Mais de 60 autoridades e especialistas do Peru, Brasil e Colômbia trocaram opiniões e experiências sobre a extração ilegal de madeira no ‘Trapézio Amazônico’ e na região da Tríplice Fronteira, uma atividade que prejudica as comunidades locais e as economias de ambos os países.
Os debates ocorreram no Fórum Regional sobre Cooperação Operacional: Coordenação Transfronteiriça em Casos de Crimes Florestais, realizado em Iquitos (Peru) e organizado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em coordenação com a Agência de Supervisão de Recursos Florestais e de Vida Selvagem (OSINFOR) e a Interpol.
O encontro ocorreu durante três dias, com a participação de policiais, promotores e representantes de ministérios, órgãos ambientais e organizações internacionais.
O objetivo do workshop era fortalecer a cooperação transfronteiriça para prevenir, detectar e investigar crimes florestais, compartilhando informações importantes sobre rotas ilegais e modus operandi .
Neste contexto, foram realizadas simulações de campo utilizando técnicas de pesquisa, e demonstrado o uso de imagens de satélite e algoritmos de detecção de registro seletivo baseados em inteligência artificial.
Durante o evento, o chefe da OSINFOR, Williams Arellano Olano, destacou a importância de compartilhar experiências no uso de ferramentas tecnológicas para monitorar florestas e a exploração da região.
Ele afirmou que a agência que supervisiona implementou metodologias de detecção seletiva de exploração madeireira e sistemas de alerta precoce baseados em imagens de satélite, drones e algoritmos especializados para garantir a origem legal da madeira.
Os participantes do workshop também identificaram áreas de exploração onde estão ocorrendo atividades que afetam a Amazônia, como mineração ilegal, plantações ilícitas, desmatamento e extração ilegal de madeira, bem como rotas transfronteiriças para essas atividades ilegais.
Também foi estabelecida uma estrutura de cooperação com base na coleta e análise de informações , detecção precoce por meio de novas tecnologias e planejamento de investigações conjuntas e operações coordenadas em território compartilhado.
“A cada minuto, uma área de floresta é perdida na Amazônia, enquanto as economias ilegais continuam a avançar”, disse Alek Arora, representante do UNODC. “Se trabalharmos juntos, seremos capazes de prevenir, combater e desmantelar as redes que ameaçam as florestas”.
Alimentos foram arrecadados no ‘Pesque e Troque’. Foto: Sal Lima/GEA
Aliar diversão e ainda ajudar o próximo foi o foco do “Troque e Pesque”, ação promovida pelo Governo do Estado durante a 54ª Expofeira do Amapá. Durante as atividades realizadas dentro da ação, no Parque de Exposições da Fazendinha, foram arrecadados 1,5 toneladas de alimentos para serem distribuídos a entidades beneficentes.
O evento, coordenado pela Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura (Sepaq), reuniu mais de 4 mil pessoas com a proposta de, além de promover um espaço de lazer, auxiliar em ações sociais com a doação de um quilo de alimento não perecível, exceto sal, que dava direito à pescaria.
“O balanço do Pesque e Troque foi extraordinário, e todas as atividades que fizemos foram ótimas. A pesca é a terceira maior atividade econômica do estado, e precisa ser potencializada. Além disso, é uma oportunidade de aliviar o estresse com a família e de se aproximar de mais pessoas”, declarou Paulo Nogueira, titular da Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura (Sepaq).
Ao longo da programação também ocorreu o ‘Sexta Elas Pescam’, voltado totalmente para o público feminino, com atividades que incluíram massagens, cortes de cabelo e limpeza de pele. A data temática arrecadou mais de 300 kits de higiene pessoal.
O número de mulheres e crianças que participaram do Troque e Pesca superou a dos anos anteriores. Nesta edição, homens, mulheres e crianças concorreram a premiações exclusivas para cada público.
“Estamos encerrando a programação com mais de 100 peixes pescados nessa última manhã. Todos os dias vieram muitas pessoas, foi um sucesso. Atendemos a pedidos de reservarmos uma programação especial para as mulheres, isso foi uma sugestão delas durante a edição do ano anterior”, disse Deurio Freitas, coordenador de Mercado e Comercialização da Sepaq.
Foto: Sal Lima/GEA
Coleta de resíduos na Expofeira
Outro número que chama a atenção é referente à coleta de resíduos nos seis primeiros dias da Expofeira. Foram mais de nove toneladas de resíduos sólidos por meio da coleta seletiva no Parque de Exposições da Fazendinha, em Macapá. A ação tem como objetivo conscientizar a população sobre a conservação e incentivar a educação ambiental.
O trabalho consiste no recolhimento de materiais como vidro, plástico, metal e resíduos orgânicos. A coleta seletiva é coordenada pela Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Setec).
“Incentivar a educação ambiental e a economia circular é uma das prioridades da atual gestão. Os resíduos coletados deixarão de ir para o lixão de Macapá e se transformarão em novos produtos, impactando diretamente ações de conservação ambiental”, destacou Edivan Andrade, Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação (Setec).
Foto: Flávio Sousa/Setec AP
Para a realização da coleta seletiva, foram contratadas empresas amapaenses especializadas na gestão de resíduos sólidos como a Vitrum, que reaproveita garrafas de vidro para produzir areia.
Foram coletados 932,7 quilos de resíduos reciclados, 88,9% de taxa de reciclagem e a ação alcançou mais de duas mil pessoas durante o evento.
Atualmente, cerca de 50 profissionais estão atuando, direta ou indiretamente, na coleta de resíduos sólidos na Expofeira e a expectativa é de que mais de 20 toneladas de materiais sejam recolhidos até o final da feira.
Expofeira na Rede
A Expofeira na Rede tem o objetivo de valorizar e ampliar o impacto social, cultural, econômico e turístico da tradicional ExpoFeira do Amapá. É uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio do Grupo Equatorial, Tratalyx e Governo do Amapá.
