de peixe, que é o principal ingrediente para a formulação de rações. A gente deixa de contaminar o ambiente e consegue um ingrediente proteico, rico em vitaminas, rico em minerais, e consegue formular uma ração para a piscicultura”, explicou Leandro Damaceno, analista de laboratório da Embrapa.

Restos de pescado são usado na criação de ração alternativa para reduzir impactos ambientais no Amapá
Foto: Thiago Nunes/Rede Amazônica

A pesquisa é apresentada pela bolsista Amanda Mendes Pacheco, acadêmica de Engenharia de Pesca da Ueap, sob orientação da pesquisadora Eliane Yoshioka.

O objetivo é desenvolver tecnologias para o cultivo de peixes como a pirapitinga, com foco em nutrição padronizada, melhor desempenho zootécnico e redução de custos na piscicultura.

Durante o experimento, os peixes foram alimentados com três tipos de ração isoprotéicas: uma sem farinha de resíduo de pescado (controle), outra com predominância de carne de peixe e uma terceira com predominância de ossos.

Os resultados mostraram que as farinhas feitas com resíduos são alternativas eficazes e sustentáveis para a alimentação de pirapitingas.

*Por Isadora Pereira e Thiago Nunes, da Rede Amazônica AP

Pontes na Amazônia: conheça algumas ligações e seus desafios para construção

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Ponte Jornalista Phelippe Daou é um dos exemplos de pontes na Amazônia. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

A Amazônia é marcada por rios de grande vazão e por planícies alagáveis cuja largura varia em dezenas de quilômetros ao longo do ano. Esses pulsos sazonais alteram profundamente níveis e margens, e a construção de pontes na região, que facilitariam a mobilidade por terra, se torna sujeita a variações drásticas e desafiadoras.

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Além da variação de níveis, grande parte do solo na região amazônica é composto por sedimentos finos e pouco consolidados, o que impõe dificuldades geotécnicas na fundação de pilares e estruturas pesadas.

É o que aponta um estudo intitulado ‘Desafios na Construção de Rodovias no Ambiente Amazônico: Identificação de Problemas de Engenharia‘ publicado em novembro de 2023. No artigo, os autores identificaram que a presença de bancos de areia móveis e de material orgânico instável exige técnicas e estudos específicos para fundações profundas na construção de pontes.

Leia também: Ponte sobre o Rio Negro é considerada a maior ponte estaiada do Brasil

A logística é outro fator central. Diversas pesquisas, entre elas a da ONG Águas Amazônicas, identificaram que muitas regiões permanecem isoladas por ausência de rodovias continuadas, transporte terrestre difícil e longas distâncias entre centros urbanos. Em vários trechos a navegação fluvial continua sendo a principal via de escoamento e circulação de pessoas, reduzindo, em termos práticos, a demanda econômica imediata por travessias fixas.

Obstáculos naturais e de engenharia

O estudo da ONG Águas Amazônicas identificou também que os grandes rios amazônicos apresentam flutuações anuais de nível que, em trechos, podem variar entre cerca de 4 e 15 metros em uma mesma estação do ano; em áreas de várzea, a largura inundada pode atingir dezenas de quilômetros. Essas características exigem projetos que acomodem grandes variações de tirante e minimizem o risco de assoreamento e erosão nas fundações.

Do ponto de vista geotécnico, solos de planície aluvial requerem técnicas de fundação como estacas profundas, sopros de injeção e estruturas que tolerem recalques diferenciais. Estudos sobre obras viárias na região apontam para a necessidade de diagnósticos rigorosos e soluções adaptativas no dimensionamento de pontes e acessos.

A combinação desses fatores — hidrologia, solos e logística — explica por que travessias por balsas e barcas ainda predominam em muitos trechos ao invés de pontes, mesmo quando existe grande extensão de água a ser vencida.

Pontes na Amazônia brasileira

Ponte Jornalista Phelippe Daou (Ponte Rio Negro) — Manaus (AM) / Iranduba (AM): concluída em 2011, a Ponte Rio Negro tem extensão de aproximadamente 3,6 km e é frequentemente citada como a maior ponte estaiada do país sobre um rio amazônico. A obra liga Manaus à margem oposta do Rio Negro, pouco antes da confluência deste com o Amazonas, e é considerada um marco da engenharia brasileira em área de alta complexidade ambiental e logística.

