A BR-163 é uma dos principais caminhos rodoviários do Estado de Mato Grosso. Foto: divulgação
A BR-163 é uma dos principais caminhos rodoviários do Estado de Mato Grosso. Atualmente a rodovia é espaço para inovação através de projeto de pesquisa desenvolvido pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) na Faculdade de Arquitetura, Engenharias e Tecnologia (FAET). A inovação já rende frutos como o reconhecimento da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
O projeto é coordenado pelo professor Raoni Teixeira, da FAET, e surgiu a partir do diálogo com a administradora da concessão da rodovia, a Rota do Oeste. “Essa é uma ideia antiga. Sugeri para Rota do Oeste antes da pandemia mas não havia recursos e interesse na época. Depois, com a recuperação econômica, a diretoria de pavimentos procurou, construímos um projeto e apresentamos a ANTT. Como os resultados foram positivos, 6 meses depois apresentamos outro e agora nesse ano mais outro”, relatou o professor.
A pesquisa é desenvolvido pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Foto: UFMT
O professor explica que o mote do projeto é a agilidade na correção de problemas na rodovia. “A ideia principal é reduzir o tempo para correção de um problema na rodovia. No monitoramento convencional, uma equipe passa pela rodovia, analisa, anota o que encontrou e reporta. Mas bem sempre tudo é percebido e reportado”, explicou o professor Raoni.
O funcionamento da ideia é baseado no monitoramento contínuo de problemas como caminho para manutenção. “Com o projeto assim que a van passa por uma placa faltante por exemplo, descobrimos e incluímos um registro no sistema de manutenção. No caso de um buraco, a eficiência é ainda maior pq conseguimos detectar trincas e a equipe de engenharia pode fazer a manutenção antes que se torne uma panela ou buraco”, contou o professor.
Alunos participaram de diferentes etapas do processo
A descrição do projeto mostra que os trabalhos não geram apenas tecnologia de ponta, mas também funciona como um laboratório de formação em Inteligência Artificial no Estado. “Os alunos participam desse processo e são formadas para resolver problemas semelhantes. Há um componente de desmistificar o desenvolvimento tecnológico também”, relata o professor Raoni Teixeira sobre o projeto que empregou e capacitou 15 estagiários de graduação, oferecendo experiência prática em um ambiente de pesquisa e desenvolvimento real e financiado pela ANTT.
A BR-163 é uma dos principais caminhos rodoviários do Estado de Mato Grosso. Foto: UFMT
Turmas do curso de Engenharia de Computação, especificamente das disciplinas de Inteligência Artificial, puderam conhecer de perto o projeto e as etapas de desenvolvimento, conectando a teoria ensinada em sala de aula com a aplicação prática e real.
“Trata-se de uma tecnologia de ponta desenvolvida localmente. Não estamos apenas comprando soluções prontas, estamos construindo nossas próprias usando outras tecnologias”, pontuou o professor. Atualmente, ex-estagiários do projeto atuam com desenvolvimento de Inteligência Artificial em empresas locais.
“Nossos ex-alunos já foram contratados para participar de outros projetos na área. Sem as parcerias não temos condições de mostrar como o desenvolvimento funciona na prática. Não há dados reais disponíveis. Toda a construção é simplificada na sala de aula. Na prática, encontramos muitos problemas que ficam latentes (escondidos) na teoria”, finaliza o professor.
*Com informação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com
A Embrapa Territorial lançou, durante a COP30, no pavilhão AgroBrasil da AgriZone, o estudo “Atribuição, uso e ocupação do solo no Brasil”, por meio do qual revela que os produtores rurais brasileiros preservam, dentro das propriedades, 29% das matas nativas do Brasil e que cerca de 65,6% do país ainda mantém vegetação nativa preservada. As áreas dedicadas às atividades agropecuárias (lavouras, pastagens e florestas plantadas) ocupam 31,3% do território. Os números reforçam que, para cada hectare dedicado à agropecuária, há 0,9 hectares de protegido dentro das porteiras e 2,1 hectares de vegetação nativa total.
Oportuno salientar que a Embrapa Territorial desenvolve atividades fundamentais na Amazônia brasileira por meio de ações de inteligência, gestão e monitoramento territorial, visando a sustentabilidade e a competitividade da agricultura na região. Sua atuação envolve diversas parcerias e projetos de pesquisa, por meio do cruzamento de dados de sensoriamento remoto, como os do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do Cadastro Ambiental Rural (CAR), para produzir informações detalhadas sobre o uso e a ocupação das terras, desmatamento e focos de calor (queimadas) no bioma.
O ensaio técnico divulgado é suficientemente claro sobre o protagonismo do produtor rural na preservação ambiental e a relevância global do modelo produtivo brasileiro. Desmistificando narrativas alarmantes de ONGs e certos setores da pesquisa retrógrados e comprometidos com interesses internacionais contrários ao desenvolvimento brasileiro, sobretudo no que tange às alarmantes previsões de “muito em breve”, ao “point of no return” da desertificação da região, afirma que, hoje, “44% das áreas preservadas no país estão sob a responsabilidade de produtores rurais”.
Na Amazônia, a cada hectare produzido, dois são preservados, o que reflete que o Brasil é uma referência mundial em produção aliada à conservação”, destacou. Por seu turno, a chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Lucíola Alves, destacou “dados sobre a atribuição, ocupação e uso das terras no Brasil e evidenciou o papel fundamental do produtor rural na preservação ambiental”, enquanto o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Alfredo Homma, apresentou os desafios as oportunidades para uma agricultura mais sustentável na região Amazônica.
Em referência à Amazônia, o maior bioma brasileiro, o estudo destaca que produtores rurais destinam 27,4% da área total de seus imóveis à preservação ambiental, garantindo que 83,7% de seu território mantenha cobertura de vegetação nativa. O Cadastro Ambiental Rural (CAR) em vigor exige 80%. As atividades agropecuárias ocupam apenas 14,1% da área, sendo que 12,1% são de pastagens e 2% de lavouras. Para desapontamento de ecoxiitas, que invadem a região em nome de interesses internacionais escusos, “a proporção revela um cenário de equilíbrio em que, para cada hectare utilizado em produção agropecuária, há quase dois hectares dedicados à preservação ambiental dentro dos imóveis rurais e seis hectares de vegetação nativa em todo o bioma”. Ou seja, um terço de toda a vegetação nativa amazônica é preservada dentro das propriedades rurais.
