O juiz federal da 5ª Vara, Dimis da Costa Braga, que responde também pela Vara Federal Cível e Criminal de Vilhena, publicou a sentença delimitando a área indígena do povo Sabanê.
A decisão foi comunicada à Unidade de Monitoramento e Fiscalização das decisões do Sistema Interamericano dos Direitos Humanos no TRF – 1ª Região, nos termos da Resolução 364/2021, bem como, ao CNJ e à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, para acompanhamento do caso.
Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.
Há mais de 20 anos, a internet parecia algo distante, muito diferente das facilidades conquistadas recentemente. Quem tem mais de 30 anos certamente se lembra dos barulhinhos típicos das conexões discadas e como os sites ainda não eram recheados de imagens devido às suas limitações. O Portal Amazônia nasceu nesta época.
“Quando a gente chegou aqui era tudo mato!”. Brincadeira à parte, essa é uma frase que pode ter diversos significados para a trajetória do Portal Amazônia, que celebra 23 anos neste 5 de julho. Tanto pelo pioneirismo na internet na região amazônica quanto com a missão de divulgar a realidade da Amazônia e do amazônida.
Para comemorar, reunimos algumas curiosidades sobre o Portal Amazônia para você conhecer:
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O Portal Amazônia é pioneiro na região. Foi lançado em 5 de julho de 2001 e está entre as principais referências sobre o tema Amazônia na internet com 23 anos ininterruptos de trabalho. Mas você sabia que foi lançado em plena quinta-feira, por volta das 2 horas da manhã?
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O primeiro slogan, da campanha de lançamento em 2001, era “a internet ficou verde”.
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A primeira logo e a página principal do Portal Amazônia eram muito diferentes. Na época o uso de imagens era limitado devido a demora no carregamento. Já conhecia?
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Ainda em 2002, outra novidade foi relacionada ao uso via telefone celular, do serviço SMS (Serviço de mensagem curta ou torpedo), oferecido em parceria com a NBT/TCO: era possível responder enquetes, enviar mensagens e participar de promoções. Os primórdios da interatividade via telefone móvel!
Mas não era só isso. No início dos anos 2000, os chats eram super populares e é claro que o Portal também tinha o seu, um bate-papo em que os internautas interagiam com entrevistados, principalmente atrações culturais. Hoje temos diversas formas de interação pelas redes sociais. Onde você interage mais com a gente?
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Parceiros nunca faltaram para o Portal Amazônia. Inclusive, no começo, as parcerias com jornais impressos, como o Jornal do Commércio, rendiam diversas publicações para a internet.
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E sim, nós também fazemos parte do Grupo Rede Amazônica, uma rede de televisão aberta, afiliada da TV Globo, com sede na cidade de Manaus, no Amazonas, que também é onde fica a nossa redação jornalística. O Grupo nasceu em 1972 e está presente em cinco Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia e Roraima. Também abriga outros veículos jornalísticos, como g1, o Globo Esporte e a CBN Amazônia.
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Mais uma vez, para quem já passou dos 30 anos, certamente lembra das enciclopédias – grandes coleções de livros impressos com informações das mais diversas sobre tudo. Quase um Google, mas que precisava de um certo esforço para encontrar o que queria. O Portal Amazônia, desde seu começo, investe em um almanaque que cumpre esse papel, focado na Amazônia: o Amazônia de A a Z.
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Você sabia que já fomos hospedados na Globo.com? E, além disso, o Portal também tinha a TV Portal News, uma sessão em que os vídeos já eram o foco.
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O pioneirismo do Portal Amazônia também o levou a realizar transmissões ao vivo. Isso mesmo! Quem lembra do programa Amazônia Interativa, que fez parte da grade do canal Amazon Sat e era transmitido simultaneamente no nosso site? Ainda é possível conferir alguns episódios no nosso canal no Youtube.
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Certamente, em algum momento, você deve ter visto o historiador Abrahim Baze tanto em nossas matérias quanto na telinha do Amazon Sat. Mas a participação do historiador no Portal é um dos legados desses 23 anos, pois ele é nosso colunista desde a estreia, em 2001.
Mesmo após 23 anos, continuamos sendo contadores das histórias dos amazônidas. Fatos marcantes, curiosidades, peculiaridades regionais, lendas e tudo mais que houver para saber sobre a região queremos mostrar para o mundo. Conta pra gente o que mais tem marcado a história do Portal Amazônia para você!
Empresas de turismo e diversos profissionais que atuam como guia turísticos oferecem o serviço de city tour, um passeio com a condução de guia de turismo oficial pelos principais pontos da cidade de Rio Branco, no Acre. O objetivo é proporcionar aos visitantes uma visão abrangente e enriquecedora do destino.
A capital do Acre guarda muitas histórias e segredos em suas ruas e prédios centenários. Para se ter uma ideia, apenas no Centro da capital acreana, pelo menos vinte pontos históricos recontam fatos importantes de Rio Branco e do Acre.
Segundo o secretário de Turismo e Empreendedorismo, Marcelo Messias, o passeio orientado permite que os visitantes conheçam a cidade de Rio Branco com uma imersão na cultura e história. “Rio Branco é uma cidade com muita identidade histórica, e o passeio orientado por profissionais do turismo faz com as riquezas da cidade sejam exaltadas e a economia local seja aquecida”, destacou.
Ao longo dos anos, Rio Branco passou por um rápido crescimento e desenvolvimento, impulsionado pela exploração da borracha e mais tarde por outros setores da economia. A cidade é um importante centro cultural, político e econômico na Amazônia brasileira, preservando sua história e contribuindo para o progresso da região.
De acordo com a agente de turismo receptivo e criadora de conteúdo da Agência Destino Acre, Thaly Figueiredo, os clientes interessados pelo serviço de city tour procuram a agência por meio das redes sociais, rede hoteleira e outras empresas agenciadoras do país.
“Nós, enquanto agência receptiva, somos um elo entre o guia e o turista para mostrar o melhor do nosso estado. Temos como parceiros profissionais habilitados que fazem com que essa experiência seja ainda mais rica em nosso estado”, declarou.
