O fungo encontrado pelos pesquisadores recebeu o nome de Pseudomonodictys pantanalensis e está associado à planta corticeira (Aeschynomene fluminensis).
A mineração de ouro ou prática de garimpo ilegal em áreas ambientais é considerada uma das principais problemáticas quando se trata da exploração da Amazônia. Recentemente, um estudo elaborado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontou que cerca de 95% das áreas de garimpo ilegal pertencem a três terras indígenas: Kayapó, Munduruku e Yanomami.
Dentre os Estados que pertencem a Amazônia Legal, entre 2016 e 2022, o Mato Grosso registrou 340 hectares de área de floresta nativa na Terra Indígena Sararé com atividade de garimpo ilegal, conforme dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Uma das consequências da prática do garimpo ilegal está a contaminação do solo e cursos d’ água, prejudicando os peixes nos rios e também os seres humanos. Essa prática libera mercúrio, um metal tóxico que ataca o sistema nervoso central, imunológico, rins e trato digestivo.
Porém, uma pesquisa descobriu uma espécie de fungo endofítico com capacidade de descontaminar solos com ocorrência de mercúrio. A pesquisa foi idealizada por biólogos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT).
O Portal Amazônia conversou com o coordenador da pesquisa, especialista em Microbiologia, Marcos Antônio Soares, responsável pelo Laboratório de Biotecnologia e Ecologia Microbiana da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Os fungos são organismos vivos que vivem em solo, ou na água, sendo associados a plantas, animais e ao homem. O fungo encontrado pelos pesquisadores, recebeu o nome de Pseudomonodictys pantanalensis e está associado à planta corticeira (Aeschynomene fluminensis). A proposta do projeto foi realizada em solos contaminados pelo mercúrio, próximo a cidade de Poconé (MT), região utilizada para a exploração de ouro.
“Essa metodologia que nós estamos propondo para descontaminar o solo que contém mercúrio, pode ser utilizada para qualquer tipo de solo, tanto de terras indígenas quanto não indígenas. Incluindo biomas como Pantanal, Amazônico ou Cerrado. Ela pode ser indicada para diferentes tipos de solos, por que esse fungo e essas plantas que analisamos habitam em áreas úmidas, sendo associados à raiz de plantas”,
esclareceu Marcos Antônio.
Processo de pesquisa
A pesquisa tem sido realizada desde 2014 e estudado os diferentes microrganismos capazes de remediar o mercúrio de solos e ambientes aquáticos. O fungo retira a capacidade de locomoção do mercúrio que fica preso ao corpo da planta corticeira.
“O processo é realizado quando alguns destes microrganismos conseguem volatilizar o mercúrio que está dissolvido no solo na fase aquosa, assim ele é reduzido ao mercúrio metálico, passando da fase aquosa para a fase atmosférica, ou seja, ele volatiliza. Ele sai do solo e vai para a atmosfera, e se dilui, não tendo efeito nocivo direto na saúde humana ou de outros organismos vivos”, explicou o especialista.
Durante o processo, esses microrganismos protegem as plantas que estão associados e elas absorvem o mercúrio, evitando a sua dispersão pelo ambiente. Assim, o mercúrio fica ligado ao fungo e à planta.
O pesquisador destacou que a próxima etapa é compreender como esse fungo descontamina o mercúrio do solo, além de entender quais são seus mecanismos e propriedades com capacidade de inibir o efeito do mercúrio para que não fique mais disponível no ambiente e contamine os animais, plantas e seres humanos.