A pesquisa leva em consideração aspectos da inovação, a valorização da biodiversidade amazônica e a sustentabilidade. Foto: Flávio Augusto/Arquivo pessoal
Transformar resíduos agroindustriais da Amazônia, como sementes de açaí, cascas de tucumã, bem como folhas e coroas de abacaxi, em compostos químicos de alto valor agregado foi o objetivo de uma pesquisa realizada no Amazonas.
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O projeto ‘Desenvolvimento de compostos de alto valor agregado a partir de resíduos agroindustriais amazônicos’ foi realizado com apoio do Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), via Programa de Apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação em Áreas Prioritárias para o Estado do Amazonas – CT&I ÁREAS PRIORITÁRIAS, edital n° 010/2021.
A ideia é que compostos orgânicos como o ácido levulínico, furfural e hidroximetilfurfural possam contribuir para o desenvolvimento de produtos em diversas áreas industriais, incluindo biocombustíveis, fármacos, cosméticos e embalagens sustentáveis, atividades que podem beneficiar a região amazônica no contexto da Bioeconomia.
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O estudo foi coordenado pelo pesquisador Flávio Augusto de Freitas, doutor em Ciências (Química), gerente do Núcleo de Materiais e Energia do Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA) e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). A pesquisa leva em consideração aspectos da inovação, a valorização da biodiversidade amazônica e a sustentabilidade.
O foco do estudo está também na diminuição dos impactos ambientais e na conservação da biodiversidade. Flávio Augusto afirma que os resíduos agroindustriais costumam ser descartados de maneira inadequada, poluindo aquíferos e, quando queimados, causando impactos severos no efeito estufa. Ele explica que o projeto contribui também para a melhora da saúde pública, já que muitas pessoas vivem em comunidades próximas às plantações e centros industriais.
De acordo com o coordenador, a aplicação correta dos resíduos agroindustriais como matéria-prima se encaixa no modelo da chamada Economia Circular, pois incentiva a redução do desperdício de insumos. Além disso, os compostos químicos analisados apresentam um alto potencial de serem absorvidos pelas indústrias que fazem parte do Polo Industrial de Manaus (PIM).
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Metodologia
Folhas e coroas de abacaxi, matérias-primas que fazem parte da pesquisa, foram adquiridas em feiras da região metropolitana de Manaus e no município de Tefé (distante a 523 quilômetros da capital).
“A escolha desses pontos permitiu uma representatividade regional e o uso de resíduos reais, comumente gerados por pequenos produtores e feirantes locais”, relatou.
As diferentes etapas do estudo incluíram a caracterização de teores lignocelulósicos, além do pré-tratamento e análise dos resíduos coletados. As matérias-primas lignocelulósicas reúnem materiais de origem vegetal, que são compostos principalmente por três polímeros estruturais: celulose, hemicelulose e lignina.

“São abundantes em resíduos agrícolas, como palhas, bagaços, cascas e sementes, e representam uma alternativa sustentável por serem renováveis, não concorrentes com alimentos e altamente disponíveis na Amazônia”, descreveu Flávio Augusto.
A pesquisa foi conduzida em uma parceria do CBA com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em Manaus. A expectativa é que o projeto auxilie no aperfeiçoamento de mão de obra altamente qualificada e no desenvolvimento de novas tecnologias, gerando emprego e renda.
O projeto aponta a necessidade de uma conscientização social e acadêmica sobre a geração, uso e monetização de resíduos agroindustriais. O pesquisador informa que esses insumos passam a ganhar um outro valor à medida em que deixam de ser considerados lixo. Incentivando cadeias produtivas sustentáveis com base técnica, surge a oportunidade de substituir insumos fósseis por alternativas renováveis.
“A longo prazo, este projeto pavimenta o caminho para o desenvolvimento de biorrefinarias na Amazônia, capazes de transformar resíduos em bioprodutos industriais. Isso pode impulsionar a criação de startups locais, reduzir a dependência de petróleo e atrair investimentos em tecnologias limpas”, afirmou.
*Com informações da Fapeam