Thaly conta que os turistas também gostam de fazer passeios de barco, na capital acreana, conhecer o interior do estado, aldeias indígenas e a gastronomia local. “Essas vivências valorizam a nossa cultura e fazem com que o turista tenha as melhores experiências aqui”, destacou.
Atualmente, algumas empresas e guias de turismo oferecem vários tipos de pacotes de visitação em Rio Branco, que incluem desde a visitação na área urbana, no Centro da capital, o tour ambiental e a visitação que abrange tanto a parte urbana quanto a área ambiental, que é a mais demorada.
Para a turista Conceição Alves, que veio da Paraíba conhecer Rio Branco, fazer o city tour foi surpreendente.
Visitação
O city tour pode começar de diferentes pontos, mas em geral, começa pela Praça da Revolução, no centro de Rio Branco, onde está localizada a estátua de Plácido de Castro, personagem importante na história da Revolução Acreana, despontada por uma série de conflitos de fronteira entre a Bolívia e a Primeira República Brasileira.
Durante o passeio, os turistas podem apreciar a arquitetura e a beleza dos prédios históricos da região central da cidade, como o Quartel da Polícia Militar, o Colégio Estadual Barão do Rio Branco e O Casarão – espaço de festividades nas décadas de 80 e 90.
Visualizada da praça, a Prefeitura de Rio Branco, que já foi hotel e penitenciária, também faz parte do roteiro, assim como o Memorial dos Autonomistas e o Teatro Hélio Melo.
O Palácio Rio Branco, construído na década de 30, referência histórica e política do Acre, o Museu dos Povos Acreanos, inaugurado em 2023, Museu da Borracha e a Catedral Nossa Senhora de Nazareth também fazem parte do roteiro de visitas.
Lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda) e a curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes). São essas duas espécies de lagartas que têm devastado pastos e deixado rebanhos sem comida em Roraima. Mais de 7 mil bois e vacas morreram de fome, transformando propriedades rurais em cemitérios de carcaças.
Para entender como as duas espécies de insetos agem de maneira tão voraz, o Grupo Rede Amazônica conversou com especialista que explica as características e as diferenças entre elas. Um spoiler: elas comem sem parar tudo que é verde que veem pela frente.
Os 7.139 bois morreram em ao menos 40 dias nas fazendas de vários municípios de Roraima. A estimativa é de que ao menos 54 mil hectares de pasto – o equivalente a 75 mil campos de futebol, tenham sido devastados pelas lagartas.
Um dos motivo da infestação de lagartas é o desequilíbrio ambiental causado pelo El Niño intenso.
Entre os fatores estão:
Estiagem e seca histórica que Roraima enfrentou nos meses de janeiro, fevereiro e março, que destruiu ou enfraqueceu o pasto; Ausência de predadores para cessar a infestação das lagartas logo no início do período chuvoso, em abril.
O doutor em entomologia agrícola pela Universidade Estadual de São Paulo (Uesp), Cirano Melville pesquisa espécies de lagartas na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ele detalhou as características e os desafios no combate a esse tipo de praga.
Melville explica quais são as fases mais críticas e o período em que ela “come tudo”. Os brotos dos capins são como picanha para elas, disse o especialista.
De acordo com ele, elas possuem quatro fases: fase do ovo (5 dias), lagarta (14 e 22 dias), pupa ou casulo (10 a 11 dias) e a fase adulta, a mariposa (10 a 12 dias), onde o inseto se reproduz e só se alimenta de néctar de flores.
Lagarta-do-cartucho-do-milho ou lagarta-militar
A Lagarta-do-cartucho-do-milho, também conhecida como lagarta-militar, é considerada um pesadelo para os agricultores. Polífaga, ou seja, ela se alimenta de mais de 100 plantas antes de virar uma mariposa. No cardápio dela estão o milho, soja e capim dos pastos, o que a torna uma praga persistente nas áreas de cultivo.
Ele explica que a lagarta é uma das cinco principais pragas do Brasil pela dificuldade de combatê-la com produtos, processos e tecnologias destinados ao controle de ataques e infestações.
Essa espécie tem uma coloração variável, podendo ser verde, amarela, marrom ou preta. Possui o desenho na forma de Y na cabeça e quatro pontos pretos na parte dorsal do último segmento abdominal. Adulto é uma mariposa de cor cinza ou marrom, com uma envergadura de 3 a 4 cm.
O ciclo de vida dessa lagarta é relativamente curto, o que facilita sua rápida disseminação.
Curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes)
O curuquerê-dos-capinzais também é uma praga polífaga. Ela se alimenta de culturas como arroz, batata, cana, couve, milho, maracujá, soja e trigo. Seus danos são observados principalmente nas folhas, que ficam reduzidas e com mordidas formando desenhos.
Esta espécie se movimenta como ‘se medisse em palmos’. A coloração é verde clara, com listras pretas ou amarelas — os desenhos podem variar. Além disso, há pontos pretos distribuídos aleatoriamente de uma extremidade até a outra.
Mas esta não é a única cor que esta espécie pode ter. Em populações elevadas, elas mudam de coloração. O corpo torna-se preto, mantendo as listras brancas e os pontos pretos visíveis nas laterais do corpo.
Morfologicamente, essa lagarta é identificada por um ‘Y’ invertido na cabeça e quatro pontos pretos no abdômen. Em populações elevadas, a cor pode mudar para preta, mantendo as listras brancas e os pontos pretos visíveis.
Manejo e como evitar as lagartas
Para lidar com essas pragas, Melville destaca a importância do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Segundo ele, os produtores devem buscar orientação de profissionais, como agrônomos, e adotar práticas integradas que incluem controle biológico, químico e genético. Ela afirmou que o monitoramento contínuo é crucial para a identificação precoce e o controle eficaz dessas pragas. Além disso, é importante estar atento a sinais visuais nas plantações.
