Tocantins é um dos locais preferidos para os observadores de aves

De acordo com a plataforma Wikiaves, existem 1.919 espécies diferentes da avifauna reconhecidas e catalogadas no Brasil. E dessas, o Tocantins registra a ocorrência de 650 espécies

Turismo de baixíssimo impacto ambiental, ao mesmo tempo em que proporciona uma experiência singular, a observação de aves é um segmento do ecoturismo que vem crescendo muito nos últimos anos, atraindo pessoas de todas as faixas etárias. E o Tocantins, graças à sua variedade de ambientes, é um dos locais preferidos para os amantes do chamado birdwatching.

De acordo com a plataforma Wikiaves, existem 1.919 espécies diferentes da avifauna reconhecidas e catalogadas no Brasil. E dessas, o Tocantins registra a ocorrência de 650 espécies. Ou seja, um terço de todas as aves registradas no país pode ser vista no Estado, tornando-o um importante destino para os observadores de pássaros amadores ou profissionais.

Foto: Fernando Alves/Governo do Tocantins

A explicação para tanta diversidade de aves está no mosaico de ambientes encontrados no Estado, que possui espécies tanto do bioma Cerrado, quanto da Floresta Amazônica e da Caatinga.

Felipe Diego Cavalcante é fisioterapeuta e começou a observar aves por acaso. “Certa vez estava esperando minha noiva sair do trabalho, próximo à Praça dos Girassóis, em Palmas, e enquanto esperava, no final da tarde, comecei a perceber a variedade de aves que passavam por ali, mesmo sendo no centro da cidade, e aquilo me chamou atenção”.

Depois de alguns dias, sempre esperando no mesmo local e vendo cada vez mais espécies diferentes, o fisioterapeuta resolveu profissionalizar sua observação. “Parece loucura, mas comprei binóculos e comecei a observar e até a fazer anotações sobre aves ali mesmo, em plena área urbana, e pensei nas possibilidades de espécies que poderiam ser vistas na zona rural”, ressalta Diego.

Foto: Fernando Alves/Governo do Tocantins

 Desde então, sua rotina de finais de semana tem sido levantar cedo para procurar novos lugares e ampliar a experiência. “Eu indico a observação de aves para todo mundo, pois é uma experiência única quando você levanta cedo, procura um local afastado, como Taquaruçu ou a Serra do Lajeado, a procura de novas espécies. É revigorante”, afirma, dizendo que além dos olhos, os ouvidos dos observadores de aves também ficam treinados para os cantos diferentes que cada espécie tem.

O biólogo e ornitólogo do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), Marcelo Barbosa, é pesquisador e apaixonado por aves. Ele explica que a observação de aves é uma atividade em expansão em todo o Brasil e no Tocantins não é diferente. Segundo ele, o Estado apresenta algumas espécies bem importantes, que estão na lista de observadores, que vêm de longe para ver os pássaros daqui, em busca de espécies inéditas. “A maioria dos observadores vem de São Paulo, mas já recebi gente de Minas Gerais, Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Brasília”, declara Marcelo Barbosa.

Ele acrescenta que em praticamente todo o Tocantins é possível praticar a atividade e registrar a presença de diversas espécies. “Dependendo do observador, temos bons pontos de observação, tanto na região de Palmas e entorno, como também na região do Araguaia, Jalapão e também na região Sudeste, próximo ao município de Aurora do Tocantins, além do Cantão”, pontua o ornitólogo.

Foto: Fernando Alves/Governo do Tocantins

De acordo com Marcelo Barbosa, todos os observadores de aves têm uma espécie preferida, aquela que encontrá-la passa a ser um ideal. “Mas, isso depende de cada observador; cada um têm suas preferências, mas claro que quanto mais rara for a ave, mas ela se torna desejada pelos observadores, como o pica-pau-da-taboca, cuja presença foi registrada no Tocantins e está ameaçada de extinção”.

Iniciação

A observação de aves pode ser praticada por pessoas de qualquer faixa etária e condição socioeconômica. “Para começar é muito simples e para praticar basta ter boa vontade e, se preferir, usar binóculo ou máquina fotográfica para registrar ou ainda um celular, que pode além de fotografar, gravar também os cantos de cada pássaro encontrado”, pondera Marcelo Barbosa, completando que o mais importante para quem quer começar é disposição para acordar cedo, porque as aves têm hábitos diurnos e começam suas atividades ao nascer do sol.

