Desmatamento emitiu 1 bilhão de toneladas CO2 em 2023, aponta SEEG

Com a redução do desmatamento na Amazônia, registrado em 2023, as emissões originadas no bioma caíram 37%, chegando a 678 milhões de toneladas, mas ainda correspondem a 65% das emissões brasileiras na categoria.

Foto: Reprodução/IPAM

Mudanças no uso do solo – categoria que inclui a derrubada de vegetação nativa, queimadas e criação de pastagens e lavouras, por exemplo – responderam pela emissão de 1,06 bilhões de toneladas de CO2 em 2023, 24% a menos do que em 2022. Apesar da redução, a categoria ainda responde pela maior parcela, cerca de 46% do total das emissões brasileiras. No mesmo período, o desmatamento, que equivale sozinho a 98% das emissões decorrentes dessas mudanças, emitiu 1,04 bilhão de toneladas de CO2.

Os dados foram divulgados na quinta-feira (7) no relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), que analisa os números de emissões do Brasil de 1970 a 2023 e suas implicações para as metas climáticas do país. O documento foi produzido pelo Observatório do Clima com a contribuição do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e outras entidades parceiras.

Apesar do desmatamento, áreas de vegetação nativa e secundária foram responsáveis por capturar 640 milhões de toneladas de CO2. Sozinhas, unidades de conservação e terras indígenas contribuíram para retirar 386 milhões de toneladas de dióxido de carbono do ar, cerca de 60% de tudo que foi absorvido em 2023. Pesquisadores do SEEG, no entanto, destacam que a capacidade de absorção dessas áreas se encontra ameaçada pela degradação dessas florestas, que também tem contribuído para perturbações no clima e no regime de chuvas.

Biomas

Com a redução do desmatamento na Amazônia, registrado em 2023, as emissões originadas no bioma caíram 37%, chegando a 678 milhões de toneladas, mas ainda correspondem a 65% das emissões brasileiras na categoria.

Por outro lado, o aumento do desmatamento nos outros biomas brasileiros tem dificultado o cumprimento das metas brasileiras. No Cerrado, segundo maior bioma do país, as emissões de CO2 saltaram 32% em 2023, atingindo 202 milhões de toneladas. Durante o período, mais de 1 milhão de hectares foram desmatados no bioma e, sozinha, a fronteira agrícola do Matopiba – que inclui áreas de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – concentrou 47% de toda a vegetação nativa suprimida no Brasil, uma área quase duas vezes maior do que o registrado em toda a Amazônia, que perdeu 454 mil hectares em 2023.

O maior aumento de emissões, no entanto, foi registrado no Pantanal, que liberou 86% mais dióxido de carbono na atmosfera após uma temporada de secas e queimadas extremas na região, alcançando a marca de 16 milhões de toneladas. Caatinga e Mata Atlântica, por sua vez, registraram aumentos de 11% e 4%, respectivamente.

Fogo

O inventário nacional brasileiro, elaborado pelo Governo Federal, ainda não mede os gases de efeito estufa liberados por fogo e outros processos emissores da degradação florestal, como a extração seletiva de madeira e a fragmentação de ecossistemas. O fenômeno, no entanto, se torna mais importante conforme os efeitos da crise climática se tornam mais severos. Na Amazônia, por exemplo, a extensão de floresta degradada já ultrapassa a de área desmatada.

Por essa razão, desde 2018, a equipe responsável pelas estimativas de emissões por mudança de uso da terra no SEEG tem feito um esforço de estimar a quantidade de gases de efeito estufa lançados anualmente na atmosfera por queimadas. Esse levantamento estima que, desde 1990, as queimadas não associadas ao desmatamento totalizaram 4,3 bilhões de toneladas de emissões líquidas de CO2 entre 1990 e 2020. A Amazônia foi o bioma que mais contribuiu com esta estimativa, com 54%, seguida pelo Cerrado, com 38%.

A série histórica do SEEG também aponta uma tendência de crescimento das emissões por fogo em relação à área desmatada, em parte por conta das estiagens severas mais frequentes. Dessa forma, com a queda do desmatamento na Amazônia, a proporção de emissões ligadas às queimadas dentro da categoria de mudança do uso do solo tende a disparar após os recordes de incêndios ocorridos em 2024.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo IPAM, escrito por Lucas Gauraldo

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