‘Galinhola’: Ave com aparência incomum e acredita ser resultado de cruzamento entre galinha e galinha-d’angola em RO — Foto: Reprodução/redes sociais
Uma família da zona rural de Jaru (RO) se surpreendeu ao presenciar o nascimento de uma ave com traços de galinha e galinha-d’angola. O animal, apelidado de “galinhola”, chamou a atenção por sua aparência incomum.
Apesar da semelhança entre as aves, pesquisadores afirmam que não se trata de um cruzamento entre diferentes espécies, mas sim de aves de diferentes raças.
A professora aposentada Terezinha Barbosa, dona da propriedade, contou que a galinhola se parecia com uma galinha no início, mas, com o passar do tempo, foi se modificando e mudando a penugem, tornando-se uma ave única. O animal tem cerca de seis meses.
‘Galinhola’: Ave com aparência incomum e acredita ser resultado de cruzamento entre galinha e galinha-d’angola em RO — Foto: Reprodução/redes sociais
Genética permite cruzamento?
Para entender se seria possível uma ave gerada a partir do cruzamento entre uma galinha (Gallus-gallus) e uma e uma galinha-d’angola (Numida-meleagris), o professor e pesquisador da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Elvino Ferreira, analisou as imagens do animal.
Segundo o especialista, o cruzamento entre as aves não é possível do ponto de vista genético:
“As duas aves possuem quantidades diferentes de cromossomos — a galinha tem 78 e a galinha-d’angola, 76. Essa diferença impede o pareamento correto durante a formação do embrião, tornando o desenvolvimento inviável”, explicou Elvino.
Arte explicativa sobre genética da galinha e galinha-dangola — Foto: Reprodução/redes sociais
Além da diferença genética, o professor destacou que o comportamento reprodutivo e o tamanho das aves também dificultam o acasalamento.
“Aspectos comportamentais também devem ser considerados, especialmente no tocante à corte, ou seja, ao comportamento reprodutivo entre essas espécies”, afirma a análise.
De acordo com Elvino, a aparência incomum da “galinhola” pode ser resultado de cruzamentos entre diferentes raças de galinhas caipiras, como:
Rhode Island Red
Welsummer
Indio Gigante (linhagens Asil ou Shano)
Essas raças possuem o mesmo número de cromossomos e apresentam grande variedade de tamanhos, formas e colorações, podendo gerar animais com características únicas, mas geneticamente compatíveis.
Outra possibilidade considerada pelo pesquisador é o cruzamento entre a galinha comum e aves nativas, como os jacus. Algumas espécies como Penelope obscura, Penelope purpurascens e Ortalis canicollis também têm 78 cromossomos, o que torna o cruzamento possível do ponto de vista genético, embora bastante raro.
Foto: Reprodução/Grupo de Pesquisa de Estudos da Biodiversidade de Plantas Superiores (EBPS)
Cádmio, Cromo, Cobre, Zinco e Arsênio. Esses são alguns dos metais pesados considerados tóxicos à saúde humana e ao meio ambiente, mas que estão presentes em solos que foram degradados pela mineração e por lixões na Amazônia.
Diante dessa problemática, alunos e professores do Grupo de Pesquisa de Estudos da Biodiversidade de Plantas Superiores (EBPS), da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) vem trabalhando na busca por soluções.
“O objetivo principal é restabelecer essas áreas degradadas a partir de uma atuação que envolve duas frentes de trabalho, que são o uso de biocarvão para recuperar o solo e a utilização de plantas fitorremediadoras para reflorestá-lo”, explica o coordenador do grupo, professor Cândido Ferreira Neto.
Biocarvão
O caroço do açaí é um poluente ambiental que ainda não possui uma destinação adequada na região amazônica. Uma alternativa para a reutilização desse resíduo é o biocarvão, também chamado de biochar. A partir de um processo chamado pirólise, em que há a degradação térmica do caroço do açaí em altas temperaturas e na ausência de oxigênio, os pesquisadores conseguiram chegar à temperatura ideal para que o caroço não vire carvão e ainda mantenha suas propriedades físico-químicas, necessárias para a nutrição do solo.
Segundo o coordenador do grupo, quando aplicado no solo, o biochar do caroço do açaí tem a capacidade de reter os metais pesados, absorvendo-os e corrigindo o ph do solo, além de fornecer nutrientes.
“O biochar também retém carbono no solo, evitando que o gás carbônico alcance a atmosfera, o que contribui para evitar mais danos ao efeito estufa”, diz Cândido Ferreira.
Aí é a vez das plantas. Para que ocorra o reflorestamento é preciso que as plantas utilizadas também suportem a quantidade de elementos químicos presentes no solo contaminado. Para isso, a equipe também está testando espécies da Amazônia com potencial fitorremediador, ou seja, plantas com capacidade de tirar esse metal do solo, acumulando-os na raiz, tronco ou folhas, como explica o coordenador.
Três plantas testadas já apresentaram resultados positivos, com crescimento combinado ao biocarvão: Ucuuba, Mogno e Palheteira. As plantas de mogno foram expostas a níveis tóxicos de cobre, enquanto que as de ucuuba foram expostas a doses de cádmio.