Reflexos do desequilíbrio ambiental
O Grupo Rede Amazônica esteve em dois locais que foram severamente afetados pela morte de rebanhos em fazendas por falta de comida: as vilas Samaúma e a Apiaú, município de Mucajaí, no Sul de Roraima. Na região, produtores perderam grande parte do gado. Emocionados, eles relataram o clima de desespero, apreensão e medo.
Historicamente, a criação do estado de Roraima se entrelaça com a da pecuária e, consequentemente, com os impactos ambientais que a atividade engloba, como o desmatamento. No entanto, desta vez, especialistas afirmam que ainda é prematuro associar o desequilíbrio ambiental das lagartas e mortes dos bois com a supressão de vegetação. Até agora, a principal relação é com o El Niño intenso dos últimos meses.
Foi neste cenário que o pecuarista Joaquim Simão Costa, de 55 anos, se viu obrigado a buscar pasto em outras regiões. Para fugir da fome, ele levou o rebanho a pé para uma fazenda alugada de um amigo na região do Truarú, em Boa Vista, distante quase 113 Km da Sumaúma, onde vive, numa viagem de aproximadamente 10 dias.
No trajeto, muitos animais de Joaquim morreram e foram deixados na estrada, outros tiveram a carcaça arrastada pelo caminho. Vídeos mostram ele levando o rebanho pelas ruas para fugir da fome.
Na vila Samaúma, o cenário é de tristeza. Urubus sobrevoam por todas as partes nas ruas e nas estradas. Carcaças de bois e vacas mortos são vistas com facilidade nas margens das vias. As áreas de pastos se tornaram cemitérios dos animais que antes eram o sustento de famílias rurais.
No caminho, com o rebanho fraco e com fome, animais morrem e são abandonados. Rastros de sangue de cascos machucados são deixados na estrada. Tudo isso deixa Joaquim emocionado. Passar pela situação é um ‘pesadelo’ para ele, mas não há outra solução a não ser levar o gado para outro lugar que não esteja infestado por lagarta.
Com o decreto de emergência, o governo também criou o Programa Emergencial de Apoio à Pecuária Familiar, medida que prevê a contratação temporária de pessoas, dispensa de licitação para aquisição de bens e serviços essenciais, além da convocação de voluntários para reforçar as ações de resposta ao desastre.
Para o combate às pragas e recuperação do pasto nas propriedades, o governo, por meio da Agência Desenvolve, anunciou o repasse de R$ 1.750 aos produtores rurais. O valor será concedido por meio do programa Desenvolve Roraima. O teto máximo que cada produtor deve receber é de 5 hectares, o equivalente R$ 8.750.
Em Rondônia, os focos de queimadas registrados de janeiro a junho de 2024 são maiores do que os detectados em todos os primeiros semestres dos últimos 8 anos, revelou os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os focos ativos estão relacionados à detecção de incêndios em tempo real através de satélites, de acordo com o Inpe. Conforme os dados do ‘Programa Queimadas’ do Inpe, no primeiro semestre de 2024, o estado registrou 465 focos de queimadas, o que representa um aumento de 50% em relação ao mesmo período de 2023. Além disso, esse é o pior 1° semestre desde 2016.
Em 2024, até o momento, junho apresentou o maior número de focos registrados no estado, com 183 ocorrências: o maior acumulado para o mês dos últimos 5 anos, ficando atrás apenas de 2019, quando foram registrados 170 focos em junho.
Na contramão, janeiro foi o período com o menor número de registros (39 notificações), seguido de fevereiro. Na Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão) foram registrados 22.058 focos de queimadas durante o período de 1° de janeiro a 1° de julho de 2024.
Um foco precisa ter pelo menos 30 metros de extensão por 1 metro de largura para que os chamados satélites de órbita possam detectá-lo. No caso dos satélites geoestacionários, a frente de fogo precisa ter o dobro de tamanho para ser localizada, segundo informações do Inpe.
Como denunciar?
Conforme a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental de Rondônia (Sedam), para realizar uma denúncia de queimadas na zona rural, é necessário entrar em contato com o órgão pelos seguintes meios de comunicação:
WhatsApp da Ouvidoria Ambiental: (69) 98482-8690 (dúvidas e informações).
Já se os focos forem em áreas urbanas o morador deve entrar em contato com a Secretária Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema) do município.
Em Porto Velho, a denúncia de queimadas pode ser feita por Whatsapp, através do número (69) 98423-4092. É importante que o morador envie o máximo de provas possíveis, como fotos, vídeos e localização correta para que a equipe chegue a tempo para o flagrante.
Em caso de incêndios, a população deve ligar para 193 (Corpo de Bombeiros).
Na comunidade quilombola de São Benedito da Ponta, no município de Salvaterra, Ilha do Marajó (PA), representantes de todas as famílias locais aprenderam a converter um rejeito com potencial de poluição ambiental em produtos saborosos, de fácil comercialização e bom valor agregado.
Essa mudança é resultado das atividades do projeto de aproveitamento de manipueira (líquido que sai da mandioca e de onde se extrai o tucupi) e importância histórico cultural das casas de farinha, coordenado pela professora Carmelita Amaral Ribeiro, do curso de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (Uepa), mediante aprovação no edital do Programa de Ação Comunitária (PAC) da Pró-Reitoria de Extensão (Proex).
A manipueira é um líquido de aspecto leitoso e de cor amarela-clara, obtido em quantidade em casas de farinha, após a prensagem das raízes da mandioca para produção de farinha. Esse resíduo é, frequentemente, descartado em grande quantidade no solo e com a intervenção das ações do projeto, ao invés de causar problemas de contaminação, decorrente do descarte incorreto, a manipueira pode ser aproveitada na elaboração de produtos como molhos geleia de tucupi, molhos cremosos de tucupi com jambu e molho de tucupi com pimenta cumaru, por exemplo.
Além da professora Carmelita Ribeiro, a estudante Ângela Maria Melo Barros e o aluno Diego Bruno Figueiredo Serrão, ambos no quinto semestre do curso de Tecnologia de Alimentos no campus XIX, em Salvaterra também atuaram na capacitação das pessoas envolvidas nas atividades que envolviam orientações sobre como manipular e produzir os alimentos com segurança e qualidade.
