Foto: Lenne Santos/Ufopa
Estudantes de Biotecnologia na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), buscaram inovar com uma criação que alia tecnologia e valorização de produtos regionais: o vinho de açaí.
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A inovação foi apresentada durante o Festival do Sairé, realizado entre os dias 18 e 22 de setembro, na vila de Alter do Chão, em Santarém (PA). O evento, um dos mais tradicionais da região, serviu como vitrine para o encontro entre ciência acadêmica e saberes tradicionais amazônicos.
Vinho de açaí: ciência e tradição no mesmo copo
Entre os projetos apresentados, o vinho de açaí tinto seco chamou a atenção pela inovação e pela possibilidade de agregar valor a um dos frutos mais emblemáticos da região amazônica.
Desenvolvido pela estudante Sâmia Lirne Carvalho, do 9º semestre do curso de Biotecnologia, o produto tem características semelhantes às do vinho tinto de mesa tradicional, porém com base no açaí.
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De acordo com Sâmia, o vinho possui 12% de teor alcoólico, além de potenciais antioxidantes e um perfil nutricional que inclui vitaminas K e C, além de minerais como cálcio e ferro.
A principal inovação está no aproveitamento integral do fruto. “Utilizamos 100% da polpa e 20% do caroço na fermentação, para aproveitar o potencial total que o açaí tem”, explicou a pesquisadora.
O projeto é desenvolvido em parceria com a In Tap e a Embrapii, e tem como objetivo transformar o açaí — tradicionalmente consumido na forma de polpa — em um produto diferenciado, com potencial comercial e cultural. Além de valorizar a cadeia produtiva regional, a pesquisa reforça o papel da biotecnologia na criação de soluções sustentáveis baseadas em recursos naturais da Amazônia.
Biotecnologia e sustentabilidade na mesa amazônica
O Laboratório de Micologia e Bioensaios da Ufopa também levou ao evento outras pesquisas relacionadas ao uso de fungos e frutas regionais. Estudantes e professores apresentaram exemplos de como a biotecnologia pode ser aplicada em diversas áreas, desde a biorremediação ambiental até a produção de alimentos funcionais. Jogos educativos foram usados para atrair o público infantil, aproximando as novas gerações do universo científico.
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Outra atração que despertou a curiosidade dos visitantes, além do vinho de açaí, foi a farofa de saúva, produzida a partir de uma espécie de formiga amazônica. O alimento faz parte do projeto “Formigas Amazônicas como Recurso Alimentar Sustentável”, coordenado pela professora Iracenir Santos.
A estudante indígena Glena Batista, da etnia Tupinambá, explicou que o prato é tradicional em sua comunidade e possui, além do valor nutricional, um significado cultural de união e partilha. Estudos mostraram que a espécie Atta laevigata tem alto potencial nutricional e pode ser uma alternativa alimentar sustentável, em sintonia com dados da FAO que apontam que cerca de dois bilhões de pessoas no mundo consomem insetos.

Educação e integração com a comunidade
Durante o evento, também foi apresentado o trabalho de diagnóstico socioambiental do Lago Verde, coordenado por estudantes de Engenharia Sanitária e Ambiental. A pesquisa busca identificar pressões humanas, impactos ambientais e avaliar a qualidade da água em um dos principais cartões-postais de Alter do Chão.
Para o diretor de Cultura e Comunidade da Ufopa, Jefferson Dantas, a presença da instituição no Sairé simboliza o diálogo entre universidade e cultura local. “O estande foi mais do que um espaço de exposição; foi um espaço de encontro e de troca. Essa presença fortalece a relação entre a universidade e a comunidade, aproximando a produção acadêmica da vida cultural do território”, afirmou.
A participação da Ufopa no festival integrou o projeto “Ufopa, saberes que nascem com o povo: Cultura, Ciência e Comunidade em Festa”, da Pró-Reitoria de Cultura, Comunidade e Extensão (Procce). A iniciativa reforça o compromisso da instituição com o desenvolvimento sustentável e a valorização dos saberes amazônicos, mostrando que a ciência produzida na região pode unir inovação, tradição e valorização da cultura local — e, no caso do vinho de açaí, transformar um símbolo da floresta em um produto de identidade amazônica.
*Com informações da Ufopa