“O mogno brasileiro apresentou alto índice de tolerância em todas as concentrações de cobre aplicadas, da mesma forma a ucuúba, que se mostrou tolerante ao cádmio, principalmente nas altas dosagens”, disse o pesquisador. Já a Palheteira apresentou tolerância somente a doses de cádmio e deve passar por testes com outros metais.
Fotos: Reprodução/Grupo de Pesquisa de Estudos da Biodiversidade de Plantas Superiores (EBPS)
Para identificar o potencial fitorremediador da espécie foi feito um levantamento inicial de quais seriam essas plantas, onde foram avaliados: a tolerância do vegetal em ambientes tóxicos, a quantidade de metal que a espécie concentra em seus órgãos e a capacidade da planta em translocar o metal da raiz para parte aérea.
“Existem várias plantas com potencial fitorremediador. Mas o tempo que essa planta fica exposta a esses metais e a concentração desses elementos, podem fazer com que essa planta morra. É justamente o que não queremos”, diz o coordenador.
“O biocarvão retém o metal e depois a planta absorve e retira esse metal do solo. Como o biocarvão retém e adsorve esses metais, sua disponibilidade no solo e para a planta fica reduzida. Isso significa que a planta fitorremediadora vai absorver uma quantidade menor de metal, impactando diretamente no melhor desenvolvimento dessa planta”, diz Cândido Ferreira.
Resultado também é observado na agricultura
Essa combinação tem mostrado resultados promissores, não só para a recuperação de solos degradados, mas também para melhorar a produção agrícola na região.
“Percebemos que, quando se coloca o biocarvão a uma concentração ideal no solo, isso melhora a produção e o desenvolvimento da cultura”, explica.
Segundo o pesquisador, os solos da região amazônica são ácidos e pobres de nutrientes. Por isso é comum o uso da calagem, procedimento feito pelos agricultores para aumentar o ph do solo. “Mas com o biocarvão isso já é corrigido. O biocarvão libera macro e micronutrientes ao solo. Aos poucos ele libera nitrogênio, fósforo, magnésio, potássio, enxofre, essenciais para a planta se desenvolver. Ao longo do tempo é possível que não seja preciso adubar esse solo, o que vai impactar na renda do produtor, que não vai precisar gastar com calagem e produtos”, diz.
A equipe realizou testes com milho e jambú, e os resultados superaram as expectativas. “O biocarvão não só melhorou o ph ácido do solo, mas também forneceu nutrientes a esse solo e melhorou a produção e o desenvolvimento daquela cultura”, explica. “O Biocarvão também é capaz de reter agua no solo, em períodos de estiagem ele consegue reter essa agua e ajudar a manter a umidade do solo para a planta”, diz.
Próximos passos
Os próximos passos da pesquisa incluem a testagem de novas espécies de plantas com potencial fitorremediador, como andira-uxi, pau pretinho e tatapiririca. O objetivo é avaliar o potencial fitorremediador de cada uma dessas espécies para as áreas degradadas. Já a produção de biocarvão está sendo testada também com resíduos de outros materiais, como o ouriço e a casca da castanha, resíduos de poda e a casca do cacau. Nesse caso o foco é na produção vegetal, como a produção de mudas de frutíferas e espécies florestais e na produção de hortaliças. Eles ja estão sendo testados em culturas agrícolas, como o feijão e milho.
O projeto existe desde 2023, e conta com financiamento da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa).
Terceiro elemento mais abundante na crosta terrestre, o alumínio pode ser encontrado em uma variedade de produtos e objetos utilizados pelos seres humanos – como utensílios de cozinha, agentes culinários antiaglomerantes, agentes emulsificantes e desodorantes.
Não obstante sua ampla distribuição e uso, o alumínio não possui um papel biológico definido, não é biodegradável e, quando biodisponível, pode ter efeitos tóxicos em organismos aquáticos.
Neste sentido, os nematoides (que são vermes invertebrados amplamente distribuídos em ambientes aquáticos e terrestres) podem ser utilizados como biomonitores para avaliar e compreender os impactos do alumínio no ambiente.
A pesquisa teve orientação das professoras Virag Venekey e Lílian Lund Amado, que coassinam a publicação. Houve ainda apoio financeiro do Consórcio de Pesquisa em Biodiversidade Brasil-Noruega (BRC).
“Foram realizados experimentos em laboratório com juvenis/filhotes das três espécies citadas com concentrações de alumínio que já foram registradas em ambientes aquáticos na Amazônia para avaliar o impacto dessas quantidades na sobrevivência (efeito letal), no crescimento, na fertilidade e no sucesso reprodutivo (efeitos subletais)”, explica a professora Virag Venekey.
Os resultados revelaram que C. tropicalis foi a espécie mais sensível à exposição ao alumínio, sofrendo efeitos subletais mesmo em concentrações inferiores às consideradas ambientalmente relevantes. A espécie apresentou redução significativa no sucesso reprodutivo e foi a única, entre as analisadas, a ter o crescimento afetado pela presença do metal.