Ponte Rio Negro em Manaus. Foto: Ana Claudia Jatahy/MTUR

Ponte sobre o Rio Madeira (trecho de Abunã) — Rondônia: a ponte em Abunã, sobre o rio Madeira, inaugurada em 2021, eliminou em grande parte a dependência de balsas em um trecho estratégico entre Rondônia e rotas que levam ao Acre, facilitando deslocamentos e o escoamento regional.

Ponte Mista de Marabá — Marabá (PA): Com 2.340 metros, a Ponte Mista de Marabá ou Ponte rodoferroviária atravessa o Rio Tocantins, em Marabá. A princípio a ponte era somente ferroviária, mas foi adaptada e passou também a ser usada no transporte rodoviário.

Pontes internacionais

Ponte da Integração Brasil–Peru (Assis Brasil/AC e Iñapari): a Ponte da Integração atravessa o rio Acre na fronteira entre Brasil e Peru e faz parte da rodovia BR-317 (trecho da Interoceânica). Inaugurada em meados dos anos 2000, a estrutura conecta a cidade peruana Iñapari ao município brasileiro de Assis Brasil (Acre), sendo um exemplo de obra transnacional na bacia amazônica.

Imagem colorida mostra ponte da Integração Brasil-Peru/ Foto: Secom-Acre
Ponte da Integração Brasil–Peru. Foto: Reprodução/Arquivo Secom Acre

Ponte Binacional Franco-Brasileira (BR-156): Sobre o Rio Oiapoque, liga Oiapoque (AP) a São Jorge do Oiapoque (Guiana Francesa).

Ponte sobre o Rio Mamoré (BR-425): Liga Guajará-Mirim (RO) a Guayaramerin (Bolívia).

Leia também: Saiba quais cidades-gêmeas são encontradas na Amazônia Internacional

Em termos práticos, a distribuição atual de pontes na bacia evidencia concentração em trechos urbanos e em rotas de integração já estabelecidas, enquanto grandes extensões ainda permanecem dependentes de travessias aquaviárias.

Você sabia que servidores públicos já foram homenageados por seu trabalho nos estados da Amazônia?

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O Dia do Servidor Público, celebrado em 28 de outubro, foi criado para homenagear todos os trabalhadores que dedicam suas vidas em prol do Poder público. São eles que ditam o pleno funcionamento de um município, estado ou país, num esforço diário de garantir todos os serviços básicos para a população.

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A data foi escolhida em referência a 28 de outubro de 1939, quando o então presidente Getúlio Vargas publicou o Decreto-Lei nº 1.713 instituindo as leis com direitos e deveres dos servidores públicos.

Diante da representatividade da data, o Portal Amazônia destaca algumas homenagens a ex-servidores públicos dos estados da Amazônia, que tiveram seus nomes atribuídos à prédios, praças e espaços públicos como uma forma de reconhecimento pelos serviços prestados.

Biblioteca Doutor Alberto Zaire (Acre)

Considerado um dos maiores nomes do serviço público no cenário jurídico do Acre, o Dr. Alberto Zaire dá nome a biblioteca do Museu do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), local que abriga inúmeros acervos que contam a história do estado e também do poder judiciário, já que ambas estão entrelaçadas.

Ex-deputado estadual, Zaire foi um dos primeiros professores do curso de direito da Universidade Federal do Acre (Ufac) e o primeiro diretor-geral do TJAC.

Foto: Reprodução/Memória TJAC

Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Drª Rosemary Costa Pinto (Amazonas)

Desde 2021, a fundação passou a se chamar pelo nome da epidemiologista Rosemary Costa Pinto. A Drª Rose, como era carinhosamente conhecida, foi a primeira mulher a comandar a FVS e foi diretora-técnica da instituição de 2013 até o ano da sua morte, decorrente por complicações da Covid-19.

Sua atuação foi marcada pelo empenho e experiência no controle de surtos, epidemias e situações inusitadas ao longo de 25 anos de carreira em prol do Amazonas.

