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Alimentos amazônicos que auxiliam na prática de exercícios físicos

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O desenvolvimento de uma vida saudável, alcançada por meio de exercícios físicos é uma das principais preocupações das gerações atuais. E suplementos alimentares são elementos que tem se popularizado entre os praticantes de esportes. Creatina, albumina, colágeno, multivitamínicos, whey protein, são tantas as possibilidades na prateleira que, por muitas vezes, esquecemos que uma boa nutrição deve ser feita, principalmente, por meio da alimentação. 

O Portal Amazônia conversou com especialistas para saber quais alimentos regionais podem melhorar o rendimento no pré e pós treino.

Afinal, como escolher alimentos pré e pós treino? 

Pré-treino, como o próprio nome indica, são alimentos indicados para aumentar o rendimento, que devem ser consumidos antes de treinar. Os pós-treinos, por sua vez, são alimentos que ajudam na recuperação do músculo, após a atividade física. 

De acordo com a médica Elzafã Gomes, “quando pensamos em pré e pós-treino temos que avaliar o objetivo. No caso do pré-treino preciso de energia para o corpo usar na hora da atividade física, já no pós-treino é a energia para recuperação muscular do corpo”.

Assim, por atenderem a diferentes funções, é importante compreender as necessidades a que cada um destes grupos atende. Os pré-treinos, por exemplo costumam ser selecionados por seu alto valor energético, gerando aumento no desempenho na hora de realizar os exercícios. 

Mas como escolher os alimentos corretos e ainda incluir os amazônicos?

“A escolha dos alimentos no pré-treino deve partir do princípio que não necessite de grande digestão, para evitar desconforto gástrico. Então o ideal são alimentos leves, alimentos regionais que são mais fáceis de achar como frutas (banana e melancia), açaí, guaraná e outros. Já no pós-treino para recuperação é importante, além do carboidrato, a proteína como peixe, macaxeira, castanha da Amazônia e outros”, exemplifica Elzafã.

Açaí (pré-treino)

Foto: Reprodução/Agência Pará

A deliciosa fruta amazônica que conquistou o Brasil, principalmente em sua versão frozen – servida como uma espécie de sorvete -, possui inúmeras funções. 

Além de anti-inflamatória e protetor do cérebro contra os males do Alzheimer, o fruto é altamente energético, proporcionando um pré-treino apetitoso e eficiente.

Saiba mais: Conheça os benefícios do açaí, o alimento-remédio da Amazônia.

Castanha da Amazônia (pós-treino)

Frutos da castanheira. Foto: Reprodução/Globo Rural

A castanha-da-Amazônia (também conhecida como castanha-do-Pará ou castanha-do-Brasil), por ser um alimento rico em proteínas e com poucas calorias, é uma ótima aliada na criação de fibras musculares. Além de ser facilmente transportada, servindo como possibilidade de lanche rápido e nutritivo.

Saiba mais:  Qual o termo certo: castanha do Pará, do Brasil ou da Amazônia?

Guaraná (pré-treino)

Foto: Divulgação

Guaraná que, por seu formato que se assemelha a um olho ocupa o imaginário como uma lenda do Amazonas, é também um dos maiores estimulantes energéticos da região.  

Por suas propriedades é amplamente utilizado na fabricação de xaropes, barras alimentares e até refrigerantes. Pode ser utilizado como um potente pré-treino, especialmente pela quantidade de cafeína presente nos seus frutos.

Macaxeira (pós-treino) 

Foto: Divulgação/Semadesc

Uma das maiores fontes de carboidratos dos trópicos, perdendo apenas para o arroz e o milho, a Macaxeira (também conhecida como mandioca ou aipim) pode ser uma importante aliada da nutrição pós treino. 

Afinal, os carboidratos são responsáveis por reabastecer o estoque de energia do corpo, acelerando o processo de recuperação.

Leia também: Mandioca ou macaxeira: pesquisadora paraense explica as diferenças

Por fim, a médica Elzafã Gomes, deixa uma dica para quem quer atingir os objetivos na academia: “os alimentos são ótimas fontes de energia para melhorar o rendimento e consequentemente os resultados, tanto na perda de peso como no ganho de massa muscular”.

*Diego Fernandes, estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar

Usinas hidrelétricas da Amazônia: fontes de energia e de impactos ambientais

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A busca por uma fonte de energia limpa, segura e que não prejudique o meio ambiente é pauta de incontáveis pesquisas, principalmente com o mundo voltando os olhos para a pauta ambiental, por conta das mudanças climáticas que já podem ser sentidas ao redor do globo.

O que antes era apenas especulativo e teórico, passou a afetar diretamente a vida das pessoas, com secas, derretimento das calotas polares, inundações e outros desastres climáticos. A procura de fontes de energia sustentável levou a construção das hidrelétricas, que transformam a força da água em energia renovável e limpa, sendo a principal fonte de energia do Brasil.

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O problema, entretanto, está na construção das barragens necessárias para o aproveitamento desta fonte energética, que alagam grandes áreas e geram debates entre comunidades locais e grandes empresas, principalmente quando essas construções são feitas na Amazônia.

Afetando diretamente populações indígenas, ribeirinhas e a biodiversidade local, a construção de hidrelétricas na região gera embates, pois, por um lado, tem um potencial energético gigantesco e por outro pode agravar problemas ambientais.

Tendo em vista esse contexto, conheça três das principais hidrelétricas já em operação na Amazônia, seu potencial energético e quais foram os impactos ambientais da sua implementação.

Hidrelétrica de Belo Monte (Pará)

Foto: Reprodução/Usina Hidrelétrica de Belo Monte

A maior hidrelétrica 100% brasileira, a usina de Belo Monte, localizada no Rio Xingu, no Estado do Pará, foi alvo de debates intensos entre ambientalistas, indígenas e populações ribeirinhas, e os defensores do potencial de produção energética do projeto. Desde sua concepção, representava uma ameaça direta aos povos originários da região, por facilitar a criação de uma série de represas em áreas indígenas. Por outro lado, mesmo sem operar em total capacidade, a usina gera energia suficiente para abastecer cerca de 60 milhões de residências.