Segundo Erivaldo Santos, alterações em parâmetros importantes, como reprodução e crescimento, podem levar à chamada “morte ecológica” da espécie – quando o organismo deixa de cumprir seu papel ecológico, o que pode resultar na diminuição populacional ou até mesmo na extinção local da espécie.
Inovação
O estudo representa um marco na produção científica da UFPA, pois se trata do primeiro estudo a utilizar C. tropicalis como organismo-teste em bioensaios toxicológicos. Os resultados evidenciam a importância do uso de espécies amazônicas em avaliações de risco ecológico, uma vez que organismos nativos podem reagir de maneiras distintas aos poluentes, em comparação com modelos importados, como é o caso do C. elegans.
Para Erivaldo Santos, padronizar o uso de C. tropicalis como organismo-teste em pesquisas ecotoxicológicas na Amazônia favorece uma avaliação mais realista da toxicidade de poluentes, além de ajudar a evitar o risco de introdução acidental de espécies exóticas em ecossistemas tropicais.
Aldeia Ulupwene, ‘ilha’ banhada pelos rios Ulupwene e Tamitatoala. Foto: Piratá Waurá/ InfoAmazonia
A construção da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) deve impactar 24 terras indígenas na Amazônia Legal, sendo 23 em Mato Grosso e uma em Rondônia. Um levantamento da InfoAmazonia revela ainda que a obra atravessará 105 nascentes e afluentes de três importantes bacias hidrográficas brasileiras: Xingu, Tocantins-Araguaia e Tapajós e pode contaminar e destruir cursos d’água fundamentais para a região.
Iniciada em 2022, a ferrovia foi orçada em R$ 7,2 bilhões, com previsão de conclusão em 2027. O projeto, que está em fase de estudos para licenciamento socioambientais, prevê uma área de influência direta (região onde os impactos de um empreendimento ou atividade são mais intensos e imediatos, afetando diretamente o meio ambiente e as comunidades locais) de 50 quilômetros, na qual comunidades indígenas poderão sofrer com desmatamento, erosão e mudanças nos fluxos hídricos.
A análise da reportagem se baseou no Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) da FICO, disponibilizado pela Infra.SA, empresa pública brasileira vinculada ao Ministério do Transportes e responsável pela fiscalização dos trabalhos realizados pelo setor privado na ferrovia. Também foram analisados os dados de localização das TIs, disponibilizados pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), com sobreposição ao traçado da ferrovia. O EIA/RIMA é um estudo que avalia os impactos ambientais de uma determinada obra. O EIA é técnico, e o RIMA apresenta as conclusões de forma acessível ao público.
A InfoAmazonia identificou que seis dessas terras – Manoki, Irantxe, Utiariti, Tirecatinga, Nambikwara e Vale do Guaporé – estão a menos de 10 quilômetros da linha da ferrovia, tornando-se mais vulneráveis aos impactos da obra e à pressão da expansão agrícola. O traçado passa pelos municípios de Água Boa, Lucas do Rio Verde, Gaúcha do Norte, Canarana, Paranatinga e outros com economias ligadas ao agronegócio.
A FICO terá um trajeto de 1.641 km, cortando o Mato Grosso de leste a oeste, dividido em três trechos: 383 km entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT), 505 km de Água Boa a Lucas do Rio Verde (MT) e 646 km entre Lucas do Rio Verde (MT) e Vilhena (RO). Parte do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ferrovia servirá para escoar a produção agrícola e incentivar a exploração mineral no Cerrado e na Amazônia, conforme informações da Infra S.A.
Além disso, a FICO se insere em um conjunto de obras que fazem parte do projeto da Ferrovia Transcontinental, também da Infra S.A. Planejada para ter cerca de 4.400 km de extensão no território brasileiro, ela conectará o Porto de Açu, no Rio de Janeiro, a Boqueirão da Esperança, no Acre. Esse projeto é parte de uma proposta maior para criar uma ligação ferroviária entre os oceanos Atlântico, no Brasil, e Pacífico, no Peru. A FICO, especificamente, conectaria as BRs 158 e 163.
Comunidade indígena impactada
Entre os 105 corpos d’água que devem ser impactados pela obra, a reportagem mapeou que três deles estão na nascente do rio Xingu: o rio Sete de Setembro, o rio Batovi e o rio Curisevo. A análise identificou que a obra passa fora da Terra Indígena do Xingu, mas atravessa as nascentes dos rios que correm na região, o que pode impactar na qualidade e na quantidade de água no território, com poluição e assoreamento em razão da obra.
Na aldeia Ulupuwene, localizada na Terra Indígena Batovi, dentro do Parque Indígena do Xingu (TIX), a comunidade, que depende dos rios para alimentação, higiene e lazer, tem o apoio da Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX) em um Grupo de Trabalho de Componente Indígena. Esse grupo monitora os impactos da FICO e da BR-242 no território, acompanhando os estudos, realizando reuniões com os responsáveis pelas obras e mantendo contato com órgãos do governo federal.