Foto: Divulgação/FVS-RCP

Procuradoria-Geral de Justiça – Promotor Haroldo Franco (Amapá)

O Complexo administrativo do Ministério Público do Amapá homenageia promotor de Justiça Haroldo Franco, reconhecido por sua contribuição de 16 anos em prol da sociedade amapaense, onde participou de diversos casos de grande repercussão local e nacional. Faleceu em maio de 2011, vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Foto: Reprodução/MPAP

Praça Professor Carlos Magno de Medeiros (Mato Grosso)

O local público homenageia um dos professores mais queridos da cidade de Jaciara. Reconhecido profissional local, Carlos Magno lecionou nas escolas do município e faleceu em abril de 2021, vítima de Covid-19.

Foto: Lucas Hirotomo/Prefeitura de Jaciara

Auditório Delegada Ione Coelho (Pará)

Conhecida por sua postura no combate ao crime, na aplicação da Lei Penal e na defesa dos direitos das vítimas da violência urbana, a delegada Ione Coelho se destacou em quase 30 anos de serviço público à frente da Polícia Civil do Pará.

Foi um dos nomes de referência na instituição, até perder a luta contra o câncer em 2018, aos 57 anos. No ano seguinte, teve seu nome atrelado a inauguração de um auditório na Delegacia-Geral, em Belém.

Foto: Reprodução/Polícia Civil do Pará

Galeria A Primeira Mulher (Rondônia)

Localizada no edifício-sede do Tribunal de Justiça de Rondônia, o espaço presta homenagem à 21 mulheres pioneiras do estado de Rondônia, cujas atuações em suas respectivas funções contribuíram para a construção da história e do desenvolvimento da sociedade.

Leia também: Com mais de 100 doações de sangue, servidor público se torna recordista em Rondônia

Foto: Reprodução/Tribunal de Justiça de Rondônia

Complexo Poliesportivo Engenheiro Rivaldo Neves (Roraima)

O nome do complexo, localizado no bairro Dos Estados, Zona Leste de Boa Vista, é uma homenagem ao ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Roraima, Rivaldo Fernando Neves, morto em 2020 em decorrência de um AVC, aos 72 anos.

Engenheiro formado desde 1972, participou da construção de prédios públicos e privados na cidade e atuou também como secretário de Obras.

Foto: Reprodução/Assembleia Legislativa de Roraima

Avenida Siqueira Campos (Tocantins)

A principal via urbana de Palmas homenageia o fundador do Tocantins e idealizador da capital, José Wilson Siqueira Campos.

Falecido aos 94 anos, em julho de 2023, o primeiro governador de Tocantins dá nome à avenida de vinte e cinco quilômetros de extensão e que liga as regiões norte e sul de Palmas.

Foto: Luciane Pires/Secom Palmas

Ginásio Poliesportivo Professor Jackson Pereira (Maranhão)

Localizado em Imperatriz, o complexo esportivo homenageia o professor Jackson Pereira, que teve papel fundamental no crescimento da educação na cidade maranhense e foi defensor da valorização dos professores.

Foto: Reprodução/Prefeitura de Imperatriz

Pesquisadores mapeiam perfil da primeira turma de enfermagem indígena do Brasil

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Pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso e da Universidade Federal de Mato Grosso. Foto: Deivid Fontes

Um grupo de pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) realizou um levantamento inédito sobre o perfil da primeira turma do curso de Enfermagem Intercultural Indígena, ofertado desde novembro de 2023, no campus da Unemat, em Barra do Bugres.

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Os pesquisadores analisaram o perfil dos 50 estudantes indígenas matriculados, pertencentes a 42 etnias, distribuídas pelos três biomas de Mato Grosso (Cerrado, Floresta Amazônica e Pantanal).

Os dados revelam que a maioria dos acadêmicos é do sexo masculino (70%), tem entre 36 e 50 anos (44%) e já atuava na saúde indígena antes de ingressar no curso (76%), principalmente como técnicos de enfermagem ou agentes de saúde.

