Exercício na Operação Atlas em Boa Vista. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR
O Exército e a Força Aérea Brasileira realizaram, no dia 3 de outubro, uma demonstração conjunta em Boa Vista, dentro da Operação Atlas 2025 — considerada o maior exercício militar já realizado no Brasil. A atividade reuniu tropas, veículos blindados, tanques, armas e aviões para mostrar a capacidade de resposta das Forças Armadas naproteção da Amazônia, região estratégica para o país.
O evento aconteceu na Base Aérea de Boa Vista e contou com a presença do ministro da Defesa, José Mucio Monteiro Filho; o general Tomás Paiva, comandante do Exército; o comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) o Tenente-Brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno e o comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen.
Exercício reúne militares para proteger a Amazônia, em Boa Vista, Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR
Durante o evento, Mucio afirmou que o treinamento não está ligado a conflitos externos, mas à preparação permanente do Brasil para defender o próprio território “Você vai para a academia todo dia, fazer ginástica, para quê? Não é para brigar com alguém, é para estar preparado. É isso que estamos fazendo aqui. Não temos nenhuma querela com vizinhos, o Brasil é um país pacífico, mas precisamos treinar para um jogo que não desejamos disputar”, disse.
Múcio destacou ainda que aAmazônia enfrenta “muitas guerras”internas, como a invasão de terras, o garimpo ilegal e a grilagem, problemas que exigem atuação permanente do Estado “Essas operações também servem para mostrar que estamos prontos para defender o país contra tudo que fizer mal à Amazônia e ao Brasil”, afirmou.
Militares fazem demonstração de ataque por terra, em Boa Vista, Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR
A Operação Atlas reúne cerca de 10 mil militares da Marinha, Exército e Aeronáutica em ações coordenadas em Roraima, Amazonas, Pará e Amapá. Um dos destaques é a utilização do Sistema Astros, de artilharia de foguetes e mísseis, além de simulações em rios, áreas terrestres e no espaço aéreo.
Segundo o Ministério da Defesa, o objetivo é garantir a interoperabilidade entre as Forças, ou seja, a capacidade de atuar de forma integrada “Esse é o grande feito da Atlas: todas as forças trabalhando de maneira afinada para servir ao país”, disse o ministro.
Veja fotos da demonstração
As ações seguem até o dia 9 de outubro, quando será realizado, em Bonfim (RR), um exercício de tiro real.
Militares fazem demonstração de poder bélico em Boa Vista. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RRTanques de guerra são usados em demonstração da Operação Atlas, em Boa Vista. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RRMilitares fazem demonstração de poder bélico em Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR
Operação Atlas 2025
Cerca de 10 mil militares participam da Operação Atlas 2025, maior exercício militar do Brasil, realizado em Roraima. O treinamento, que vai até 9 de outubro, tem como objetivo reforçar a atuação das Forças Armadas na Amazônia, considerada uma região estratégica para o país.
A operação começou em junho, com a fase de deslocamento de tropas para o extremo Norte do país. A segunda etapa começou em agosto, com uma simulação em Manaus (AM), e entra na fase principal em Boa Vista.
Tropas e equipamentos de diferentes regiões do país estão sendo enviados para a capital de Roraima, onde serão realizados o Apronto Operacional, que avalia a prontidão e operacionalidade militar, e a Simulação Viva.
Um dos destaques da operação é o uso do Sistema Astros, artilharia de mísseis e foguetes com alta tecnologia agregada. O treinamento envolve ações em terra, rios, mar e espaço aéreo, com o uso de meios terrestres, aéreos e fluviais.
De acordo com o Ministério da Defesa, que coordena o exercício militar conjunto, o objetivo é melhorar a integração entre Marinha, Exército e Aeronáutica, garantindo que atuem de forma coordenada e eficiente.
Quinta do Mestre e da Sereia, em Alter do Chão, no Pará. Foto: Rony Aires para a Prefeitura Municipal de Santarém
Por Jan Santos – jan.fne@gmail.com
Com a passagem do Sairé de 2025, lembrei de minha própria viagem a Alter do Chão, uma vila vizinha ao município de Santarém (PA), terra indígena borari, a quem não estiver familiarizado. Acontece que eu ouvi muito sobre o lugar, considerado por muitos um paraíso no coração do Norte brasileiro.
Acontece que Alter não é um Éden, mas um território encantado.
Não uso encantado como um adjetivo, mas o aproximo do terreno da encantaria, uma cosmovisão que aproxima as potências da natureza do ser humano, suspendendo a noção de que somos superiores a qualquer forma de vida. Tudo tem potência, da planta sob nossos pés até as criaturas da floresta: a compreensão do que é “humano” é mais vasta, mais ampla, e abrange muito mais do que pessoas.
Nesse sentido, tudo é feito da mesma matéria, e sendo feitos da mesma matéria, tudo é compartilhado em um único organismo que permite intercâmbios entre os elementos que o compõem, inclusive entre suas formas.
Não há muito o que amarrar em palavras.
Andar pela orla de Alter é perceber-se um filho pródigo, alguém distante que esqueceu do solo que o pariu, e que, de alguma forma, busca voltar, seja num banho de rio, seja na comunhão com a terra por meio de um tacacá ou, como experimentei, de um jeito encantado de contar histórias.
Às margens do rio, sereias existem, e mesmo quem nelas não acredite, sabe ali que são reais.
Não acredito em ninguém que encare as águas escuras de um rio nortista e não sinta que, se encarar fixamente, não sinta nada olhando de volta.
Não acredito que estejamos tão consumidos pelo mundo capitalista que não haja em nós espaço para o mistério, especialmente para os filhos e filhas do Norte, cujo cordão umbilical não se corta.
As luzes da racionalidade, em algum momento, precisam se apagar para que a noite mostre que o universo é grande demais para nossas mentes tão pequenas.
A noite ensina humildade, nos lembra que não há diferentes do peixe charutinho que comemos ou da terra que nos come.
Em uma noite muito específica, essa lição é dada.