Quanto ao Cerrado, contíguo, um prolongamento da região amazônica, de acordo com o estudo da Embrapa Territorial “os produtores rurais destinam 34,7% da área dos imóveis à preservação ambiental e contribuem para que 52,2% do bioma permaneça coberto por vegetação nativa”. O documento revela ainda que “as atividades agropecuárias ocupam 45,9% do conjunto desse ecossistema, com destaque para pastagens (30%), lavouras (14,2%) e silvicultura (1,7%). Na prática, isso significa que, para cada hectare produtivo, há 0,8 hectare protegido dentro das propriedades e 1,1 hectare de vegetação nativa total. Definitivamente, há muito espaço para produzir com sustentabilidade, sem destruição de florestas.
Há reservas, Florestas Nacionais (Flonas) – por manejo e concessões -, glebas não destinadas ainda virgens, cerca de 15 milhões de hectares de terras degradadas que podem ser exploradas por manejo florestal ou mineral sustentáveis ou por Sistemas Agroflorestais(SAFs) na produção de alimentos. Uma questão de desenvolvimento e emprego de tecnologias adequadas às idiossincrasias edafoclimáticas, ambientais e ajustadas às vocações econômicas das macrorregiões homogêneas, determinadas pelo Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), no que o governo brasileiro vem falhando sistematicamente. Como malogra, ao lado de setores da pesquisa e da própria sociedade sobre a conscientização de uma verdade inexorável: quem efetivamente preserva, conserva, protege – não destrói – o meio ambiente é o desenvolvimento econômico e social.
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).
Base Aeronaval do Amapá, construída pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial — Foto: Rafael Aleixo/g1
A Universidade Federal do Amapá (Unifap) realizou, no município de Amapá, uma audiência pública para apresentar à comunidade o projeto da preservação da memória do Museu a Céu Aberto da Base Aeronaval e transformação em parque histórico.
O encontro aconteceu no final de novembro, no auditório da Escola Estadual Vidal de Negreiros. Segundo os organizadores, a participação dos moradores foi essencial para garantir apoio social ao projeto e fortalecer a construção coletiva dos arquivos.
Unifap debate com moradores a preservação da memória do Museu da Base Aeronaval — Foto: Unifap/Divulgação
O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amapá (Fapeap) e conduzido pela equipe do Laboratório de História Militar (Lahim) da Unifap.
A coordenação é do professor Edinaldo Pinheiro Nunes Filho, com participação do pesquisador João Batista Gomes de Oliveira e bolsistas de História.
Expansão para parque histórico
A Unifap pretende transformar o espaço em um parque histórico da Segunda Guerra Mundial, abrangendo locais que ficaram fora da área atual.
Base Aeronaval durante a Segunda Guerra Mundial — Foto: Reprodução
A proposta inclui pontos importantes como o antigo local de atracação dos dirigíveis e o porto por onde chegavam equipamentos e veículos militares.
O coordenador do Lahim, Edinaldo Pinheiro, explicou que a ideia é preservar toda a infraestrutura deixada pelos norte-americanos durante o conflito.
“Nós fizemos parte do contexto da 2ª Guerra. Hoje a base é considerada um museu, mas o projeto busca abranger toda a estrutura construída e deixada lá, que é muito maior do que apenas o espaço atual”, afirmou.
Museu à Céu Aberto da Segunda Guerra Mundial
A Base Aeronaval de Amapá foi construída em 1941, um ano antes da entrada do Brasil no conflito, que ocorreu em 22 de agosto de 1942. A área da base mede 623,34 hectares, e abrigou militares da marinha e do exército estadunidense e servia como ponto para reabastecimentos de aeronaves que seguiam para os EUA ou para a África.
Torre de atração de dirigíveis na Base Aeronaval — Foto: Rafael Aleixo/Arquivo Pessoal
A Base Aérea do Amapá fica a 15 km do centro de Município do Amapá, a 302km de Macapá, a capital e principal porta de entrada do estado do Amapá. Quando a guerra acabou, a base foi devolvida ao governo brasileiro. Por algum tempo ainda passou a ser usada como pista de pouso, mas infelizmente caiu em desuso e foi esquecida.
No município de Amapá, a antiga Base Aeronaval virou o Museu a Céu Aberto da Segunda Guerra Mundial.
Pesquisadores criam bioplásticos feitos de amido de milho e casca de laranja. — Foto: Crystofher Andrade/g1
Um professor e dois alunos de Engenharia Ambiental da Universidade do Estado do Amapá (Ueap) desenvolveram em laboratório bioplásticos feitos de amido de milho e da parte branca da laranja. O objetivo é reduzir o impacto do plástico tradicional no meio ambiente.
O projeto busca criar uma alternativa sustentável ao plástico comum, que demora mais de 100 anos para se decompor. Os bioplásticos usam ingredientes naturais e se apresentam como opção menos poluente.
Os testes foram feitos com duas matérias-primas: amido de milho e o amido extraído do albedo da laranja. A ideia era avaliar o potencial de cada biomassa para produzir um material biodegradável.
Pesquisadores criam bioplásticos feitos de amido de milho e casca de laranja. — Foto: Crystofher Andrade/g1
A pesquisa
A pesquisa é coordenada pelo professor doutor em Biodiversidade William Xavier. Ele explica que os materiais foram escolhidos por causarem baixo impacto ambiental.
“O bioplástico derivado do amido de milho começou a se decompor em cerca de 20 dias, com a ação de microrganismos e fungos. O plástico tradicional demora muitos anos para desaparecer. Então pensamos em testar biomassas vegetais para verificar se a produção era viável”, disse Xavier.
Os estudantes produziram os bioplásticos em laboratório e realizaram diversos testes. O material feito de amido de milho se degradou completamente em cerca de 90 dias, bem mais rápido que os plásticos derivados do petróleo.