Ainda hoje, as discussões acerca dos impactos da hidrelétrica não dão trégua, considerando as centenas de famílias que perderam moradia com a construção das barragens e fauna aquática do Rio Xingu, que foi completamente afetada, levando a perda de biodiversidade local e escassez de peixes que eram utilizados na alimentação das comunidades locais. 

Hidrelétrica de Balbina (Amazonas)

Foto: Reprodução/Prefeitura de Presidente Figueiredo

Localizada no estado do Amazonas, a hidrelétrica de Balbina foi construída para atender as demandas energéticas de Manaus. Todavia, sua construção inundou 2996 km² de floresta tropical, em troca da produção de apenas 112,2 MW de eletricidade, o que já é insuficiente para abastecer a capital do estado do Amazonas.

Os impactos diretos vão além do alagamento de grandes regiões do bioma amazônico, com a vegetação em decomposição por conta das usinas, o que torna a água ácida, e com o desabrigamento de cerca de um terço dos indígenas da tribo Waimiri-Atroari.

Hidrelétrica de Tucuruí (Pará)

Foto: Divulgação/Eletrobras

Criada em 1984, no estado do Pará, a hidrelétrica de Tucuruí levanta embates sociais e ambientais desde sua origem, já que a maioria de seus benefícios é destinado a empresas de alumínio, que empregam um montante minúsculo de trabalhadores em comparação aos danos ao meio ambiente que acarretam.

Como consequências sociais da construção da hidrelétrica, milhares de pessoas foram reassentadas de suas moradias; áreas de povos originários foram diretamente afetadas, tanto por alagamento quanto por estradas que tiveram que serpentear as áreas de preservação; e a alta concentração de mercúrio lançada no meio ambiente acabou contaminados peixes que eram consumidos por moradores das localidades.

Pesquisa

Essas construções representam a necessidade do estudo do impacto ambiental da construção de hidrelétricas no país, em especial na Amazônia, considerando a importância do bioma, tanto social quanto ecológica, para o mundo inteiro.

Apesar de oferecerem uma energia teoricamente limpa e renovável, a implementação dessas obras pode prejudicar muitos setores quando realizadas sem os estudos apropriados. 

Este texto foi construído com base na compilação de pesquisas ‘Hidrelétricas na Amazônia – Impactos Ambientais e sociais na tomadas de decisões sobre grandes obras’, de Philip M. Fearnside, pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que pode ser lida na íntegra AQUI.

*Diego Fernandes, estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar

Culinária amazônica: de onde vem os sabores populares na região?

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A região amazônica possui uma culinária riquíssima, influenciada por culturas das mais diversas, mas que no prato geram harmonia e uma verdadeira confluência de sabores, pois mesmo tendo ingredientes de diferentes origens, eles complementam uns aos outros.

Contando com ingredientes dos mais variados, principalmente oriundos da biodiversidade da região, a culinária amazônica é formada por influências multiculturais, principalmente dos povos originários, mas, também, dos portugueses, europeus e trabalhadores nordestinos que migraram durante o período da Belle Époque. 

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O artigo ‘As influências na Gastronomia do Amazonas‘ explora cada uma das influências que compõem essa farta culinária.

Influência indígena 

Os povos originários são responsáveis por inúmeros costumes que até hoje fazem parte da rotina diária do povo brasileiro, em especial daqueles que habitam as cidades da região amazônica. 

Tomar mais de um banho diário e dormir em redes, por exemplo, são hábitos herdados das culturas desses povos, e com a culinária não poderia ser diferente. Um dos principais elementos herdados é a quantidade de ingredientes utilizados na composição dos pratos.

Dessa relação com os ingredientes herdou-se, por exemplo, a utilização de tucupi na realização dos pratos, dando origem ao conhecido pato no tucupi.

Além disso, os peixes, tradicionalmente inseridos na cultura da região amazônica, são incorporados à culinária indígena desde que se tem notícias. 

Pato no tucupi. Foto: João Ramid/Ministério do Turismo

Influência europeia 

Com a colonização os povos europeus, em especial os portugueses, foram inseridos ingredientes com que já estavam tradicionalmente habituados ao cenário amazônico. O plantio de trigo, para fazer bolos, pães e massas; a introdução de animais como galinhas, porcos e patos, que diversificaram o consumo de carne para além do peixe; e a produção de açúcar e aguardentes, impactaram a gastronomia da região e trouxeram novas técnicas para o preparo dos alimentos consumidos na região.

Bolo Encontro das águas. Foto: Reprodução/AmazonSat

Influência da Belle Époque

Durante o ciclo da borracha, com a ascensão do látex produzido na Amazônia, houve a necessidade da incorporação de trabalhadores de outras regiões para atender as demandas do trabalho, especialmente da Região Nordeste do país. Essas populações trouxeram seus próprios costumes e incorporaram novos pratos à culinária da Amazônia.

Outra mudança promovida pela Belle Époque foi a tentativa de replicar pratos típicos da Europa com substituições por ingredientes disponíveis na região, como o pirarucu que substituiu o bacalhau. 

O pirarucu substituiu o bacalhau. Foto: Reprodução/Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

Ingredientes típicos da culinária amazônica

A rica diversidade de alimentos utilizados na gastronomia da Amazônia são provenientes da própria biodiversidade do ecossistema da floresta, para além daqueles que foram introduzidos posteriormente. 

Diversas frutas constituem a dieta das populações da região, como açaí, araçá boi, buriti, cupuaçu, pupunha e tucumã, que são utilizadas das mais diversas formas, como na fabricação de sucos e sorvetes. O açaí, por exemplo, conquistou todo o país na forma de na sua versão congelada e comumente consumida como sobremesa.

Outros elementos fundamentais na culinária amazônica são a mandioca, utilizada principalmente no preparo das farinhas; e os peixes presentes na bacia dos rios da região, como o tambaqui, pirarucu, tucunaré, jaraqui.

O açaí é uma fruta regional que conquistou todo o país. Foto: Reprodução/Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

Matéria produzida com informações do artigo ‘As influências na Gastronomia do Amazonas‘.