Falo da Quinta do Mestre e da Sereia, um momento semanal nas ruas de Alter que reúne turistas, locais, artistas, adultos, crianças e encantados em uma noite sagrada, onde uma história encantada é contada. É uma cerimônia de preservação do carimbó, ritmo paraense ecoado pelos Mestres dessa sonoridade e pelas Sereias que, com pés bem humanos e saias rodadas multicoloridas, levantam a poeira que mistura, em meio às canções, a terra e o ar. Não à toa, o carimbó é patrimônio cultural e artístico imaterial do estado do Pará, celebrado pela união desses contadores de histórias que juntos, mantêm viva a memória de um cortejo ancestral.
Quinta do Mestre e da Sereia, em Alter do Chão, no Pará. Foto: Rony Aires para a Prefeitura Municipal de Santarém
Não sou do time que acredita que Literatura é a arte da escrita. Acredito que é a arte da Palavra, e do contar de histórias que, organizadas em sentenças e proclamadas com o coração, se transformam em um outro tipo de experiência.
Ou, como senti ali, em encantaria.
Trata-se de uma festa, a primeira forma de ritual, em que o carimbó dá o ritmo ao passar das horas. Enquanto escrevo isso, percebo que nenhuma frase posta aqui faz jus ao momento, pois é uma daquelas situações em que o tempo e razão não pautam uma linguagem coerente, porque não é um momento para coerência.
É uma linguagem do corpo, uma experiência para se viver no momento presente, não para ser resgatada em crônica diretamente do passado. Eu tento, mas com a certeza de que vou falhar.
O carimbó transforma o corpo em água, num gingado quase instintivo que a prática com certeza refina em técnica. Mas a Quinta do Mestre não é sobre técnica, é um convite aos presentes partilharem do que aquela terra oferece. Não uso “oferecer” como uma espécie de produto, mas como um momento de contato com uma percussão terrosa, uma sonoridade aérea, e canções que fazem arder o coração.
Todos ali dançam, todos ali suam, e por um breve momento, o fim do mundo parece um conto distante.
É uma história de corpo e música, que, por meio de canções tradicionais de Carimbó, reencenam o encontro dos Mestres da música com suas Sereias, encarnadas em cada pessoa com coragem o bastante para vestir uma das saias multicoloridas e descalçar os pés.
O compasso dos passos cria sua própria música, não juntando o sagrado e o profano em um único momento, o que seria cristão demais. O que temos ali é a prova de que o profano é o próprio sagrado, reprimido por tanto tempo que esquece que é também um parágrafo de uma história maior, uma que todos ali se juntam para contar.
As Sereias dançam, como se recém-saídas da própria água, e o instrumento dos Mestres convocam os Botos, que com elas desenham círculos no ar. Quem é Boto e quem é gente?
A resposta é bem simples: não importa.
Quinta do Mestre e da Sereia, em Alter do Chão, no Pará. Foto: Rony Aires para a Prefeitura Municipal de Santarém
Ali, uma história não é só contada, mas é vivida no encontro da canção com a dança, da narrativa com a noite. À beira do encontro do rio Tapajós com o lago Verde, tudo se encontra, tudo se perde. Tudo se acha.
Eis o que para mim configura um mistério sagrado: ele não é feito para ser racionalizado, e escrever é também botar ordem.
Não é meu desejo ordenar nada, pois no início dos tempos, tudo era uma coisa só. Carne da mesma carne, água da mesma água, uma palavra contida em outra, pois eram a mesma.
Como nenhuma cerimônia dispensa de benção, um banho de cheiro é aspergido entre os presentes, selando o encontro com a terra enquanto a atmosfera é temperada por aquilo que dedos tão cuidadosamente maceraram. É o cheiro da terra, e, depois, é de todos os que tomaram parte na festa sagrada.
Conforme a noite morre e a lua se resguarda na água, o encanto perdura, esperando a próxima quinta-feira para ser reencenado.
Passeando pela orla, vendo as efígies de muiraquitã que se estendem de uma ponta a outra, me perguntei se não é esse ritual que sustenta os pilares do lugar, que mantém as forças da razão e do tempo tão distantes, que mantém a encantaria viva.
Alter é uma terra indígena, e a Quinta do Mestre é uma celebração que nos lembra o quão desnecessária é a religião (provavelmente do latim, religar) se nunca nos separarmos da terra.
Ali, toda quinta-feira é recontada uma história sagrada. Mal posso esperar para ouvi-la de novo.
Sobre o autor
Jan Santos é autor de contos e novelas, especialmente do gênero Fantasia. Mestre em Literatura pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e com graduações em Língua Portuguesa e Inglesa, é um dos membros fundadores do Coletivo Visagem de Escritores e Ilustradores de Fantasia e Ficção Científica, além de vencedor de duas edições dos prêmios Manaus de Conexões Culturais (2017-2019) e Edital Thiago de Mello (2022).
Gado criado em Roraima. Foto: Naamã Mourão/Rede Amazônica RR
A pecuária cresceu 85,7% emRoraima nos últimos sete anos e, em 2025, o estado atingiu um rebanho de 1,3 milhão de cabeças de gado, segundo a Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Aderr).
No primeiro semestre de 2025, foram abatidos 105.301 bois no estado. A previsão é atingir 180.515 abates até o fim do ano, o que representa desempenho histórico para o setor.
Pecuária cresce 85% em Roraima em sete anos. Foto: Naamã Mourão/Rede Amazônica RR
Entre os municípios, Mucajaí lidera o ranking com 19.876 abates, seguido por Rorainópolis (13.064) e Caracaraí (11.923). Na sequência aparecem:
Com o aumento da produção, o setor se prepara para exportar carne bovina. Em Iracema, a 93 km da capital Boa Vista, uma fazenda mantém cerca de 7 mil bois destinados ao abate, com foco no mercado de outros estados.
Pecuaristas de Roraima miram exportação para o Caribe. Foto: Naamã/Rede Amazônica RR
O pecuarista Chrystiano Ricardo, que chegou a Roraima há 15 anos, acompanha de perto o crescimento da pecuária no estado. “Estamos aqui desde 2001, e a gente conseguiu já mudar muito na área tecnológica da fazenda, com inseminações, com a própria recria do gado. Nós temos Goiânia, temos Manaus, que somando esses dois, a gente pode escoar mais ou menos 2 mil a 3 mil animais por mês”, disse.
