A presença da onça-pintada, portanto, atua como um verdadeiro “termômetro ecológico”. Foto: Alessandro Vieira/SEDEST
Majestosa, silenciosa e indispensável. A onça-pintada (Panthera onca), símbolo da biodiversidade brasileira, vai muito além de sua beleza selvagem. No topo da cadeia alimentar, esse grande felino desempenha um papel essencial na manutenção do equilíbrio ecológico dos biomas onde vive — especialmente na Amazônia.
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Para entender melhor a função da onça-pintada nos ecossistemas e esclarecer alguns mitos comuns sobre sua relação com os seres humanos, a equipe do Portal Amazônia conversou com o biólogo Rogério Fonseca, especialista em ecologia de grandes predadores.
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Segundo o pesquisador, a principal função da onça-pintada no ambiente natural é o controle da população de herbívoros.
“Os predadores de topo, como a onça, mantêm as populações de presas sob controle. Isso evita o desbalanceamento dos ecossistemas, já que o excesso de herbívoros pode causar degradação ambiental, como o sobrepastoreio e a disseminação de doenças”, explica Fonseca.

Um exemplo claro pode ser visto em regiões onde a onça desapareceu.
“Nos parques do sudeste e sul do Brasil, como não há mais onças, a população de capivaras cresceu descontroladamente. Isso tem impacto direto na estrutura do ecossistema e até na saúde humana, pois a capivara é um hospedeiro do carrapato transmissor da febre maculosa”, alerta.
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A presença da onça-pintada, portanto, atua como um verdadeiro “termômetro ecológico”. Um ecossistema saudável precisa de predadores em seu topo. “Se há onça, é porque há uma cadeia alimentar equilibrada, com presas disponíveis e ambiente preservado. A onça é um bioindicador fundamental”, reforça o biólogo.
Mitos e verdades sobre os ataques a humanos
Apesar de sua importância ecológica, a onça-pintada ainda é alvo de preconceitos e medo infundado. Casos de ataques a humanos são extremamente raros. “Em todo o Brasil, nos últimos 70 anos, não tivemos sequer 52 ataques confirmados. Isso dá uma média muito inferior a um ataque por ano, num país com mais de 200 milhões de habitantes”, esclarece Fonseca.
Ele critica a maneira como certos episódios são tratados por parte da imprensa e nas redes sociais. “Muitos exageram ou distorcem informações para gerar cliques, ignorando o comportamento natural da onça. Ao contrário de grandes felinos de outras partes do mundo, como tigres ou leopardos, a onça-pintada não evoluiu com o hábito de caçar seres humanos”, ressalta.
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A Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde Rogério atua, realiza um monitoramento constante da cobertura midiática sobre o tema. O objetivo é orientar a imprensa para que utilize linguagem mais adequada e menos alarmista ao tratar de interações entre humanos e onças.

Convivência possível
Assim, de acordo com o especialista, a conservação da onça-pintada exige, acima de tudo, educação ambiental e respeito ao seu habitat. A destruição de áreas florestais, a caça ilegal e a expansão desordenada das atividades humanas continuam sendo as maiores ameaças à espécie.
Fonseca conclui com um recado claro:
“Mais do que um símbolo, a onça-pintada é peça-chave no funcionamento da natureza. Proteger a onça é proteger a floresta, a água, o ar — é proteger a nós mesmos”.