*Diego Fernandes, estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar

As cores do Teatro Amazonas: conheça a curiosa história por trás das cores que o teatro já teve

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O Teatro Amazonas é um dos principais cartões-postais e ponto turístico da cidade de Manaus (AM). Sua icônica cor rosa chama atenção dos olhares de visitantes do mundo todo, que não passam pela cidade sem visitar o monumento inspirado na Belle Époque. Principal símbolo arquitetônico do Estado do Amazonas, o teatro foi fundado em 31 de dezembro de 1896, na época áurea do ciclo da borracha.

Esta atração da cidade de Manaus ainda preserva boa parte da arquitetura e da decoração original, entretanto, dentre as muitas reformas, algo que não se manteve inalterado foram as cores que compuseram o estilo artístico da obra. Mas qual a cor original do Teatro Amazonas? Quais cores ele já teve? O rosa do teatro ainda pode ser substituído?

A cor original do Teatro Amazonas 

Foto: Michael Dantas/Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas

Inicialmente, a cor que compunha as paredes do teatro eram, sim, da mesma cor rosada que atualmente pode ser vista nas fachadas da obra, ou, pelo menos, de uma tonalidade de rosa. Entretanto, o debate acerca da cor inicial da construção perdurou por anos. Em entrevista ao Portal Amazônia, o historiador e assistente de documentação do Acervo Histórico do Teatro Amazonas, Allan Diego Carneiro, explica:

“A defesa da cor original do Teatro Amazonas parte muito do Mário Ypiranga. Ele defende que existiu uma ordem de serviço com finalidades da pintura externa do teatro. Com base na tonalidade cinza da ponte metálica ‘Benjamin Constant’ (Avenida 7 de Setembro). Mas as dúvidas são: realmente essa ordem de serviço existiu? E se existiu, foi cumprida? No final de tudo o que se concretizou como tonalidade original do Teatro Amazonas foi a cor rosa”.

Conforme indicado pelo historiador, a falta de registros em relação à cor original do teatro aumenta ainda mais os mistérios que compõem a construção amazônida. Entretanto, um fato é que desde sua primeira reforma o teatro já detinha a tonalidade rosada, mantida também em sua segunda reforma de 1960. O que reforça ainda mais a teoria de a cor original do Teatro ter sido o rosa. 

Além disso, novas técnicas de prospecção, utilizadas no processo de conservação, revelaram, na restauração realizada nos anos 90, que a cor original era muito semelhante à tonalidade rosa atual.

Outras cores

Por mais que muitos não saibam, a resposta é: Sim! O teatro já teve outras cores e não é meme. Durante um período de mais de dez anos, o teatro foi azul acinzentado, com detalhes brancos. Isso ocorreu durante a grande reforma de 1974. 

“Na grande restauração de 1974, organizou-se uma ‘comissão de patrimônio e história’, dando base para as mudanças significativas no possível resgate dos aspectos originais (artísticos e arquitetônicos) do edifício, outrora ‘deformados’ [supostamente] pela reforma de 1929”, contou.

Teatro Amazonas azul, durante o período que compreende de 1974 à 1990. Foto: Domingos Cavalcanti/Dedoc

O comitê, que defendia a cor cinza como a original do teatro, então propôs o tom azulado, que, de certa forma, descaracterizava o Teatro à população, acostumada com o rosa da construção localizada no Largo do São Sebastião.

Por muitas vezes, a alteração de cor foi associada a ditadura militar, que tinha por padrão a utilização do cinza em prédios públicos, entretanto, o pesquisador diz que isso é pouco provável.

“Essa comissão era composta por defensores da cor cinza como original do Teatro. E teve forte influência no processo que tornou o teatro com a tonalidade cinza azulado – ou seria azul cinzento? -. É pouco provável que essa tonalidade tenha sido a escolha de um momento político (ditadura militar), mas é correto afirmar que a cor já era exposta antes do próprio processo político e de restauração”, evidencia Allan.

A cor do teatro ainda pode ser substituída?

O teatro muito provavelmente não passará por outra mudança em suas cores, principalmente pelo fator histórico, quando se considera a “iconicidade” da cor utilizada, facilmente associada com o maior marco arquitetônico da cidade de Manaus e do Estado do Amazonas. 

A cor conhecida como “rosa imperial” vem facilmente à tona quando se pensa na construção, tanto que, conforme o guia turístico do teatro, Guilherme Alan:

“O rosa imperial também é conhecido como ‘rosa Teatro Amazonas’, por ser um prédio muito único ao utilizar essa coloração”.

Teatro Amazonas em sua famosa cor “rosa imperial”. Foto: Roberto Castro/MTur

O Teatro Amazonas, sendo a construção mais clássica e marco da cidade de Manaus, possui inúmeros segredos e mistérios associados à sua historicidade, suas cores são apenas uma das muitas curiosidades que esta obra arquitetônica carrega consigo. 

*Diego Fernandes, estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar

Saiba quais são as aranhas mais perigosas da Amazônia

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Aranhas estão entre os animais mais temidos do planeta. A aracnofobia – medo excessivo de aranhas – é uma das fobias mais comumente encontradas, afetando pelo menos 7 % da população mundial, segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos.

No entanto, o quão perigosas essas criaturas realmente são para a saúde humana? No Brasil, três gêneros de aranhas peçonhentas (venenosas) são listadas como as responsáveis pelos acidentes com seres humanos: Phoneutria, popularmente conhecidas como aranhas armadeiras; Loxosceles, conhecidas como aranhas-marrons; e as Latrodectus, conhecidas como viúvas-negras.

Para entender mais sobre esses aracnídeos de importância médica e sua abundância no território amazônico, o Portal Amazônia conversou com o biólogo, pesquisador e professor, Flávio Terassini, criador do canal no Youtube TicksMan (focado no manejo de fauna e educação ambiental).

Aranha-armadeira (gênero Phoneutria)



A aranha armadeira é considerada a mais perigosa da Amazônia. Foto: Flávio Terrassini/Acervo pessoal

As aranhas-armadeiras são consideradas as mais perigosas presentes na Amazônia. Inclusive, segundo o biólogo, “elas são consideradas, pelo livro dos recordes, as aranhas mais peçonhentas do planeta”.