“Isso é muito bom, com o estado que era pequeno, que não tinha essa saída de gado, hoje a gente está crescendo, a gente vê uma luz no fundo do túnel”, ressaltou.
Para ele, exportar parte da produção ajuda a valorizar o produto e fortalece o setor. Ele explicou que, para exportar, é necessário ter rastreabilidade animal desde o nascimento até o abate. “Com a ajuda do frigorífico, conseguimos agregar valor ao produto e trabalhar com volume. Antigamente, a gente ficava pensando: como vou vender? Para quem? Hoje, não”, contou Chrystiano.
Caribe é oportunidade de expansão
O zootecnista Diógenes Fernando Cardoso avalia que a abertura do mercado para a Comunidade do Caribe (Caricom), bloco que reúne países da região, representa uma grande oportunidade para Roraima.
“Nós temos 11 milhões de habitantes e 40 milhões de turistas. Se você pensar nesse mercado, é algo extraordinário. Você tem infinitas possibilidades de crescer. Não dá mais para pensar em abrir novas áreas. O segredo agora é aproveitar o que já existe, aumentar a produtividade e fazer isso de forma sustentável”, afirmou Diógenes Fernando.
Fernando Martinho. Foto: Divulgação/Repórter do Brasil
Para o especialista, o segredo está está na intensificação produtiva, com investimento em tecnologia, genética, manejo e nutrição para aumentar a produção em menos espaço.
Com o mercado em expansão, a pecuária deve seguir como um dos principais motores da economia roraimense nos próximos anos, segundo o especialista. A meta dos produtores é manter o ritmo de crescimento.
Em Iracema, por exemplo, a fazenda de Chrystiano projeta chegar a 6 mil vacas até 2026. “A gente procura dobrar o número de vacas. Toda propriedade que pensa em crescer tem que ter a sua própria recria, sem depender de compras externas. A nossa meta aqui é chegar nesse número até o ano que vem”, disse.
Evento discute futuro da pecuária
O crescimento da pecuária será discutido no Roraima Beef Summit 2025, que acontece no dia 21 de outubro. O evento vai reunir produtores, especialistas e pesquisadores para debater inovação, manejo e oportunidades de mercado.
Toda a renda do evento será doada ao Hospital de Amor, destinado ao tratamento de pacientes com câncer no estado, O evento também arrecada alimentos para o Programa Mesa Brasil, do Sesc, que distribui doações a famílias em situação de vulnerabilidade.
Uma família cuidou de um filhote de onça no Amazonas, chamando-o de ‘Golias’. Foto: Reprodução
Onças-pintadas são animais emblemáticos da fauna brasileira, detentores de beleza impressionante e força inquestionável. Elas ocupam biomas diversos, como a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica, onde interagem — direta ou indiretamente — com comunidades humanas e com as transformações ambientais.
Na várzea amazônica, humanos e esses felinos dividem um espaço que muda com o movimento das águas. No Pantanal, o ecoturismo aproxima pessoas desses animais. No sul, o diálogo entre produtores e projetos busca minimizar conflitos.
Assim, a busca por convívio entre seres humanos e onças-pintadas mobiliza esforços científicos e comunitários em diferentes regiões do país.
Relembre algumas histórias — baseadas em notícias e relatos — de pessoas que convivem ou conviveram com onças-pintadas no Amazonas. Cada narrativa mostra desafios e adaptações na relação entre humanos e esses grandes felinos:
Iauaretê e a convivência com onças-pintadas na RDS Mamirauá
Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, o Projeto Iauaretê estuda as onças-pintadas há mais de uma década, acompanhando-as em ambientes de várzea inundada e em períodos secos. O relato é apresentado em estudos que são divulgados publicamente.
Um relato marcante envolve o pesquisador Emiliano Ramalho, que participou de operações de captura e marcação de onças junto a outros pesquisadores. Ele descreveu momentos de convivência intensa com a floresta, quando via felinos se moverem entre galhos e troncos durante as cheias.
Em Mamirauá, as onças-pintadas demonstraram comportamento adaptativo: durante a cheia, muitas permanecem nas copas das árvores e movimentam-se entre galhos elevados para evitar as águas.
Esse padrão de uso do habitat influencia a forma como pesquisadores e moradores observam e interagem com os felinos. A existência de expedições turísticas de observação de onças-pintadas nas copas das árvores, com turistas e cientistas, é uma resposta que combina a presença humana e a pesquisa no mesmo espaço.
Onça-pintada criada como pet
Um filhote de onça-pintada, mantido como “pet” por uma família, foi resgatado no dia 4 de fevereito desta ano em Santo Antônio do Içá, no interior do Amazonas, após uma denúncia anônima à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semat) do município. O animal foi batizado de ‘Golias’ pela família. Após o resgate, ele foi encaminhado à sede da Defesa Civil, onde recebeu atendimento veterinário. Não se sabe como o filhote foi capturado.
Com apenas 8 meses de vida, o filhote foi identificado pelas autoridades e aguardou autorização dos órgãos ambientais para ser liberado e retornar ao seu habitat natural. Porém, no dia seguinte, Golias voltou para a casa onde era criado em cativeiro. Ele aguardou alguns dias para que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) providenciasse sua remoção do município.
Foto: divulgação/ Prefeitura de Santo Antônio do Içá
Segundo o Ibama, um veterinário do município avaliou o filhote e constatou que ele estava saudável e com comportamento dócil. No entanto, como não havia estrutura adequada na cidade para abrigá-lo, a onça precisou ser devolvida à família enquanto o Ibama buscava uma solução para sua remoção.
Quase dois meses depois do resgate ele foi transferido para o Instituto NEX No Extinction, um santuário de felinos localizado em Corumbá de Goiás (GO), para receber tratamento especializado e ter a chance de ser futuramente devolvido à natureza.
Resgate de Tatá
Em 2022, o Portal Amazônia contou a história de Tatá, que viralizou nas redes sociais. A saga dela ocorreu há quase 30 anos, mas se tornou símbolo da família da social media Annie Carolline.