A comunidade é banhada pelas nascentes da bacia do Xingu: o rio Tamitatoala (ou Batovi) e o rio Ulupuwene (também chamado de Bakairi), que estão entre os 105 corpos d’água que devem ser impactados. Localizada na ponta oeste da TIX, na divisa entre o território do Xingu e fazendas produtoras de soja e milho, a comunidade está vulnerável a tudo o que ocorre fora da área demarcada.
Professor na aldeia Ulupuwene, Hukai Waurá é formado em Ciências da Cultura pela Universidade Federal do Goiás, e membro do Grupo de Trabalho de Componente Indígena da ATIX. Ele conta que a região tem sofrido pressão do agronegócio, o que pode piorar com a chegada da FICO.
“Nas cabeceiras dos dois rios [que correm na aldeia] está tudo desmatado pelos fazendeiros. A lavoura está colada nos rios. A gente entende que os proprietários jogam os venenos na soja e cai no rio Bakairi e Tamitatoala, que é onde a gente se alimenta. Acredito que a gente está consumindo com os venenos [agrotóxicos], então isso nos deixa preocupados”, diz Hukai.
Hukai Waurá alerta que os efeitos da FICO serão permanentes, e que por isso o governo federal deve estar preparado para atender as demandas dos povos indígenas Foto: Piratá Waurá/InfoAmazonia
Para evitar os avanços da FICO, os indígenas cobram do governo federal um relatório que liste os reais impactos que a obra vai causar na região da Ulupuwene.
“Em 2024, o governo não só atendeu, como mandou os pesquisadores que andaram nas aldeias conversando com as comunidades. Até agora não apresentaram relatório. Eles têm que apresentar relatório para a gente aprovar ou não. Temos que saber qual impacto vamos sofrer, como é que a gente vai sobreviver com isso daqui mais futuramente”, explica Hukai.
Em 1985, a cobertura florestal em Mato Grosso — o principal estado impactado pela FICO — era de 80.239.031 hectares. Em 2023, essa área foi reduzida em 31%, caindo para 55.230.962 hectares, conforme dados da Plataforma MapBiomas. O uso da terra para agropecuária e lavoura no estado também aumentou drasticamente, passando de 9.747.376 hectares para 34.715.252 hectares no mesmo período, um crescimento superior a 256%.
Entre 1985 e 2023, as nascentes da bacia do rio Xingu perderam 46% de sua superfície de água. Em 1985, o volume de água na região era de 117 mil hectares, mas, em 2024, era de cerca de 62.735 hectares: uma perda de 54.376 hectares, segundo dados do MapBiomas. Isso significa que, em 38 anos, as áreas úmidas (rios, lagos e outras fontes d’água) perderam quase metade de seu território.
Um dos primeiros moradores e liderança da aldeia Ulupuwene, Yaponuma Waurá diz: “Como estamos na fronteira da área indígena, a gente fica preocupado. Ouvi a história de que vão trazer a BR-242 e a ferrovia, que vão trazer problemas para nós. Por que esses projetos causam problema? Isso vai acelerar bastante o desmatamento para o nosso território e aumentar as áreas urbanas nos arredores”.
Para a safra 2023/2024, Mato Grosso plantou mais de 11 milhões de hectares de soja, consolidando-se como o maior produtor nacional, com 25% da produção do país, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nascentes vulneráveis há anos
No final dos anos 1990, a bióloga Rosely Alves Sanches, pesquisadora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), foi convidada pelo Instituto Socioambiental (ISA) para iniciar um diálogo entre os povos indígenas do Xingu e as comunidades ao redor, em cidades de Mato Grosso como Canarana, Querência e Gaúcha do Norte. As comunidades indígenas estavam preocupadas com a mudança na qualidade das nascentes e a diminuição dos peixes.
“O ISA tinha um trabalho muito focado para dentro do território indígena, mas havia uma demanda por parte de lideranças indígenas naquela época com a questão das nascentes do Xingu, que ficaram fora durante todo processo de demarcação do Parque Indigena do Xingu”, explicou a pesquisadora.
Assim, começou no início dos anos 2000 o projeto Yikatu Xingu, que consistia na construção de um diálogo com o objetivo de proteção das nascentes. Além de reunir diferentes grupos, como governos municipais, pequenos e grandes agricultores, lideranças indígenas e população local para discutir ações, o projeto resultou na criação da organização Sementes do Xingu, que reúne coletores de sementes da região que revendem os produtos da natureza para reflorestamento local. Mas os problemas não deixaram de existir.
Sanches também estudou as nascentes do Xingu e sua importância ambiental. Ela identificou uma floresta adaptada ao clima, com raízes profundas que buscam água no subterrâneo. A região, entre a Amazônia e o Cerrado, possui áreas úmidas essenciais para a produção hídrica e pesqueira, mas essas áreas vêm se perdendo fora do Parque Indígena do Xingu.