Conhecer o histórico das casas de farinha da comunidade, assim como a sua contribuição cultural também faz parte dos objetivos do projeto. O estudante Eli Haroldo dos Santos Gemaque, que cursa o oitavo semestre da Licenciatura em História, também no campus XIX da Uepa, ficou à frente das entrevistas realizadas durante esse processo de escuta da comunidade, no qual a equipe buscou saber de que maneira as famílias da comunidade produzem a mandioca e desenvolvem seus subprodutos, bem como, compreender a importância desses produtos para as famílias.
Qualidade de vida e aumento da renda
Mais do que capacitar as famílias em relação à produção dos alimentos, a equipe da Uepa também contribuiu com a confecção de rótulos e orientou sobre a comercialização.
Agradecida pela oportunidade, Iolete dos Reis Pereira afirmou que tudo ficou delicioso e que junta, a comunidade vai progredir. “Vamos para frente, né? Porque foi delicioso, aprendemos, gostamos muito e agradecemos muito a todos que vieram nos ensinar”.
Na avaliação da Meiriane Lopes, agente de desenvolvimento local da Sala do Empreendedor Salvaterra, é necessário “potencializar as comunidades na sua forma econômica no empreendedorismo feminino e aí a gente começa a plantar esse sentimento do empreendedor dando rumos para essas pessoas, porque elas têm esse produto e só viam o produto se estragando, sem pensar em empreender e a instituição está ajudando muito a mudar esse cenário.
A palestra de abertura da Semana da Memória, em Porto Velho. Foto: Assessoria/TJ
Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com
Na Semana de Memória do Tribunal de Justiça em Porto Velho – 1º a 5 de julho de 2024 –, as fendas da história se abriram diante de mim. A cidade, marcada por uma pluralidade arquitetônica e uma identidade sem padrões rígidos, revelou-se como um livro aberto, com páginas que se desdobravam em cada esquina.
Há cinco anos, eu não visitava Porto Velho. O retorno à cidade ocorreu por ocasião de uma palestra que ministrei no CCDH (Centro Cultural de Documentação Histórica) nesta semana. O convite partiu do desembargador Alexandre Miguel, diretor da Emeron (Escola da Magistratura do Estado de Rondônia), um ardoroso entusiasta e conhecedor profundo da cultura e da memória rondonienses.
Minha palestra, embora bem preparada, ficou aquém das minhas expectativas. Não sou um conferencista por profissão, mas por atrevimento. Estudei bastante, elaborei slides e planejei a abordagem da temática proposta. No entanto, talento é inato, e eu, no máximo, sou um esforçado. A boa fala requer equilíbrio entre conhecimento formal e o olhar poético que emana carisma. Como dizia Marco Túlio Cícero: “Poeta nascitur, orator fit”. É importante ressaltar que não sou historiador, mas um pesquisador independente.
Em Rondônia, há renomados historiadores e autores que oferecem vasta bibliografia. Para mim, o ítalo-brasileiro Vitor Hugo foi a porta de entrada para outros nomes que dedicaram suas vidas à elucidação e ao registro da história. Ao escrever, meu olhar é de escritor e jornalista, não de historiador. Inspiro-me na cultura de almanaques, mas baseio-me em pesquisas em fontes primárias – o verdadeiro tesouro para quem aprecia viajar pela história por meio de documentos de época. Às vezes, a imersão é tão intensa que me sinto fazendo uma reportagem contemporânea. As fontes orais também são essenciais, embora carregadas de afetividade e romantismo. Elas complementam o que as fontes primárias podem omitir, pois são discursos fundamentados em interpretações, mesmo que bem-intencionados e impessoais.
O Poder Judiciário é o ponto de convergência de todos os poderes e da sociedade, inclusive pelo que não é dito. A análise de discurso revela desde o contundente até o silêncio e as omissões que invisibilizam as diversas castas sociais. Tudo está mudando. Mas nem sempre a justiça foi plural. As mais de oito mil peças processuais e documentos raros do CCDH permitem um olhar profundo sobre a sociedade desde o início do século XX. Há registros de assassinatos em botecos e grandes conflitos, como o Massacre de Corumbiara e o assassinato do senador Olavo Pires, aqui citados só para ilustrar.
Além do aspecto institucional, os processos revelam hábitos e costumes, vocabulário, moda, consumo de bens e serviços, relações humanas e a sofisticação tecnológica – para a época – do comércio portuário antes da implantação da ferrovia em 1912.
Na abertura da Semana da Memória do Poder Judiciário, apresentei um material preparado com dedicação, mas acabei me perdendo, atropelando o esquema que eu mesmo havia traçado.
Falar em público é visceral, sem filtros, ao contrário da escrita solitária e reflexiva, depurada nas fases de revisão e edição até se tornar um produto final. O vocabulário some sob pressão, e as palavras certas nem sempre vêm à ponta da língua para definir uma ideia. Assim é a vida do orador, do pesquisador, do escritor – um equilíbrio delicado entre o atrevimento e a busca pela verdade histórica.
A minha abordagem na palestra seria não focar exclusivamente na história, mas sim nos processos judiciais essenciais que moldaram a história. O alicerce que eu gostaria de estabelecer envolveria mencionar as fontes formais do CCDH – as quais utilizei principalmente para escrever o livro “A Cidade que Não Existe Mais” – a fim de chegar a determinadas conclusões. A relevância das fontes primárias reside na capacidade de criar uma narrativa original que transcenda o simples “copiar e colar” tão comum na era virtual, em que muitas vezes confundem bibliografia com plágio disfarçado por citações literais.
Embora inicialmente não fosse minha intenção, acabei abordando questões históricas de maneira descontraída, quase como um “almanaqueiro”. Nesse sentido, me inspiro em Elifas Andratto, um grande colecionador de dados, estatísticas, iconografias e curiosidades extraídas das histórias escritas por acadêmicos. Quem se lembra do “Almanaque Brasil”? Essa revista de bordo da TAM, editada por Andreatto, grande artista e editor que também foi responsável por ilustrar capas de discos – uma profissão que, infelizmente, se tornou obsoleta.