Criadores locais que disseminam a cultura Amazônica. Foto: Kwai/Divulgação
A plataforma Kwai, aplicativo de criação e compartilhamento de vídeos curtos, em comemoração ao Dia da Amazônia, indica influenciadores locais para quem deseja mergulhar na cultura amazônica.
Esses influenciadores, utilizam o aplicativo como um espaço que valoriza que amplifica vozes autênticas, promovendo conexões reais com quem vive e respira a riqueza dessa região.
Isabelle Nogueira simboliza a força e tradição amazônida. Foto: Divulgação
Reforçando essa conexão com as raízes brasileiras, a plataforma mantém parcerias com personalidades que representam a diversidade cultural do país. Um exemplo é a colaboração com Isabelle Nogueira, cunhã-poranga do Boi Garantido, ex-participante do BBB e com 1 milhão de seguidores no app – ela simboliza a força e tradição amazônida.
Além de Isabelle, outros criadores se destacam no aplicativo ao compartilhar as belezas naturais, a culinária, a música e as tradições dos estados da região amazônica. É o caso de alessandraaraujo, a “blogueira raiz” do Tocantins. Alessandra Araújo conquistou os 1,6 milhão de seguidores que acompanham sua criatividade e seu talento, especialmente nas recriações de trajes inspirados em celebridades. Seu trabalho rendeu o Prêmio Kwai 2024 na categoria “Faça Você Mesmo”, com um impressionante vestido artesanal feito com palha de milho.
Outro exemplo é coracaodoacre, perfil de Débora, que compartilha com mais de 0,5 milhão de seguidores sua rotina como agricultora no Acre, estado que faz divisa com o Peru. O perfil brudiro, com mais de 428 mil seguidores e 6 milhões de curtidas, retrata toda a beleza, a cultura e os pontos turísticos de Belém do Pará, oferecendo um olhar autêntico sobre a capital paraense.
Já o raphaelcamposo, com mais de 225 mil seguidores, combina experiências gastronômicas de Manaus (AM) com receitas exclusivas, tornando-se um perfil completo para quem gosta de conhecer um lugar por meio de sua culinária.
Outro destaque é o Festival de Parintins, uma das maiores festas folclóricas do Brasil, realizada anualmente em Parintins (AM). A celebração, que gira em torno da rivalidade entre os bois-bumbás Caprichoso (azul) e Garantido (vermelho), ganhou ainda mais visibilidade após a participação de Isabelle Nogueira no BBB 24. No Kwai, os perfis oficiais Caprichoso e Garantido permitem acompanhar de perto toda a tradição e festividade que envolvem rituais indígenas, costumes ribeirinhos e lendas amazônicas.
Com uma abordagem que combina tecnologia e representatividade, o Kwai se diferencia ao apostar em conteúdos que refletem a pluralidade cultural do Brasil. Aliado a um algoritmo democrático que garante visibilidade a criadores de todos os tamanhos, o aplicativo se consolida como um ambiente genuíno, onde diferentes histórias podem ser contadas e celebradas.
Sobre o Kwai
Um dos aplicativos de vídeo gratuitos mais populares do Brasil, o Kwai permite que os usuários criem seu próprio conteúdo e compartilhem as produções online de forma fácil, inclusiva e acessível usando apenas o celular.
O rio Amazonas rugia e inspirava admiração. Suas águas haviam subido consideravelmente devido às chuvas intensas acompanhadas de tempestades, mas o objetivo era claro: a expedição científica multidisciplinar chegou a Pebas, na região de Loreto, no Peru, pela primeira vez, em busca da origem e evolução da biodiversidade da Amazônia peruana. O paleontólogo peruano Rodolfo Salas-Gismondi, que lidera a expedição, garante que foi “um sucesso”.
“Como resultado desta primeira expedição — de 10 a 24 de agosto — posso dizer que foi um sucesso retumbante, apesar das circunstâncias não serem as mais favoráveis , porque este ano a estação seca não foi tão seca como nos outros anos: choveu muito e o nível do Rio Amazonas estava muito alto”, observou.
“A maioria dessas rochas ainda estava sob o Rio Amazonas; chovia todos os dias e houve tempestades tremendas que nos impediram de trabalhar em algumas ocasiões. No entanto, conseguimos superar essa situação e encontramos muitos fósseis”, disse ele.
O pesquisador da Universidade Peruana Cayetano Heredia (UPCH) afirmou que “na área de Pebas, encontramos sítios paleontológicos promissores; sítios onde descobrimos fósseis que ainda não conseguimos reconhecer porque são diferentes daqueles que encontramos perto de Iquitos. Isso significa que ainda há muito a descobrir”.
Quase 150 quilos de carga
“Há um osso em particular que não sabemos a que pertence, mas é de um animal grande. Temos muita experiência e somos capazes de reconhecer a anatomia de quase todos os animais que viveram naquela época que conhecemos, mas há alguns que ainda não conhecemos”, explicou ele à Agência Andina de Notícias.
Salas-Gismondi afirmou que muitos restos de animais antigos foram descobertos. “Conseguimos fazer coleções significativas. Trouxemos quase 150 quilos de carga, incluindo fósseis de vertebrados, alguns invertebrados, troncos de árvores fossilizados e sedimentos”, explicou.
Outro fóssil encontrado na área é um crânio de Gnatusuchus pebasensis , um jacaré super-raro que existiu no sistema Pebas — o coração do conhecimento da Formação Pebas — e do qual existia apenas um crânio.
“Agora temos um segundo crânio, mas este está em bom estado de preservação; o primeiro foi esmagado e a geometria exata do crânio não pôde ser vista. Neste, podemos ver como era o focinho levantado. É um verdadeiro deleite; estamos muito felizes por tê-lo descoberto”, disse ele.