O estudo também analisou o bioplástico feito com o albedo da laranja, parte da fruta geralmente descartada. Oalbedo é a camada branca que fica entre a casca e a polpa dos frutos cítricos, como laranja, tangerina e limão.
Pesquisadores criam bioplásticos feitos de amido de milho e casca de laranja. — Foto: Crystofher Andrade/g1
Resultados
Além da biodegradabilidade, os pesquisadores avaliam a resistência e a flexibilidade do material. Segundo Rita Santana, integrante do projeto, as próximas etapas são aperfeiçoar a produção e estudar como os bioplásticos podem ser aplicados em embalagens, sacolas e outros itens descartáveis.
“O resultado tem sido satisfatório, mostrando que o material é durável e elástico. É parecido com o plástico tradicional, feito de petróleo, mas um pouco mais frágil. Apenas 10 gramas de amido de milho são suficientes para produzir uma folha”, disse a estudante.
Os pesquisadores acreditam que, com novos testes, o bioplástico pode se tornar uma alternativa viável para reduzir o acúmulo de resíduos plásticos no meio ambiente.
O projeto Restaura+ (Restauração Ambiental: integrando bioeconomia e projetos de REDD+ como estratégia de mitigação das mudanças climáticas e geração de renda em comunidades tradicionais da Amazônia) é uma iniciativa da Universidade Federal do Oeste do Pará que envolve diversas unidades acadêmicas, incluindo dois campi regionais.
Entre seus objetivos estão: estimar os fluxos de carbono, metano, parâmetros biofísicos, balanço de energia, estoques de CO2 no solo, evapotranspiração e produtividade de monoculturas de interesse bioeconômico na região do Baixo Amazonas, como mandioca, abacaxi, milho e cumaru.
Plantio de mandioca Foto Carlos Barroco Rede Amazônica RR
Sobre o projeto
O Restaura+ conta com financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e dispõe de ferramentas que possibilitam conhecer o impacto da mudança de disponibilidade hídrica para as culturas e seu potencial de captura de CO2 na atmosfera. Esse conhecimento pode ajudar na elaboração de ações de enfrentamento ao aquecimento global.
Os equipamentos adquiridos no projeto atuarão em conjunto com a rede de sensores do projeto “Categoria – Centro de Agricultura, Tecnologias, Estudos Geoambientais Observacionais e Referência em Inovação da Amazônia”, também ligado ao Ibef.
Projeto desenvolve dinâmicas para mitigar efeitos das mudanças climáticas. Foto: Divulgação do projeto.
Com o Observatório Atmosférico da Amazônia, instalado na Fazenda Experimental da Ufopa, já é possível obter informações relacionadas ao clima da região. A partir do trabalho coordenado com os equipamentos específicos do Restaura+ e parcerias, será possível caracterizar a interação biosfera-atmosfera de culturas de interesse bioeconômico e seu papel no balanço de carbono local e regional.
De acordo com o coordenador, o projeto prevê geração de produtos e informações com potencial de aumentar a geração de emprego e renda. “O Restaura+ apresenta produtos e ferramentas com potencial elevado de mitigar os efeitos adversos das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, aumentar o bem-estar da população do Oeste do Pará e região”, disse professor Gabriel Costa.
Segundo ele, a cooperação entre grupos de pesquisa que estudam a interface água-solo-planta-atmosfera irá promover a formação de recursos humanos e aumentar a qualidade da produção científica a partir dos programas de pós-graduação envolvidos na ação.
Parcerias
O projeto conta com a parceria do Instituto Federal do Pará (IFPA), da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Os sítios experimentais do Restaura+ abastecem com dados a Sala de Situação Meteorológica do Tapajós, localizada na Unidade Tapajós da Ufopa, em Santarém; o sítio experimental do IFPA fornece dados para a sala de situação meteorológica da UFPA e, na Ufam, o sítio experimental fornece dados para a sala de situação meteorológica da própria universidade. “O compartilhamento de dados, informações e expertises é fundamental para a construção de boletins agroclimáticos mais precisos para as regiões de estudo”, destacou Costa.
Benefícios
Com esse conjunto de infraestrutura que envolve o projeto, empresas de base tecnológica poderão ter acesso a mais serviços agrometeorológicos (aplicação de dados meteorológicos e climáticos para otimizar as atividades agrícolas), assim como também será possível melhor gestão dos recursos naturais.
A perspectiva da coordenação é que os resultados do projeto sirvam de subsídio para políticas públicas e tomadas de decisão quanto a diretrizes em projetos de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (REDD+). Os projetos REDD+ são iniciativas que incentivam financeiramente países em desenvolvimento a reduzir as emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento e da degradação florestal.
Comunidades envolvidas
Na dimensão extensionista, o projeto visa a aproximar-se de comunidades tradicionais que possuem cooperativas em acordos de cooperação com a Ufopa, realizando palestras sobre: ciclo do carbono; mudanças climáticas e comunidades tradicionais, com foco em adaptação e mitigação; o que é REDD+; mercado de carbono, entre outras temáticas.
Sistema agroflorestal. Foto: Reprodução/Governo do Tocantins
A Ufopa já possui acordos de cooperação técnica com cooperativas e associações agrícolas, como as comunidades ribeirinhas de Surucuá e Parauá, localizadas às margens do rio Tapajós, em Santarém.
O projeto também prevê mutirões de elaboração do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para pequenos produtores que se comprometam com práticas sustentáveis em suas lavouras. “Outras comunidades da região de Santarém e Juruti poderão ser visitadas à medida que suas cooperativas estabeleçam acordo de cooperação técnica com a Universidade”, enfatizou o coordenador.
Apresentação na COP 30
O projeto Restaura+ foi apresentado durante a Conferência das Partes (COP30), em Belém (PA), no período de 10 e 21 de novembro de 2025. A iniciativa foi classificada em 15.° lugar entre 340 projetos de todo o Brasil na chamada pública para a seleção dos projetos desenvolvidos pela Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT). Participou da exposição em colaboração com o Instituto Federal do Pará (IFPA).
Os turistas estrangeiros que mais visitaram o Amapá vieram da França, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Peru e Alemanha. Foto: Maksuel Martins/GEA.
A Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) divulgou, em novembro, os dados consolidados sobre o fluxo de turistas internacionais no Brasil, e o Amapá se destacou ao registrar 41,6 mil visitantes estrangeiros até novembro de 2025, o maior número da série histórica. O crescimento representa um aumento de 6,49% em relação ao mesmo período do ano anterior, consolidando o estado como um dos mais visitado da Região Norte.
De acordo com os dados apresentados, os turistas que mais visitaram o estado vieram da França, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Peru e Alemanha. O resultado reflete o avanço das ações de promoção turística implementadas pelo Governo do Estado, além dos investimentos contínuos em infraestrutura e qualificação do setor.
Imagem colorida mostra vista aérea do Parque do Forte em Macapá. Foto: Divulgação/ Secretaria de Turismo do Amapá
“O estado tem se consolidado como um destino autêntico, com experiências únicas que combinam natureza, cultura e hospitalidade. O crescimento é fruto do trabalho conjunto entre o governo, o trade turístico e as comunidades locais, que vêm transformando o turismo em uma atividade cada vez mais sustentável e atrativa”, destacou a secretária de Turismo, Syntia Lamarão.
Investimentos turísticos para estrangeiros
O Governo do Amapá tem investido em eventos e festividades tradicionais que atraem visitantes estrangeiros de várias partes do país e do mundo, como a Expofeira, o Réveillon, a Festa de São Tiago, o Carnaval e o Encontro dos Tambores. Essas ações são fortalecidas pelo Plano de Marketing de Turismo, lançado recentemente, que orienta estratégias de divulgação e promoção do destino em nível nacional e internacional.
Marco zero do equador, em macapá. Foto: Gabriel Penha/GEA
O turismo regional também vem se consolidando como um importante vetor de desenvolvimento. Atualmente, 11 municípios amapaenses integram o Mapa do Turismo Brasileiro, programa do Ministério do Turismo (MTur), entre eles Macapá, Santana, Oiapoque, Mazagão, Porto Grande, Ferreira Gomes, Laranjal do Jari, Vitória do Jari, Tartarugalzinho e Itaubal.
“Nosso objetivo é fazer com que cada região do estado seja reconhecida por suas belezas e autenticidade. Estamos trabalhando para que o turismo gere emprego, renda e orgulho para os amapaenses”, concluiu a secretária
*O conteúdo foi originalmente publicado na Secretaria de Cultura do Amapá.
Os impactos da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) para Belém, primeira cidade da Amazônia a sediar o evento que reúne representantes de vários países para discussões sobre o futuro climático, se tornaram tema de um projeto de pesquisa.
‘COP30 das oportunidades de transformações urbanas aos desafios para a participação e controle social’, é um trabalho coordenado pela professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Olga Lúcia Castreguini, visitante do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA).
O projeto visa fazer uma análise crítica a respeito das transformações sociais realizadas na capital paraense para a recepção da COP30. Obras de infraestrutura e de mobilidade são alguns dos feitos que fazem parte da pesquisa liderada por Olga.
“É um projeto de pesquisa coordenado por mim com várias instituições e profissionais de diferentes áreas. Belém passou por uma série de transformações, estamos desde o início de 2024 acompanhando elas, a intenção é acompanhar todo esse processo de investimentos dessas obras. Um ano é pouco para concluir sobre as repercussões, mas o trabalho vai permitir olhar para trás e fechar o ciclo da preparação, realização e o pós”, explica a professora.
Olga pontuou que, apesar dos impactos positivos das obras perceptíveis durante a realização da conferência, questões relativas às obras no futuro têm sido motivo de preocupação.
Ela cita que locais como o Parque Linear da Tamandaré, da Doca e ainda o sistema BRT Metropolitano precisam ser vistos com olhar mais atento para os custos de suas manutenções, o que envolverá despesas ao poder público a longo prazo.
Parque Linear da Nova Tamandaré foi obra decorrente do evento da COP30, sediado em Belém. Foto: Alexandre Costa/Agência Pará
“Me preocupa muito o pós porque a gente teve uma série de obras de fato importantes e que transformaram uma parte da cidade, mas é preciso ter um olhar atento. Foram investimentos bilionários, alguns serão pagos pois foram contraídos por empréstimos, tem que ter atenção para essa capacidade de endividamento do estado. Vamos ter recursos previstos no orçamento? Outra coisa é a manutenção dessas obras, por exemplo, temos novos ônibus, confortáveis, com ar-condicionado, como será a manutenção dessa frota? Como ela vai circular efetivamente na cidade nos próximos meses e anos? Então, são coisas que nos preocupam para entender o pós”, alerta.
No entanto, a professora destacou a importância de Belém sediar a COP30 e de trazer o debate mundial do clima para dentro da região amazônica.
“Vivemos de forma pulsante a COP30, porque embora as decisões sejam tomadas na Blue Zone (zona azul), tivemos mais de cem eventos paralelos na cidade, algo que talvez não acontecesse em outras locais. Tivemos a marcha, manifestações indígenas, outros espaços de discussões, inclusive dentro da blue zone, já adianto que nas últimas três COPs isso não foi verdadeiro”, finalizou.
Especial COP30
A entrevista com a professora Olga Lúcia faz parte de uma sequência especial dedicada à Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – Conferência das Partes (COP30) do programa ‘Bate-papo na CBN’, da rádio CBN Amazônia Belém (102,3 FM ).
Com o olhar de quem vive na região, o programa reuniu informações e entrevistas sobre toda a movimentação da 30ª edição do encontro mundial realizado em Belém (PA), realizado entre os dias 10 e 22 de novembro.
Olga é coordenadora do projeto de pesquisa “COP30 das oportunidades de transformações urbanas aos desafios para a participação e controle social”. Foto: Reprodução/Youtube- CBN Amazônia
O segundo convidado do programa foi Renato Rosas, presidente da ONG Ocas – Organização Comunitária de Adesão Social, plataforma de impacto sócioambiental com assessoria de lideranças que atua com bases comunitárias em mais de cinco regiões da Amazônia Paraense.
