Carimbó e siriá: as principais diferenças entre dois ritmos paraenses

Embora compartilhem raízes indígenas e africanas, essas manifestações possuem identidades próprias que as distinguem na música, na dança, nas vestimentas e em suas origens simbólicas.

Fotos: Reprodução/Prefeitura de Belém

No coração da cultura paraense, dois ritmos dançam entre a ancestralidade e a resistência: o carimbó e o siriá. Embora compartilhem raízes indígenas e africanas, essas manifestações possuem identidades próprias que as distinguem na música, na dança, nas vestimentas e em suas origens simbólicas.

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A equipe do Portal Amazônia procurou pelas principais diferenças entre as danças que são sensações no Pará. Confira:

Carimbó

Originário da região do Salgado, próximo a Belém, o carimbó tem seu nome derivado do tupi: curi (pau oco) e mbó (furado), referindo-se ao tambor com que se marca seu ritmo envolvente.

A dança carrega a força dos povos indígenas com uma batida forte herdada dos africanos escravizados, tornando-se, ao longo do tempo, uma expressão vibrante e coletiva da cultura amazônica.

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Na coreografia, o homem convida a parceira para a dança com palmas e, juntos, os casais formam uma roda animada. A mulher gira, tentando lançar a saia sobre o rosto do parceiro. Caso consiga, ele é desmoralizado e precisa deixar a roda. Um dos momentos mais esperados é a chamada ‘dança do peru’, em que o homem deve pegar um lenço com a boca, uma prova de agilidade e galanteria.

O vestuário é colorido e simples: mulheres de saias floridas e blusas brancas, homens com calças curtas e camisas estampadas. Todos dançam descalços, em uma celebração que é tanto artística quanto simbólica. Figuras como Mestre Verequete, Mestre Cupijó, Pinduca e Mestre Lucindo foram responsáveis por difundir o carimbó e adaptá-lo a sonoridades mais modernas, influenciando inclusive ritmos como a lambada e o zouk.

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Foto: Reprodução/Gustavo Serrate

Siriá

Se o carimbó nasce da musicalidade cotidiana, o siriá brota de um gesto de agradecimento. Em Cametá, conta-se que escravos e indígenas, após um dia de trabalho árduo, encontraram grande quantidade de siris que se deixavam apanhar facilmente. Vendo nisso um milagre, criaram uma dança para agradecer, a batizando de Siriá, uma distorção fonética típica da região amazônica.

Com base no batuque africano, o siriá apresenta um compasso que começa lento e vai acelerando, acompanhando os versos entoados durante a coreografia. Os casais fazem volteios com o corpo inclinado para os lados, em um balé que exalta a resistência cultural e a alegria de viver.

As vestimentas lembram as do carimbó, mas com variações: as mulheres usam saias rodadas com blusas rendadas, colares e enfeites na cabeça. Os homens se destacam pelos chapéus de palha adornados com flores, que as mulheres retiram em sinal de contentamento. A música, o canto e o ritmo do Siriá ainda ecoam em festas tradicionais e apresentações folclóricas.

Foto: Arquivo/Agência Pará

Expressões distintas

Embora ambos compartilhem a influência de povos originários e africanos, o carimbó e o siriá expressam diferentes narrativas: o primeiro, um jogo de conquista e brincadeira, marcado por passos coreografados e desafios simbólicos; o segundo, um agradecimento coletivo que transforma um episódio de sobrevivência em arte.

No Pará, terra de ritmos e tradições vivas, esses dois estilos continuam sendo celebrados e reinterpretados por novas gerações. Carimbó e Siriá são mais que danças: são manifestações que resistem ao tempo, fortalecendo a identidade cultural amazônica com cada batida, giro e verso entoado.

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