Na região Nordeste do estado, os municípios de Barra do Garças, Canarana e Querência, e na região Noroeste, os municípios de Brasnorte e Sapezal, apresentam as maiores densidades de estudantes indígenas matriculados na primeira turma do Curso de Enfermagem Intercultural. Já os municípios de Juína e Aripuanã e Confresa registraram as maiores taxas de matrícula.

Leia também: Pesquisadores de Mato Grosso e parceiros criam bioinsumo contra percevejos

Tabela 1. Distribuição da faixa etária por sexo e atuação profissional dos estudantes indígenas, Mato Grosso, Brasil, 2023
informação dos pesquisadores
Figura 1. Densidade de matriculados e taxa de matriculados/população indígena residente por município, Mato Grosso, Brasil, 2023

Conforme trechos do artigo, além dos dados como idade e região, os pesquisadores analisaram quais as etnias indígenas foram predominantes, diante do número de vagas destinadas aos grupos étnicos de Mato Grosso, disponibilizadas no vestibular de ingresso.

Essa organização e distribuição de vagas foram estabelecidas pela Diretoria de Gestão de Educação Indígena e FAINDI, seguindo o planejamento padrão de oferta de vagas à formação diferenciada de indígenas na UNEMAT, um processo consolidado e reconhecido nacionalmente há mais 20 anos.

Tabela 2. Distribuição de DSEI, etnias indígenas e Coordenações Regionais da FUNAI, Mato Grosso, Brasil, 2023
Tabela 3. Distribuição de vagas ofertadas por grupos étnicos no vestibular, Mato Grosso, Brasil, 2023

Na razão de sexo por município, observa-se maior equilíbrio entre os indígenas pertencentes ao Distrito de Vilhena e maior disparidade entre aqueles do Xingu, seguido pelo Xavante. Diferenças também foram identificadas no engajamento na força de trabalho da saúde indígena, com menor participação do sexo feminino

Segundo os pesquisadores, o mapeamento é estratégico para subsidiar a criação de novas turmas e fortalecer o modelo intercultural, que une saberes tradicionais indígenas e conhecimentos científicos.

“Esse curso representa uma conquista histórica, reafirmando o direito dos povos indígenas a uma educação diferenciada e de qualidade”, ressaltam os autores do estudo.

Conclusão

Os pesquisadores concluíram que a partir do mapeamento dos estudantes indígenas, foi possível identificar que a localização geográfica do campus universitário não foi um fator determinante para a taxa ou a densidade de matrículas, mas sim o número de vagas disponibilizadas por etnia e o tamanho populacional de cada grupo.

Os maiores grupos étnicos apresentaram menor igualdade de gênero no preenchimento das vagas, sugerindo a presença ainda marcante do patriarcado entre esses povos.

Esses achados podem subsidiar a criação de novas turmas de Enfermagem com esse modelo intercultural no Brasil e em outros países, especialmente no que se refere às etapas de deliberação com lideranças indígenas e gestores.

O estudo

O estudo, publicado em revista científica internacional, foi conduzido por Vagner Ferreira do Nascimento, Thalise Yuri Hattori, Érica Baggio e Ana Cláudia Pereira Terças Trettel (Unemat/Faindi), em parceria com Alisséia Guimarães Lemes e Lúbia Maieles Gomes Machado (UFMT).

Veja o artigo completo abaixo:

Faculdade Indígena Intercultural (Faindi)

A Faculdade Indígena Intercultural (Faindi), da Unemat, é voltada à formação superior específica para povos indígenas. Criada oficialmente em 2008, a partir da consolidação do projeto “3º Grau Indígena”, a Faindi nasceu com a missão de ofertar cursos interculturais que respeitam e valorizam as tradições, línguas e saberes dos povos originários.

Desde então, a faculdade se tornou referência nacional e internacional em educação indígena diferenciada, ofertando licenciaturas interculturais em diversas áreas do conhecimento, além de programas de pós-graduação exclusivos.

*Com informação da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)

Documentário sobre ensino da língua francesa no Norte do Brasil é gravado no Amapá

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Amapá é cenário de documentário internacional sobre ensino da língua francesa no Norte. Foto: Reprodução/TV5 Monde

Amapá foi escolhido como cenário de um documentário internacional sobre o ensino da língua francesa. A produção é fruto de uma parceria com a embaixada da França e destaca a presença da francofonia na região Norte do Brasil.