Sobre a atuação da organização na COP30, Rosas enfatiza o lançamento de um e-book que aborda a luta e resistência do povo indígena Tenetehaba Tembé, grupo originário que habita a terra indígena Alto Rio Guamá, no Pará.
“É um material robusto, cheio de informações e links sobre tudo dos povos indígenas, especialmente o povo Tenetehara Tembé, todos os seus entraves, as guerras que perderam, suas lutas, a situação do território em relação à Funai. O e-book te traz um panorama sobre a história dos povos indígenas e a importância do pertencimento”, explicou.
Com oito episódios, os programas da rádio, apresentados pela jornalista Brenda Freitas, também ganharam versões especiais no canal Amazon Sat e no Portal Amazônia.
Assista as entrevistas completas do sexto episódio da edição especial do programa:
A iniciativa Banzeiro da Esperança é uma parceria entre Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Fundação Rede Amazônica (FRAM) e Virada Sustentável, com patrocínio do Banco da Amazônia (BASA). Esta edição do Banzeiro da Esperança é uma jornada de conexão, troca de saberes e transformação com foco na COP30.
Rio Madeira. Foto: Rui Faquini/Banco de imagens da ANA
O Governo Federal apresentou no dia 2 de dezembro, na Comissão de Integração Nacional e Desenvolvimento Regional da Câmara dos Deputados, o modelo de concessão do Rio Madeira, incluído no Programa Nacional de Desestatização (PND) pelo Decreto nº 12.600/2025. A hidrovia tem um trecho de mais de 1 mil km, de Porto Velho (RO) até a foz com o Rio Amazonas, no município de Itacoatiara (AM).
A audiência teve como objetivo esclarecer os impactos da medida e detalhar o funcionamento da proposta. Participaram da sessão o secretário Nacional de Hidrovias e Navegação (SNHN), Otto Luiz Burlier, representante do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), e o superintendente de Estudos e Projetos Hidroviários da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Eduardo Queiroz.
A outorga visa garantir a navegabilidade segura e sustentável do rio. Nesse contexto, caberá à empresa concessionária executar:
serviços de mapeamento e monitoramento do fundo do rio (hidrografia);
auxílio à navegação, gestão do tráfego e dragagens;
derrocamento de pedras; e
apoio direto aos órgãos de segurança pública na região.
Na audiência, a principal preocupação manifestada foi a proteção da navegação social. Burlier assegurou que o modelo de concessão “não prevê cobrança de tarifas para ribeirinhos, pequenas embarcações ou pesca artesanal. A tarifa será aplicada apenas sobre grandes embarcações de carga”.
Visão aérea do Rio Madeira. Foto: Leandro Morais/Secom RO
Impactos logísticos no Rio Madeira
O projeto busca ampliar a eficiência logística, reduzir custos de transporte e aumentar a competitividade regional. No campo social, garante a operação e manutenção das Instalações Portuárias Públicas de Pequeno Porte (IP4), essenciais para comunidades ribeirinhas. Segundo o modelo proposto, a concessão desonera o orçamento público, para permitir que os recursos sejam direcionados a outras áreas, além de estimular a geração de emprego e renda local.
“O Brasil ainda usa pouco suas hidrovias. Por isso, precisamos não apenas otimizar as que já operam hoje, mas também viabilizar novas rotas com potencial para movimentar produtos e garantir o abastecimento da população. Temos uma visão voltada para o crescimento do agronegócio e de toda a economia brasileira, o que demonstra como o modal hidroviário pode contribuir decisivamente para o desenvolvimento do país”, destacou o secretário.
Sustentabilidade
Na área ambiental, Burlier reforçou que a hidrovia representa um modal de menor impacto e essencial para a descarbonização da logística nacional. Conforme dados apresentados, o transporte aquaviário custa até 60% menos que o rodoviário e emite 80% menos poluentes.
Em outras palavras, um comboio padrão com 16 barcaças equivale a mais de 1,2 mil caminhões nas estradas. Recentemente, o Rio Madeira registrou a operação de um comboio com 36 barcaças, equivalente a mais de 2,5 mil caminhões.
*Contém informações da repórter Maria Clara Abreu, da Brasil 61
Luta pela justiça climática foi o ponto principal da capacitação dos coletivos do Amazonas. Foto: Divulgação AIHHUAM
Dez coletivos do Amazonas – sete de Manaus e três de outros municípios do estado – foram selecionados para o Projeto Grito Rua– Clima e Cultura para participarem de uma jornada de formação com oito aulas virtuais que abordaram os impactos da crise climática e o papel da arte como instrumento de mobilização e resistência.
O projeto é resultado da parceria entre a A Associação Intercultural de Hip Hop Urbanos da Amazônia (AIHHUAM), que atua na promoção da cultura urbana como instrumento de transformação social, e do Instituto Cultura, Comunicação e Incidência (ICCI). O objetivo é destacar a necessidade urgente de enfrentar os efeitos das mudanças climáticas nas periferias, onde os impactos são mais severos e o acesso à informação e aos recursos ainda é limitado.
Através da capacitação, os coletivos deram o primeiro passo para ajudar suas comunidades a enfrentar as questões climáticas que passaram a fazer parte do seu dia a dia, como períodos alternados de secas extremas e enchentes.
Quem aproveitou a experiência foi Rafaela Pimentel Amaral, 31 anos, responsável pelo Espaço Buriti, do Parintins (AM). Ela explica que a formação ajudou a entender a complexidade das mudanças climáticas e os impactos sobre sua região.
“Foi uma imersão para ouvir e também ser desafiada. Então, foi um momento que ajudou a entender o que acontece não só na Amazônia ou no Brasil, mas no mundo”, explica.
Coletivos do Amazonas. Foto: Divulgação AIHHUAM
Depois da formação, Rafaela organizou rodas de conversas com jovens na Orla da União, bairro periférico da cidade de Parintins. Além das conversas, promoveu intervenções artísticas nos flutuantes buscando interagir com os moradores e levar para eles exemplos de como as mudanças climáticas impactam suas atividades. “Fizemos um evento dentro da Orla da União com um vídeo. Foi muito bom ver crianças, jovens e adultos se conscientizando do que acontece no mundo com relação às mudanças climáticas e relacionar isso às situações da vida diária deles, como o descarte inadequado de lixo, por exemplo”, afirma Rafaela.