Marcelo Barbosa orienta que para começar a praticar o birdwatching não precisa viajar ou procurar locais afastados, devendo priorizar inicialmente a praça de seu bairro ou até mesmo o quintal. Aos poucos, o observador pode ir evoluindo e procurando cada vez mais locais onde há incidência de outras espécies.

Felipe Stephanes é estudante de geologia e trabalha como designer gráfico. Há dois anos, no início da pandemia, ganhou uma máquina fotográfica. Passou então a registrar aves e a atividade virou, inicialmente, um hobby, e se tornou uma paixão. “Sempre morei em locais pequenos, afastados da cidade e, mesmo trabalhando com tecnologia, sair para caminhar e observar pássaros não foi um problema para mim, mas, sim, um momento de descanso e paz”, define Felipe.

Ele garante que nunca teve muito interesse por aves, mas quando começou a fotografá-las e a perceber a enorme variedade de espécies, cada uma com suas cores, tamanhos e cantos, isso o deixou fascinado e ele não conseguiu mais parar. “É como se fosse uma coleção; sou muito viciado em colecionar coisas, então fotografar e catalogar aves virou para mim uma coleção, que eu quero aumentar cada vez mais”.

A maior parte das aventuras de Felipe Stephanes foi realizada no entorno de sua própria casa, na região de Bom Jesus do Jaú ou Serra do Carmo, zona rural de Palmas . “Eu costumo sair quase todos os dias, a partir das 16 horas, a pé ou de bike; às vezes vou pela manhã, alternando os locais para ter mais chance de observar espécies diferentes ou espécies que estão chegando e passando por ali pela primeira vez”, ensina o observador.

Foto: Fernando Alves/Governo do Tocantins

Exposição

Com o objetivo de compartilhar suas experiências na observação de pássaros, Felipe Stephanes abriu em março uma exposição onde compartilha 20 fotos artísticas de aves da região registradas por ele. A exposição segue aberta até 8 de abril, na sala de exposição do Espaço Cultural José Gomes Sobrinho, em Palmas, e também no site www.curtapalmas.com, da Fundação Cultural de Palmas.

Na exposição, o estudante e designer apresenta desde aves endêmicas e migratórias do Chile até o norte do Canadá, até outras nativas do Cerrado. Todas as fotografias da exposição foram tiradas na área rural de Palmas, nos últimos quatro meses. As imagens serão acompanhadas de uma trilha sonora com o canto das aves retratadas, além de uma ficha técnica com informações sobre a espécie.

Felipe Stephanes ressalta que um dos momentos mais emocionantes vividos por ele foi quando estava caminhando numa trilha e parou para escutar as aves. “Na época eu só olhava para cima, achando que as aves estavam sempre no alto, mas quando olhei para ver onde eu estava, avistei uma ariramba-de-cauda-ruiva a dois metros de mim, cantando baixinho”, lembra.

Ele prossegue dizendo que se encantou com a beleza do pássaro e precisou ter muito controle dos movimentos para conseguir se abaixar e regular a câmara fotográfica sem espantá-la. “A foto estará na exposição e eu a considero a mais bonita de todas. Meu sonho é encontrar o pica-pau-da-taboca, também conhecido como obrieni, espécie ameaçada de extinção, famosa pela música Rio do Coco, do cantor Lucimar”.

Guia

Em 2020, o Governo do Tocantins lançou o Guia de Campo – Aves do Tocantins, com o objetivo de auxiliar observadores de aves, especialmente os iniciantes, na identificação de pássaros em campo e em pesquisas sobre a avifauna do Estado. O guia possui informações sobre a prática para quem quer ser observador de aves, além de uma breve amostra de espécies que podem ser encontradas. O guia está disponível para downloads no link https://central.to.gov.br/download/5260.

História

Segundo a literatura especializada, o birdwatching teve início ainda no século XIX, na Europa, e depois de espalhou e ganhou adeptos em todo o mundo. No Brasil, a atividade já era praticada há décadas, mas se tornou mais conhecida já no início dos anos 2000, quando passou a virar, inclusive, tema de eventos especializados, como o Avistar Brasil.  

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