Na Amazônia, quatro espécies diferentes do gênero Phoneutria podem ser encontradas, cada uma delas compartilhando características bem específicas.

“São aranhas de hábitos noturnos, não são muito grandes, mas também não são pequenas. Elas têm esse nome, ‘armadeira’, porque quando se sentem em perigo, levantam as duas patas da frente, ficando ‘armada'”,

explica.

A maioria dos acidentes causados por essas aranhas se dá pela sua capacidade de salto, de 20 a 30 centímetros (cm), a qual elas utilizam para atacar suas presas. Dos três tipos de aranhas listados, esta é a mais abundante na região amazônica.

Entretanto, ela se difere das armadeiras do sul e sudeste do país por serem aranhas que vivem em florestas, sendo mais encontradas em sítios e outras áreas próximas a vegetação mais abundante.

Possíveis reações (principais sintomas)

– Dor extenuante, seguida de vermelhidão no local da picada;

– Náuseas e vômito;

– Taquicardia;

– Espasmos musculares;

– Dores na musculatura;

– Ereção involuntária (priapismo), em crianças menores de 7 anos.

Tratamento

O pesquisador salienta a necessidade de ir imediatamente ao hospital. Apesar dos casos na Amazônia não costumarem ser graves, é necessário que seja feita uma avaliação médica, em especial no caso dos afetados serem crianças ou idosos. Somente no hospital pode ser feita a aplicação do soro antiaracnídico.

Aranha viúva-negra ou viúva-loira (gênero Latrodectus)



Viúva-loira espécie encontrada na Amazônia é mais clara que as famosas viúvas-negras. Foto: Flávio Terrassini/Acervo pessoal

Devido a coloração das espécies desse gênero presentes na Amazônia possuírem tonalidades mais claras em sua coloração, são conhecidas também como viúvas-loiras, por não terem a cor escura característica da maioria dessas espécies.

“A nossa, aqui da região, é uma aranha urbana. Dificilmente ela vai causar um acidente, a não ser que a pessoa esprema ela contra o corpo”,

relata o pesquisador.

Possíveis reações (principais sintomas)

– Vermelhidão no local do acidente;

– Dores abdominais;

– Tremores;

– Sudorese;

– Vômitos ou náuseas (sintomas mais raros).

Tratamento

“Apenas de dois a três casos em cada cem as pessoas precisarão ser medicadas”,  informa o biólogo. E apesar de ser necessário o acompanhamento médico rápido, os acidentes com essa espécie são raros na Amazônia.

Aranha-marrom (gênero Loxosceles)



Dificilmente encontrada na Amazônia, os acidentes com as aranhas-marrons podem levar a necrose dos tecidos. Foto: Rogério Machado/SMCS

A mais rara de ser encontrada na região amazônica, apesar de existirem casos registrados de acidentes. Este gênero é “mais comum em regiões mais frias, como no sul e sudeste do país. Inclusive Curitiba, no Paraná, é a capital da aranha-marrom”, frisa o pesquisador.

“Aqui para o Norte, diz a literatura que existe uma espécie de aranha-marrom que vive no meio da floresta, dentro das cavernas, mas confesso que temos investigado e procurado em algumas cavernas de Rondônia e, até então, nunca encontramos essa aranha”,

relata o biólogo. 

Possíveis reações (principais sintomas)

– Mancha indolor na pele (em estágio inicial);

– Inchaço;

– Necrose tecidual;

– Insuficiência renal.

Tratamento

No caso de acidentes envolvendo aranha-marrons a recomendação é a procura imediata de um hospital, logo após a identificação dos primeiros sintomas, para que o quadro não evolua para a necrose tecidual.

Encontrei uma aranha dessas. O que fazer?

“Caso encontre uma aranha dessas, você deve manter a calma e não colocar a mão sobre ela. Pegue um pote para realizar a coleta do animal e o solte longe de sua residência para que ele possa sobreviver e seguir seu percurso. Em caso de acidentes, tire foto do animal e vá para o hospital o mais rápido possível”,

alerta Flávio.

*Diego Fernandes, estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar

Murumuru: semente popular no mundo da beleza pode ser utilizada na construção civil

A manteiga de Murumuru tem se popularizado como cosmético. Seu óleo tem sido utilizado em uma infinidade de produtos de beleza, desde cremes para o cabelo à hidratantes para a pele. Proveniente da Floresta Amazônica a semente, rica em vitamina A, é considerada extremamente benéfica para a saúde da pele por possuir ação anti-inflamatória, antiviral e antisséptica. 

O famoso óleo é obtido por meio da prensagem das sementes provenientes do murumuruzeiro. Sua vantagem em relação a outros óleos de beleza está relacionado a baixa acidez e sua função amplamente hidratante, tendo aplicação ideal em cabelos ressecados. A manteiga é particularmente recomendada para cabelos cacheados e crespos, que possuem maior capacidade de absorção do produto.
Porém, seu uso vai muito além do mundo da beleza e da saúde.

Recentemente, cientistas descobriram outra função para o murumuru: a fabricação de concreto sustentável mais leve e com maior impermeabilidade quando comparado ao concreto tradicional.

O estudo, publicado na revista ‘IBRACON de Estruturas e Materiais‘, revela que as cinzas da casca da semente de murumuru, que antes seriam descartadas, podem ser misturadas ao cimento para gerar um concreto mais sustentável.

A utilização das cinzas do murumuru beneficiam não somente a construção civil, mas se alia também a preservação ambiental, especialmente quando se considera o descarte incorreto de materiais utilizados pelas construtoras. As alternativas de concreto mais sustentável facilitam o descarte e contribuem com o meio ambiente.

*Por Diego Fernandes, estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar

O estabelecimento de assentamentos na Amazônia equatoriana

Os proprietários mecanizaram as operações agrícolas e recorreram à mão de obra contratada, enquanto milhares de famílias de camponeses foram expulsas de suas casas.