Ancestral do jacaré branco?
Cientistas também descobriram os restos mortais de um jacaré que se acredita ser parente do jacaré branco encontrado na Amazônia, e esta é uma “descoberta extraordinária porque não havia registro fóssil do jacaré branco”.
“Não sabíamos quando ele surgiu, e parece ser anterior à formação do Rio Amazonas. Isso é interessante porque ele sobreviveu a muitas mudanças ambientais na Amazônia, o que reforça a ideia de que esse jacaré é muito versátil ecologicamente”, disse ele.
Fotos: Rodolfo Salas-Gismondi
Segundo o pesquisador, isso pode explicar por que ele é um dos jacarés menos afetados pelo desmatamento, pela poluição e pelas mudanças em seu habitat (a Amazônia), devido ao avanço da agricultura, por exemplo.
“O jacaré-branco não está em perigo de extinção, e a história do registro fóssil provavelmente apoia, em parte, o motivo disso; claro, esta é uma hipótese preliminar, que pode demonstrar o valor do registro fóssil para a conservação da nossa Amazônia”, disse ele.
Além disso, ele disse, essas novas descobertas “estão testando a hipótese de que o sistema Pebas contribuiu crucialmente para a biodiversidade amazônica atual”.
O próximo passo será processar o material coletado em Pebas. “Você pode imaginar que a primeira coisa que vamos começar a preparar e limpar será o crânio do Gnatusuchus pebasensis e do jacaré-branco, ou seu ancestral. Depois, começaremos a investigar o que descobrimos “, disse ele.
A equipe também se concentrou “em entender um pouco mais sobre a idade da Formação Pebas, porque não sabemos a idade exata dos fósseis; parece que isso vai mudar um pouco. As paleontólogas Julia Tejada (Peru) e Carina Hoorn (Holanda) estão trabalhando nessa tarefa”.
Ele destacou a participação da paleontóloga holandesa Carina Hoorn, que deu nome à Formação Pebas. “Foi realmente um privilégio tê-la conosco e sua colega Julia Tejada, que, com sua equipe, conseguiu coletar dados para estabelecer com mais precisão as idades dos fósseis. Isso é fundamental ”, concluiu.
O cientista da UPCH atribuiu o “sucesso retumbante” desta primeira expedição ao fato de ter sido uma equipe de cerca de 20 profissionais altamente experientes que trabalharam muitos dias, o que lhes permitiu visitar diferentes locais.
“Somos um grupo multidisciplinar com pessoas trabalhando em diversos aspectos, buscando informações de diferentes perspectivas sobre a história da Amazônia peruana, contada pelas rochas da Formação Pebas”, comentou.
Foto: Rodolfo Salas-Gismondi
Ele destacou o envolvimento do paleontólogo John Flynn, do Museu Americano de História Natural, em Nova York, Estados Unidos, que “está envolvido conosco desde os primeiros anos e foi fundamental nos resultados devido ao seu conhecimento de mamíferos fósseis sul-americanos”.
“Ele, junto com outros cientistas franceses, foi o primeiro pesquisador a descobrir ossos na área de Pebas em 2002. Foi aí que essa aventura começou “, disse ele. A expedição a Pebas faz parte do projeto de pesquisa “Registro Fóssil de Loreto: Arquivos sobre a Origem da Biodiversidade Amazônica”, que será financiado com 500.000 soles pelo Programa Nacional de Pesquisa Científica e Estudos Avançados (ProCiencia), órgão executor do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação Tecnológica (Concytec).
Próxima expedição
A equipe multidisciplinar acaba de retornar de Loreto, mas já planeja a próxima expedição, que será ao rio Napo em fevereiro de 2026 , “ao local onde foi descoberto o Pebanista yacuruna , o maior golfinho de rio do planeta e que é parente dos golfinhos que vivem no rio Ganges, na Índia, um dos mais importantes da Ásia.
“Já discutimos isso com a equipe e achamos crucial ir em fevereiro, que é a estação seca do Napo. Chegamos ao Napo em agosto de 2024, mas não foi o melhor mês porque o rio estava um pouco alto; no entanto, encontramos algumas coisas interessantes”, lembrou.
“Vamos ver que surpresas este fantástico sítio paleontológico nos reserva. Estamos planejando ir ao Rio Napo para procurar golfinhos. Acho que isso complementará muito bem o trabalho que fizemos em Pebas “, disse ele.
Um jogo digital, criado por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), para auxiliar pessoas de diferentes faixas etárias a compreenderem a evolução e classificação de espécies animais, está sendo utilizado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro, com muito entusiasmo. “Filogenia dos vertebrados” leva o usuário a comparar, por exemplo, espécies de mamíferos com características semelhantes, para então deduzir se os animais pertencem ao mesmo grupo ou a grupos diferentes.
Responsável pela elaboração do jogo, o biólogo Alexandre Bonaldo ressalta a importância de democratizar informações científicas como estas.
“O pensamento evolutivo é uma das grandes conquistas do método científico. Todas as pessoas têm o direito de ter acesso aos conceitos que definem esse pensamento, mesmo que isso tenha pouco a ver com suas realidades ou mesmo as confronte com seus sistemas de crença. A própria ideia de preservação da natureza surge do Iluminismo, ao recolocar a humanidade de volta, ao lado dos outros organismos. Só podemos preservar aquilo que entendemos como importante”, argumenta.
Para ilustrar as minúcias do desafio proposto pelo jogo, o biólogo Horácio Higuchi, parceiro de Bonaldo na construção do jogo, menciona o grupo de marsupiais, conhecidos, em especial, por darem à luz filhotes prematuros que se arrastam para dentro de uma bolsa na barriga da mãe, onde se fixam aos mamilos e se alimentam até completar seu desenvolvimento. Entre eles estão os cangurus e os gambás.