Em 2022, o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema-MT) aprovou a drenagem de áreas úmidas para outros usos, gerando críticas por comprometer a produção de água e peixes. “Começou a me chamar atenção que dentro do Parque Xingu, você vê as lagoas, os lagos. Mas fora do Xingu hoje, atualmente, a gente tem observado que cada vez mais essas áreas estão desaparecendo”, alerta.
O rio Ulupwene corre dentro da aldeia e, para os Wauja, é mercado, banho, brincadeira, vida. O povo teme que o rio seque com a passagem da FICO Foto: Piratá Waurá / InfoAmazonia
O cacique e pajé da aldeia Ulupuwene, Elewoká Waurá, foi morar na Terra Indígena Batovi em 2010, junto a seus irmãos. Nascido na aldeia Piyulaga, na região central do território Xingu, ele decidiu se mudar quando percebeu que a região começou a ser ocupada por não indígenas para fins de pesca, caça e outros. Sua preocupação é com o uso de agrotóxicos em lavouras próximas às nascentes, mas também com a proteção da mata. No trajeto antes de chegar ao Parque do Xingu, está localizada uma área de cerca de 10 km que pertence à reserva legal (área dentro de uma propriedade rural que deve ser preservada com vegetação nativa, garantindo o equilíbrio ecológico. Seu percentual varia conforme o bioma, conforme previsto no Código Florestal) de uma fazenda. Elewoká quer que o trecho seja preservado para que o desmatamento não se aproxime mais de seu povo.
É da floresta, como conta o cacique, que vem o material com que o povo Wauja faz suas casas e os remédios que ele, como pajé, usará na cura dos pacientes, a comida e os trabalhos de arte, como a cerâmica e a tinta para o grafismo.
“Aqui o ar é diferente. É o ar limpo. Quando você sai dentro do território para fora, a respiração que você sente lá é diferente: você sente o cheiro do veneno. Estou muito preocupado com o futuro, não sei como vai ser daqui mais para frente. Estou aconselhando os jovens que continuem nesta luta que eu estou fazendo e para não abrir mão para os não indígenas destruir nossa riqueza. É como eu falei: daqui a gente tira nossa alegria. Se não tiver natureza, a gente não tem liberdade de alegria”, conta o cacique e pajé da aldeia Ulupuwene, Elewoká Waurá.
Falando em Aruak, sua língua nativa, o cacique Elewoká Waurá alertou sobre a vulnerabilidade da aldeia Ulupwene diante da expansão da ocupação não indígena na região. Foto: Piratá Waurá / InfoAmazonia
Infra S.A
Procurada pela reportagem, a Infra S.A, responsável pela ferrovia, respondeu por meio de assessoria de imprensa que o licenciamento prévio para toda a extensão da FICO foi obtido junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), com base em estudos de impacto na área de influência do empreendimento. O Instituto foi procurado, mas não respondeu à reportagem
“Todos os cursos d’água localizados na área de influência da ferrovia foram objeto de estudos técnicos que são avaliados pelos órgãos ambientais competentes para determinar, na fase de instalação do empreendimento, as medidas pertinentes de proteção e monitoramento. Dentre os programas comumente executados na fase de instalação, estão ações de supervisão ambiental das obras, monitoramento de efluentes e recursos hídricos, processos erosivos e ações para recuperação de áreas degradadas e de matas ciliares”, afirmam em resposta.
Afirmam ainda que “para as comunidades tradicionais situadas na área de influência do empreendimento, são elaborados estudos específicos que avaliam os eventuais impactos e medidas para mitigação e/ou compensação. No caso de povos indígenas, o trabalho é supervisionado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e no caso de comunidades quilombolas, as atividades são acompanhadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Esta reportagem foi produzida por jornalistas bolsistas da segunda edição do curso de Jornalismo Investigativo Ambiental e Geojornalismo, oferecido com o apoio da Earth Journalism Network da Internews, e é parte do eixo educacional da InfoAmazonia.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela InfoAmazonia, escrito por Erika Artmann
Pioneira do marabaixo amapaense, Tia Biló morreu aos 96 anos. Foto: Gabriel Penha/Fundação Marabaixo
O Ciclo do Marabaixo 2025 iniciou no dia 19 de abril em sete barracões tradicionais na zona central e rural de Macapá. O evento cultural segue até o “domingo do Senhor”, após a celebração de Corpus Christi, no dia 22 de junho. Esta edição homenageia o centenário de Benedita Guilherma Ramos, a Tia Biló, matriarca do marabaixo do bairro Laguinho, falecida em 2021 aos 96 anos.
Tia Biló era uma das mais respeitadas mestras e precursoras do Marabaixo no Amapá. Nasceu em Macapá em 10 de fevereiro de 1925, filha de Januária Ramos e Julião Ramos, que marcaram a história do Marabaixo e da construção da cidade de Macapá.
Foi precursora do primeiro grupo desse ritmo afro, a Associação Folclórica Raimundo Ladislau (fundada em 1988). Tia Biló foi grande entusiasta e divulgadora da cultura afrodescendente. Ela teve sete filhos, 16 netos e 20 bisnetos.