Nessa experiência, os moradores puderam ser ouvidos – da dona de casa aos pescadores, verdureiros e os que vendem frutas e outros alimentos. “Com certeza, promovemos um grande impacto cultural nessa comunidade, permitindo que tivessem o conhecimento necessário para ver como mudar sua realidade”, finaliza.
A atuação prática foi favorecida pelo fato de que ao fim da formação, em outubro, cada coletivo recebeu apoio financeiro para compra de equipamentos, no valor de R$3 mil, e para a realização de ações práticas de conscientização em suas comunidades, com o apoio financeiro adicional de R$1,5 mil. Além da formação e do apoio, a imersão em Manaus reuniu representantes de diferentes municípios, fomentando redes de colaboração, troca de experiências e articulação.
Coletivos do Amazonas. Foto: Divulgação AIHHUAM
Dessa forma, cada projeto ampliou seu impacto, estimulando a construção de soluções locais com foco na sustentabilidade, na justiça climática e na valorização das expressões artísticas periféricas.
“Ao investir na formação e no fortalecimento de coletivos culturais, o projeto reconhece o território como espaço de potência criativa e promove o protagonismo comunitário na luta ambiental. A metodologia é baseada em educação para a ação, colaboração em rede e sustentabilidade com autonomia, conectando cultura, juventude e meio ambiente”, explica Mel Angeoles, vice-presidente da AIHHUAM.
A Associação Intercultural de Hip Hop Urbanos da Amazônia (AIHHUAM) foi fundada em 2013 para atuar na promoção da cultura urbana como instrumento de transformação social, econômica e ambiental na região. Por isso, promove formações online e presenciais com práticas que integrem conhecimento sobre os problemas das comunidades por meio da música e da arte.
Brigadistas indígenas de vários povos exibem seus diplomas ao final do curso de capacitação em tecnologia, em Roraima. Foto: Alicce Rodrigues/Instituto Terra Brasilis.
Em 2023, o Pantanal ardeu em chamas — no total, mais de 600 mil hectares foram queimados ao longo do ano, segundo o MapBiomas. Luciana Correia da Silva, brigadista indígena Kadiwéu, estava lá. Em meio à fuligem e ao calor, enquanto a fumaça avançava sobre as árvores e afugentava os animais, ela agia para reverter esse cenário.
“Eu nunca tinha visto um fogo daquela proporção; vinha de todos os lados, do solo e das copas dos ‘carandazeiros’ [áreas com grande concentração de carandá, palmeira da espécie Copernicia alba]. Fiquei muito apreensiva com o que poderia acontecer comigo”, disse ela à Mongabay.
Luciana havia dado à luz naquele ano, mas o fogo atrapalhou seus planos. À época do relato, seu bebê tinha apenas seis meses de vida e ficou sob os cuidados de sua cunhada na aldeia Tomázia, na Terra Indígena (TI) Kadiwéu, próxima ao município de Bonito, no Mato Grosso do Sul. Tudo isso para que ela pudesse somar forças à luta travada contra os incêndios na mata.
A brigadista Luciana Correia (à direita) ao lado da colega de equipe, Neudines Félix. Foto: Alicce Rodrigues/Instituto Terra Brasilis.
Hoje, dois anos depois, ela fala na posição de chefe de esquadrão da Brigada Kadiwéu 3, na qual coordena um grupo de seis indígenas que usam a experiência e o conhecimento para combater incêndios no Pantanal. Luciana é uma das poucas mulheres em atividade no campo — além dela, há apenas outra colega na ala feminina da equipe.
A atuação das duas, no entanto, faz parte de uma tendência observada em diversos pontos do território brasileiro: diante dos riscos crescentes que o fogo impõe aos biomas nacionais, mulheres indígenas têm assumido um papel de protagonismo no combate às chamas. Além de cumprirem uma função ambiental, essas novas iniciativas permitem que muitas brigadistas se desvencilhem dos cuidados domésticos — trabalho que, muitas vezes, exercem por obrigação.
Pelo caminho, além dos riscos à saúde, há outro problema: a estigmatização. Ao chegarem à linha de frente, elas realizam o que muitos consideram um “trabalho de homem”, sobretudo por exigir maior resistência física. Além de confrontar o estigma, elas dominam tarefas que também envolvem uma visão estratégica para o mapeamento territorial, a redução do desmatamento e a adoção de ações contra tudo o que possa comprometer o equilíbrio entre a vida e a natureza.
Uma selfie de brigadistas indígenas do povo Wapichana durante trabalho de campo de combate aos incêndios. Foto: arquivo pessoal / Mongabay
Luciana revela que “nunca duvidou” de suas capacidades. Ela ingressou na brigada atraída pela possibilidade de uma renda estável. Mas, ao longo do tempo, descobriu um sentido muito mais profundo para a atividade — agora, a exerce com segurança, reconhecendo suas próprias habilidades. “Me encontrei na brigada; quero continuar envolvida nesse espaço.”
Com o objetivo de fortalecer a autonomia de brigadistas e comunicadores indígenas que enfrentam o fogo, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e o Conselho Indígena de Roraima (CIR), em parceria com o Woodwell Climate Research Center, dos Estados Unidos, vêm oferecendo pequenos cursos de comunicação e de gestão do Sistema de Informação Geográfica (SIG) — ferramenta que combina dados e mapas para avaliar o território de forma integrada, detectar vulnerabilidades e direcionar medidas de proteção.
As oficinas, realizadas ao longo deste ano, buscaram aliar o uso da tecnologia ao conhecimento ancestral, sobretudo entre as mulheres, segundo o Ipam. Em junho, as atividades foram levadas à Terra Indígena Krikati, no estado do Maranhão, enquanto novos módulos chegaram a Roraima no mês de setembro.
As aulas mais recentes contaram com a participação de pelo menos 18 integrantes da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Eles representaram seis povos originários do estado: os Macuxi, os Wapichana, os Waiwai e os Taurepang; também participaram os Terena e os Kadiwéu, do Mato Grosso do Sul. Foi durante esse período que Luciana, com apoio financeiro e logístico do Instituto Terra Brasilis, pôde viajar até o norte do Brasil para aprofundar seus conhecimentos sobre as funcionalidades do SIG.