“Há alguns que se parecem muito com cachorros (o lobo-da-tasmânia, Thylacinus) e outros que lembram ratos (o gambá ou sariguê, Didelphis), embora não tenham parentesco próximo com cães ou roedores”, contrasta.
O fato é que, com a emergência da Teoria da Evolução, considera-se fundamental para uma classificação zoológica consistente o agrupamento de animais por meio da existência de um ancestral comum, do qual ao menos uma característica singular entre os animais é a base desse agrupamento.
O especialista destaca que, para fazer isso, deve-se examinar profundamente cada representante desses grupos à procura de alguma característica que só ele e seus parentes próximos apresentem. Horácio Higuchi detalha que “essa característica deve ser uma novidade na história evolutiva do grupo, ou algo que se modificou a partir de uma forma ancestral de aspecto diferente”.
Alexandre BonaldoHorácio HiguchiEmanoel Jr.
Desafio
Na prática, várias características são examinadas e, muitas vezes, elas podem ser conflitantes. O lobo-da-tasmânia, por exemplo, tem focinho, orelhas, cauda e porte de cachorro, assim como o gambá em relação ao rato; entretanto, os dois animais têm em comum algo que cães e roedores não têm: o marsúpio (bolsa ventral). “Isso significa que o ancestral comum dos marsupiais tinha essa bolsa e que os ancestrais desse ancestral ou não a possuíam, ou a tinham num aspecto diferente”, justifica Horácio.
Bonaldo explica que “o jogo da árvore evolutiva pode ser adaptado para qualquer grupo de organismos, o que dá à proposta uma grande flexibilidade para atender públicos diferentes. Por exemplo, ao invés da história geral dos vertebrados, como feito na versão original, pode-se optar por mostrar a evolução de um grupo de aves amazônicas, em função da separação de suas populações ancestrais por barreiras históricas, como os grandes rios. Poderíamos até mesmo mostrar a formação histórica de palavras comuns em diferentes línguas, como exemplo da evolução da linguagem em culturas humanas. Então, esse é um instrumento para contar a história comum que nós humanos temos com o planeta”.
O jogo
O aplicativo criado pelos pesquisadores do Museu Goeldi surgiu da necessidade de traduzir alguns conceitos científicos básicos sobre evolução de uma forma lúdica.
“Uma das ideias que pretendíamos passar é a de que os clados, ou seja, as linhagens de animais e plantas que compartilham ancestrais comuns, são entidades históricas, reconhecidas por características derivadas únicas. Considerando que a proposta da exposição foi de abranger um público amplo, essa atração específica deveria se dirigir a estudantes de ensino médio e superior, mas também ser acessível e atraente para todos os públicos”, relembra Bonaldo.
O jogador vai se deparar, inicialmente, com três grupos de organismos, número mínimo para serem estabelecidas hipóteses de classificação. E, para os três grupos de organismos, uma série de características é oferecida, sendo apenas uma a correta.
O usuário passa de fase à medida em que acerta as características derivadas que indicam as relações evolutivas entre os organismos apresentados. Em cada fase subsequente, um novo clado é adicionado e novas características são apresentadas. Este processo se repete até que se complete a árvore filogenética.
“No caso da exposição permanente, escolhemos representar a evolução dos vertebrados, incluindo peixes, répteis e nós, mamíferos. Mas o programa pode ser adaptado para contar a história evolutiva de qualquer grupo biológico. Esse tipo de abordagem, em que se propõem ao público a construção de filogenias através de ferramentas interativas, é comum em museus do exterior, e tem se mostrado importante na tarefa de transmitir conceitos científicos para o público em geral, especialmente em um momento em que se prega o negacionismo”, aponta Bonaldo.
Parceria
Professora do Departamento de Neurobiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), a bióloga Lucianne Fragel explica que a instituição estreou, em agosto, o jogo criado pelo Museu Goeldi, durante a realização do Ciência sob Tendas, centro de ciências itinerante sediado em Niterói. A programação da universidade integra a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e inclui atividades de anatomia comparada, tanto com animais marinhos quanto com animais terrestres, a partir de fragmentos, como ossos de tartaruga e mandíbula de tubarão.
“Funcionou super bem. Todas as nossas atividades são mediadas por alunos de graduação e pós-graduação. Mas, a ideia era deixar o jogo livre para que o público pudesse jogar. Estamos atendendo uma escola no município do interior do Rio de Janeiro, que é Cordeiro”, conta ela, reafirmando a intenção de oferecer “uma atividade conjunta, com uma parte de manipulação animal e uma parte digital”, disse.
Titular da Coordenação de Museologia do Museu Goeldi, Emanoel Fernandes de Oliveira Júnior contextualiza que o jogo foi desenvolvido no âmbito da exposição “Diversidades amazônicas”, aberta ao público em setembro de 2022, com o objetivo de instigar os visitantes a interagir com os conteúdos propostos pelo eixo “Espécies”, um dos cinco que compõem a mostra original. “A cessão de uso do jogo faz parte de uma colaboração que o Museu Goeldi está construindo com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e que se iniciou nos primeiros meses deste ano”, relembra. A parceria estende para o interior do Rio de Janeiro uma experiência que estava restrita aos visitantes do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, em Belém.
“Seguimos trabalhando no incremento desta mostra e estamos tentando entender, a partir de informações coletadas junto ao público, que outros conteúdos podem ser associados a este aplicativo no intuito de otimizar a experiência dos visitantes com ele. O certo é que este é um recurso muito interessante, que facilita a compreensão em torno das origens e da expansão da biodiversidade na Amazônia”, conclui Emanoel.
