“Intercâmbio” de fauna: um peixe amazônico pode sobreviver na Irlanda?

De acordo com o Ibama, não foram identificadas exportações legais de peixes nativos do Brasil para a Irlanda nos últimos 12 meses.

Nas últimas semanas, um acontecimento chamou a atenção de pesquisadores, entusiastas e até quem só estava navegando pela internet: um peixe nativo da região amazônica foi encontrado “apenas” a mais de 8.500 quilômetros de distância de seu habitat, no lago Garadice, na Irlanda.

No país europeu não existe uma proibição de criação de peixes que não sejam nativos de lá, o que inclusive é uma prática regulamentada. Ainda assim, a Irlanda adota medidas para controlar a importação de espécies muito exóticas.

Contudo, de acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em pesquisa feita pela Coordenação de Comércio Exterior do órgão, não foram identificadas exportações de peixes nativos do Brasil para a Irlanda nos últimos 12 meses.

Foto: Reprodução

Ao Portal Amazônia, o pesquisador de Manejo e Conservação de Recursos Pesqueiros da Embrapa Pesca e Aquicultura, Giovanni Vitti Moro, explica as possíveis implicações desse ocorrido para a espécie e ao ecossistema local.

“A espécie é de clima tropical, não sobrevivendo em temperaturas abaixo de 10ºC, por esse motivo a sobrevivência dessa espécie na Irlanda, país com inverno rigoroso e temperaturas abaixo de zero graus é improvável. A soltura de exemplares na natureza não traz risco ao ecossistema local, pois os peixes irão morrer durante o inverno”,

pontuou o pesquisador.

Outro aspecto importante nesse caso é que o peixe que, segundo Vitti Moro, pode ser um exemplar de tambatinga (híbrido entre tambaqui e pirapitinga). A hipótese é que o peixe amazônico teria sido liberto por um tanque particular de peixes.

Viralizou na web 

Por ser um acontecimento atípico, o assunto repercutiu nas redes sociais. Alguns internautas comentaram, em tom de ironia, que o peixe “foi fazer intercâmbio” ou “aprender inglês”.

 Alerta à biopirataria

Espécies invasoras de outros biomas podem ser prejudiciais para as espécies locais, pois podem competir por alimentos, espaço e abrigo, levando à redução das espécies locais.

Esse não é o caso do peixe encontrado morto na Irlanda. “Como já mencionado, a espécie não oferece risco ao ecossistema local, pois não sobrevive ao inverno rigoroso da Irlanda. Além disso, o tambatinga é uma espécie migratória e não se reproduz em ambientes de água parada, como o lago no qual o mesmo foi encontrado”, esclareceu Giovanni.

Ainda assim, este é um importante alerta para a biopirataria de espécies amazônicas:

“A biopirataria de espécies nativas do Brasil traz riscos ambientais relativos à perda de biodiversidade natural, quando a espécie pirateada é solta na natureza em ambiente propício ao seu estabelecimento e impactos na icitiofauna local do Brasil pela maior pressão de captura. Além disso, várias espécies são levadas do Brasil e melhoradas geneticamente em outros países e vendidas novamente ao Brasil, gerando uma perda de recursos ambientais e financeiros para o nosso país. Isso ocorre principalmente para os peixes ornamentais, como por exemplo o acará disco, nativo da região amazônica. Essa espécie foi levada para países da Ásia e hoje existem diversas variedades à venda no mercado nacional, a maioria desenvolvida fora do país”,

finalizou.

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