Tudo começou em meados de 1993, logo após o casamento dos pais de Annie. O pai dela, João Carlos Pinto de Castro, na época terceiro-sargento do Exército foi transferido para o município de Tefé. Em uma ronda pela Floresta Amazônica, ele e outros colegas encontraram uma onça filhote mamando na mãe morta, possivelmente assassinada por caçadores.
Foto: Annie Chaves/Acervo pessoal
Em 1994 a mãe de Annie foi para Tefé e, segundo os relatos dela, João era super apegado à onça, que foi “batizada” como Tatá. “Não podia sentir o cheiro dele que enlouquecia querendo ir até onde ele ‘tava’”, conta.
Na entrevista ao Portal Amazônia, Annie contou que depois de ter sido encontrada, Tatá foi levada para o quartel da 16ª Brigada de Infantaria de Selva em Tefé. Em 1995, os pais de Annie voltaram para Alegrete, no Rio Grande do Sul, cidade natal dos dois e onde, pouco tempo depois, Annie nasceu.
A última informação da onça, depois desse período, que Annie encontrou, foi dada pelo Sargento Borges, que serviu com João Carlos Castro na época. Segundo Borges, Tatá foi levada para o Exército em Tabatinga, no Amazonas, e lá permaneceu até falecer. Leia a história completa AQUI.
O Brasil, apesar de suas ricas e diversas paisagens naturais, não é considerado um país de grandes altitudes quando comparado a seus vizinhos da América do Sul, como Peru, Bolívia e Chile, onde se encontram cordilheiras monumentais.
Ainda assim, mesmo em terras brasileiras é possível alcançar alguns lugares que parecem tocar o céu: picos, serras e montanhas que emergem da imensidão verde amazônica e revelam horizontes de tirar o fôlego.
O relevo da Amazônia permitiu que alguns picos brasileiros chegassem a quase 3 mil metros de altitude. Para além da grandiosidade natural, esses pontos mais altos guardam também histórias culturais, espirituais e paisagens que encantam os aventureiros que decidem explorá-los. Confira:
Amazonas – Pico da Neblina (2.995 m)
O Amazonas abriga não apenas o ponto mais alto do estado, mas também o ponto culminante do Brasil: o Pico da Neblina. Localizado na Serra do Imeri, próximo à fronteira com a Venezuela, o cume alcança 2.995,30 metros.
Mais do que uma montanha, este é um santuário ecológico e espiritual. O povo Yanomami considera o local sagrado, e sua visitação só é permitida com autorização especial. Para quem tem a oportunidade de chegar até lá, a recompensa é indescritível: uma visão que parece tocar as nuvens e desbravar o infinito.
No estado de Roraima se encontra um dos mais icônicos cartões-postais da Amazônia: o Monte Roraima. Seu ponto mais alto em território brasileiro é conhecido como Maverick, uma formação rochosa no topo do monte, que atinge 2.875 metros.
Esta gigante “mesa”, com paredes verticais que impressionam qualquer viajante, está situado na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Mais do que uma paisagem, o Monte Roraima é uma referência cultural e espiritual para povos originários da região.
Foto: Gildo Júnior/Bora de Trip
Pará – Serra do Acari (1.906 m)
O Pará, conhecido por suas vastas planícies e rios grandiosos, também guarda seu cume: a Serra do Acari. Com 1906 metros de altitude, ela está localizada na fronteira com a Guiana, a mais de mil quilômetros da capital Belém.
A região é remota e de difícil acesso, o que preserva sua natureza quase intocada. Para os aventureiros, explorar esse ponto culminante do Pará é uma verdadeira jornada de descobertas.
O Tocantins, porta de entrada para a Amazônia Legal, tem na Serra das Traíras seu ponto culminante, com 1.340 metros de altitude. Localizada na divisa com Goiás, a serra abrange os municípios de Arraias e Paranã e é um local de beleza singular.
As formações rochosas, a vegetação típica do Cerrado e os panoramas que se abrem no alto encantam viajantes e reforçam a diversidade de paisagens que compõem a Amazônia Legal.
Foto: Luiz HP/Tocantins em Fotos
Rondônia – Pico do Tracoá (1.126 m)
Na Serra dos Pacaás Novos, em Campo Novo de Rondônia, se ergue o Pico do Tracoá, com 1.126 metros de altitude. O local faz parte do Parque Nacional dos Pacaás Novos, uma unidade de conservação repleta de biodiversidade e paisagens deslumbrantes.
A região é considerada um dos destinos mais promissores para o ecoturismo no estado, com trilhas e mirantes naturais que permitem contemplar a floresta de um ângulo privilegiado.
Embora grande parte do território mato-grossense seja formada por chapadas e planícies, é na Serra do Monte Cristo, próxima a Cuiabá, que se encontra o ponto mais alto do estado: 1.118 metros acima do nível do mar.
A região, além de bela, está próxima a áreas de proteção ambiental e guarda uma rica fauna e flora. É também um dos locais preferidos para o turismo de aventura e contemplação no estado.
Maranhão – Chapada das Mangabeiras (804 m)
O ponto mais alto do Maranhão é a Chapada das Mangabeiras, com 804 metros de altitude. Essa região, localizada no centro-sul do estado, é a área mais elevada do território maranhense, mas trata-se de uma formação do relevo localizada na divisa entre o Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
No extremo norte do Amapá, em plena fronteira internacional, se ergue a Serra do Tumucumaque. Com 701 metros de altitude. O ponto mais alto do estado está inserido em uma região de floresta densa e pouco explorada, que integra uma das maiores áreas contínuas de floresta tropical protegida do planeta.
Para os viajantes que buscam isolamento e contato pleno com a natureza, este é um verdadeiro tesouro amazônico.
Foto: Divulgação/ICMBio
Acre – Serra da Contamara, na Serra do Divisor (609 m)
Embora o Acre seja conhecido por seus planaltos e baixas altitudes, sua região oeste guarda uma surpresa: a Serra do Divisor. Ali, na Serra da Contamara, encontra-se o ponto mais alto do estado, com 609 metros.