Foto: Gabriel Penha/Fundação Marabaixo
Ciclo do Marabaixo 2025
“Mais do que valorizar a cultura, é preciso fortalecê-la. Garantir o futuro passa por investir no presente da juventude, das crianças e também nos saberes dos mais velhos. É com esse compromisso que o Governo do Amapá está promovendo um grande fomento à cultura, destinados a 11 ações do Ciclo do Marabaixo 2025. Quem está levando o Marabaixo e o Amapá para o mundo somos nós”, expressou Josilana Santos, diretora-presidente da Fundação Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Feppir/Fundação Marabaixo), sobre as expectativas para a edição de 2025.
Josilana Santos ressaltou, ainda, que o Ciclo do Marabaixo é mais do que uma celebração cultural, é uma afirmação de identidade, resistência e memória do povo amapaense. A cada toque do tambor e a cada canto entoado, reafirmam as raízes e fortalecem suas histórias.
“O Ciclo do Marabaixo é um dos períodos mais significativos do calendário cultural do Estado do Amapá. O Governo do Amapá fortalece essa tradição, garantindo fomento e investimentos para que ela não se perca com o tempo. Pelo contrário, que cresça, se renove e continue sendo motivo de orgulho para o povo amapaense. Essa manifestação cultural, marcada pelo som dos tambores e pela herança africana, não apenas conta um pouco, mas conta muito da história do nosso estado”, frisou Clícia Vieira Di Miceli, secretária de Estado da Cultura.
Para a edição deste ano, a organização anuncia diversas novidades. Entre elas, dois eventos esportivos: uma corrida de rua e um pedal que irão percorrer os barracões que realizam a festividade deste ano. Ainda estão previstos os lançamentos de uma cartilha, uma revista e um documentário sobre a cultura marabaixeira amapaense.
Outra novidade, é a primeira edição do projeto ‘Marabaixando entre Versos e Ladrões pelas plataformas digitais: O cantar do Marabaixo, dos tradicionais barracões para o mundo’, uma iniciativa do Governo do Amapá que promoveu a gravação de 16 faixas de “ladrões” de Marabaixo, levando os cantos tradicionais para as principais plataformas de streaming, na internet, e ampliando seu alcance para além dos barracões e rodas culturais.
Durante os dois meses de celebração, diversos rituais são realizados, como a retirada dos mastros nas matas do quilombo do Curiaú, cortejos da murta, levantamento dos mastros, ladainhas, missas, entre outros momentos que marcam essa manifestação cultural.
Entender quais vírus e bactérias cancerígenas predominam em pacientes oncológicos de tireoide no Amazonas foram a base de uma pesquisa científica apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), desenvolvida por pesquisadores da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon).
A pesquisa intitulada ‘Estudo da prevalência de vírus oncogênicos em neoplasias de glândula tireoide no estado do Amazonas’ recebeu fomento no âmbito do Programa ‘Amazônidas – Mulheres e Meninas na Ciência, edital 001/2021’, da Fapeam, e foi coordenada pela doutora em Ciências da Saúde, Lia Mizobe Ono.
Para identificar quais os agentes virais que podem causar câncer de tireoide foram coletados amostras de tecido tireoidiano neoplásico dos pacientes que foram submetidos a tireoidectomia na FCecon. Após a coleta do DNA, foram realizadas análises laboratoriais em biologia molecular para identificar os vírus reconhecidamente oncogênicos e que estão sendo alvo de pesquisas no mundo com as doenças da tireoide: o vírus Epstein Barr Vírus (EBV) e Parvovírus (B19).
A coordenadora do estudo destacou que a pesquisa possibilitou o conhecimento da existência de outros vírus e bactérias oncogênicas estarem associadas aos tumores de tireoide na região.
“Não conseguimos demonstrar associação positiva das neoplasias tireoidianas com o EBV e o B19 no Amazonas, porém identificamos outros vírus e bactérias oncogênicas que podem ser o ponto de partida para pesquisas futuras sobre fatores de risco dos tumores tireoidianos”, comentou.
Foto: Lia Mizobe Ono/Arquivo pessoal
O estudo desenvolvido no Amazonas e a comunidade científica mundial buscam uma causa que indique o crescimento da prevalência do câncer de tireoide no mundo. A hipótese dos vírus oncogênicos continua em estudo, caso seja confirmada em pesquisas futuras, poderá servir de base para prevenções, assim como aconteceu com o papiloma virus humano e o câncer de colo de útero.
Análise e dados
A análise do perfil socioeconômico e comportamental dos pacientes, revelou que das 163 pessoas que participaram da pesquisa, 148 eram mulheres e 18 homens. A maioria dos pacientes eram saudáveis, se consideravam pardos e moram na capital amazonense. A pesquisa coletou 28 amostras de câncer de tireoide que foram analisadas no laboratório de biologia molecular da FCecon.
Para identificação de vírus, os pesquisadores utilizaram reagentes e materiais para identificação. Já o viroma e bacterioma das amostras negativas de EBV e B19 foram realizados em laboratório privado, em São Paulo.