A história sempre me fascina e me impulsiona a buscar respostas além do que está registrado em ordem cronológica, conectando-a à geopolítica e considerando fatores antropológicos, sociológicos, arqueológicos e filosóficos. Tudo isso é relevante. No entanto, acredito que a verdadeira escrita histórica não se limita a ser uma mera compilação de fatos; ela deve permitir ao autor empregar adjetivos e explorar discursos que se assemelham a romances ou reportagens jornalísticas.
Laurentino Gomes é um mestre nesse estilo, tendo ganhado dois prêmios Jabuti e se tornado um best-seller no campo da historiografia – algo notável e inédito até então.
A narrativa historiográfica, quando pura e simples, exige impessoalidade e serve como um recurso para pesquisadores que buscam fontes. Geralmente, é repleta de notas de rodapé que transferem a responsabilidade para outros autores quando se afirma algo com incerteza. Aqueles que ousam ir além desse padrão demonstram compreensão do material lido e a capacidade de escrever – e até mesmo cometer erros – por conta própria.
Em resumo, durante a palestra, me vi perdido diante da vastidão do que gostaria de ter dito e não disse, bem como das muitas coisas que surgiram espontaneamente em minha mente e que talvez não devesse ter mencionado. Foi como uma tempestade de ideias que eu desejava compartilhar naquele momento. O meu objetivo sempre é provocar e despertar o interesse das pessoa. Acredito que uma boa palestra deve gerar dúvidas, em vez de apenas confirmar o que todos já sabem ou supõem.
A história está repleta de fendas e nuances, e é nesse espaço que me sinto à vontade. Como um leitor-escritor, observo a história que está escrita, inclusive no cenário mundial, desde os registros precisos dos brasilianistas sobre a vida no Alto Rio Madeira, muito antes da famosa Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, que muitos consideram o marco-zero de Rondônia no século XIX.
Além da palestra, um olhar para o agora
Desde o início de 2009, eu não havia estado em Porto Velho. Durante a Semana de Memória do TJ, tive a oportunidade de revisitar a cidade e comparar muitos aspectos da sua cena cultural.
Uma das minhas paradas foi no Museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM). O espaço apresenta uma nova configuração, diferente das revitalizações anteriores. Não vou entrar em detalhes sobre o formato estético e de conteúdo atual, que perdeu parte da rusticidade original. No entanto, notei um rigor maior nas visitações, guiadas e orientadas. Concordo que tudo deva ter uma certa disciplina, ainda mais quando se trata de equipamento públicos que, quando sucateados, passam anos sem manutenção.
Dentro do museu, a exposição permanente sobre a epopeia da ferrovia está bem contada e didática.
Algo me chamou a atenção: um painel com 424 cabeças esculpidas em argila e sedimentos do Rio Madeira, obra do artista plástico Bruno Souza. Cada rosto, cada expressão, representa uma pessoa diferente que contribuiu para a construção de tudo o que Porto Velho é hoje. Essa diversidade humana é a verdadeira riqueza da cidade.
Mas não foram apenas os pontos culturais que me chamaram a atenção. A transformação digital, ditada por IA e algoritmos, também deixa suas marcas. Os sebos, outrora redutos de livros usados, perderam força, e as bancas de jornal não mais exibem publicações atualizadas. O mundo virtual se impõe, mas a vida, teimosa, continua analógica.
Claro que esse cenário não é exclusivo de Porto Velho; é uma tendência global. Tudo se virtualizou, está nas nuvens, acessível na palma da mão. Mesmo a EFMM, apesar de sua beleza, perdeu parte de sua presença tátil. A vida, no entanto, continua analógica. Como alguém que chegou ao novo milênio aos 27 anos, posso afirmar: envelhecemos junto com as mudanças irreversíveis.
Em meio a essa dualidade – virtual e tangível –, percebi que as fontes primárias continuam sendo o lastro essencial para qualquer produção textual. Elas nos conectam ao passado, às vozes que ecoam nas entrelinhas da história. E assim, na palestra no CCDH, exaltei a importância dessas fontes, lembrando que a verdadeira riqueza de Porto Velho reside em seu povo diverso, nas fendas que nos permitem enxergar além do óbvio. As memórias, como as cabeças no painel de Bruno Souza, são fragmentos que se unem para contar uma história.
E naquele momento, diante da plateia atenta, eu me senti parte dessa narrativa, navegando pelas águas do Rio Madeira, entre o analógico e o virtual, entre o passado e o presente.
Nota do autor: A história é um mosaico, e cada peça tem sua relevância. Que possamos explorar as fendas, as brechas, e descobrir nelas a essência de quem somos.
Sobre o autor
Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.
O Banco da Amazônia e o Ministério da Cultura realizam no dia 11 de julho, em Belém (PA), a cerimônia de assinatura dos primeiros contratos de projetos classificados em programa de incentivo à cultura na Amazônia, o Rouanet Norte. Foram selecionadas 125 propostas. O investimento total será de R$ 24 milhões, soma do aporte dos financiadores Banco da Amazônia, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios.
Também no dia 11, Banco da Amazônia e MinC assinam Protocolo de Intenções que tem como objeto desenvolver ações integradas de cooperação técnico-científica e cultural e o intercâmbio de conhecimentos para fortalecer as cadeias produtivas e a economia do setor cultural dos Estados do Norte do país. A iniciativa é o ponto de partida para a implantação do primeiro Centro Cultural do Banco da Amazônia na Região Norte, em Belém.
A solenidade será conduzida pelo presidente do Banco da Amazônia, Luiz Lessa, e terá a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes. O evento será realizado no auditório Rio Amazonas, na sede da instituição, na avenida Presidente Vargas, às 10 horas. Segundo o presidente Luiz Lessa, as parcerias institucionais possibilitam a ampliação da circulação da produção cultural e amplificam a política cultural do Banco da Amazônia.