Essa área montanhosa contrasta com o relevo predominante acreano e integra o Parque Nacional da Serra do Divisor, um território de rica biodiversidade e um dos cenários mais belos da Amazônia brasileira.
Ande comigo por dentro de uma Paleotoca feita pela Preguiça Gigante há 20 mil anos! Esses túneis incríveis, escondidos no coração da Amazônia, chegam a mais de 600 metros de extensão subterrânea.
Durante a exploração, procurei carrapatos (meu foco principal), mas no caminho encontrei um Amblypygi, um aracnídeo exótico e impressionante.
A experiência dentro da paleotoca é única: quente, úmida e cheia de galerias que parecem não ter fim. É como caminhar dentro da história da megafauna brasileira.
Sobre o autor
Ticksman é o Flávio Aparecido Terassini, biólogo, professor universitário desde 2006, mestre em Ciências pela USP e doutorando pelo Bionorte.
Moradora há 30 anos, Nete Silva celebra as melhorias no Laura Moreira. Foto: Andrezza Mariot/PMBV
A Prefeitura de Boa Vista segue investindo em mobilidade urbana, com o objetivo de garantir mais qualidade de vida aos moradores. O bairro Laura Moreira, por exemplo, está recebendo novo asfalto e a rua Major Ecildon Pinto, via de mão dupla e principal acesso ao bairro, foi uma das primeiras contempladas.
Executada pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SEMOB), a obra prevê 2,8 km de pavimentação. Os moradores comemoram os avanços, como é o caso de Nete Silva, que há 30 anos vive no Laura Moreira. Ela está muito contente com as melhorias na infraestrutura viária.
“Consigo ir ao mercado e em qualquer lugar que eu precisar, utilizando as vias que estão novas e sem buracos”, ressaltou Sérgio Rodrigues. Foto: Andrezza Mariot/PMBV
“Nosso asfalto ficou muito bom e está uma maravilha. Depois que fizeram esse serviço, a pista ficou divina, muito resistente. Houve melhora no trânsito. O movimento ficou excelente. Agradeço muito à prefeitura por essa obra”, disse a cabeleireira.
Sérgio Rodrigues contou que o novo asfalto contribuiu com mais acessibilidade para ele e para os amigos. “O asfalto está bem melhor. Facilitou muito para mim, que sou cadeirante. Consigo ir ao mercado e em qualquer lugar que eu precisar, utilizando as vias que estão novas e sem buracos”, ressaltou o morador.
A dona de casa, Francisca Lopes, estava caminhando pelas ruas e ficou encantada com o serviço. Foto: Andrezza Mariot/PMBV
Já para Marcel Felipe, o trabalho superou as expectativas. “A gente precisa reconhecer quando as coisas são bem-feitas. Esse asfalto aqui no bairro ficou excelente, pois melhorou muito a mobilidade, evitou buracos, acidentes e trouxe mais segurança para todo mundo. Os moradores estão satisfeitos”, disse o barbeiro.
A dona de casa, Francisca Lopes, estava caminhando pelas ruas e ficou encantada com o serviço. “Parabenizo a prefeitura pelo asfalto novo. Ficou muito bom e valorizou ainda mais o nosso bairro, Laura Moreira”, enfatizou.
“Seguimos avançando e garantindo melhorias reais para todos”, enfatizou o secretário-adjunto de Mobilidade Urbana, Gino Falcão. Foto: Andrezza Mariot/PMBV
As obras continuam nas demais vias do bairro. O secretário-adjunto de Mobilidade Urbana, Gino Falcão, falou sobre a importância da obra.
“Estamos fazendo um trabalho relevante de recuperação e pavimentação de vias, com reciclagem do asfalto antigo e recapeamento. Esse serviço melhora a qualidade das ruas, dá mais segurança para a população e contribui diretamente para o desenvolvimento da cidade. Seguimos avançando e garantindo melhorias reais para todos”, contou.
Porto Velho, em Rondônia, é a maior entre as capitais brasileiras em extensão territorial. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município tem 34.091 km² — área maior que países como Bélgica (30.688 km²) e Israel (22.145 km²).
Apesar da dimensão, menos de 1% do território de Porto Velho é urbanizado. Na prática, isso significa que a capital concentra seus moradores em uma fração mínima, enquanto a maioria do espaço é formada por áreas de floresta, rios e comunidades rurais e ribeirinhas.
Porto Velho, Rondônia. Foto: Leandro Morais/Secom RO
Essa configuração resulta em uma densidade demográfica muito baixa, especialmente quando comparada a outras capitais bem menores. Por exemplo:
São Paulo (SP) é 22 vezes menor que Porto Velho. Ainda assim, a densidade demográfica da capital paulista é muito superior.
Enquanto São Paulo concentra mais de 7,2 mil pessoas por quilômetro quadrado, Porto Velho, com cerca de 460 mil habitantes, registra apenas 13 por km² — o equivalente a um campo de futebol inteiro para cada morador.
Outras comparações de Porto Velho
O Institut Géographique National (IGN) informa que a Bélgica possui 30.688 km² e 11,8 milhões de habitantes. Ou seja, seria possível colocar o país inteiro dentro de Porto Velho e ainda sobraria espaço.
Porto Velho, capital de Rondônia, tem uma área maior que a de Israel, mas abriga apenas uma pequena fração da população. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, Israel possui 22.145 km² e cerca de 9,5 milhões de habitantes.
Para imaginar a diferença, pense em espalhar toda a população de Israel pelo território de Porto Velho: cada pessoa teria muito mais espaço ao redor. Já em Israel, o território é bem mais compacto e densamente ocupado, o que faz com que as pessoas vivam muito mais próximas umas das outras.
Com vasta área e baixa concentração populacional, Porto Velho se destaca por sua diversidade geográfica. Cercada pelo rio Madeira, a capital abriga 14 distritos, muitos deles ribeirinhos:
Abunã
Calama
Demarcação
Extrema
Fortaleza do Abunã
Jaci-Paraná
Nazaré
Nova Califórnia
Nova Mutum Paraná
Rio Pardo
São Carlos
Sede – Porto Velho
União Bandeirante
Vista Alegre do Abunã
Outra curiosidade da capital rondoniense é que ela é a única capital que faz fronteira com outro país: a Bolívia.
