Conheça a perereca que vive no alto das árvores na Amazônia

Popularmente conhecido como Canuarú, os anfíbios possuem um estilo de vida arbóreo, dormindo em galhos ou  fendas de casca e troncos ocos de árvores

Na região amazônica habitam cerca de 20% de toda a diversidade da fauna do planeta. Somente dos anfíbios como sapos, rãs e pererecas vivem mais de 427 espécies na Amazônia. Somente entre 2014 e 2015, foram descobertas na região 32 novas espécies desses anfíbios. 

Uma delas é a perereca Trachycephalus resinifictrix, conhecida popularmente como Cunauaru ou Canuarú, recentemente apresentada em um vídeo nas redes sociais:

O biólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Diego Santana, avaliou o vídeo e explica:

“É um bicho que tem peptídeo na pele, que são substâncias que se você entrar em contato com a mucosa da boca, você vai ter um gosto muito ruim. É um mecanismo anti-predação, se algum animal tentar predar, elas solta uma cola com esse veneno, mas não mata, não é nada que vai matar alguém. Mas se for manusear, tem que ter um certo cuidado mesmo na hora com o animal. O vídeo está causando muito mais porque elas fica se esfregando e algumas pererecas fazem isso por dois motivos: para espalhar os peptídeos no corpo todo, porque eles também tem função antibactericida, então é uma proteção; e o segundo motivo é para manter a umidade, os anfíbios respiram pela pele, chamamos isso de respiração cutânea. Então, além da respiração pelo pulmão, eles também fazem trocas gasosas pela pele e aí eles vão ter que manter a pele sempre umedecida”.

O Portal Amazônia conversou com o professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Marcelo Gordo, que conta que elas são pererecas noturnas, medem entre oito e dez centímetros e vivem a maior parte do tempo nas copas das árvores de florestas amazônicas. 

De acordo com o pesquisador, existem duas espécies conhecidas popularmente como canuarú, o Trachycephalus resinifictrix e o Trachycephalus cunauaru.

“Apesar de serem espécies com ampla distribuição na Amazônia e não estarem na lista das espécies ameaçadas de extinção, são intimamente ligadas às florestas e com uma exigência ecológica um pouco limitante para a reprodução, pois precisam de ocos em árvores que acumulem água da chuva para que essas pererecas possam se reproduzir ali e seus girinos possam se desenvolver. A estratégia de viver e se reproduzir sempre no alto das árvores é uma forma de fugir da competição com outros anfíbios, principalmente por locais de desova. A crendice popular diz que no oco onde a espécie se reproduz tem uma resina que pode ser usada para diferentes doenças. Na verdade podem ser encontrados vestígios da secreção da pele, mas também de substâncias da própria árvore”,

explica Marcelo Gordo.

Trachycephalus resinifictrix. Foto: Marcelo Gordo/Acervo pessoal

Essas pererecas podem ser encontradas em outros países da Amazônia Internacional, como na Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Suriname, Guiana, Guiana Francesa e no Brasil, na região do Rio Maracanã, no Pará

Essa espécie também recebe o nome de ‘sapo de leite’, por conta das secreções brancas leitosas que produzem quando se sentem ameaçados. Entretanto, esse comportamento raramente é visto no caso daqueles que vivem em cativeiro. 

No caso da Trachycephalus resinifictrix, também pode ser referido como o ‘sapo da árvore de olhos dourados’. Além disso, pupila e sua íris dourada se assemelham a uma cruz maltesa preta.

Trachycephalus cunauaru. Foto: Marcelo Gordo/Acervo pessoal

Veja também:  Entenda como sapos utilizam das cores e formas para cumprir funções biológicas

A espécie é criada também em cativeiro nos Estados Unidos da América (EUA) e na Europa há mais de 20 anos para comércio. Os filhotes criados em cativeiro são vendidos em lojas de répteis, bem como de criadores. Além disso, são uma espécie bastante social. Eles são mais apreciados quando mantidos em pequenos grupos de quatro a oito animais e a interação entre eles aumenta o prazer de ver, mas também estimula seu comportamento de acasalamento.

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