O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou a Resolução nº 30, de 29 de agosto de 2025, que aprova a nova carteira de projetos do Chamamento Público nº 1/2024, no último dia 2. Coordenada pelo Comitê Gestor do Pró-Amazônia Legal (CGPAL), a medida reúne 14 propostas apresentadas por quatro proponentes, com investimentos totais estimados em R$ 829 milhões. Desse montante, R$ 510 milhões serão aportados pelo programa, representando um reforço de R$ 138 milhões além do previsto inicialmente.
A iniciativa vai transformar a matriz energética em localidades da Amazônia Legal. Os projetos vão beneficiar diretamente 652 mil pessoas em 36 localidades, ampliando a segurança energética, a sustentabilidade e a redução estrutural dos custos de geração. A expectativa é de economia de 270 milhões de litros de diesel e redução de mais de 800 mil toneladas de CO₂ em emissões.
Entre os projetos aprovados estão soluções inovadoras, como a hibridização de usinas térmicas com energia solar fotovoltaica e sistemas de armazenamento em baterias, além da modernização da iluminação pública em municípios estratégicos. As propostas aprovadas foram apresentadas pelas Empresas Eletrobras, Aggreko, Oliveira Energia e Roraima Energia, que vão executar os empreendimentos. O desenvolvimento dos projetos será em parceria com a Eletrobras.
“Estamos dando um passo importante para diminuir a dependência do diesel e ampliar o uso de fontes limpas nas usinas em operação, ao mesmo tempo em que reduzimos a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) e levamos energia mais estável e sustentável para a população amazônica”, destacou o presidente do CGPAL e secretário Nacional de Transição Energética do MME, Gustavo Cerqueira Ataide.
Sede da Roraima Energia. Foto: Reprodução/Roraima Energia
Com foco em eficiência e sustentabilidade, 90% dos recursos destinados serão aplicados em projetos para a instalação de usinas solares fotovoltaicas e sistemas de armazenamento em localidades como Tefé, Tabatinga e Benjamin Constant (AM), R$ 11,7 milhões dos recursos foram destinados para soluções específicas para comunidades de Roraima, como Santa Maria do Boiaçu e Vila Caicubi, que passarão a contar com solução estrutural de geração de energia elétrica.
Também estão previstas iniciativas de modernização da iluminação pública em Oiapoque (AP) e outros municípios, com retrofitting de lâmpadas e capacitação de técnicos locais. Essas ações não apenas reduzem custos, mas também geram benefícios sociais, estimulando desenvolvimento regional, empreendedorismo e melhoria da qualidade de vida.
A decisão de ampliar o orçamento destinado ao edital demonstra a prioridade do Governo Federal em garantir que propostas viáveis e com forte impacto econômico e ambiental sejam contempladas. Segundo a análise, os recursos da Conta de Desenvolvimento da Amazônia Legal (CDAL) serão suficientes para assegurar a execução integral dos projetos até o final de sua vigência, preservando margem positiva de recursos ao longo de todo o período. Isso garante previsibilidade, transparência e segurança na aplicação dos investimentos.
Os próximos passos incluem o acompanhamento direto do MME e da Eletrobrás junto aos agentes executores, para assegurar a rápida implementação das propostas aprovadas. Além disso, o Comitê Gestor seguirá avaliando novas soluções e mecanismos para uso dos recursos para sistemas isolados e discutindo avanços no projeto de navegabilidade do Rio Madeira e do Rio Tocantins, junto aos representantes do Ministério de Portos ampliando a integração energética e logística na região. A medida se soma a outras iniciativas do Programa Energias da Amazônia, fortalecendo o compromisso do Brasil com a transição energética justa e inclusiva.
Machos de Poecilaemula lavarrei podem ser delicados ou robustos, com garras fortes. Foto: Glauco Machado
Durante o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), entre 2018 e 2024, a bióloga Bruna Cassettari passou boa parte do tempo no laboratório observando a cópula de casais de opiliões, aracnídeos cujo corpo tem cerca de 5 milímetros (mm) de comprimento, sem contar as longas pernas – com elas, o conjunto chega a 5 centímetros (cm).
Assim como muitas desse grupo, a espécie estudada (Poecilaemula lavarrei), que vive na Amazônia, tem dois tipos de macho: um territorialista com garras fortes e um invasor sorrateiro com garras pequenas.
Sob uma tênue luz vermelha, que permitia filmar sem afugentar os animais, que são noturnos, a bióloga colocava um macho territorialista e uma fêmea sobre um pedaço de tronco, imitando seu ambiente natural. Eles logo se atracavam, e o cortejo e a cópula duravam cerca de 10 minutos. Alternativamente, Cassettari introduzia um macho furtivo que, se cativasse a parceira, copulava.
“Na cópula, o ritual dos dois tipos de macho é semelhante”, conta Cassettari. “Eles mordiscam a fêmea em várias partes do corpo com seu par de garras, chamadas quelíceras, que ficam ao lado da boca e servem para caçar, e roçam intensamente suas pernas nas delas”.
Segundo a bióloga, se não estiver satisfeita com o pretendente, a fêmea abaixa a parte da frente do corpo, impedindo o acesso aos órgãos genitais. O macho pode insistir com toques mais intensos e, apenas se convencê-la de seus encantos, ela levanta o corpo e o macho consegue penetrá-la. Depois de 90 experimentos de formação de casais, os dois tipos de macho tiveram êxito semelhante. As fêmeas cruzaram com 87% dos machos fortes e 89% dos fracos, segundo artigo publicado em julho na revista científica Evolution.
“Os opiliões vivem em um universo sensorial completamente diferente do nosso”, observa o biólogo Glauco Machado, da USP, orientador do trabalho. Eles são praticamente cegos e usam o sentido do olfato para detectar outros animais. “Mas eles não têm narinas e seus órgãos olfativos ficam distribuídos na superfície do corpo”, descreve. “O olfato só funciona pelo toque ou a pequenas distâncias”.
