A maior diversidade de sapos do mundo está na Amazônia. É o que constata o biólogo e doutor em ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Rafael de Fraga. Assim como ocorre com as cobras, as cores e formatos de sapos também possuem diversas finalidades que podem ser consideradas vantagens evolutivas.
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Um exemplo é a camuflagem no ambiente para fugir de predadores. Além disso, algumas espécies possuem cores vibrantes que servem de alerta para predadores. O Portal Amazônia mostra algumas destas particularidades. Confira:
Sapos-folha (Rhinella margaritifera) possuem cores e formatos semelhantes com folhas em decomposição no solo. Logo, pode-se concluir que esse mecanismo de camuflagem serve para afastar predadores, assim evitando o ataque dos mesmos.
Já a família Dendrobatidae possui sapos considerados muita das vezes exóticos por suas cores vibrantes e chamativas e é exatamente essa particularidade que informa eventuais predadores que eles devem manter distância, pois os sapos podem ser peçonhentos e o predador pode morrer intoxicado.
Contudo, o herpetólogo, especialista em répteis e anfíbios, Rafael de Fraga, relata que essas associações nem sempre são “óbvias”. Ele comenta que sapos da espécie Adelphobates galactonotus podem ser de diversas cores, porém não chamativas, o que faz com que essa comunicação de alerta, chamada de “função apostemática”, não seja tão compreendida pelos pesquisadores:
“Entender que predadores são capazes de reconhecer sapos venenosos pelas cores implicaria em assumir que uma cor desconhecida pelos predadores de algum lugar deveria ser mais atacada do que as cores conhecidas. Mas alguns experimentos com modelos de sapinhos coloridos feitos com massa de modelar têm mostrado que isso nem sempre acontece, porque uma cor que não ocorre naturalmente em determinado lugar é tão atacada por predadores quanto as cores que ocorrem naturalmente”,
explicou Fraga.
Papos coloridos para ser mais “atraente”
No processo de reprodução dos sapos, as fêmeas procuram seus parceiros sexuais com base no canto que os machos reproduzem. É quase como um reality musical. Em algumas espécies, “os machos disputam os melhores ‘palcos’ e as fêmeas devem ser capazes de reconhecer os vencedores”, como afirma Rafael.
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Em áreas de cachoeiras, às vezes o canto não é suficiente para a escolha de parceiros, pois aumenta a dificuldade de comunicação acústica, então outros fatores entram em jogo. O ecólogo descreve que para compensar a adversidade, os machos fazem movimentos com as patas e existem espécies cujo o saco vocal (papo) ficam coloridos, o que os diferenciam dos demais sapos e os tornam mais “atraentes” na competição.
“Especificamente, um saco vocal colorido bem inflado ajuda as fêmeas a selecionarem um bom parceiro reprodutivo, assim como algumas fêmeas de aves selecionam os machos mais coloridos, e também desencoraja outros machos com sacos vocais menores e menos coloridos a disputarem uma fêmea ou um território”,
comentou.
Outra hipótese afirma que espécies de sapos mais territorialistas podem ser capazes de escolher parceiros por meio de uma combinação entre acústica e cores do saco vocal. Teoricamente, seriam os sapos mais fortes e saudáveis, com “maiores chances de sucesso na fecundação de ovos ou na conquista de um território”, mencionou o herpetólogo.
As cores dos sapos
Outro fato curioso acerca dos sapos, é que animais de mesma espécies podem possuir coloração diferente. De acordo com o pesquisador, dois cenários diferentes podem explicar o fato:
- O primeiro cenário está associado a diferentes tipos de cores em espécies de uma mesma região. Nele, ocorre o fenômeno de policromatismo, que basicamente é quando as cores estão relacionadas a uma situação de comunicação visual, como é o caso da camuflagem ou reprodução. Ou ainda podem apresentar diferenças na coloração devido a um grande número de mutações genéticas, mesmo possuindo o um ancestral comum.
- O segundo cenário afirma sobre a mesma espécie porém em regiões distintas, separadas geograficamente por um rio ou montanha. “Nesse caso, é possível que a reprodução entre indivíduos com cores diferentes tenha sido interrompida, o que significa que eles estão evoluindo independentemente”, explica Fraga.
Este último é resultado de um lento processo que pode demorar milhares de anos para ocorrer.
Pigmentos fluorescentes
Dentre suas particularidades, os sapos também apresentam pigmentos fluorescentes invisíveis a olho nu. Só é possível um humano observá-lo através do uso de lâmpadas ultravioleta.
Essa pigmentação é uma descoberta recente e não há muitas afirmações acerca do fenômeno. O que se sabe é que a pigmentação fluorescente vem de uma substância chamada hialina, produzida na pele do sapo e que absorve raios ultravioleta e os reflete em em um comprimento de onda diferente.
“O que sabemos até o momento sobre as funções biológicas de pigmentos fluorescentes é que eles aumentam consideravelmente o brilho dos sapos, o que combinado com uma visão noturna eficiente, resulta em uma melhoria considerável na comunicação visual entre indivíduos, mesmo na escuridão das florestas”,
finalizou o herpetólogo.