Leia também: Portal Amazônia responde: a maior fronteira da França é com o Brasil?

Durante o mês de março, profissionais da emissora internacional TV5 Monde visitaram escolas em Macapá, Oiapoque e na Guiana Francesa. O objetivo foi mostrar a expansão da cultura francesa e seu alcance em diferentes comunidades.

O documentário recebeu o nome “Uma viagem do Rio de Janeiro à Macapá e Oiapoque para a descoberta de uma francofonia brasileira radiante”, em referência ao trajeto percorrido pelo jornalista Ivan Kabacoff durante as gravações.

Segundo Ivanete Gomes, da equipe de Relações Internacionais da Secretaria de Educação do Amapá (Seed), a escolha do Estado foi motivada pela ampliação das escolas bilíngues na região.

Antes do Amapá, a emissora já havia gravado em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

“A embaixada da França mostrou à equipe que valia a pena vir ao Amapá. Aqui, o francês está presente em quase todas as escolas, o que reforça nossa força na difusão da língua”, afirmou Ivanete.

Leia também: Guiana Francesa passa a ter isenção de visto para brasileiros; autoridades do Amapá comemoram

Documentário sobre ensino da língua francesa no Norte do Brasil é gravado no Amapá
Estado faz fronteira com a França em Oiapoque. Foto: Reprodução/TV5 Monde

O documentário integra o projeto “Destination francophonie au Brésil”, que busca mostrar que a francofonia vai além do idioma. A iniciativa destaca uma rede de países, culturas e instituições que promovem cooperação internacional por meio da língua francesa.

A Escola Estadual Marly Maria e Souza da Silva, no conjunto Macapaba, foi um dos locais de gravação. A unidade é a primeira escola bilíngue do Amapá.

Em Oiapoque, o jornalista acompanhou a rotina de uma estudante que cruza a fronteira diariamente para estudar na Guiana Francesa. O município é o único do Brasil que faz divisa com o país europeu, o que, segundo a secretária de Educação, Sandra Casimiro, fortalece o vínculo dos alunos com o francês.

“O Amapá é o Estado com maior afinidade com a língua francesa. Estamos iniciando o ensino bilíngue nas escolas, e essa difusão cultural tem despertado o interesse da embaixada francesa”, afirmou Sandra.

A Secretaria de Educação planeja transformar três escolas de Oiapoque em unidades bilíngues. O projeto está em desenvolvimento pelo núcleo de Relações Internacionais da Seed.

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Primeira exibição do documentário

A primeira exibição do documentário ocorreu nesta sexta-feira (24), em uma sessão especial para cerca de 100 alunos no auditório do o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em Macapá, e na escola Joaquim Nabuco, em Oiapoque.

A exibição teve como objetivo aproximar os estudantes da língua francesa, já que muitos deles participaram diretamente da produção.

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João Paulo Vieira, de 9 anos, foi um dos alunos convidados para assistir ao documentário. Mesmo jovem, ele reconhece a importância de aprender outro idioma.

“É muito importante, porque um dia posso ir para Paris e vou saber conversar com as pessoas. Sei me apresentar, falar obrigada, já aprendi muitas coisas”, disse João.

A proposta é que o documentário seja usado como ferramenta pedagógica nas salas de aula.

*Por Mariana Ferreira, da Rede Amazônica AP

‘Bilingo’: pesquisadores e indígenas criam aplicativo para salvar línguas ancestrais ameaçadas em RO e MT

Aplicativo ajuda a revitalizar línguas indígenas ameaçadas. Foto: Reprodução

Um projeto que une tecnologia e transmissão de saberes pretende contribuir para a revitalização das línguas em risco dos povos indígenas Bororo, no Mato Grosso, e Makurap, em Rondônia. O aplicativo chamado ‘Bilingo‘ foi criado para registrar vocabulários, frases e narrativas nas línguas maternas desses povos e ajudar a repassar esses ensinamentos para novas gerações.

A iniciativa envolve pesquisadores no Brasil e na Alemanha, professores e jovens indígenas. Gustavo Poletti, desenvolvedor do sistema, explica que o objetivo é que professores das próprias comunidades indígenas possam acessar a tecnologia para criar e distribuir o aprendizado.

