O museu paraense será responsável técnico pela restauração de 260 hectares na Reserva Biológica do Gurupi, localizada no estado maranhense. Foto: Felipe Werneck/Ascom Ibama
O projeto Restaura Gurupi, que visa restaurar 260 hectares da Reserva Biológica do Gurupi, unidade de conservação conhecida como Rebio Gurupi, localizada no Maranhão, terá a coordenação técnica e científica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).
O projeto tem como proponente a Associação Conservação da Vida Silvestre (WCS Brasil), uma organização sem fins lucrativos que, desde 2004, concentra suas ações na conservação colaborativa, em parceria com povos indígenas e comunidades afrodescendentes e tradicionais.
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A Rebio Gurupi possui área total de 271,4 mil hectares e é formada por amostras representativas de florestas tropicais úmidas da Amazônia Maranhense.
A reserva está inserida na chamada Área de Endemismo Belém (AEB), considerada a mais desmatada ecorregião do bioma, onde estão localizadas espécies ameaçadas de extinção, como os primatas cairara kaapor (Cebus kaapori) e cuxiú (Chiropotes satanas) e as aves mutum-pinima (Crax fasciolata pinima) e jacamim-de-costas-escura (Psophia obscura).

A Rebio Gurupi também compõe o “Arco do Desmatamento”, uma área de 500 mil km² que concentra cerca de 75% do desmatamento da Amazônia e que se estende do oeste do Maranhão e sul do Pará até o Acre, passando por Tocantins, Mato Grosso e Rondônia.
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No último dia 11 de dezembro, o projeto Restaura Gurupi foi apresentado ao Conselho Consultivo da Rebio Gurupi, em Açailândia (MA). Coordenadora de Pesquisa e Pós-graduação do Museu Goeldi, a ecóloga Marlúcia Martins representa o MPEG no Conselho e irá coordenar a equipe da instituição no projeto.
“A participação dos analistas da Rebio e nossa, do Museu, será dando suporte técnico nas metodologias de restauração e também em algumas atividades de pesquisa de monitoramento que vamos desenvolver com a participação de membros do Conselho, da comunidade, principalmente da Escola Familiar Rural, e de outros atores que já são parceiros nessa construção”, explica Marlúcia.
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Segundo ela, com a experiência da WCS Brasil na formação de cadeias produtivas, a ideia é criar uma “cadeia da restauração”, com a contratação e a capacitação de atores locais para atuar no projeto.
“Vamos apoiar a Casa Familiar Rural na formação de uma casa de semente qualificada, que possa ser reconhecida pelo Ministério da Agricultura, para que, no futuro, produza e comercialize mudas e sementes”, projeta Marlúcia. Os viveiros desenvolvidos na Terra Indígena Araribóia, ao sul da Rebio, também serão fomentados, conforme explicou.
“Vamos apoiar a iniciativa das mulheres que já estão formando viveiros para que possam ser fornecedoras de mudas e de sementes, além de outras iniciativas, como cooperativas da região, para que aos poucos vá se construindo essa rede que vai dar sustentabilidade de longo prazo, para além do tempo de duração do projeto”, disse a coordenadora do MPEG.
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Museu investe em produção científica e soluções tecnológicas
Na implementação do projeto, a produção científica, com a documentação das etapas, e a aplicação de tecnologias para superar possíveis obstáculos, ficarão a cargo da coordenação do Museu Goeldi.
“A gente sabe que existem desafios e que vamos precisar de soluções tecnológicas. Então, também estaremos com os nossos laboratórios. Temos o Ciprep, que é o nosso Centro Integrado de Pesquisa em Restauração Ecológica e Produtiva. Ele congrega 11 laboratórios do Museu e ainda conta com os laboratórios da Embrapa e da UFRA como parceiros. Queremos construir um modelo de restauração que seja replicável em outras áreas”, afirmou Marlúcia, que celebra a oportunidade de atuar em parceria.
“Estamos muito animados com essa oportunidade. Será a primeira vez que o Museu Goeldi vai estar integralmente como responsável técnico de uma atividade de restauração”, celebra.

Projeto Gurupi
O projeto Restaura Gurupi integra as iniciativas contempladas por editais do BNDES com o objetivo de transformar o “Arco do Desmatamento” no “Arco da Restauração”, cuja meta é restaurar 6 milhões de hectares até 2030 e 24 milhões até 2050. Os recursos do projeto são oriundos do Fundo Amazônia e os esforços serão coordenados pela gestora parceira Conservação Internacional (CI-Brasil).
Gerente de Conservação da WCS Brasil, proponente principal do projeto, Márcia Lederman explicou que, por meio do Conselho da Rebio Gurupi, iniciou a aproximação com o Museu Goeldi. “Desde então, estamos juntos na elaboração das propostas de restauração ecológica para a região. A participação do Museu é de suma importância, pois aporta com ciência, conhecimento e experiência no tema”.
Os trabalhos terão duração de quatro anos e estão previstos para começar no primeiro trimestre de 2026.
*Com informações do Museu Goeldi