Ao todo, foram encontrados 14 carcinomas papilíferos, 6 carcinomas foliculares, 3 carcinomas anaplásicos, um carcinoma medular e 4 adenomas foliculares. Das 163 espécies tireoideanos com neoplasia, 24 tiveram DNA confirmado para EBV e 44 confirmados para B19. A quantidade de amostras de cada tipo histológico foi analisada e aprovada por profissional estatístico para que os resultados fossem válidos.
A crise climática é uma das maiores ameaças globais, impactando de forma desproporcional comunidades tradicionais e locais, que estão na linha de frente da conservação ambiental e da mitigação dos efeitos das mudanças do clima. No Brasil, a necessidade de fortalecer a participação dessas comunidades em espaços de tomada de decisão e garantir a construção de políticas climáticas mais justas e inclusivas é cada vez mais urgente.
O país tem um papel importante na agenda climática global, assumindo compromissos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e preservar seus biomas. No entanto, os desafios para uma transição ecológica equilibrada ainda são grandes, considerando o aumento do desmatamento, a degradação ambiental e a falta de investimentos suficientes para adaptação às mudanças climáticas.
Ao mesmo tempo, iniciativas como planos de transição para uma economia sustentável de baixo carbono, com foco em adaptação climática e transição energética, precisam considerar a perspectiva e a participação ativa das populações mais vulneráveis, garantindo que suas necessidades e conhecimentos sejam integrados a essas ações discutidas nas COPs.
A Conferência das Partes (COP) é o principal fórum global de negociações climáticas, reunindo anualmente os países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) para debater e definir compromissos em relação à crise climática. Porém, as discussões sobre os impactos, mitigação e adaptação não se limitam a COP, existem muitos outros espaços onde organizações comunitárias podem e devem participar, como conselhos municipais e estaduais, onde são tomadas decisões que impactam diretamente os territórios.
Nesse contexto, a ‘Chamada Fortalecendo o protagonismo local na agenda climática‘ surge como um esforço para fortalecer a incidência e a participação ativa de organizações da sociedade civil na agenda climática nacional. Além de garantir que lideranças locais estejam presentes nos espaços de decisão, a chamada também busca apoiar a produção de conhecimento e o monitoramento dos impactos das emergências climáticas nos territórios, contribuindo para a implementação de ações que assegurem a resiliência, a sustentabilidade e o protagonismo das comunidades tradicionais e locais de todo o Brasil.
Para chamada de projetos, critérios, linhas de apoio e dúvidas frequentes, acesse aqui.
Sobre o Fundo Casa
O Fundo Casa Socioambiental é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão promover a conservação e a sustentabilidade ambiental, a democracia, o respeito aos direitos socioambientais, a equidade de gênero e raça, a justiça social e climática, por meio do apoio financeiro e do fortalecimento de capacidades de iniciativas da sociedade civil.
Nas margens de um lago sereno no Pará, onde as águas cristalinas refletem o céu e as árvores sussurram histórias antigas, uma figura etérea protege a natureza: a borboleta azul, conhecida como Mariana. Essa lenda, repleta de mistério e paixão, atravessa gerações, encantando quem ouve falar da mulher que se tornou guardiã das águas e da floresta.
Uma das versões mais conhecidas conta que Mariana era uma mulher doce e solitária, que, no passado, contraiu tuberculose. Na época, a doença era temida e sem cura, e os doentes eram frequentemente isolados. Rejeitada pela sociedade, Mariana encontrou refúgio nas proximidades do lago que hoje leva seu nome. Ali, ela viveu seus últimos dias em harmonia com a natureza, admirando as árvores, os animais e as águas tranquilas.
Quando seu tempo na terra chegou ao fim, seu espírito não partiu. Em vez disso, transformou-se em uma borboleta azul, que desde então vaga pelo lago, protegendo sua nascente e todos os seres que dele dependem.
Reza a lenda que, nas redondezas do lago, ainda existem vestígios de uma antiga moradia — pedaços de madeira envelhecida, fragmentos de cerâmica — que poderiam pertencer ao lugar onde Mariana viveu.
Alguns moradores mais antigos afirmam ter presenciado momentos inusitados: uma mulher de vestido branco que, de repente, se dissolve no ar, deixando no lugar apenas o bater de asas de uma borboleta azul.
Imagem gerada por IA pelo Portal Amazônia
Outra versão
Em outra versão da lenda, Mariana não está sozinha. Ela é uma das três princesas turcas que chegaram ao Brasil em uma viagem marítima e se encantaram pela região.
Nessa narrativa, Mariana é associada à arara-cantadeira, enquanto suas irmãs, Jarina e Herondina, são ligadas à jiboia e à onça, respectivamente.
No entanto, algumas variações da história transformam Jarina (também chamada de Jarina de Aruanda) em uma borboleta, criando uma conexão entre as duas lendas.
Seja verdade ou lenda, o Lago de Mariana é um dos atrativos do Parque Estadual Ambiental do Utinga (Peut), em Belém. O parque está localizado na Avenida João Paulo II, s/n – bairro Curió-Utinga.