Macho forte de Serracutisoma proximum protege a fêmea depois da cópula. Foto: Paulo Mascaretti
O grande diferencial dos machos dominantes em relação aos sorrateiros é o tamanho de suas quelíceras, com 4 mm de comprimento, que usam para caçar e atacar outros machos. Quando dois machos dominantes disputam o território, a briga é violenta: um deles foge sob a ameaça de perder uma perna, que o perseguidor pode arrancar com suas garras. Os machos sorrateiros, por terem quelíceras mais leves, de cerca de 1,5 mm de comprimento, conseguem fugir com mais rapidez.
“Como os machos menores têm desvantagem em relação ao território e às brigas, desconfiamos que adotariam alguma estratégia para compensar”, relata Cassettari, primeira autora do trabalho que contou com apoio da FAPESP, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Fundo de Pesquisa da Sociedade Aracnológica Americana. Uma análise ao microscópio revelou proporções diferentes entre as partes do pênis na comparação entre os dois tipos de macho.
A fêmea tem papel mais ativo do que o normal na reprodução. Como o espermatozoide dos opiliões não é móvel, ao contrário da maioria dos animais, elas contraem a musculatura da vagina empurrando os gametas masculinos em direção ao órgão de armazenamento espermático. Segundo Machado, é possível que a fêmea use essa habilidade para selecionar o esperma do macho de sua preferência, como acontece com alguns outros animais. “Se a contração ocorrer nos dois sentidos, a fêmea talvez possa eliminar o esperma do macho indesejado e sorver o do seu preferido”, propõe.
“Até onde eu saiba, essa é a primeira descrição de uma diferença, ainda que sutil, entre os órgãos genitais masculinos de uma espécie com duas formas de macho”, reconhece a bióloga argentina Mariela Oviedo-Diego, do Museu Nacional de História Natural Smithsonian, em Washington, Estados Unidos, em entrevista por chamada de vídeo a Pesquisa FAPESP. Segundo ela, é um dos trabalhos mais minuciosos sobre as diferenças apontadas no estudo. “A pesquisa relaciona de forma detalhada o comportamento e a morfologia”.
A estratégia dos opiliões sorrateiros pode variar. Em uma espécie da Mata Atlântica (Serracutisoma proximum), o macho forte acompanha a fêmea depois da cópula, protegendo-a de outros machos. O macho fraco se aproxima sorrateiramente, sem ser notado, e copula enquanto ela põe os ovos fecundados pelo macho forte.
Segundo Machado, o mais antigo pênis de opilião ficou registrado em um fóssil de cerca de 430 milhões de anos, mas não se sabe quando surgiram formas distintas dentro da mesma espécie. Embora rara, a existência de diferenças no mesmo sexo reapareceu, de forma independente, em algumas espécies de insetos, aranhas, peixes e lagartos.
“Machos dominantes e sorrateiros são geneticamente idênticos”, observa Machado. Segundo o biólogo, uma interação entre genética e ambiente determina o tipo de macho. Quando o macho come muito, um conjunto de genes é ativado, fazendo com que suas quelíceras fiquem mais robustas. Nos que se alimentam menos, outro conjunto de genes é ativado, que inibem o desenvolvimento dessas estruturas. Ser um macho musculoso não significa que seus filhotes serão a cara do pai. Se no ano seguinte o clima fica mais seco e os rebentos têm pouca comida, a tendência é que grande parte se torne sorrateira.
O comportamento pode variar conforme as circunstâncias. Segundo Machado, quando o macho dominante não tem território, ele pode se comportar como sorrateiro. “Já o macho sorrateiro, que tem quelíceras pequenas, não pode mudar a estratégia, pois seria incapaz de defender o território”, ressalta o biólogo.
A reportagem acima foi publicada com o título “Um aracnídeo com duas formas de macho” na edição impressa nº 355 de setembro de 2025 da Revista Pesquisa Fapesp.
Projetos 1. Dimorfismo intrassexual masculino e táticas alternativas de reprodução: Uma abordagem multidisciplinar (nº 21/00915-5); Modalidade Auxílio à pesquisa – Regular; Programa Biota; Pesquisador responsável Glauco Machado (USP); Investimento R$ 268.971,01. 2. Evolução da complexidade genital: Uma abordagem evo-devo utilizando pentatomídeos como modelos (nº 18/18184-4); Modalidade Bolsa de Pós-doutorado; Pesquisadora responsável Tatiana Teixeira Torres (USP); Bolsista Bruno Celso Feltrin Genevcius; Investimento R$ 313.641,63.
Especialistas destacam a importância de se proteger as árvores gigantes. Foto: Rafael Aleixo/GEA
Uma enorme capacidade de capturar gás carbônico (CO₂), um importante papel na distribuição das chuvas no país e o atributo de guardar a história e os ciclos da Amazônia. Esses são alguns dos serviços prestados por árvores gigantes presentes no Norte do Brasil, especialmente o angelim-vermelho (Dinizia excelsa). No Dia da Amazônia, em 5 de setembro, especialistas ouvidos pela Agência Brasil destacam a importância de se proteger essas espécies, que podem ultrapassar 80 metros de altura.
A presença dessas árvores gigantes na Floresta Amazônica foi evidenciada pela ciência recentemente. Em 2019, foram encontrados os primeiros exemplares e, em 2022, a localização de um angelim-vermelho de 88,5 m de altura, equivalente a um prédio de 30 andares, revelou a maior árvore do Brasil, no município de Almeirim (PA).
Ao todo, foram localizados 20 exemplares com mais de 70 m em uma área que se estende pelas proximidades do Rio Jari, na divisa dos estados do Pará e Amapá. Os pesquisadores que participaram da descoberta iniciaram imediatamente estudos para entender melhor as condições que levaram ao crescimento e todo o potencial desses angelins-vermelhos.