O sistema de parceria que definia a posse da terra nas terras altas do Equador antes da reforma agrária era conhecido como “huasipungo”, uma palavra quechua que descreve a relação entre proprietários de terras e agricultores arrendatários. No entanto, o fim desse sistema feudal teve um resultado radicalmente diferente quando comparado ao Peru e à Bolívia, porque os proprietários de terras se anteciparam ao confisco de suas terras expulsando os agricultores arrendatários. 

Os proprietários mecanizaram as operações agrícolas e recorreram à mão de obra contratada, enquanto milhares de famílias de camponeses foram expulsas de suas casas. Alguns se mudaram para centros urbanos, mas muitos optaram por migrar para as fronteiras agrícolas nas planícies tropicais da Amazônia e da costa do Pacífico.

Foto: Rhett A. Butler

O esforço oficial para promover assentamentos na Amazônia equatoriana começou em 1957, quando o governo democraticamente eleito criou o Instituto Nacional de Colonización (INC). Em 1964, um governo militar promulgou a Ley de Reforma Agraria y Colonización, que fundiu o INC ao recém-criado Instituto Ecuatoriano de Reforma Agraria y Colonización (IERAC).

Entre 1964 e 1994, o IERAC distribuiu cerca de cinco milhões de hectares de terra com o apoio da USAID e da Aliança para o Progresso; cerca de 1,8 milhão de hectares estavam localizados dentro das cinco províncias amazônicas. A terra foi distribuída em lotes de 40 hectares, o que sugere que cerca de 45.000 famílias adquiriram lotes na Amazônia durante esse período de 30 anos.

As províncias equatorianas de Sucumbíos e Orellana foram abertas à colonização na década de 1960 com a descoberta de petróleo. Na década de 1980, a distribuição de propriedades de 40 hectares estava bem avançada, assim como o estabelecimento de duas plantações de dendê em grande escala (a; b). A fronteira foi essencialmente fechada, mas o desmatamento continua nas margens da zona de assentamento e em propriedades individuais. Fonte (ambas as placas): Google Earth.

Infelizmente, o IERAC não forneceu aos colonos documentos equivalentes a um título legal, pois a propriedade dependia da residência e da evidência de desenvolvimento. Os colonos receberam uma escritura provisória que exigia uma ação administrativa futura para ser convertida em um título legal completo. O IERAC não incorporou essas informações em um arquivo nacional; em vez disso, as informações foram preservadas em “pastas” armazenadas em seus escritórios regionais.

Em 1994, uma nova lei substituiu o IERAC pelo Instituto Nacional de Desarrollo Agrario (INDA) e, como no Peru e na Bolívia, um dos principais objetivos era introduzir a economia de mercado na economia rural como parte das políticas de “reajuste estrutural”.

A lei centralizou o processo de titulação de terras em Quito e, em 2002, foi apoiada por uma iniciativa financiada pelo BID para criar um banco de dados digital. No entanto, essa iniciativa teve um sucesso limitado e, em 2010, um total de 700.000 “pastas” estavam esperando para serem processadas quando o INDA foi dissolvido e suas funções foram transferidas para a Subsecretaria para Tierras y la Reforma Agraria no Ministério da Agricultura.

As responsabilidades da nova agência foram fundamentalmente alteradas, no entanto, porque a constituição de 2008 devolveu a autoridade administrativa sobre a posse da terra aos governos municipais. No entanto, a lei incumbiu o governo nacional da responsabilidade de compilar e manter um banco de dados digital, o que levou à criação de um cadastro nacional conhecido como SIGTIERRAS. O BID apoiou o esforço com outro empréstimo que incorporou as experiências do projeto piloto da década anterior.

O processo de posse de terra agora é gerenciado pela Autoridad Agraria Nacional (AAN), uma nova entidade com um portfólio expandido de obrigações que foi criada pela Ley de Tierras de 2016. Esse ato legislativo de grande alcance busca melhorar a desigualdade de posse de terra no Equador e estabelece limites para as dimensões máximas das propriedades: 200 hectares para as terras altas, 500 hectares para a costa e 1.000 hectares para a Amazônia. Ela também concede à ANN o poder de confiscar propriedades maiores do que essas dimensões ou que não atendam aos critérios de função econômica e social. Apesar de seu apelo populista, a lei de terras gerou críticas porque não incorporou protocolos específicos para resolver as reivindicações das comunidades indígenas das terras baixas.

Embora seus direitos territoriais estejam consagrados na constituição e codificados pela Ley de Tierras, há apenas algumas entidades indígenas totalmente demarcadas. Como em outros países, elas podem ser organizadas em duas categorias amplas: propriedades de terra comunitárias associadas a uma (ou poucas) aldeias em paisagens de fronteira e grandes reservas que se estendem por paisagens selvagens com várias aldeias isoladas. Os territórios indígenas mostrados em mapas preparados por organizações da sociedade civil apresentam os dois tipos de categorias de posse. A maioria dos territórios indígenas foi estabelecida por decreto presidencial, mas apenas algumas das propriedades de terra das aldeias foram formalizadas e demarcadas. A maioria representa reivindicações apresentadas ao governo. Seu tamanho final e os limites exatos estão aguardando o processo de revisão da posse da terra que está em andamento há pelo menos duas décadas.

Assim como no Peru e no Brasil, o processo de regularização fundiária (saneamiento) no Equador está sendo organizado por meio de campanhas de campo voltadas para municípios específicos, a fim de maximizar a participação dos proprietários de terras e alcançar uma cobertura total. Em outubro de 2017, a AAN havia registrado 1,4 milhão de propriedades rurais em 59 municípios, um número significativo, mas apenas uma fração dos que aguardam regularização nos 221 municípios do país. Por mais incompleto que possa ser, esse número altera drasticamente as estimativas anteriores sobre o número, o tamanho e a distribuição das propriedades rurais no país.