Lá, a trilha de Mariana oferece aos visitantes a oportunidade de contemplar a natureza e, com sorte, avistar a borboleta azul no percurso.
O Parque Utinga é uma importante área de preservação ambiental, administrada pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio), que também capacita condutores ambientais para acompanhar os visitantes. Os interessados em trilhas e visitas monitoradas podem entrar em contato pelos telefones (91) 98413-0915 ou 98192-8753.
Trilhas pela área de floresta são feitas no Parque Estadual Ambiental do Utinga. Foto: Reprodução/Agência Pará
Foto: Lais Gonçalves da Costa Brocco/Acervo pessoal
Uma placa resistente feita de fibras vegetais e resina biodegradável, que pode substituir o plástico tradicional em móveis, embalagens ou até mesmo peças estruturais, sendo mais sustentável e menos poluente.
Esse é um dos benefícios do uso de biocompósitos, objeto de de pesquisa apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), que permitiu o aproveitamento de resíduos agroflorestais.
Amparado pela Fapeam no âmbito do ‘Programa de Fixação de Recursos Humanos para o Interior do Estado: Mestres e Doutores por Calha de Rio (Profix-RH)’, o estudo ‘Produção de biocompósitos a partir de resíduos agroflorestais amazônicos e fungos lignocelulolíticos’, foi coordenado pela professora e doutora em Ciências Florestais, Lais Gonçalves da Costa Brocco, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), campus Itacoatiara (distante a 176 km da capital).
A pesquisadora explica que os biocompósitos são materiais feitos a partir da combinação de uma matriz (geralmente um polímero, que pode ser natural ou sintético), com reforços de origem biológica, como fibras vegetais, resíduos agroindustriais ou até mesmo fungos.
Para a composição do substrato ou a chamada “terra preparada”, que consiste em um material que dá suporte e nutrientes às plantas, permitindo o seu crescimento, o estudo utilizou três tipos de resíduos agroflorestais, sendo eles: serragem da madeira de tauari (Cariniana micrantha), fibra da folha (coroa) do abacaxi (Ananas sp.) e cacho do açaí (Euterpe sp.).
Outro ingrediente utilizado na composição foi uma variedade de fungos lignocelulolíticos, que são aqueles especializados na degradação de celulose, hemicelulose e lignina, componentes essenciais das paredes celulares das plantas, como da madeira e das folhas. Os biocompósitos miceliais foram feitos com os seguintes: Pycnoporus sanguineus, Irpex lacteus, Trametes versicolor e Pleurotus ostreatus.
“Durante a produção dos biocompósitos, observamos que o substrato com 100% de resíduos fibrosos do abacaxi e inoculado com o fungo P. ostreatus, desenvolveu-se de forma satisfatória, sendo possível obter um biocompósito com boa agregação e mais homogêneo”, explicou Lais Brocco.
Foto: Lais Gonçalves da Costa Brocco/Acervo pessoal
A engenheira florestal complementa que o mesmo ocorreu com a mistura de substrato de 50% resíduos fibrosos de açaí e 50% resíduos fibrosos do abacaxi. No entanto, o estudo também analisou que alguns fungos não foram capazes de se desenvolverem em determinados substratos, devido a contaminações relacionados ao tipo de substrato e a capacidade dos fungos crescerem.
“A partir do desenvolvimento desta pesquisa foi possível conhecer o potencial de resíduos agroflorestais amazônicos e seu melhor aproveitamento para a produção dos biocompósitos”, salientou a pesquisadora.
O aproveitamento de resíduos agroflorestais, que antes seriam descartados, e o conhecimento do potencial de substituição do uso dos materiais poliméricos sintéticos (plásticos) obtidos a partir de recursos não renováveis (petróleo, carvão mineral e gás natural) por materiais alternativos são outros benefícios da utilização de biocompósitos pela sociedade em geral.
E ainda averiguou a avaliação das propriedades tecnológicas dos biocompósitos, onde os resultados dos ensaios físicos e biológicos indicaram de forma geral, que os biocompósitos produzidos com resíduos de açaí e os fungos P. ostreatus e T. versicolor apresentaram os menores valores de inchamento, absorção de água e maior resistência ao apodrecimento.
Cruz da primeira missa celebrada no Brasil. Foto: Giany Costa/Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
A cruz que foi usada na primeira missa celebrada no Brasil faz uma peregrinação pelo país e Belém é a única cidade da Amazônia a receber o item sagrado. A passagem pela capital paraense é nesta quarta-feira (23).
Relíquia é feita de ferro, possui cerca de 40 centímetros e veio de Portugal para as celebrações dos 525 anos da missa realizada em Santa Cruz Cabrália, na Bahia. Ela pode ser vista durante a missa das 20h desta quarta-feira (23) na Catedral da Sé, na Cidade Velha.
Belém é a décima cidade à receber a cruz, peça histórica que veio do Museu da Sé de Braga, em Portugal, e cuja passagem pelas terras brasileiras iniciou dia 12 e encerra dia 27 de abril, na Bahia. A peregrinação é organizada pelo Movimento Brasil com Fé.
Foto: Giany Costa/Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)