“Essas árvores apresentam praticamente o dobro de tamanho das alturas médias das espécies amazônicas, que ficam em torno de 40 a 50 metros. Então, a gente está falando de árvores que absorvem o dobro de carbono e, portanto, podem contribuir o dobro para a regulação de clima”, explica o pesquisador do Instituto Federal do Amapá (IFAP) Diego Armando Silva.
Embora os estudos ainda estejam em andamento, o pesquisador diz que algumas teses já apontam os caminhos a serem investigados. “Uma estimativa que a gente tem aqui é que uma única árvore dessa representa em torno de 80% da biomassa da parcela [área aproximada de 1 hectare] em que essa árvore está inserida.”
Essa estimativa leva diretamente a uma relação de que um único indivíduo com essas características pode ser capaz de absorver 80% do CO₂ em toda essa área estudada. Mas, segundo Silva, ainda são necessários muitos estudos para a compreender melhor se essas árvores também emitem grandes volumes de gás carbônico, o quanto elas contribuem para captura e lançamento de água na atmosfera e até para confirmar a idade de cada uma.
“A gente recebeu o interesse de um grupo de pesquisadores para fazer o estudo de datação de idade de cedros, espécie que consegue demarcar muito claramente os anéis de crescimento, em torno dos angelins. Eles chegaram à idade aproximada de 260 anos. A partir dai traçamos uma estimativa de que esses angelins-vermelhos têm em torno de 400 a 500 anos”, diz o pesquisador.
Angelim-vermelho na Floresta Estadual do Paru, no Pará .Foto: Divulgação/Fundação Amazônia Sustentável
Ameaça
Apesar de essas gigantes guardarem respostas para muitas das dúvidas sobre o bioma, a mitigação das mudanças climáticas e seus impactos no planeta, as árvores centenárias podem estar ameaçadas. Por estarem localizadas em uma faixa extensa, cada uma ocupa um território com diferente grau de proteção.
Enquanto a maior árvore do Brasil está no Pará, a segunda, com 85,4 m de altura, fica em Laranjal do Jari (AP).
“Embora o Amapá seja um estado notoriamente coberto por áreas protegidas, a gente tem duas circunstâncias que chamam a atenção. A primeira delas é que muitas árvores gigantes estão fora de unidades de conservação, e a segunda é que é permitida a exploração comercial do angelim-vermelho”, alerta a diretora executiva da organização não governamental Rede Pró-Unidades de Conservação Ângela Kuczach.
Proteção
A instituição integra a campanha Proteja as Árvores Gigantes, liderada pelo instituto O Mundo Que Queremos, em parceria com organizações ambientais e pesquisadores. De acordo com Ângela Kuczach, o movimento atua na mobilização da sociedade civil e tem pressionado o poder público por mais proteção e para que as futuras gerações possam conhecer esses exemplares.
“O maior angelim-vermelho que existe hoje no Brasil é a terceira maior árvore do mundo. Na época que foi descoberta, ela estava dentro de uma floresta estadual, a Flota do Paru, que é uma unidade de conservação que permite exatamente a extração de madeireira. A categoria existe para isso, para manejo florestal”, lembra Ângela.
A mobilização resultou na criação, em setembro de 2024, do Parque Estadual Ambiental das Árvores Gigantes da Amazônia (Pagam), uma unidade de conservação de proteção integral com 560 hectares. Segundo Ângela, a nova categorização do território é um avanço importante, mas sozinha não deixa as árvores gigantes fora de risco.
“A gente está falando de uma área que tem muito garimpo em volta, muito ameaçada pelo desmatamento, pela grilagem. A própria presença de CARs [Cadastro Ambiental Rural] sobrepostos, que a gente identificou lá em 2022”, destaca.
A declaração voluntária de CAR é um instrumento para propriedades privadas, que não pode ser aplicado às áreas públicas, como unidades de conservação. No ano em que foram identificadas as declarações fraudulentas, também foi registrado um crescimento de 23% no desmatamento na Amazônia, e a Floresta Estadual do Paru foi a terceira mais atingida da categoria, segundo o dados do Sistema de Alerta de Desmatamento analisados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Processo
Segundo o presidente do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor), Nilson Pinto, as ações para implementação do Pagam já estão em andamento. “Fizemos um edital, o chamamento público, para que as pessoas se habilitassem, entidades, autoridades e moradores, para comporem o Conselho Gestor. Estamos nesse processo agora. Isso é fundamental, porque é o conselho que vai aprovar o plano de manejo, elaborado pela equipe do nosso instituto, com o apoio da Fundação Amazônia Sustentável”, diz.
O órgão estadual é responsável pela gestão das unidades de conservação do Pará. De acordo com Nilson Pinto, a fiscalização na Floresta do Paru e região já cumpre um papel forte de proteção.
“A Floresta Estadual do Paru é muito bem preservada. O que nós temos lá, normal em uma floresta estadual, que é destinada basicamente para manejo florestal, temos várias empresas fazendo manejo florestal sob supervisão do Ideflor e muito pouco de desmatamento, muito pouco mesmo”, afirma.
Para o gestor, o difícil acesso ao local das árvores gigantes acrescenta uma proteção extra aos exemplares. “Tem algumas ocorrências que nós combatemos permanentemente de garimpo. Na Flota Paru, não no parque estadual. Não chegam nem perto do parque das árvores gigantes, onde não há desmatamento”, reforça Nilson Pinto.
Soluções
Para Ângela Kuczach, é preciso avançar nas próximas etapas de proteção e buscar a ciência como aliada para novas descobertas que permitam minimamente o tombamento de árvores gigantes fora do território identificado. “A gente pode ter a maior árvore gigante ainda não descoberta, e ela já pode estar ameaçada, porque ela pode estar fora de uma área de proteção, de uma unidade de conservação”, diz.