O censo agrícola de 2000 enumerou um total de 850.000 Unidades de Producción Agropecuaria e relatou que cerca de setenta por cento havia obtido o título legal. Embora tenham mais de vinte anos, essas estatísticas foram reproduzidas em relatórios subsequentes e usadas para orientar políticas. Os resultados preliminares do projeto-piloto do BID registraram cerca de 2,7 milhões de parcelas e sugeriram que cerca de 10 por cento não tinham título de propriedade válido. Os resultados do segundo projeto do BID colocariam o número de propriedades de terras entre quatro e cinco milhões. A pesquisa mais recente constatou que aproximadamente 75% dos proprietários de terras possuem algum tipo de documento legal que comprove sua posse, embora menos de um quarto deles tenha registrado sua propriedade nos escritórios regionais de terras.

O processo de regularização, que foi realizado em três dos 41 municípios da Amazônia equatoriana, também mostra que as suposições anteriores subestimam seu número e superestimam sua dimensão. Por exemplo, o número de propriedades rurais registradas em um único município foi maior do que o número relatado pelo censo para toda a província. A discrepância pode ser causada, em parte, por uma expansão da fronteira agrícola; no entanto, a maior parte da diferença pode ser explicada pela subdivisão das propriedades existentes. A distribuição original na década de 1970 tinha, em média, entre 40 e 60 hectares; em contraste, os imóveis registrados no SIGTIERRAS tinham, em média, entre dez e vinte hectares, indicando que muitos foram legalmente subdivididos, provavelmente por herança, em unidades menores.

O censo de 2000 relatou um total de 46.000 propriedades rurais no Equador amazônico, cobrindo um total de 2,5 milhões de hectares (cerca de 27% da área total). No entanto, a área total identificada como paisagens modificadas pelo homem (consulte os Capítulos 1 e 2) abrange aproximadamente 3,9 milhões de hectares. Supondo que o tamanho médio de uma propriedade privada esteja entre 20 e 40 hectares, então deve haver entre 75.000 e 150.000 propriedades que precisam ser registradas, validadas e incorporadas ao SIGTIERRAS.

A resolução do problema das terras indígenas também não está concluída. Suas reivindicações de terras comunais somam aproximadamente 2,5 milhões de hectares distribuídos em mais de 4.000 terras comunais. Apenas 85 foram de fato demarcadas e receberam um título legal, todas dentro dos três municípios que se beneficiaram do projeto SIGTIERRAS, o que confirmou que as reivindicações indígenas frequentemente se sobrepõem às propriedades privadas. Esse foi particularmente o caso em Morona-Santiago, onde as famílias Shuar reivindicaram propriedades individuais usando as opções legais disponíveis para elas nas décadas anteriores ao reconhecimento das propriedades comunitárias pelo Estado.

O estado tem a infraestrutura necessária para resolver essa obrigação administrativa de longa data com seus cidadãos rurais. A ANN tem escritórios em todas as cinco capitais provinciais e um aplicativo on-line onde os proprietários podem fazer o autoregistro de suas propriedades. Esperamos que o BID financie uma terceira fase do projeto SIGTIERRAS que permitirá ao governo concluir a tarefa. 

*“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0). 

** O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay 

Ativismo alimentar: estudo da UFPA analisa relação entre a comida e as transformações político-sociais

A pesquisa demonstra como fatores econômicos, sociais e educacionais colaboram para a insegurança alimentar existente na sociedade e, por outro lado, como a agroecologia e o ativismo alimentar podem ser meios de resistência ao sistema dominante.

Do quintal de casa às ilhas que circundam a cidade, a agricultura se faz presente na realidade da capital paraense. Uma produção que pode atender desde o consumo próprio até a comercialização em maior escala. Nesse cenário, Belém (PA) também tem se destacado como palco de diversos movimentos sociais em torno da alimentação, por isso o chamado ativismo alimentar vem ganhando cada vez mais espaço, incentivando não apenas a produção de alimentos em regiões urbanas, como também mais reflexões sobre a importância de um consumo alimentar político.

Tanto a agricultura urbana e periurbana quanto o ativismo alimentar buscam incentivar um consumo de alimentos com menos agrotóxicos e fertilizantes químicos, criticando cadeias agroalimentares hegemônicas e buscando construir sistemas mais democráticos, saudáveis, sustentáveis, éticos e de melhor qualidade. 

Foi à luz desse tema que a discente do curso de Nutrição da Universidade Federal do Pará (UFPA) Maria Lorrane Lopes Conde desenvolveu uma pesquisa de iniciação científica intitulada Agricultura urbana e periurbana: uma análise de experiências com enfoque no ativismo alimentar em Belém do Pará.

Foto: Alexandre de Moraes

Com orientação de Monique Medeiros, docente do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (Ineaf), a pesquisa explica que o agronegócio faz parte do sistema agroalimentar hegemônico e que, por buscar uma alta produtividade, produz alimentos de muita durabilidade, mas de baixa qualidade e valor nutricional, o que gera uma concentração de renda e impacta o meio ambiente.

Tal estudo mostra, por um lado, como fatores econômicos, sociais e educacionais colaboram para a insegurança alimentar existente na sociedade e, por outro, como a agroecologia e o ativismo alimentar podem ser meios de resistência ao sistema agroalimentar dominante e ao nutricídio contemporâneo.

“Llaila Afrika define ‘nutricídio’ como o impacto negativo das escolhas alimentares inadequadas na saúde”, explica Maria Lorrane Conde.

“Vivemos em uma realidade em que há um número expressivo de pessoas em situação de desnutrição, obesidade e sob complicações das mudanças climáticas. Eu acredito que esteja tudo muito relacionado. Como as pessoas foram condicionadas a se alimentar desse sistema hegemônico, consomem alimentos mais baratos, mas com um valor nutricional muito baixo. Uma vez que submetidas à Sindemia Global da desnutrição, obesidade e mudanças climáticas, o cenário não contribui para que elas tenham poder e acesso a uma alimentação livre de agrotóxicos”,

destaca.

Agricultura e ativismo alimentar para além da saúde 

Segundo a pesquisa, a globalização faz com que a alimentação seja apenas uma necessidade básica e deixe de ser uma forma de promover o bem-estar coletivo e a sustentabilidade global. Além disso, evidencia a separação da experiência gastronômica de seu contexto cultural, menosprezando as singularidades expressas na culinária local.