“Acabei me descobrindo; hoje gosto muito do que faço”, disse a indígena Kadiwéu. Ela explica que deseja ver cada vez mais mulheres indígenas aprovadas nos processos seletivos da brigada, realizados a cada seis meses.
Segundo a profissional, a jornada é desafiadora: diante da alta procura, muitas mulheres reprovam nas provas de resistência física, já que disputam as vagas em pé de igualdade com candidatos homens. Isso, porém, nunca as intimidou.
Brigadistas indígenas de vários povos exibem seus diplomas ao final do curso de capacitação em tecnologia, em Roraima. Foto: Alicce Rodrigues/Instituto Terra Brasilis.
Conhecimento tradicional e tecnologia são aliados na luta contra o fogo
Com uma área de 539 mil hectares, que se estendem entre o Pantanal e o Cerrado, a Terra Indígena Kadiwéu, de Luciana, abriga seis aldeias e conta com duas brigadas mantidas pelo Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo). Desde 2011, as unidades de brigadistas Kadiwéu são compostas exclusivamente por profissionais indígenas.
Segundo seus membros, as condições observadas em 2025 têm exigido menos saídas a campo para ações de enfrentamento. O ano anterior, todavia, trouxe maiores desafios: o Monitor do Fogo, do MapBiomas, registrou 1,9 milhão de hectares afetados diretamente no Pantanal, o que representa um aumento de 64% em relação à média dos últimos seis anos. O drama ambiental só foi maior em 2020, quando 2,3 milhões de hectares foram queimados.
Nesse contexto, as secas extremas, que incidiram sobre o bioma no mesmo período, também deixaram os ecossistemas mais expostos ao surgimento e à propagação de focos de fogo, o que aumentou a necessidade de um número maior de brigadistas. Luciana espera que as barreiras sociais sejam superadas a partir da demanda crescente por novos profissionais.
“Há certa resistência cultural. Quem define quem sai [a campo] para trabalhar são os homens, mas acredito que isso vá mudar. Na medida em que mais mulheres assumirem posições de chefia, será natural vê-las nesses cargos”, disse. Por sua experiência, ela espera abrir caminho para que sua filha e as futuras gerações sigam seus passos.
Em contato com outras mulheres indígenas na TI Raposa Terra do Sol, a chefe de brigada aprendeu a fazer mapas que podem auxiliar os Kadiwéu de diversas formas. Ela destaca a criação de um calendário para o Manejo Integrado do Fogo (MIF), descrito pelo governo federal como um “modelo de planejamento e gestão que associa aspectos ecológicos, culturais, socioeconômicos e técnicos” para o combate aos incêndios.
Luciana explica que essa abordagem “preserva os ecossistemas, valoriza o conhecimento local e garante segurança a quem atua em zonas rurais e áreas protegidas”.
Voluntária exibe mapas climáticos feitos à mão durante cursos sobre o Sistema de Informação Geográfica (SIG), em Roraima. Foto: Ipam/divulgação.
O curso de capacitação em SIG também pode aliar conhecimentos, somando a tecnologia geoespacial aos hábitos tradicionais das brigadistas — que registram, muitas vezes à mão, a localização de rios, igarapés, aldeias e tipos de vegetação. Dessa forma, os membros da brigada podem converter as informações em papel em mapas digitais, o que facilita o planejamento e a supervisão de ações mitigadoras, bem como o diálogo com outras instituições.
Além de reunir a memória e a ancestralidade de muitas mulheres, a criação de mapas e de outras ferramentas técnicas também confere credibilidade ao trabalho que exercem — servindo como evidência para distinguir queimas prescritas (ou controladas) de incêndios sem controle.
Esses recursos podem ser úteis diante de eventuais críticas à atividade, como no caso dos brigadistas de Alter do Chão, no Pará — em 2019, os voluntários foram presos sob a acusação de iniciar incêndios criminosos na região de forma proposital, em um processo cercado de controvérsias jurídicas e de denúncias de falta de provas.
Apesar dos avanços, Luciana diz que a base de sua brigada ainda não dispõe de uma estrutura adequada. Isso inclui a falta de um sistema de monitoramento próprio, o que leva seu time a recorrer a aparelhos pessoais de celular durante as atividades de monitoramento. O escritório que utilizam conta apenas com um computador e um serviço simples de internet custeado pela equipe.
“Precisamos de apoiadores para melhorar as condições de trabalho na aldeia; só assim poderei aplicar, na prática, o que aprendi [durante o curso] em Roraima”, disse.
Guardiãs do território: entre os desafios e a resistência
Durante os estudos em Boa Vista, capital roraimense, Luciana conheceu Ana Paula Levi, do povo Wapichana, que atua como coordenadora da brigada indígena comunitária de Roraima. Ela relata que Ana Paula vive uma “realidade diferente”, cercada por telões e computadores altamente equipados. Lá, puderam trocar experiências sobre suas diferentes perspectivas e histórias de vida.
A gestora Wapichana iniciou seus trabalhos como brigadista escondida de seu pai, que não aceitava ver a filha à frente de um “trabalho masculino”. A voluntária, que também é técnica de enfermagem, não se deu por vencida: hoje em dia, ela lidera mais de 63 brigadistas, entre homens e mulheres, divididos em seis grupos; as equipes estão em atividade no estado desde 2012.
Uma das subdivisões leva o nome de Pataxibas e atua na região do Alto Cauamé, contando com os esforços de 14 mulheres das etnias Wapichana, Macuxi e Waiwai. Quando saem para combater o fogo, as brigadistas também recorrem à comunidade para o cuidado de seus filhos pequenos.
Além do trabalho de campo, elas se dedicam a iniciativas de educação ambiental e de reflorestamento, levando o tema às escolas e promovendo ações de conscientização. O trabalho é facilitado pela temporada de chuvas, que contribui para reduzir o risco de incêndio.
Mulheres indígenas da brigada Pataxibas tomam nota durante um ciclo de capacitações. Foto: Alicce Rodrigues/Instituto Terra Brasilis.