No entanto, a sede do município está a cerca de 150 km da divisa. Os distritos que limitam com o território boliviano São Fortaleza do Abunã e Extrema.
Ímãs de neodímio, ferro e boro produzidos pela empresa chinesa Neo Material Technologies. Foto: Doug Kanter/Bloomberg via Getty Images
As terras-raras fazem parte de um grupo amplo de minerais chamados de estratégicos, que têm importância econômica e são fundamentais para a produção de tecnologias ligadas à economia verde e à indústria de baixo carbono. É também o caso do lítio, do nióbio, do silício, do grafite e do cobre. Para incentivar o desenvolvimento dessa indústria no país, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) selecionaram em junho deste ano 56 projetos de produção para os quais foram disponibilizados, em um primeiro momento, R$ 5 bilhões. Dez deles estão associados aos elementos de terras-raras.
O Brasil detém 23% das jazidas mapeadas de terras-raras, o equivalente a 21 milhões de toneladas (t), sendo superado apenas pela China. O país asiático concentra depósitos que somam 44 milhões de t, ou cerca de 49% do total, e, utilizando-se dessa matéria-prima, é o maior fabricante global de superímãs, segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos. A produção brasileira de terras-raras é incipiente – foram somente 20 t, em 2024, diante de 270 mil t dos chineses – e ainda não há fabricação local de ímãs.
Os Estados Unidos, detentores de apenas 2% das reservas (1,9 milhão de t), buscam estabelecer acordos com outros países para garantir o abastecimento desses minerais e não depender somente dos chineses, que estão colocando barreiras à exportação de terras-raras, dificultando a concorrência no mercado de superímãs. A produção norte-americana no ano passado, de 45 mil t – menos de 20% da chinesa –, é insuficiente para a demanda do país. O governo de Donald Trump já demonstrou interesse nas reservas do Brasil, da Ucrânia, da Groenlândia, entre outros países.
Brasil
Os principais depósitos com potencial econômico do Brasil estão em Minas Gerais, Goiás, Amazonas, Bahia e Sergipe, segundo informações do Serviço Geológico Brasileiro, da Agência Nacional de Mineração e de estudos técnicos consolidados. As terras-raras são normalmente encontradas misturadas entre si e agregadas a mais de 200 minerais, principalmente nióbio e fosfato.
Elas podem ser extraídas de rocha compacta ou de argila iônica, substrato que já sofreu intempérie e é mais fácil de minerar. É o que ocorre na reserva localizada no município de Minaçu, no norte de Goiás. Operada pela Mineração Serra Verde, de capital norte-americano e britânico, é uma das poucas minas de argila iônica exploradas fora da Ásia. O empreendimento é o único do país em produção comercial.
Mais fáceis de serem exploradas, as reservas de argila iônica são uma descoberta recente no Brasil, de no máximo 10 anos, explica o engenheiro químico Ysrael Marrero Vera, chefe do Serviço de Metalurgia Extrativa do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), no Rio de Janeiro. Muitos depósitos de terras-raras no país são de difícil extração e custo operacional mais elevado.
A meta da Serra Verde é produzir 5 mil toneladas por ano de um concentrado misto de óxidos de neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy), de acordo com informações no site da empresa. A produção, conforme reportagem da Folha de S.Paulo, é voltada à exportação, principalmente para a China. Procurada por Pesquisa FAPESP, a empresa não se pronunciou.
Vista aérea do local de processamento de terras-raras da Mineração Serra Verde, em Minaçu (GO). Foto: Mineração Serra Verde
Pesquisadores ouvidos pela reportagem chamam a atenção para o fato de que as mineradoras que hoje exploram ou planejam explorar as terras-raras no Brasil são todas estrangeiras ou de capital estrangeiro, o que significa que podem ter menor propensão a fomentar ou utilizar a pesquisa desenvolvida no país.
Temem também que o Brasil perca mais uma vez a oportunidade de se tornar uma das lideranças na exploração e no processamento das terras-raras – já que na década de 1950 e até meados de 1960 o país era um dos principais fornecedores mundiais de óxidos de terras-raras. O refino era feito pela empresa Orquima, que explorava depósitos de areias monazíticas, contendo terras-raras e urânio, e vendia sua produção de óxidos para clientes no exterior.
A Orquima acabou sendo estatizada e, depois de alguns anos, o governo considerou que não valia a pena investir mais no processamento de terras-raras.
“Todo o investimento tecnológico e em recursos humanos foi praticamente perdido e, quando as terras-raras começaram a ter maior valor agregado nos anos 1970 e 1980, o Brasil já não tinha competitividade no setor”, escrevem os químicos Paulo Cesar de Sousa Filho e Osvaldo Antonio Serra, da Universidade de São Paulo (USP), em artigo publicado em 2014 na revista Química Nova.
Assim como a mineração de outros elementos, a de terras-raras tem impactos ambientais. Nas minas a céu aberto, há supressão da vegetação, erosão e compactação do solo e perda de biodiversidade local. Há também outras questões. Quando se produz o concentrado de terras-raras, elementos como lantânio (La) e cério (Ce) podem estar numa proporção muito maior do que o neodímio e o praseodímio, que são os que interessam.
Com isso, ao final do processo, tem-se terras-raras (lantânio e cério) com demanda limitada de mercado. Além disso, certos minérios, como a monazita, podem ter elementos radioativos, como tório e urânio, gerando rejeitos com potencial radiotóxico.
“Não basta dominar o ciclo de produção das terras-raras, é importante que ele seja sustentável”, destaca o químico Henrique Eisi Toma, do Instituto de Química (IQ) da USP.
Atentos à sustentabilidade do processo, o Cetem e outros grupos e institutos de pesquisa têm se voltado à recuperação dos elementos de terras-raras a partir de materiais já usados e descartados, como baterias, ímãs e lâmpadas fluorescentes, em um processo de reciclagem conhecido como mineração urbana. “Pegamos os ímãs pós-consumo e estudamos a recuperação das terras-raras contidas neles. Para isso, aplicamos algumas técnicas de metalurgia, como lixiviação, purificação e separação”, afirma Vera, do Cetem.
No Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, a FAPESP apoia pesquisas relacionadas à mineração urbana. Entre 2016 e 2020, houve uma colaboração internacional entre países da América Latina e Europa para recuperar elementos de lâmpadas fluorescentes descartadas, uma vez que o pó que reveste os tubos de vidro contém térbio.
Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP
“Esse pó tem um valor agregado imenso, e também mercúrio, que é tóxico. Por isso, o descarte indiscriminado de lâmpadas fluorescentes em lixão é terrível”, comenta o químico Sidney José Lima Ribeiro, coordenador do Laboratório de Materiais Fotônicos do IQ-Unesp.
No caso das lâmpadas, afirma Ribeiro, podem ser recuperados térbio, európio (Eu) e ítrio (Y). Esses elementos são empregados no desenvolvimento de cerâmicas e filmes finos luminescentes, além de sensores ópticos, aplicações que são o foco do grupo da Unesp. “Estamos desenvolvendo métodos para extrair as terras-raras e usá-las em nossas pesquisas”, acrescenta o pesquisador. Uma das linhas de pesquisa, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), prevê o uso da bactéria Acidithiobacillus thiooxidans para produzir ácido sulfúrico a fim de recuperar as terras-raras, num processo de biolixiviação. O trabalho é coordenado pela química Denise Bevilaqua, do IQ-Unesp.
Em artigo publicado este ano na ACS Applied Bio Materials, pesquisadores da Unesp apresentaram um possível uso de um composto de terras-raras em nanoplataformas para o controle da liberação da droga anticâncer doxorrubicina. Os elementos adicionados ao material permitiram que a liberação da droga fosse feita a partir de luz infravermelha, segundo o trabalho, cuja primeira autora, Marina Paiva Abuçafy, faz estágio de pós-doutorado com bolsa da FAPESP.
A mineração urbana também é tema de um projeto financiado pelo CNPq com a proposta de transformar ímãs usados em turbinas eólicas, computadores antigos e trilhos de trem de levitação magnética, como os de um projeto em desenvolvimento na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em novos ímãs ou materiais. “O processamento de um imã usado de um tomógrafo ou aerogerador é idêntico ao de uma liga zero-quilômetro”, afirma o físico Sérgio Michielon de Souza, do Departamento de Física dos Materiais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Souza também está à frente de outra empreitada, a coordenação de um novo INCT dedicado às terras-raras, o Materia – Materiais Avançados à Base de Terras-raras, aprovado este ano. Com investimentos de R$ 10,2 milhões previstos para os próximos cinco anos, a iniciativa é mais ampla em objetivos do que a anterior, do INCT Terras-raras, uma vez que não se restringe à cadeia específica dos ímãs, mas se volta às diversas aplicações possíveis das terras-raras. Entre elas, a produção de células fotovoltaicas e materiais termoelétricos.
A meta do INCT, desafiadora, é fazer o ciclo das terras-raras totalmente nacional, da extração às aplicações nos próximos cinco anos, afirma Souza. “Vamos trabalhar para produzir novos materiais ou ímãs com a mesma qualidade da China”.
Integram o novo INCT 15 instituições, sendo oito universidades, cinco centros e institutos de pesquisa e dois institutos de ensino técnico. “Esse é um grande diferencial, pois envolve desde a formação mais básica até a mais avançada”, conclui.
Bonde a tração animal, no Rio de Janeiro, 31/08/1926. Foto: Augusto Malta/Acervo Rio Memórias
Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br
Em 18 de outubro de 1878 pelo Decreto Imperial n.° 7.046, é dada a Luiz Jacome de Abreu e Souza à autorização para construir usar com todos os benefícios pelo prazo de trinta anos uma linha de carris de ferro, com bitola de 0,70 cm desde a estação da estrada de Ferro Dom Pedro II, no Porto Novo da Cunha até a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer, nome primitivo da localidade.
O Decreto n.° 8.427 de 18 de fevereiro de 1882 aprova os estudos definitivos da nova linha. A estação acima referida, ficava no ramal Melo Barreto – Porto Novo da Estrada de Ferro Lepoldina, km 2.55.8, situada no município de Além Paraíba, em Minas Gerais. Antes de sua inauguração, o contrato é transferido para Nicolau Taranto e, em 1895 é inaugurado o serviço de bondes, com quatro quilômetros de extensão.
O capital da nova empresa era de 100:000$000 e o material rodante em 1912, se compunha de oito carros de passageiros, dois de carga com quarenta animais para tração. O movimento de passageiros era pequeno, mas, mesmo assim, dava lucro. Em 1912 transportou 65 mil pessoas o que lhe rendeu uma receita de 22:000$000, quando a despesa no mesmo período foi de 15:000$000, dando um lucro de 5:000$000.
Em 1922, o número de passageiros já havia aumentado para 150 mil pessoas, com 180 mil quilômetros de carga transportada. O número de veículos tinha aumentado para 12 carros de passageiros, duas cargas, com 60 animais para a tração e com 15 empregados para os serviços.
O Brasil foi o segundo país do mundo a adotar os bondes no transporte público, antes mesmo de países como Inglaterra, Alemanha e França. Foto: Reprodução/Acervo Museu SPTrans
O momento da eletrificação dos bondes
Em junho de 1923, a Câmara Municipal desapropria a empresa Carril de Muares, para facilitar a construção de novas linhas de bondes elétricos, dessa forma o transporte de bondes com tração animal é extinto. Em 31 de julho de 1923 é adquirida por Adão Pereira de Araújo pela importância de 82:000$000.
É então assinado o contrato com a municipalidade para eletrificação das linhas. Em meados de 1925 já se achavam em Porto Novo da Cunha (MG) os novos carros elétricos, em Além Paraíba se trabalhava ativamente na instalação dos trilhos e rede aérea. Finalmente em 15 de novembro de 1925 com grandes solenidades e a presença do Presidente do Estado de Minas Gerais, Mello Viana, é inaugurado novo serviço de bondes elétricos.