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Os Makurap, que habitam Rondônia, estão localizados nas Terras Indígenas Rio Guaporé e Rio Branco e pertencem à família linguística Tupari, do tronco Tupi. No fim da década de 1990, eles ainda falavam a língua, mas hoje ela é usada principalmente por pessoas mais velhas.

Já os Bororo chamam a própria língua de Wadáru, classificada por linguísticas como parte do tronco Macro-Jê, segundo o Instituto Socioambiental (ISA). Eles estão em Mato Grosso.

O Censo 2022 do IBGE, divulgado nesta sexta-feira (24), aponta que o Brasil tem 295 línguas indígenas catalogadas, presentes em cerca de um quinto dos municípios. De acordo com o Atlas das Línguas em Perigo da Unesco, são 190 idiomas em risco no Brasil. O país é o segundo com mais línguas em risco no mundo – atrás apenas dos EUA, de acordo com o documento de 2021.

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Para conter essa ameaça, o aplicativo foi criado para preservar essas duas línguas em risco. A ideia é frear a perda de transmissão entre gerações e aproximar crianças do idioma por meio de jogos e exercícios interativos.

O nome ‘Bilingo’ vem de Brazilian Indigenous Languages (Línguas Indígenas Brasileiras) e a iniciativa experimental e sem fins lucrativos, apesar de não ser inédita, tem a pretensão de ser a maior em quantidade de dados armazenados. O trabalho está na fase de testes e ainda não tem prazo de conclusão.

Para Heloisa Helena Siqueira Correia, docente na Universidade Federal de Rondônia (UNIR), ferramentas tecnológicas como essa trazem em si a resistência e a luta dos povos originários. “Demonstra que as comunidades não estão, e nunca estiveram, congeladas no tempo”, disse.

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Preconceito e proibição

“A gente foi perdendo a língua, deixando de falar na língua materna, e isso aconteceu porque muitos não indígenas tinham preconceito. Eles proibiam os indígenas de falar. A língua Makurap era a mais falada nas terras indígenas, e hoje em dia já não é mais”, disse Jéssica Makurap, jovem da comunidade.

Segundo Carolina Aragon, linguista e integrante do projeto, o desenvolvimento do aplicativo em si já é educativo. Isso porque são os próprios jovens indígenas os responsáveis por coletar palavras e áudios da língua materna com os tios, avós e professores, e alimentar a ferramenta digital.

“Quando o jovem pergunta para um tio, avô ou avó como se diz algo na língua e grava essa resposta, ele já está aprendendo, e assim o aplicativo ensina enquanto é construído. Dessa forma, a nossa intenção é fazer com que a língua volte a circular em outros espaços da comunidade, e não apenas dentro da escola”, explica.

O projeto enfrenta desafios práticos, como a dependência de internet para captar e enviar os áudios para os pesquisadores. Além disso, como são os indígenas que alimentam o sistema, o desenvolvimento da ferramenta acompanha o ritmo de vida da comunidade, que envolve estudo, trabalho na roça, caça e pesca.

Povo Makurap. Foto: Reprodução/Universidade Federal de Rondônia

Como funciona o app ‘Bilingo’

O aplicativo funciona de forma semelhante a plataformas de aprendizado de línguas como Duolingo, Busuu e Rosetta Stone. Os usuários seguem uma jornada de aprendizado temática, que inclui seções sobre alfabeto, alimentação, família e outras áreas do cotidiano. Cada seção contém exercícios variados:

  • Tradução de palavras do português para a língua indígena.
  • Associação de palavras a imagens ou sons.
  • Montagem de frases usando palavras disponíveis no exercício.

“Estamos formando o vocabulário certinho, colocando palavras e frases, e a ideia é encher o aplicativo com histórias, mitos e tudo o que faz parte da nossa tradição. Conforme a gente alimenta o aplicativo, a gente também aprende”, afirma a indígena Jéssica.

Gustavo explica que eles também estão desenvolvendo um exercício para praticar a fala. Nele, o usuário pronuncia uma palavra na língua e um modelo de IA indica se a pronúncia está correta.