De sua sala, Ana Paula monitora os territórios indígenas em tempo real, observando focos de fogo, áreas queimadas, fontes de água e zonas em processo de reflorestamento. A atuação na região amazônica é fundamental, segundo ela, devido à ampla biodiversidade vegetal do bioma. O sistema utilizado pela líder Wapichana e seus colegas reduziu o tempo de resposta às crises ambientais.
Mesmo assim, as brigadas seguem um calendário tradicional próprio, que precisa estar em constante adaptação às alterações bruscas do clima. “O inverno está chegando mais cedo. E o calor, agora, é insuportável”, disse Ana Paula. Ela explica que o impacto é visível nas áreas rurais e nos igarapés, onde as nascentes perdem força, o que causa danos ao plantio de mandioca, banana, pimenta e graviola, entre outros alimentos; já os animais sofrem mais com a seca.
Ela também cita a atenção que suas brigadistas dão ao avanço do setor da soja nas imediações dos territórios indígenas. “As mulheres são mais observadoras: estendem o olhar para o que se passa ao redor do fogo. Cuidam umas das outras, são unidas, lembram-se de levar água e comida, tudo enquanto prestam atenção aos animais que fogem das chamas.”
Segundo Sineia do Vale, coordenadora de gestão territorial do CIR, o Prevfogo oferece treinamentos para futuros brigadistas desde 2012. Já o conselho para o qual trabalha tem atuado para atrair novos recursos para a compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), além do fortalecimento de fundos destinados ao pagamento de bolsas aos brigadistas.
Para atender às necessidades físicas e psicológicas das mulheres, há diretrizes específicas para brigadistas gestantes e em período menstrual. “Ficar grávida na brigada não é um problema. Nesse período, elas participam apenas de palestras ou de atividades que não exigem o combate direto [ao fogo]”, disse Sineia. Atualmente, a brigada Pataxibas aguarda a construção da sua própria sede administrativa, que incluirá serviço de internet via satélite.
Para a coordenadora, esses avanços podem aumentar a conectividade entre as profissionais indígenas de diferentes brigadas, ampliando o alcance do monitoramento coletivo.
“É importante dizer: as mulheres são bastante ‘sensíveis’ às questões climáticas. Elas lidam diretamente com a floresta, coletando plantas medicinais e sementes para o artesanato. Sabem o nível do rio, os períodos ideais para plantar e colher — e se o tempo vai mudar ou não.”
Um futuro de luta por melhorias
Pelo alto grau de imprevisibilidade do comportamento do fogo, Sineia explica que as brigadas “precisam de apoio e treinamento constantes”. Ao mesmo tempo, argumenta, é necessário ir além e avaliar a qualidade do ar para garantir os cuidados básicos à saúde comunitária. Pensando nisso, o Ipam, em parceria com o CIR, instalou três sensores nas TI Serra da Moça, TI Raposa Serra do Sol e TI Serra da Mata, em Roraima, para monitorar o nível de poluição.
Entre julho de 2020 e maio de 2024, o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Roraima, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), consolidou, em relatório, dados qualitativos gerais, identificando dois picos significativos de poluição relacionados às queimadas locais e em regiões vizinhas. De um total de 1.290 dias analisados, os patamares de poluição atingiram níveis prejudiciais à saúde humana em quase 20% do período.
Ao falar do futuro, Sineia adota um tom realista. Ela cita a persistência das altas temperaturas e das secas, além de possíveis novos picos de queimadas pelo Brasil. Defendendo a criação de novas políticas públicas, ela cobra recursos para manter as brigadas, além de equipamentos específicos — como veículos, mochilas com filtro de água e assopradores. “Sem isso, há risco até para os brigadistas experientes”, disse.
Brigadista na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Foto: Alicce Rodrigues/Instituto Terra Brasilis.
Consultado pela Mongabay, o Prevfogo declarou que trabalhar com brigadas indígenas traz “vantagens únicas, já que esses povos dominam profundamente seus territórios, conhecem as espécies vegetais, os padrões climáticos, os solos e as rotas naturais do fogo”.
“As brigadas indígenas podem agir rapidamente, realizando um ‘primeiro ataque’ assim que é identificado um foco de incêndio florestal, o que garante uma resposta mais ágil. Em geral, como atuam em áreas remotas, aguardar ajuda externa leva muito tempo, aumentando os riscos e os impactos”, disse a assessoria de comunicação do órgão. “Temos percebido, ao longo desses anos, que diversos indígenas, a partir do ingresso como brigadista, buscam aprimorar suas capacidades. Vão crescendo dentro dos cargos do Programa de Brigadas, se tornando lideranças, chefes de brigadas, supervisores e instrutores.”
De acordo com Ana Carolina Pessôa, pesquisadora do Ipam, porém, há “muitos outros desafios”. Ela explica, em entrevista, que a entrega de equipamentos varia conforme a verba destinada a cada projeto, ao mesmo tempo em que alerta: “os orçamentos são limitados.”
Pessôa também é uma das coordenadoras do Projeto Gestão do Fogo na Amazônia, responsável por um relatório, divulgado em 2025, que reúne mais de 120 entrevistas com profissionais que atuam na prevenção e no combate a incêndios florestais na Amazônia.
O levantamento revela um total de 382 brigadas na Amazônia Legal; destas, 51% são de responsabilidade estadual e municipal. “As brigadas federais correspondem a 26% do total. Embora as do Ibama sejam bem estruturadas, enfrentam dificuldades devido à falta de equipamentos fora do período contratual. Já as brigadas voluntárias lidam com escassez de recursos, o que pode comprometer sua capacidade de resposta”, diz a pesquisa.
A acadêmica também defende a ampliação de parcerias entre brigadas, comunidades, órgãos públicos e organizações da sociedade civil. Segundo ela, mudanças desse tipo fazem com que tudo “funcione melhor”. Olhando adiante, o Ipam busca novas alianças e editais para dar continuidade aos esforços de apoio às ações de brigadistas em todo o país.
“Um dos principais desafios para expandir o projeto é garantir recursos financeiros contínuos”, disse.
*Contém informações da repórter Julia Moa, da Mongabay