Você faz o outro brilhar?

Não é tão importante o que uma pessoa qualquer pensa sobre nós. Mais relevante é como nós mesmos nos vemos, nossa autoestima. Ela é influenciada fortemente por pessoas importantes para nós.

Breno é espirituoso. Tem sempre uma história engraçada para contar e divertir os amigos. Todos esperam isto dele e Breno não os decepciona. Tê-lo no grupo é garantia de que o encontro será de boas gargalhadas. Seu humor é satírico, caricato. Aproveita-se de situações reais, aumenta isto aqui, distorce ali, exagera, mistura fatos, põe um tempero de imaginação… e pronto, uma bela história para todo mundo rir. Nada mal. Nada de errado, a não ser por um detalhe. As histórias tinham sempre como personagem central a Natália, sua bela e tímida namorada. Ela apenas sorria. Parecia não se importar e até achar engraçado também. 

Nestas histórias, Natália era sempre alguém alienada, esquecida, atrapalhada. No início, Natália não ligava mesmo. Assumia o personagem, fazia papel de idiota e até acrescentava um outro ponto. Rir de si mesma é um tipo de inteligência, e isto não a fazia se sentir menor. Mas isto foi no início. Aos poucos, Natália começou a se incomodar. As histórias ficavam cada vez mais fortes e agora não era apenas Breno que ironizava Natália. Parecia que todos se sentiam no direito de contar histórias engraçadas de uma personagem chamada Natália. Ela reclamou algumas vezes, mas Breno não deu importância. 

Foto: Reprodução/Freepik

Um dia Natália chorou. Não como uma frágil mulher, submissa, dependente. Mas como um mulher que despertou de um sonho ruim. No meio da roda de amigos, Natália deu um tapa na cara de Breno e, com lágrimas, falou que ela estava chorando a sua morte. A morte de alguém que ela um dia amou e que sempre enalteceu. Que estava com ele nos momentos de maior fragilidade, sempre dizendo o quanto ele era capaz, o quanto ela acreditava nele. Não, ele ainda não era grande, sabia ela, mas, até então, acreditava, que ele seria maior. Até então, ela o ajudaria a ser maior. Não agora. Ele estava morto para ela.

Que história contamos sobre quem está ao nosso lado? O que falamos sobre ela? O que dizemos para ela? São palavras que a fazem sentir-se melhor e maior, ou ao contrário, diminui-la? Podemos fazer muito bem para a pessoa que escolhemos estar conosco. Podemos fazer muito mal para a pessoa que escolhemos estar conosco. Temos consciência disso?

Não é tão importante o que uma pessoa qualquer pensa sobre nós. Mais relevante é como nós mesmos nos vemos, nossa autoestima. Ela é influenciada fortemente por pessoas importantes para nós. Especialmente, pesa muito a pessoa que amamos. Como uma planta, precisamos ser regados por quem amamos. Como adultos, precisamos regar quem amamos.

Breno morreu para Natália. Natália foi buscar um novo alguém para fazer brilhar. Natália encontrou alguém que a fez brilhar. 

Sobre o autor

JulioSampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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