O app ainda terá suporte offline, permitindo o uso em áreas sem internet e garantindo privacidade dos dados, já que as informações ficam sob controle das próprias aldeias.

Fabrício Gerardi, linguista e participante do projeto, destaca que o aplicativo também oferece noções de gramática para adultos que querem compreender melhor o idioma, não apenas para crianças. Com o aumento do interesse de diferentes povos, a ferramenta precisou ser adaptada para realidades variadas, de comunidades que ainda falam a língua no dia a dia a aquelas em que as crianças falam português, mas têm noção do idioma tradicional.

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Fortalecimento da cultura

A professora Heloisa Helena, que é Doutora em Teoria e História Literária pela Unicamp e Docente do Departamento Acadêmico de Letras da UNIR, destaca a importância da iniciativa para preservar as línguas indígenas e fortalecer as identidades e culturas dos povos originários.

“A criação de um aplicativo que permite a recuperação de línguas indígenas sob risco de desaparecer completamente traz em si a resistência e a luta dos povos originários. Demonstra que as comunidades não estão, e nunca estiveram, congeladas no tempo, e que são instrumentos a favor da memória, pois dialogam com o passado ancestral, atualizam essa memória e, ao mesmo tempo, interferem no presente para que, no futuro, as etnias indígenas tenham seu protagonismo e autonomia consolidados”, diz Heloísa.

Expectativa

Os pesquisadores destacam que o aplicativo deve servir não só como uma ferramenta de apoio à educação linguística, mas também como instrumento de fortalecimento cultural. O conteúdo será inteiramente controlado pelas comunidades, garantindo que os indígenas mantenham a propriedade sobre sua língua e tradição.

“O aplicativo é uma forma de aprender e, ao mesmo tempo, de manter viva a nossa cultura”, resumiu Jéssica Makurap.

Segundo Gustavo, quando o aplicativo estiver pronto, a própria comunidade será responsável por administrar a iniciativa, definir o conteúdo e decidir como ele será distribuído.

Como surgiu o projeto?

A ideia surgiu quando Gustavo Poletti fazia um doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e se inspirou em iniciativas que tinham como propósito revitalizar línguas indígenas.

“Na época, eu estava iniciando meu doutorado e pensei que este seria um campo onde eu poderia contribuir, tanto pela minha experiência em pesquisa como também por eu ter trabalhado com jogos de celular no passado”, disse Gustavo.

Em 2024, durante uma conferência, Gustavo conheceu Fabrício Gerardi, linguista da Universidade de Tübingen, na Alemanha, que já desenvolvia trabalhos com a comunidade Bororo, no Mato Grosso.

Pouco depois, Caroline Aragon, professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), passou a atuar na equipe, conectando o grupo com os Makurap, em Rondônia.

O aplicativo começou com o povo Bororo que já tem maior avanço no desenvolvimento do conteúdo. Em Rondônia, a fase inicial está sendo feita com os Makurap, priorizando o registro de vocabulário.

*Por Raíssa Fontes, da Rede Amazônica RO

MapBiomas lança Monitor da Recuperação ambiental

MapBiomas lança Monitor da Recuperação. Foto: Helder Lana

Qual o potencial de recomposição de áreas degradadas ou alteradas no Brasil? Para responder essa pergunta, a rede MapBiomas reuniu as bases de dados disponíveis no país e fez a sobreposição sobre os mais recentes mapas de cobertura e uso da terra no Brasil. O resultado é uma plataforma para visualização e monitoramento de áreas com compromisso ou obrigação de recuperação da vegetação nativa que fica disponível gratuitamente na internet a partir do dia 23 de outubro.

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O objetivo é auxiliar no monitoramento da dinâmica da cobertura vegetal em áreas com compromisso ou obrigação de recuperação ambiental, incluindo áreas embargadas por desmatamento e também iniciativas voluntárias de recuperação.

