Com intenso fluxo turístico, Ilha de Caratateua recebe mapeamento geoambiental

Estudo faz parte do Boletim da Sustentabilidade das Ilhas de Belém, que busca apresentar um desenho integrado da geoecologia da paisagem, que, em consonância com os ODS, pode auxiliar políticas públicas.

Foto: Roni Moreira/Agência Pará

De refúgio indígena a case sustentável, Caratateua sofreu intensas transformações durante sua ocupação. Assim como a Ilha de Mosqueiro, Distrito de Belém, no Pará, sua ocupação foi iniciada pela fuga de indígenas da tribo Tupinambá dos imigrantes na região, no período colonial. Já sua economia, foi marcada por incentivos agrícolas, voltada para fomentação de agricultura de subsistência, como a agricultura familiar. Atualmente, Caratateua apresenta um intenso fluxo turístico, além do desenvolvimento sustentável com foco em empreendimentos residenciais com áreas verdes.

Para um diagnóstico de Caratateua, a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) realizou um estudo detalhado da Ilha: ‘O Boletim da Ilha de Caratateua’. O estudo faz parte do Boletim da Sustentabilidade das Ilhas de Belém, que busca apresentar para todas as ilhas da capital paraense, um desenho integrado da geoecologia da paisagem, que, em consonância com “Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS)”, pode auxiliar políticas públicas voltadas ao planejamento ambiental das ilhas. O estudo sobre essa e outras ilhas será apresentado durante a Feira Pará Negócios, no Hangar, no sábado, 30.

Segundo a instituição de pesquisas Fapespa, a busca por indicadores de sustentabilidade ambiental torna-se tema de interesse global em virtude do intenso processo de uso e ocupação da terra, atrelados à irracionalidade no manejo dos recursos naturais. Desse modo, a temática vem adquirindo cada vez mais interesse de pesquisadores, gestores e comunidade em geral, com a realização de conferências e reuniões constantes de cunho ambiental, como a COP 30 e afins.

Boletim da Ilha de Caratateua

O estudo apontou uma evolução ocupacional na ilha, favorecida pela acentuada especulação imobiliária das últimas décadas. Das 63 malhas censitárias apresentadas, a malha de maior área territorial está localizada no norte da ilha, com uma população de 363 pessoas e uma área de 7,87 km². A segunda apresenta 3,90 km² e está localizada no residencial Alphaville, com registo de 29 pessoas. Já a área com maior número populacional, cerca de 1.144 pessoas, com uma área inferior a 1 km² (0,19 km²).

Conforme o IBGE, foram catalogados 19.933 endereços em Caratateua, sendo distribuídos em sete espécies de endereços. Enquanto “Domicílio particular” representa 82,20% deste total, “Estabelecimento agropecuário” não teve ocorrências.

Os anos 70 foram marcados pelo inchaço urbano da capital, levando os migrantes das zonas rurais para a ilha, processo acelerado pelo circuito turístico da região e pela construção da ponte Governador Enéas Martins Pinheiro, construída em 1986. Com isso, a ilha ganhou expansão urbana, especialmente devido à construção de estradas, estabelecimentos comerciais e residenciais, porém com uma infraestrutura precária, com a oferta de serviços básicos ineficientes.

Usos e cobertura da terra: Entre os resultados apresentados, está o aumento na “Área urbana” de Caratateua, que passou de 3,93 km² em 2002 para 6,50 km² em 2023, com crescimento de 8,17% em relação a 2002, durante o período analisado. Além disso, houve perda nas demais classes analisadas, destacando-se a variação da “Floresta ombrófila densa”, que passou a representar 15,51 Km² em 2023 e em 2002 era de 15,97 Km² e da classe de “Vegetação secundária” que recuou quase 40%, passando de 2,96 Km² (9,39%) em 2002 para 1,76 Km² (5,59%) em 2023 do total da área da ilha.

Imagem: Reprodução/Agência Pará

Sustentabilidade Ambiental

Em relação ao indicador Sustentabilidade da cobertura vegetal (SCV), o estudo apontou que houve uma variação negativa, onde o indicador apresentava resultado intermediário em 2002 (60,05%) e apresenta atualmente 54,79%, mostrando um alerta sobre redução da área verde na ilha. Já em relação “Sustentabilidade da pressão urbana” (SPU) houve um aumento de 8,16%, causado pelo aumento das edificações da ilha, com destaque a três extensões habitacionais: o conjunto habitacional Viver Outeiro, o assentamento Neuton Miranda e o condomínio Alphaville, que chamam a atenção pelas suas propostas de ocupação.

Unidades Geoambientais da Ilha de Caratateua

O estudo também apresentou sete classes de unidades geoambientais na ilha, onde a “Tabuleiros – floresta ombrófila” representa a maior área da ilha, 15,51 km², sendo este espaço sem registro de espécies de endereços. Em contrapartida, “Terraços com área urbana consolidada” são o segundo em área (7,45 km²) e o primeiro em contingente populacional, apresentando cerca de 14.637 dos estabelecimentos categorizados na pesquisa.

Unidades geoambientais são áreas delimitadas com base em características físicas e ambientais, como relevo, solo e vegetação, para entender a dinâmica do território e orientar o uso sustentável dos recursos naturais. Elas são essenciais para planejamento ambiental e gestão territorial, ajudando a conciliar desenvolvimento e conservação.

“Destacamos que a análise geoambiental realizada pela Fapespa permite identificar as áreas mais pressionadas pela urbanização e os reflexos disso nos indicadores de sustentabilidade, como a redução da cobertura vegetal e o aumento das edificações. A Ilha de Caratateua possui um grande potencial turístico e residencial, mas precisa ser manejada de forma sustentável para garantir que seu papel ecológico e social seja mantido. Esses dados são cruciais para compreender a dinâmica socioambiental da ilha e embasar políticas públicas que conciliem desenvolvimento econômico, preservação ambiental e qualidade de vida”, detalha Luziane Cravo.

Imagem: Reprodução/Agência Pará

Desenvolvimento

O Boletim da Sustentabilidade da Ilha de Caratateua é um produto do projeto Atlas da Sustentabilidade, projeto da Coordenação de Estudos Territoriais (CET) da Diretoria de Pesquisas e Estudos Ambientais (Dipea) da Fapespa, formado por uma equipe multidisciplinar, que analisa e apresenta dados e informações sobre sustentabilidade do estado do Pará, para subsidiar ações de gestores e fornecer informações a cientistas e comunidade em geral. Sua produção compõe relatórios sobre a sustentabilidade, boletins, notas técnicas, sendo fonte de produção e divulgação de conhecimento científico na Região Amazônica, sobretudo na Amazônia Paraense.

Imagem: Reprodução/Agência Pará

“Essa série de boletins sobre a sustentabilidade das ilhas de Belém traz importantes informações para que a gestão pública da nossa capital possa tomar decisões extremamente acertadas sobre o desenvolvimento dessas áreas tão importante não só para o desenvolvimento da cidade como áreas de habitação, mas também como refúgios, hábitats naturais, de vários animais, que são muito importantes para o equilíbrio ecológico dessa Região. Então, as ilhas desempenham um papel fundamental tanto para a população humana como para os demais animais. E esse boletim traz informações muito valiosas para as tomadas de decisão”, avalia o presidente da Fapespa, Marcel Botelho.

*Com informações da Agência Pará

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