Média-metragem usa imagens restauradas para retratar início do comércio em Manaus

Imagens utilizadas para a produção foram encontradas no Museu da Associação Comercial do Amazonas (ACA) pelo historiador Abrahim Baze.

O setor econômico do Amazonas  é responsável por movimentar o comércio, importante aliado para a geração de empregos, sejam formais ou informais. Mas, afinal, como surgiu a movimentação do comércio e incentivo dos empresários amazonenses? Analisando o contexto histórico, a economia na Amazônia teve estopim durante o ‘ciclo da borracha‘ entre o final de 1800 e início de 1900.

Nessa época, a Amazônia era responsável pela exportação de látex, item essencial para a produção de borracha, extraída da seringueira. O mundo estava passando pelo fim da Revolução Industrial e surgimento dos primeiros automóveis. Nesse cenário, a borracha se tornou essencial para a produção dos pneus de automóveis europeus.

O ciclo da borracha ficou conhecido como Belle Époque, sob influência e interesse dos países europeus, Manaus estava se tornando uma das capitais brasileiras mais desenvolvidas, com a presença de eletricidade, museus e cinemas arquitetônicos. Com o passar do tempo, em 18 de junho de 1871 foi fundada a Associação Comercial do Amazonas (ACA), iniciativa que impulsionou o investimento de empresários do Estado. 

Foto: Jablonsky Tibor/ IBGE

De acordo com o jornalista e historiador Abrahim Baze, durante a criação da ACA, Manaus registrava 17 mil habitantes e ia conquistando notoriedade como Centro do Sertão Amazônico com comércio fortalecido nos interiores do Amazonas, onde se encontrava maior concentração da produção de borracha. Enfrentando abertura de navegação estrangeira do Rio Amazonas e impostos sobre o pirarucu e a cachaça, em mais de duas décadas de existência a ACA se tornou essencial para a ascensão do setor empresarial no Estado.

Além disso, com as isenções de impostos de produtos da Zona Franca de Manaus, houve um crescimento da renda familiar. É o que retratam os filmes média-metragem ‘Um Século de Progresso’ e ‘Museu Comercial’, produzido pela Batoque Cinematográfica, que contém imagens exclusivas com cenas de locais próximos à sede da ACA, Matriz, Eduardo Ribeiro, Porto, e ainda cenas de Manaus Antiga, por Silvino Santos. As imagens contidas no filme foram restauradas por Abrahim Baze em 2002.

Visita de diretores e autoridades ao Museu da ACA. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

ACA e Rede Amazônica 

Em comemoração aos 30 anos da Rede Amazônica, em 2002, foi realizada a exposição ‘Rede Amazônica homenageia Silvino Santos’, incentivada pelo jornalista Phelippe Daou, presidente do Grupo Rede Amazônica. Para a exposição, foram utilizadas imagens e materiais cedidos pela ACA. 

E para o trabalho de curadoria, Phelippe Daou indicou Abrahim Baze. A exposição ficou disponível no Sesc e Senac, onde eram distribuídas 15 mil refeições por dia, gerando grande visibilidade. 

“Seria uma homenagem a cidade de Manaus. Fui para a ACA, fiquei 15 dias andando por lá e descobri raridades fantásticas, como peças do Silvino coloridas a mão, fotografias raras da cidade de Manaus. No local, desci no porão acompanhado de um funcionário muito antigo de lá. Encontrei três filmes melados de acetato (produto altamente inflamável). Esse material estava em latas de alumínio, enferrujadas. Voltei para a Rede Amazônica e falei ao doutor Philippe que íamos fazer a exposição ‘Rede Amazônica homenageia Silvino Santos'”, 

contou o historiador.

Baze explicou que como o material estava armazenado inadequadamente, era necessário realizar um trabalho de restauro, que na época custava caro. No Brasil, somente os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo realizavam esse serviço. Neste ano, o país estava sob presidência de Fernando Henrique Cardoso e a Fundação Nacional de Artes (Funarte) estava sob liderança do escritor Márcio Souza.

“Eu liguei para o Márcio, no Rio de Janeiro. Ele retornou dizendo para eu ir até São Paulo, que a Funarte iria pagar todo o restauro desses filmes. A Funarte ficou com uma cópia porque eles guardavam todo o acervo da cinemateca brasileira, e isso foi feito. O doutor Phelippe custeou a minha locomoção e despesas com hotel e transporte até São Paulo. Eu passei 18 dias restaurando os filmes. Quando eu voltei naquela época eu trouxe os filmes já em material de plástico para não enferrujar, devidamente restaurado, e uma fita VHS porque na época não existia DVD”, comentou Abrahim.

Na época todo o armazenamento de imagens em fitas da Rede Amazônica ficava guardado no ‘Cedoc’, um centro de documentos refrigerado que preservava a qualidade do material. O acervo de imagens da ACA ficou guardado lá durante mais de 20 anos, sob os cuidados de Abrahim, que foi homenageado com a medalha de mérito JG Araújo, da ACA. 

“Recentemente, fui surpreendido com a publicação desse material, que homenageava o centenário da ACA. Esse filme foi pago pelos empresários da época, é um trabalho muito bonito feito pela Batoque Filmes e, de certa forma, mostra uma Manaus que já não existe mais, então é um material raro. Com o passar do tempo eu percebi que a fita cassete estava desaparecendo, que já não tinha mais nem aparelho. Então, tive o cuidado de transportar esse material de fita cassete para o DVD”,

acrescentou o historiador.

Confira o média-metragem ‘Um Século de Progresso’, uma das produções restauradas:

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