Decididamente, a guerra não constrói felicidade. Não apenas as grandes guerras, mas as pequenas também, as guerras nossas de cada dia.
Por que vivemos em guerra? Quem de nós quer a guerra? Não sei, você, caro leitor, mas não conheço ninguém que declare gostar de guerra. Seria mesmo uma insensatez, não é mesmo? Vidas são perdidas. Casas e cidades são destruídas. Dinheiro e recursos escassos são destinados a armas. As desigualdades são aprofundadas, em um mundo já tão desigual. Nem todos perdem com a guerra, pois alguém sempre ganha com a desgraça alheia, pelo menos, pensa ganhar. Pelo menos em curto prazo. De qualquer maneira, deve ser muito ruim sentir que, da guerra, a pessoa está tendo alguma vantagem. Por mais que ela desenvolva alguma narrativa, não vai conseguir enganar a sua consciência. Ela estará lá dentro dizendo, repetindo, gritando: “não é correto e não é verdadeiro tirar vantagem da guerra“. Não, ninguém quer a guerra.
Mas se não queremos a guerra, porque vivemos em guerra?
Mateus gasta fortunas com advogados para não pagar a pensão para os filhos. “Não seria para os filhos. Seria para ela, uma aproveitadora. Usa os filhos para tirar o meu dinheiro. Não quis se separar? Agora eu quero ver como vai se virar. Quem vai ser o trouxa que vai bancar uma mulher com três filhos?“. Em um ano, Mateus gastou quase o dobro na justiça do que o valor inicialmente estabelecido para a pensão. Não se importa. Está ganhando tempo. Está ganhando a guerra.
Carlinhos cortou contato com os pais, que já são idosos. Ele não pode admitir que eles tratem mal a sua mulher, Vanessa. Era um almoço de domingo. A mais velha fez uma crítica qualquer à nora. Ela respondeu a altura, dando-lhe uma boa “patada”. O golpe atingiu o sogro, que retrucou ainda mais violentamente. Carlinhos teve que se meter. Seu irmão Pedro não gostou do tom de voz e gritou para que ele não falasse assim com os pais, ainda mais para defender aquela “grossa”. Novamente Vanessa reagiu, citando a mulher de Pedro, o que provocou a cunhada. As crianças, na outra ponta da mesa, jogavam algum tipo de comida, umas nas outras. Estavam todos em guerra.
Jorge chega em casa nervoso. Nem falem com ele. Está prestes a explodir, junto com a sua pressão arterial, que deve estar no pico. A culpa é do diretor financeiro, que o persegue. Sempre que pode, ele cria alguma dificuldade para as vendas de Jorge. Neste caso, está exigindo uma documentação extra para liberação de crédito. É um cliente prospectado, a muito custo, por Jorge. Uma verdadeira batalha contra os concorrentes. Precisou jogar um pouco pesado, disseminando informações falsas sobre outras empresas. Também cedeu a caprichos absurdos do cliente, que não se constrangeu em fazer uso de toda a sua força. Afinal era um pedido de grande valor. Depois de tudo isso, o “maldito diretor financeiro pode colocar tudo a perder“. Jorge chega em casa nervoso. Nem falem com ele. Para Jorge, o trabalho é uma guerra. Está levando a guerra para casa.
Decididamente, a guerra não constrói felicidade. Não apenas as grandes guerras, mas as pequenas também, as guerras nossas de cada dia. Caro leitor, não sei se para você, mas para mim fica a questão não respondida. Se não queremos a guerra, por que vivemos em guerra?
Sobre o autor
JulioSampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
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