Implantado pelo Ministério da Cultura (MinC), por meio da Secretaria de Economia Criativa e Fomento Cultural, o programa Rouanet Norte tem como objetivo nacionalizar os recursos da Lei Rouanet e estimular projetos culturais no Norte do país, dando protagonismo aos agentes locais. Por meio da concessão de crédito às atividades econômicas da área cultural, visando ao fortalecimento de suas cadeias produtivas, promove a democratização do acesso às manifestações artístico-culturais na região amazônica.
“O Programa Rouanet Norte, instituído pelo Ministério da Cultura, foi lançado em novembro de 2023 para incentivar projetos culturais com vistas a fomentar atividades que desenvolvam o setor cultural nos sete Estados da região Norte. O edital foi aberto para a inscrição de projetos até o limite de R$ 200 mil. Participaram do processo de seleção somente proponentes da região”, explicou Geraldo Monteiro Júnior, Analista de Patrocínio do Banco da Amazônia e membro Avaliador do Programa.
O MinC conduziu todo o processo de inscrições. Em seguida houve as análises das propostas pelos órgãos parceiros que estão participando como signatários do edital – Banco da Amazônia, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Correios.
“Chegamos ao número de 125 projetos classificados que já estão aptos para a contratação. As linguagens contempladas neste edital são: artes cênicas, música, artes visuais e literatura”, disse Geraldo Júnior. “O MinC solicitou que o Banco da Amazônia realizasse a formalização dos primeiros contratos deste edital. Entre os projetos elegíveis, três foram escolhidos para representar os contratados”, completou.
O Rouanet Norte foi criado para atender aos produtores culturais do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins com financiamento específico. O programa fortalece a concepção que há três décadas orienta a Lei Rouanet: nacionalizar o investimento na cultura do país.
Com o Rouanet Norte, informa o MinC, uma região historicamente desassistida e com os menores índices de captação da Lei de Incentivo à Cultura receberá um volume expressivo e inédito de recursos para o setor cultural. A articulação para a implantação do programa contou com a participação das secretarias de Cultura dos Estados do Norte – diretriz do MinC que orienta o alinhamento de ações entre os entes federados, com o objetivo de contemplar todos os territórios com recursos. O termo de cooperação técnica foi assinado entre MinC, Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Banco da Amazônia (Basa), Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal (Caixa).
Momento histórico
“Pensamos de que forma poderíamos unir forças e trabalhar de uma forma mais integrada pela Região Norte. Pensamos em como melhorar a distribuição dos recursos da Lei Rouanet de uma forma mais nacionalizada e sempre com o objetivo de levar arte para todos os Estados da Amazônia de forma mais democrática. Serão R$ 24 milhões para o programa, com o aporte de R$ 6 milhões de cada empresa. A estratégia faz parte do planejamento estratégico de marketing do banco e para nós é uma felicidade muito grande promover a primeira assinatura do contrato do Programa em Belém”, afirma a gerente da Central de Marketing e Comunicação do Banco da Amazônia, Ruth Helena Lima.
O Programa Rouanet Norte foi uma solução inovadora proposta pelo Secretário de Economia Criativa e Fomento Cultural do MinC, Henilton Menezes, em 2023. “É uma ação inédita e emblemática e esperamos que a partir dessa iniciativa, outras empresas tenham esse olhar para a importância de nacionalizar os recursos destinados à cultura”, afirma Menezes ressaltando que é a primeira vez que quatro empresas financiadoras da Lei criam a possibilidade de beneficiar exclusivamente projetos da região que historicamente foi a que menos teve acesso aos recursos.
Centro
A gerente da Central de Marketing e Comunicação do Banco da Amazônia, Ruth Helena Lima, Ruth Helena também destacou a importante parceria com o MinC para a implantação do primeiro Centro Cultural do Banco na Amazônia em Belém. “A cidade é onde está localizada a nossa sede, mas o propósito é que no futuro a nossa empresa amplie essa iniciativa para os demais Estados onde temos área de atuação. Este momento é histórico e queremos fazer a diferença na vida das pessoas junto com o Ministério da Cultura e o Governo Federal, movimentando a economia com a geração de mais cultura, emprego e renda para a região”.
Ela classifica o Protocolo de Intenções como um marco para o Banco da Amazônia. “É nossa missão também fomentar a economia da cultura e o desenvolvimento das cadeias produtivos do setor cultural. Dentre as iniciativas do Protocolo de Intenções, temos as seguintes diretrizes: promover a democratização do acesso às cadeias produtivas, apoiar a produção, fruição e formação artísticas culturais, lançar editais de ocupação para os Centros Culturais que vamos implantar na Amazônia, dentre outras iniciativas para o fortalecimento das cadeias produtivas de fomento à cultura”, finaliza.
A assinatura de contratos do Programa Rouanet Norte para incentivo à cultura e do Protocolo de Intenções para a implantação do Centro Cultural Banco da Amazônia, acontece dia 11 de julho, às 10 horas no auditório Rio Amazonas, Banco da Amazônia, avenida Presidente Vargas com rua Carlos Gomes, Campina, em Belém (PA).
Historicamente, a Amazônia teve a própria imagem criada e divulgada por pessoas que não viviam nela. Agora, por meio da ciência, a região será retratada “de dentro para fora” no X Congresso Latino-Americano de Semiótica, que ocorre na Universidade de São Paulo (USP) desde o dia 2 de julho. É o que propõe o professor e pesquisador da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Maurício Zouein.
Ele comanda o primeiro painel dedicado à Amazônia e outras três atividades no evento da USP. Além de Zouein, pesquisadores de outras universidades da Região Norte participam das discussões.
Na avaliação de Zouein, a presença de pesquisadores da Amazônia no congresso internacional na USP é uma oportunidade para mostrar a região a partir do olhar de pessoas que vivem nela. A missão é evidenciar, por meio da ciência, como o olhar de fora criou estereótipos sobre a Amazônica ao longo dos séculos.