O pesquisador Diego Armando Silva reforça que, além das novas descobertas é preciso avançar nas pesquisas e monitoramento das árvores gigantes que a ciência já conhece.
“Os primeiros passos são a criação do comitê gestor e do plano de manejo, onde estarão, possivelmente, o plano de visitação das árvores, de educação ambiental, de pesquisa e gestão da informação, que contribui significativamente em uma estrutura mínima para que a gente possa fazer as pesquisas efetivas e ter a capacidade de receber pesquisadores de diferentes regiões do Brasil e do mundo”, defende Silva.
A Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Amapá foi procurada pela reportagem da Agência Brasil, mas até a publicação da matéria não houve resposta. O espaço segue aberto.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Brasil, escrito por Fabíola Sinimbú
Museu Goeldi prepara muros do Parque Zoobotânico para receber arte. Foto: Erika Morhy/MPEG
As fachadas do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) serão tomadas por intervenções artísticas vibrantes e de grandes proporções neste mês de setembro. A aliança entre expressões contemporâneas trazidas pelo Museu de Arte Urbana de Belém (Maub) e as riquezas científicas e patrimoniais do Museu Goeldi vai proporcionar às ruas de Belém mais cor e criatividade.
Às vésperas de completar 160 anos de fundação, o mais antigo centro de pesquisa da Amazônia transforma seus muros em canais de comunicação com a cidade.
A seleção dos artistas será feita por edital do Maub (inscrições foram até 6 de setembro). No dia 28 as intervenções externas no Parque Zoobotânico (São Brás) e no Campus de Pesquisa (Terra Firme) serão apresentadas em meio a um festival gratuito de música e lazer.
Intervenção artística parte do projeto realizado pelo Maub no Ver-o-Rio. Foto: Bruno Carachesti/Maub
Arte cooperativa
Diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior explica que os primeiros passos para a aliança entre os dois museus foram dados há dois anos, quando o Maub promoveu a primeira edição do projeto no Ver-o-Rio, complexo de lazer da capital do Pará e que voltou a receber as manifestações artísticas em 2024.
“É uma intervenção muito bonita, de alto valor artístico, e estamos conseguindo realizar este sonho através de uma parceria formal. Assinamos Acordo de Cooperação Técnica com o Maub, possibilitando a captação de recursos”, acrescenta Gabas Júnior.
Além da parceria entre os dois museus, foi preciso um pouco mais para o pacto de intervenção artística ser selado, conta o diretor. O conjunto arquitetônico e paisagístico, acervo e coleções do Parque Zoobotânico da instituição é tombado como patrimônio tanto pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) quanto pelo Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Dphac/Secult) e, por isso, a instituição então fez consulta prévia da proposta inicial do projeto de arte nos muros do Zoobotânico junto aos órgãos federal e estadual, obtendo indicação favorável.
Dentre as condições para a pintura dos murais estão o uso de materiais compatíveis com os revestimentos do muro, que incluem material metálico, madeira, alvenaria com argamassa de cimento e barro. As intervenções artísticas deverão ainda ser concebidas de forma reversíveis, permitindo que possam ser removidas sem danos significativos à superfície original.
Com o aval dos órgãos que monitoram o patrimônio, o Museu Goeldi encaminhou ao Maub um conjunto de 19 temas alinhados às temáticas da sociobiodiversidade amazônica, no intuito de inspirar os selecionados de acordo com as coleções e pesquisas da instituição. Após o resultado final do edital do Maub e o anúncio dos classificados, os croquis produzidos pelos artistas selecionados serão avaliados por uma equipe de curadores, incluindo representantes do Iphan, do Museu Goeldi e do Maub.
Entre as sugestões de arte estão espécies da fauna e flora amazônicas; o patrimônio arqueológico de Monte Alegre, Marajó, Tapajós, Konduri, Koriabo e Maracá; as heranças afro-amazônicas; a diversidade linguística amazônica; a ciência e tecnologia indígenas; a importância dos manguezais e a migração de peixes amazônicos; os instrumentos de pesquisa científica; e o barco Ferreira Penna, condutor das equipes de pesquisa e educação científica na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Marajó (PA).
A realização de arte nos muros do Museu Goeldi é da Sonique Produções e da Oito Quatro Produções, com aprovação na Lei Federal de Incentivo à Cultura e patrocínio da Vale, por meio da Lei Rouanet, sob a chancela do Governo Federal e do Ministério da Cultura.
O Banco Mundial aprovou um projeto para proteger florestas no estado do Pará e incentivar o desenvolvimento sustentável na região do Baixo Xingu. O Baixo Xingu, onde fica a cidade de Altamira, por exemplo, abriga também terras indígenas, áreas protegidas e comunidades quilombolas.
Segundo as Nações Unidas, a grande biodiversidade dessas áreas ajuda a regular o clima e serve para a subsistência.
O projeto aprovado pelo Banco Mundial deve ajudar a aprimorar o uso da terra em mais de 11 milhões de hectares, beneficiar mais de 6 mil pessoas, além de diminuir a emissão de 2,4 milhões de toneladas de CO₂ equivalente.
Floresta amazônica na região sudoeste paraense. Foto: Bruno Cecim/Agência Pará
Projeto do Banco Mundial conta com 5 frentes de atuação
A ação aprovada terá financiamento de cerca de US$ 8,5 milhões, cerca de R$ 46 milhões, e envolve o Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o governo do Pará.
Serão cinco frentes de atuação:
gestão e conservação;
sociobioeconomia;
território e políticas públicas;
educação e comunicação; e
gestão e monitoramento.
Para tudo isso, a parceria com o Banco Mundial inclui o Serviço Florestal Brasileiro (ICMBio) e a Fundação Getúlio Vargas.