Para a jovem pesquisadora, o estudo mostra como a agricultura urbana e o ativismo alimentar trazem muitos outros benefícios que vão além da saúde. “Falar sobre a produção de alimentos limpos e sem agrotóxicos é falar sobre uma agricultura realmente sustentável. Nunca esqueço a fala de uma agricultora, a dona Teo, que visitamos no Assentamento Mártires de Abril, em Mosqueiro”, recorda. “Ela disse que, quando plantamos, estamos produzindo vida. O produzir agroecológico é um dos principais movimentos dentro do processo de produção e uma manifestação que contribui beneficamente para quem vai receber aqueles produtos posteriormente”, defende.

O trabalho conclui que, ao abordar as complexidades dos ativismos alimentares amazônicos, essas pesquisas têm o potencial de impulsionar esforços mais eficazes em prol da sustentabilidade ambiental, justiça alimentar e preservação sociocultural das comunidades da Amazônia.

Sobre a pesquisadora 

Maria Lorrane tem 24 anos e está concluindo o curso de Nutrição. Para as meninas que pretendem seguir a área de pesquisa, ela diz que é importante criar uma boa rede de apoio. “Estejam juntas com quem está contribuindo para a sua formação. Apesar de estarmos à frente das nossas conquistas, elas não são feitas só da gente, existem muitas pessoas por trás de todo o processo. A jornada acadêmica não precisa ser uma jornada solitária”, aconselha.

Sobre a pesquisa

Este estudo foi apresentado ao XXXIV Seminário de Iniciação Científica da UFPA, promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp) e contemplado pelo Edital Pibic Verão Destaque na Iniciação Científica da UFPA (edição 2023) como representante da área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes. A orientação foi da professora Monique Medeiros (Ineaf/UFPA), com financiamento Pibic/CNPq. 

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, escrito por Evelyn Ludovina 

Ameaçado de extinção, cachorro-vinagre é registrado pela primeira vez no Parna Montanhas do Tumucumaque

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Registro foi realizado durante monitoramento do ICMBio com o uso de câmeras.

Uma matilha de cachorro-vinagre, ameaçado de extinção, foi registrada durante um monitoramento da biodiversidade no Amapá. Essa foi a primeira vez que ocorreu o registro dessa espécie no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, a maior unidade de conservação do país.

O registro foi feito por equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que monitoram a área preservada, que possui cerca de 3,8 milhões de hectares e está localizada nos estados do Amapá e do Pará.

Registro ocorreu durante monitoramento da biodiversidade no parque. Foto: Divulgação/ICMBio

Fernanda Colares, analista ambiental do ICMBio, explicou que a aparição é rara. 

“É um canídeo raro e de difícil registro. Já havia sido identificado através de relatos de moradores da região, mas essas fotos confirmaram a existência da espécie no interior do parque”,

descreveu a analista.

Sobre o cachorro-vinagre 

Especialistas da reserva contam que o cachorro-vinagre é a mais rara dentre outras cinco espécies de cães selvagens que são encontrados no Brasil – lobo-guará, cachorro-do-mato, raposa-do-campo, graxaim-do-campo e cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas.

O animal têm o corpo comprido, orelhas arredondadas e pernas curtas, com membranas interdigitais entre seus dedos, facilitando a locomoção na água. Possuem uma coloração castanho-avermelhada, e os filhotes nascem acinzentados.

É o menor entre os canídeos brasileiros, medindo entre 57 e 75 centímetros de comprimento, entre 12 e 15 centímetros de cauda e pode pesar de 5 a 8 quilos. 

Como ocorre o monitoramento 

Mais de 60 câmeras foram instaladas. Foto: ICMBio/Acervo

Para se conseguir os registros, mais de 60 câmeras fotográficas foram instaladas em pontos estratégicos do parque.

O registro foi feito durante o terceiro monitoramento, que integra o Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio, em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP).

Esse trabalho vem tornando-se padrão em monitoramentos de florestas tropicais. A partir dele já foram registrados mamíferos e aves terrestres.

Os equipamentos foram feitos por jovens da comunidade Sete Ilhas, localizada na Perimetral Norte, no município de Pedra Branca do Amapari, que receberam treinamentos para operar o equipamento.

As outras espécies já registradas pelo programa foram: anta, irara, queixada, jacamim, mutum, onça-parda, capivara, veado, cutia, tatu, gato-maracajá, jaguatirica, entre outras.

O parque foi criado em 2002 e possui uma área total de 3.864.443 hectares na Amazônia, tornando-o o maior parque nacional do Brasil e um dos maiores do mundo.

A unidade está localizada entre os estados do Amapá e Pará e abrange os municípios amapaenses de Calçoene, Laranjal do Jari, Oiapoque, Pedra Branca do Amapari e Serra do Navio. Já do lado paraense o município de Almeirim é alcançado pelo parque.

O parque é atravessado pelas nascentes de 3 dos maiores rios do Amapá: Araguari, Oiapoque e Jari. A vegetação tropical pode ser vista a grandes distâncias, principalmente por conta do tamanho das árvores. 

Práticas de cura presentes nas religiões afro-amazônicas são estudadas no Pará

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A pesquisadora explica que quando uma pessoa chega nos espaços das religiões afro-brasileiras com algum problema, seja físico ou emocional, o religioso consegue ver além do que a medicina tradicional consegue oferecer.

As práticas de cura e cuidado nas religiões de matriz africana, afro-brasileira e indígena são o objeto de pesquisa da professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Ana Lídia Cardoso do Nascimento. Ela está entre os 50 pesquisadores selecionados em todo o Brasil para uma bolsa de pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP), destinada exclusivamente a pessoas negras.
Com o projeto de pós-doutorado “Os significados da prática de cuidado e cura para construção de uma etnociência e bem-viver sob a lógica umbandista na metrópole paulistana”, Ana Lídia dá continuidade à sua tese de doutorado sobre o que ela chama de “Ciência do Sagrado”.