“Tem gente que vem aqui para fazer turismo e quer pescar ou ver um indígena pintado. Mas não é só isso. A Amazônia é lugar de indígena, de quilombola, de pesquisador, de jornalista, de médico, etc. E todos muito competentes”, reflete.
Participam do evento na USP cientistas de universidades renomadas da América do Sul, como a Pontíficia Universidade do Peru e do Chile, e da Europa, a Universidade da Coruña e de Sevilla da Espanha, além da Univeritá di Torino, da Itália.
Atividades sobre Amazônia na USP
Durante o evento, Maurício Zouein integra as seguintes atividades:
‘Painel Ecossistemas sígnicos na Amazônia: diversidade cultural, ecologia e semiótica’, que ocorre nesta sexta-feira (5), no auditório Lupe Cotrim, da Escola de Comunicação e Artes da USP.
Na ocasião, cientistas de universidades de todo o mundo debatem sobre a construção da imagem da Amazônia ao longo dos séculos. Completam o painel ao lado de Zouein os pesquisadoras Aparecida Zuin, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Laura Lago, da Universidade Federal do Pará (UFPA), Milton Chimarelli Filho, da Universidade Federal do Acre (UFAC), Mirna Feitoza Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e Jacqueline Ausier (USP).
Apresenta o trabalho ‘Aos Olhos de Judas: imagem e memória na Amazônia’, que contará com imagens presentes no livro ‘A ideia de civilização nas imagens da Amazônia 1865-1908’, resultado de 40 anos dedicados à pesquisa e indicado ao Prêmio Jabuti 2023.
Orienta a estudante do curso de Jornalismo da UFRR, Yasmim Trindade, na apresentação do trabalho ‘A Identidade Imagética da Amazônia criada pela Inteligência Artificial’, também nesta sexta-feira.
Promove uma exposição fotográfica com imagens feitas por cinco fotógrafos de Roraima: Jorge Macedo, Conceição Escobar, Andrezza Mariot, Marcelo Mora e Pablo Sérgio.
Com tema livre e sob curadoria de Zouein, os fotógrafos foram orientados a retratar a própria percepção que eles têm sobre a Amazônia. Foram selecionadas duas fotos de cada um. Veja algumas:
O que é semiótica?
Principal área de pesquisa de Maurício Zouein, a semiótica é o estudo de como os sinais e os símbolos são usados para transmitir significados e ajuda a entender como os humanos dão sentido ao mundo através desses símbolos.
Palavras, imagens, gestos e até sons são sinais que comunicam algo, e essa ciência investiga como eles são criados e entendidos pelas pessoas, além de como podem ter significados distintos em diferentes contextos sociais e culturais.
“A Amazônia é necessária pela sua abundância de natureza, de filosofia, pelas culturas tradicionais. Ela é necessária para a humanidade. Só que ‘semioticamente’ falando, a Amazônia, ainda é consumida por símbolos criados externos a ela, por gente dos Estados Unidos, da Europa e de outras partes do Brasil, que constroem um significado muito diferente do que ela é”, afirma.
‘Aos Olhos de Judas’
O trabalho ‘Aos Olhos de Judas: imagem e memória na Amazônia’ reúne imagens presentes no primeiro livro de Zouein ‘A ideia de civilização nas imagens da Amazônia 1865-1908’ e ocorre no dia 4 de julho. Lançado em 2023, a obra propõe uma reflexão sobre como as pessoas da Amazônia foram retratadas por fotógrafos europeus no final do século XIX e início do século XX.
O livro, indicado ao Prêmio Jabuti 2023, mostra como as riquezas culturais e sociais das pessoas da Amazônia eram desvalorizadas e ocultadas através de fotografias raras e antigas. As imagens foram capturadas por fotógrafos europeus e divulgadas em cartões-postais e álbuns financiados por governadores do Amazonas e Pará, com objetivo de valorizar a cultura dos estrangeiros.
“É uma pesquisa de anos, mostrando como a Amazônia era retratada: como um lugar com pessoas pobres e ‘a ser civilizado’. Até hoje ainda existe, essa questão de mostrar a Amazônia enquanto um lugar exótico”.
Com as imagens produzidas na região, os europeus buscavam colocar a percepções de mundo deles acima da cultura das populações locais, como se a Amazônia precisasse passar por um processo civilizatório. Ao mostrar como essa dinâmica ocorreu ao longo da História através de documentos e da pesquisa, o livro ajuda a pensar em como o processo de opressão cultural ainda acontece e se repete ao longo dos anos.
“Quando se tratava de civilização, [as pessoas da Amazônia] eram [mostradas como] pobres e quando mostradas ao mundo, eram exóticas. Quantas vezes a nossa história foi jogada por debaixo do tapete para que esses projetos de progresso e civilização pudessem existir?”, questiona.
Foto: Divulgação/Maurício Zouein.
Reconhecimento da ciência de Roraima
Para o professor, a participação no congresso representa uma realização pessoal, mas também é importante para a comunicação de Roraima e para a própria UFRR. Estampar o nome da universidade na qual se formou e hoje é professor ao lado de instituições mundialmente renomadas é o reconhecimento da qualidade da ciência produzida no estado, avalia o pesquisador.
“O valor simbólico, além de toda experiência acadêmica, é a possibilidade de discutirmos e apresentarmos a imensa potência estética e valores éticos originários da nossa região. Os participantes terão a oportunidade de conhecer fotografias repletas de significados históricos e identidade imagética da Amazônia”, disse Ticianeli.
Já a representante da USP e organizadora do congresso, a professora Clotilde Perez, destacou a apresentação do primeiro painel específico sobre a Amazônia. Para ela, a ocasião será uma chance de aprender, discutir e se inspirar através dos signos da região.
Foto: g1 RR.
“O painel vai tratar das singulares linguagens amazônicas que se expressam com imensa potência estética e valores éticos originários do nosso país. Certamente esse será um momento privilegiado para promover a reflexão sobre quem somos, como nos expressamos e para onde queremos ir”, afirmou a professora.