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MapBiomas lança Monitor da Recuperação
Foto: Pedro Devani/Secom

“O monitor da recuperação atende a uma demanda de diversos usuários, reunindo pela primeira vez em um único sistema as áreas com vários tipos de compromisso de restauração, permitindo a caracterização da situação e potencial da recuperação da vegetação nativa em nível nacional ou estadual, mas também gerando um relatório detalhado sobre cada área cadastrada. O monitor aumenta a demanda por dados públicos organizados para informar a sociedade”, explica Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.

Em sua primeira versão, o Monitor da Recuperação avalia áreas provenientes de três fontes principais:

  • Embargos estaduais e federais, motivados por intervenção na cobertura vegetal
  • Dados do Observatório da Restauração (OR) cadastrados como de acesso público
  • Sistema Informatizado de Apoio à Restauração Ecológica (SARE), com projetos de restauração ecológica no estado de São Paulo

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Os embargos federais e estaduais foram obtidos a partir de dados do IBAMA, ICMBio, Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) e das secretarias de meio ambiente (SEMA) dos estados de Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Pará e Piauí.

No total, as áreas cadastradas na plataforma somam 6,9 milhões de hectares, considerando o período de 2000 a 2025. Essas áreas com compromisso ou obrigação de recuperação da vegetação nativa são provenientes, em sua maioria, de embargos federais e estaduais. O IBAMA é a principal fonte, contribuindo com 64,8% do total cadastrado na plataforma, ou 4,5 milhões de hectares.

“Existem milhões de hectares de áreas com obrigação ou compromisso de serem restauradas com vegetação nativa, entender se essas obrigações e compromissos estão sendo cumpridos é fundamental para acelerar o processo de restauração dos biomas brasileiros. Essa é a proposta do Monitor da Recuperação”, segundo Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas.

Base de dados

Essa base de dados permitiu apurar que 80% das áreas com compromisso ou obrigação de recuperação encontram-se no bioma Amazônia e 12,1% no bioma Cerrado. O ano com maior quantidade de polígonos cadastrados foi 2024, principalmente devido ao aumento observado no Cerrado. Já o ano com mais áreas com compromisso ou obrigação de recuperação foi 2023. Mais da metade (57,8%) das áreas totais com compromisso de recuperação estão localizadas no Pará (37,8%) e no Mato Grosso (20%), seguidos pelo Amazonas, com 16,5%.

Foto: Reprodução / Ministério da Agricultura e Pecuária

Do total das áreas cadastradas na plataforma, cerca de 23% apresentam compatibilidade com padrão de recuperação, enquanto cerca de 11% são áreas não compatíveis com o padrão de recuperação. “As demais áreas foram consideradas inconclusivas, por serem compromissos recentes ou onde os indicadores não conseguiram distinguir um padrão na dinâmica da vegetação. Reduzir as áreas inconclusivas será um dos principais objetivos para próximas atualizações do monitor”, explica Paulo Teixeira, pesquisador da equipe do Monitor.

Para chegar a esses números, os pesquisadores do MapBiomas desenvolveram um método de categorização de áreas (polígonos) com compatibilidade de processo de recuperação ambiental no Brasil. Também definiram como recuperação o processo de recomposição da vegetação nativa de áreas degradadas ou alteradas, para que voltem a ser funcionais, sem necessariamente retornar às suas condições originais. As áreas elegíveis para a plataforma são aquelas que têm compromisso de recuperação, seja ele voluntário ou compulsório.

A pesquisa

Os pesquisadores usaram os mapas anuais de cobertura e uso da terra (MapBiomas Coleção 10), comparando a classe de cobertura e uso da terra entre o ano do compromisso e o ano mapeado mais recente (2024), identificando o tipo de mudança dentro dos limites de cada área identificada (polígonos). Também foi feito o cálculo da diferença do vigor da vegetação, a partir de um índice de vegetação extraído de imagens dos satélites Landsat disponíveis desde 2000.

“O processo de desmatamento causa uma queda brusca no valor do índice de vegetação. Já a recuperação é monitorada observando-se a ascensão gradual desse índice ao longo do tempo, refletindo o aumento da área foliar e do vigor da vegetação, principalmente em fitofisionomias florestais, servindo de indicativo de que a área pode estar recuperando”, explica Kenia Mourão, coordenadora do Monitor da Recuperação e da equipe da Agricultura no MapBiomas.

*Com informação da MapBiomas