“A Ciência do Sagrado seria as práticas de cura e de cuidado presentes nas religiões de matriz africana, afro-brasileira e indígena. Foi isso que eu trabalhei na minha tese de doutorado. Então eu parto do princípio que existe uma ciência por trás dessas práticas e que está pautado no sagrado, no sobrenatural. É uma ciência específica que possui por conta disso uma epistemologia. Então existe uma ciência, não com um caráter da ciência racional, convencional, mas uma ciência por trás dessa epistemologia própria”,

comentou.

Foto: Ádison Ramos/Acervo g1 Amazonas

A pesquisadora explica que quando uma pessoa chega nos espaços de terreiros, tendas, templos, searas das religiões afro-brasileira, com algum problema, seja físico ou emocional, o religioso consegue ver além do que a medicina tradicional consegue oferecer. 

“Eles não veem que aquele problema é localizado, mas eles veem que tem alguma conexão com algum problema que essa pessoa, seja no campo da espiritualidade ou das relações interpessoais com alguém, de sentimentos. E que isso está gerando um problema que acaba se materializando, na sua estrutura biológica. Então eles têm esse olhar da pessoa como um todo, olhando holisticamente”, comentou.

Um dos campos de pesquisa de Ana Lídia foi em Juruti, oeste do Pará, onde encontrou com uma senhora que se definia como rezadeira devido ao preconceito, mas que tinha todas as características de uma mãe de santo. “Ela me dizia que tinha pessoas que chegavam lá carregadas, dizendo que estavam com dor no corpo todo, do de cabeça, que estavam afetadas com uma determinada dor enorme. Ela começava a conversar com essas pessoas, muitas vezes nem direcionando para o problema que ela tinha, conversando simplesmente, olhando no olho, com cuidado, fazendo essa pessoa sorrir e aquilo ia embora. Quando terminava aquela conversa, a pessoa já não estava sentindo toda aquela carga de negatividade que ela chegou dizendo que tinha”, disse. 

“É olhar para o outro. É cuidar. Essa é a questão do cuidado que se tem com o outro, ver o outro na sua inteireza, olhar o outro como ser humano que ele é, humanizar essa relação. Eu acho que isso, a biomedicina, a alopatia, deixa muito a desejar”,

afirmou.

Ana Lídia diz que é importante ter essas pessoas dentro dos serviços públicos e conta que trabalhou, em sua tese de doutorado, com os indígenas Tikunas na tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Peru. E no município de Letícia, no lado colombiano, indígenas estão integrados no sistema público de saúde. 

A professora Ana Lídia no Santuário Nacional da Umbanda, em Santo André, São Paulo. Foto: Ana Lídia/Acervo pessoal

A professora também observou isso na Ilha do Marajó, no Pará, em que um técnico de enfermagem que também era pai-de-santo, que estava disposto a ajudar as pessoas além da medicina tradicional. “Ele dizia que o sonho dele era fazer um curso sobre medicina natural, porque ele dizia que as entidades que recebia, os índios, os caboclos da mata, eles passavam muitos conhecimentos, mas ele estava incorporado, então não sabia. Depois que ele retornava, as pessoas informavam a ele. Mas ele dizia que queria esse conhecimento para ele, porque o conhecimento da entidade está com a entidade. Então por isso que era o sonho dele fazer um curso sobre medicina natural”, contou.

“Quantas vezes a gente não tem nos sistemas públicos de saúde pessoas adeptas das religiões afro-brasileiras e que acabam não fazendo, porque se sentem inibidos e malvistos dentro desse processo”,

afirma a professora. 

O trabalho de Ana Lídia foi fundamental para a criação do Núcleo de Educação e Diversidade na Amazônia (NEDAM) da Ufra, na qual ela foi uma das fundadoras, em 2018. “O NEDAM foi pensado como um espaço para discussão de temáticas dentro de uma educação para a diversidade e de respeito às diferenças. Foi com esse sentido, com esse objetivo que o NEDAM foi criado.”

“Os nossos projetos de pesquisa e de extensão também estão vinculados às temáticas do NEDAM. Nós temos os grupos de trabalhos que tratam da questão da religiosidade afro-amazônica, assim com a questão sobre agroecologia, agricultura familiar, educação quilombola, questão da diversidade sexual, traz debate sobre a questão de assédio contra as mulheres, sobre homossexualidade, LGBTQI+, então a gente já fez muita coisa dentro dessa lógica, justamente para abrir um pouco a visão das pessoas, pois muitos tem uma visão muito equivocada, acabam criando pré-conceito, quer dizer, define já uma visão sobre aquilo que nem conhece, e é esse o objetivo maior do NEDAM, que traz essa possibilidade de revisão de conceitos e de concepções de mundo dentro da comunidade acadêmica da Ufra”, afirmou a professora.

O NEDAM possibilitou a criação do Grupo de Pesquisa em Educação e Diversidade na Amazônia (GEDAM) em que a professora também faz parte. “Eu tenho uma linha de pesquisa dentro do GEDAM que é ‘Produção de saberes interdisciplinares nos contextos amazônicos: estudos das relações entre ambiente, cultura e o sagrado’. E um dos resultados dessa linha está no livro que será lançado agora ‘Educação e diversidade na Amazônia paraense: experiências e práticas educativas’, do GEDAM, e um dos artigos é justamente sobre epistemologia do sagrado, que eu escrevo junto com o discente do curso de Licenciatura em Língua Portuguesa, Matheus Augusto Soares, e que nós falamos sobre epistemologia do sagrado, a partir dos povos de terreiro”.

“A minha pesquisa, toda a minha produção, é sempre direcionada para essa discussão sobre a relação entre sagrado, cultura e natureza na Amazônia. Quando eu trato a questão do sagrado, geralmente pego as religiões afro-brasileiras e o sagrado indígena. A Pajelança Caboclo, por exemplo, tem a ver com um pouco do sagrado das populações ribeirinhas, que é um sagrado que tem uma especificidade muito grande, porque comporta dentro dele a relação com a natureza. Quando a gente fala dos nossos mitos amazônicos, eles são carregados também de visões que têm a ver com essa religiosidade cabocla”, 

finalizou a professora.

Em sua pesquisa de pós-doutorado em andamento na USP, a professora, que é praticante da Umbanda, está acompanhando as práticas de curas e cuidados nos terreiros dentro da cidade de São Paulo.