Zouein cita ainda que que ter a ciência produzida em Roraima apresentada numa das maiores universidades do mundo é um passo para mostrar a competência dos pesquisadores da região Norte. Ele frisou que o acesso ao conhecimento é dificultado no estado devido à distância dos grandes centros, o que precisa ser mudado.
“Se você comprar um livro de R$50 reais aqui, você precisa pagar mais R$ 50 de frete para ele chegar. A pessoa que mora no centro-sul paga só os R$50 e a pessoa que mora na região norte paga o dobro pelo mesmo conteúdo. Isso aqui não está legal; O fato de você estar distante não te dá as mesmas possibilidades que outros. Isso é lógico mas não pode ser normal e tão pouco natural. Temos que lutar para mudar isso e mostrar a nossa competência”, conclui.
Na natureza, cada ser vivo é responsável por manter o ecossistema funcionando em equilíbrio e quando se pensa em grupos a responsabilidade é ainda maior. Em Rondônia, o aparecimento e registro de famílias de animais silvestres está se tornando comum.
Assim como para os humanos, a família é muito importante para o reino animal. Viver em comunidade para os animais silvestres não é só para a reprodução, mas também é fundamental para existência da espécie.
Para o biólogo Flávio Terassini, a família na natureza facilita a obtenção de alimentos, já que se um indivíduo encontrar um alimento, os outros já terão o que comer. O especialista destaca que, em sua maioria, os grupos familiares são lideradas por um macho alfa.
“Geralmente tem o macho alfa que vai proteger aquele grupo; Nós temos grupos de capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris), que podem ter até 50 indivíduos, sendo um macho alfa, que é aquele que vai proteger o grupo”, explica.
O biólogo diz que são diversos os animais que vivem em família, no bioma amazônico, dentro deste meio ele destaca os primatas, que já foram vistas manadas de até 100 indivíduos, com até três espécies diferentes de macaco: o macaco-prego, o saimiri e o macaco-aranha. Eles buscam lugares que tenham alimentos, um local de abrigo e espaço onde constituir uma nova família através da reprodução.
Foto: Carlos Tuyama/Projeto Hapia
Desequilíbrio ambiental
O viver em comunidade no reino animal, também tem um papel importante para a preservação da espécie, já que a formação da comunidade, facilita a proteção dos animais contra predadores naturais, encontrar alimento, se reproduzir e manter a espécie viva e preservada.
Com o desaparecimento destas famílias, o meio ambiente e ecossistema entram em colapso, pois muitas dessas espécies são fundamentais para a fauna e a flora. O biólogo explica que o desaparecimento desses bandos, gera um problema ambiental que desencadeia uma pirâmide ambiental, onde alguns animais são a base alimentar de outros maiores.
Fotos: João Pedro Salgado
Flávio Terassini diz, que animais como as capivaras e a cutia, são naturalmente alimentos para a onça. Se ocorrer o desaparecimento desses roedores, a onça começa a procurar outro alimento, causando assim um desequilíbrio.
Animais como a Cutia ainda tem outra função para o equilíbrio do meio ambiente, assim como as antas, o roedor é uma ‘Jardineira das florestas’. Eles ajudam a equilibrar a flora da floresta com a dispersão de sementes de árvores nativas.
“ Poucas árvores vão nascer, as onças vão começar a ficar com fome, e isso porque desaparece uma espécie [cutia]. Então você tem ali um problema ambiental generalizado, levando à extinção de muitas outras espécies. Dessa pirâmide alimentar”, finaliza.
Foto: Carlos Tuyama/Projeto Hapia
Registrando famílias
O registro da vida silvestre também é realizado por profissionais que se dedicam em capturar a fauna silvestre. Esse é o caso do fotógrafo e pesquisador Carlos Tuyama, integrante do Projeto Harpia. O profissional diz, que viu na fotografia um modo de documentar as diversas espécies no bioma Amazônico.
Ao grupo Rede Amazônica, o fotógrafo contou que a paixão pela fotografia começou ainda na adolescência, mas foi há uns 10 anos que realmente começou a fotografar e evoluir. Se dedicando principalmente à fotografia de vida selvagem.
Carlos e sua esposa, são voluntários do Projeto Harpia, um programa nacional de conservação de espécie ameaçada. Por meio deste projeto, Carlos conseguiu várias oportunidades de acesso ao habitat de diferentes representantes da fauna silvestre.
Foto: Reprodução/redes sociais – Carlos Tuyama
“Isso tem nos possibilitado várias atividades em porções de florestas conservadas, então para quem busca registrar imagens da fauna amazônica, é como unir o útil ao agradável”, destaca o fotógrafo.
Para Carlos, é uma grande alegria registrar filhotes de animais, ainda mais quando eles estão acompanhados por sua mãe ou pai, pois isso quer dizer que essa espécie está conseguindo se reproduzir e manter consequentemente a linhagem para as gerações futuras.
O fotógrafo explica que quando identifica animais em locais de florestas alteradas e empobrecidas, o registro se torna ainda mais importante por constatar que eles estão conseguindo se reproduzir, mesmo em condições que não são ideais.
“O avistamento se torna ainda mais importante, pois se trata de paisagens bem diferentes daquela que o animal está adaptado no seu processo evolutivo. Em lugares assim, constatar que eles estão tendo sucesso na reprodução, é alentador”, enfatiza Carlos.
O fotógrafo destaca, que ainda existem animais como a Harpia e outras águias florestais, que por estarem no topo da cadeia alimentar, são exigentes.
“Esses, por serem predadores de topo de cadeia, são ainda mais exigentes no processo de reprodução e normalmente estão entre os animais mais ameaçados de risco de extinção” , destaca.
A lista de registro de Carlos é bem extensa, indo de Harpias que é o foco de seus registros, até primatas. Os modos de busca e captura são diversos. Já foram usadas câmeras convencionais, drones e câmeras traps, que significam armadilhas fotográficas.
Confira algumas fotografias registradas por Carlos Tuyama para o Projeto Harpia: