Após deixar a condição de profissional da igreja, Ronaldo ainda enfrentou um período em que parecia perdido. Teria ele deixado a sua missão para trás? Que sentido maior teria a sua vida a partir de então?
Foi uma decisão difícil. Os pais aconselharam Ronaldo a pensar ainda mais. Amigos próximos disseram que ele iria se arrepender. Que era comum este tipo de questionamento, quando se aproxima dos 30 anos, uma espécie de crise existencial. Um de seus superiores hierárquicos destacou que era um caminho sem volta, quase que em um tom de ameaça. Outro reagiu como se Ronaldo estivesse cometendo um ato de traição e abandonando um casamento. De certa forma, era o que Ronaldo estava fazendo, deixando uma relação que começou quando ele ainda era pouco mais que um adolescente. Na ocasião, seguindo uma vocação e um sentimento de missão, Ronaldo decidiu ingressar em um seminário religioso.
Desde cedo, Ronaldo demonstrava interesse por assuntos profundos relativos à existência humana. Ainda criança, por exemplo, quis saber sobre a morte e o que acontecia depois dela. Não satisfeito com as respostas, pesquisou em livros de diferentes origens e desenvolveu a própria crença. Gostava de ir à igreja e participar das orações, ajudando na celebração. Sentia que o objetivo de sua vida era servir a Deus e a igreja parecia a maneira mais direta de fazer isso.
A família aceitou bem a ideia, sem maiores questionamentos. Se era a sua vocação e o seu desejo, por que não? Ronaldo saiu de casa e iniciou uma longa formação. O seminário era composto por diferentes fases e mais do que uma vez Ronaldo foi transferido de cidade e até de país. Os estudos eram intensos em diferentes áreas, especialmente em línguas, o que qualificaria Ronaldo para uma atuação em âmbito mundial. Pela formação que já trazia, pela inteligência que demonstrava e pela capacidade de rápida adaptação, Ronaldo era considerado pelos gestores da igreja, como uma bela promessa, um garoto de ouro.
Com o tempo, porém, Ronaldo começou a sentir-se incomodado com pequenas coisas, que se tornaram grandes. Ronaldo, como jovem, devia obediência e não tinha a autonomia que desejava. Incomodava ter de pedir permissão para tudo e de precisar seguir uma agenda que não era decidida por ele. Mesmo os conteúdos de estudo e as suas atividades eram programados pelos superiores. Desobedeceu algumas vezes, foi punido e moralmente sentia-se diminuído quando recebia sermões, como se ainda fosse um menino. Não questionava a fé em Deus, mas a subordinação aos homens. Queria ser livre para cumprir a sua missão.
Mas qual seria a sua missão? Tinha ainda forte o sentimento de que era servir a Deus, mas questionava agora se este era o melhor caminho. Em uma de suas reflexões e orações mais profundas, escreveu o que entendia ser a sua missão: “desenvolver e despertar a essência divina das pessoas”. Sim, era isto, pensou. Era este o sentido de sua existência, o que o seu coração reconhecia e que o fazia bater mais forte. Haveria diferentes meios para isto e o sacerdócio religioso seria um deles, mas não o único.
A partir daí, Ronaldo iniciou uma fase de grandes questionamentos que duraram ainda dois anos, antes de tomar a decisão, a tal que não teria retorno. Após deixar a condição de profissional da igreja, Ronaldo ainda enfrentou um período em que parecia perdido. Teria ele deixado a sua missão para trás? Que sentido maior teria a sua vida a partir de então? Foi quando o próprio Ronaldo encontrou a resposta. Seguindo a sua reflexão anterior, Ronaldo percebeu que trocara de emprego, mas não de missão. “Desenvolver e despertar a essência divina das pessoas” é o que Ronaldo faz hoje. Ronaldo é professor e coach e faz isso como um verdadeiro sacerdote.
Sobre o autor
JulioSampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
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