Pagamento por serviços ambientais impulsiona desenvolvimento sustentável na Amazônia

Pesquisa mostrou que, embora as castanheiras representem apenas 3% dos indivíduos na área de uma castanha na Amazônia Setentrional, elas são significativas com 40% da biomassa viva acima do solo.

A compensação pelos serviços ambientais prestados pelos chamados ‘guardiões da Amazônia‘, notadamente as comunidades agroextrativistas da castanha-da-Amazônia, pode ser uma estratégia eficaz para a contribuição o desenvolvimento sustentável e enfrentar os desafios das mudanças climáticas e do desmatamento. Foi o que descobriu um grupo de pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP), da Embrapa Amapá e da Embrapa Roraima. Os resultados foram publicados no capítulo 11 do livro Castanha-da-amazônia: ecologia e manejo de castanhais nativos , que pode ser baixado gratuitamente.

Essa abordagem atribui um valor tangível à proteção das florestas, ou seja, o trabalhador extrativista recebe por executar práticas conservacionistas em sua atividade. A pesquisa constatou que a recompensa pela preservação e melhoria dos serviços ambientais incentiva um manejo florestal sustentável, a conservação da floresta e o seu uso responsável. Essa compensação pode ser feita por meio de políticas públicas ou iniciativas privadas que englobem aspectos ambientais, ecológicos e socioeconômicos.

As áreas com castanheiras representam florestas de alto valor para a bioeconomia, para a preservação das comunidades agroextrativistas e para a estabilidade ecológica. Foto: Renata Silva

Coleção Castanha-da-Amazônia

Os resultados do estudo fizeram parte do volume 1 da coleção de livros Castanha-da-amazônia , publicada em 2023 pela Embrapa. O trabalho é assinado por Marcelino Carneiro Guedes, Patrícia da Costa, Carolina Volkmer de Castilho, Richardson Frazão, Sérgio Milheiras e Walter Paixão de Sousa. 

Foto: Marcelino Carneiro Guedes

Os cientistas analisaram os pagamentos por serviços ambientais (PSA) e o pagamento por redução de emissões provenientes de desmatamento e manipulação florestal (REDD+) na Amazônia. Ambos os mecanismos se destacam pelo potencial de agregar valor às florestas com ocorrência da castanheira, ao trazer benefícios adicionais como o armazenamento de carbono, a regulação do clima e o cumprimento de metas condicionais em programas governamentais e acordos internacionais.

Outros mecanismos de discussão, como os créditos de biodiversidade, também podem acrescentar valor às castanhas, ajudando a considerar o custo de oportunidade da manutenção dessas florestas. 

“Além disso, fortalecer a economia florestal e o mercado de produtos amazônicos é fundamental para tornar o manejo florestal economicamente competitivo em relação às atividades dependentes do desmatamento, viabilizando assim a conservação da floresta em pé”,

 afirma a pesquisadora da Embrapa Patrícia da Costa .

“É importante perceber o potencial de mercados para produtos tradicionais, como mel e sementes florestais, no reflorestamento, bem como a possibilidade de criar novos mercados a partir dos recursos biológicos da floresta”, explica o pesquisador da Embrapa Marcelino Guedes.

O cientista frisa que as áreas com castanheiras representam florestas de alto valor para a bioeconomia, para a preservação das comunidades agroextrativistas e para a estabilidade ecológica. “Portanto, é fundamental considerar a importância do agroextrativismo e dos serviços ambientais prestados às famílias que dependem da castanha para a conservação dessa floresta inestimável”, defende Guedes.

Foto: Fernando Barreto

De acordo com o pesquisador, a castanheira desempenha um papel crucial na conservação da Amazônia. Ela está presente em cerca de 32% do bioma, 2,3 milhões de km², aproximadamente. Uma espécie é encontrada em matas de terra firme em toda a região da PanAmazônia, que inclui Brasil, Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Colômbia, Bolívia, Peru, Equador e Venezuela. Além de seu valor ecológico, a castanheira contribui significativamente para processos ecossistêmicos, como o armazenamento de carbono, o ciclo hidrológico, a ciclagem de nutrientes e a manutenção da biodiversidade.

O estudo demonstrou que, embora as castanheiras representem apenas 3% dos indivíduos em uma castanha na Amazônia Setentrional, elas representam 40% da biomassa viva acima do solo, dos quais cerca de 50% são carbono. “A longevidade das castanheiras permite que esse carbono seja armazenado por um longo período, entre 300 e 400 anos”, destaca a pesquisadora da Embrapa Carolina Castilho .

Além de seu valor ecológico, a castanheira também possui relevância socioeconômica e cultural. Portanto, os pesquisadores acreditam que as compensações pelos serviços ambientais, além de serem cruciais para a conservação da Floresta Amazônica, também promovem a sustentabilidade das comunidades que dependem da castanha. 

Castanha preciosa 

Foto: Fernando Barreto Diógenes de Queiroz

A castanha-da-amazônia é um dos principais produtos do agroextrativismo brasileiro. Sua cadeia envolve coleções de milhares de famílias e movimenta milhões de dólares anualmente. Ela é considerada um superalimento, devido às altas concentrações de nutrientes benéficos à saúde como compostos lipídicos, proteicos e antioxidantes como o selênio, associados à proteção contra doenças neurodegenerativas e câncer.

Estima-se que a produção de castanhas obtida por meio do extrativismo no Brasil gire em torno de 130 milhões de reais por ano, mas esse valor pode ser subestimado. O mercado interno para a castanha tem crescido nos últimos anos, tornando-se o principal consumidor do produto.

Além do aspecto econômico, as florestas com castanheiras também abrigam uma grande biodiversidade de flora, fauna e microrganismos, desempenhando um papel fundamental na manutenção dos ecossistemas. A castanheira é polinizada por abelhas, como as mamangavas, importantes na produção de frutos de interesse agronômico e alimentar. Além disso, a espécie é essencial na alimentação de diversos animais, fornecendo alimento para macacos, aves e roedores, como as cutias, que são dispersores das sementes. 

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