Diz uma revista da época: “O serviço inaugurado satisfaz plenamente à expectativa geral tendo sido por este motivo festivo o ato realizado. Os bondes são muitos elegantes e confortáveis comportando 40 passageiros cada um”.
O horário foi organizado por Roberto Araújo, Gerente dos Serviços de Tração Elétrica e Iluminação Geral do Município. Era esperada para breve a inauguração do serviço de reboques, para transporte de operário das oficinas da Companhia Leopoldina e diversas fábricas daquela cidade.
O Brasil apesar de sua grande dimensão e carência de transporte, não possuía uma indústria efetiva de material para transporte coletivo. A maior parte desse material era importado dos Estados Unidos. Outra parte da Inglaterra, pequena parte da Alemanha e Bélgica.
Av. Eduardo Ribeiro com Sete de Setembro, década de 1940, em Manaus (AM). Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
O maior fornecedor de nossos bondes, no início da tração animal, era o fabricante norte-americano John Stephenson Company Ltda de Nova York, que exportou veículos para São Paulo, Santos, Salvador, Belém, Manaus, São Luís e Porto Alegre. Para o Rio de Janeiro forneceu também os primeiros bondes elétricos, que trafegavam no país, os célebres três eixos modelo radial Robinson, em 1890.
Após sua falência, por volta do princípio do século, os nossos bondes já elétricos, foram na sua maioria fornecidos pela fábrica J. G. Brill da Filadélfia. Outra parte era fornecida pela Saint Louis Car Company, de Saint Louis. Da Inglaterra, a nossa maior fornecedora era English Eletric Company, acompanhada da Hurst Nelson e Dick Kerr e Company de Londres. Da Alemanha, tivemos bonde da Siemens Schuckert; Brow Bovery, Falkenreid e da Bélgica, da firma Nivelles.
Tivemos no Brasil apenas duas empresas que fabricavam esse tipo de veículo, não se contando, é lógico, as próprias oficinas das companhias concessionárias, que muitas vezes construíram seus próprios bondes, como é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Santos, Salvador, Belo Horizonte, etc.
Das duas indústrias específicas de material tranviario e ferroviário, a maior e mais conhecida era a Trajano de Medeiros e Cia, estabelecida no Rio de Janeiro e que forneceu bondes para o próprio Rio de Janeiro, São Paulo e várias outras cidades, além de material ferroviário para quase todas as nossas ferrovias. A segunda, bem menor, era Sampaio Corrêa e Cia, também estabelecida no Rio de Janeiro, ao que se sabia, só forneceu bondes para a cidade de Belo Horizonte.
Com todo o desenvolvimento da cidade de Manaus, veio a necessidade de se colocar um meio de transporte à altura do progresso da cidade. A era dos bondes com tração animal estava no fim. A novidade era o bonde elétrico e, assim, “já segundo Waldemar Corrêa Stiel, Manaus foi a segunda cidade do Brasil, depois de Campos no Rio de Janeiro a introduzir a eletricidade na iluminação pública, nada mais lógico do que se adotar o bonde elétrico”.
Foi no Governo de Eduardo Ribeiro, o grande urbanista, promulgada em 24 de agosto de 1895, a Lei nº. 124 pela qual é efetuada concorrência pública para a instalação dos bondes.
O vencedor da referida concorrência foi o engenheiro Frank Hirst Habbletwhite, que na época assinou o contrato para as construções das linhas, num total de 20 km, com uma subvenção anual de 200:000$000 no primeiro quinquênio, 160:000$000 no segundo e 120:000$000 no terceiro. Daí em diante cessava a subvenção. Previa se, também, a possibilidade do concessionário poder aumentar as linhas de trilhos por mais 15 km.
Mapa de 1897, mostrando linhas de bonde em Manaus. Acervo: The Tramways of Brazil a 130 year survey by Allen Morrison
É formada então a empresa Manaus Railway Company que deu início a instalação das linhas. Em 24 de fevereiro de 1896 é efetuada uma inauguração provisória para experiência. Em 1897, conforme relatório do governador Fileto Pires Ferreira, a companhia já construíra 16 km de linhas, possuindo 25 bondes para cargas e 10 para passageiros, tendo transportado 171.783 pessoas. O preço da passagem era de 250 réis.
“[…] Ainda segundo o mesmo autor, para a movimentação dos bondes, que funcionava a partir das 5 da manhã até as 22 horas, foi instalada uma usina hidrelétrica em um dos igarapés da cidade”. ¹ Pág. 195.
Foi inaugurado com grandes festejos, os serviços de transporte de passageiros por bondes em 1º de agosto de 1899. Oficialmente, Manaus foi a terceira cidade do Brasil a inaugurar os serviços de bondes elétricos. Suas linhas de tráfego eram: Flores, com 24 viagens diárias; Plano Inclinado, com 39; Cachoeirinha, com 67; Circular, com 16 viagens e, finalmente a linha da Saudade, com 53 viagens. O Estado encampou o serviço de bondes em 24 de julho de 1902 e o repassou a firma Travassos e Maranhão, que por sua vez o transferiu para o engenheiro Antônio Lavandeyra.
Em 1908 é fundada a Manaus Tramways and Ligth Co, com concessão para luz e bondes elétricos durante 60 anos a partir de 27 de abril de 1908, eram seus diretores: James Mitchell, G. M. Both, W.C. Burton e G. Watson. Esta nova empresa absorve a antiga Manaus Railway Co. e entra em atividade em 9 de junho de 1909.
“[…] Por essa época, o coronel Costa Tapajós, superintendente municipal, publica as instruções que acompanhavam o decreto que proibia cuspir e fumar nos bondes dos serviços elétricos, cujas, multas cobradas dos infratores seriam revertidas em duas terças partes, para a Santa Casa de Misericórdia”. ² Pág. 198.
A decadência desse tipo de transporte advém do início da Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918, que impediu a importação de material, como peças de reposição para os bondes. O bonde era um meio de transporte barato, consequentemente não rendia muito à concessionária e sem possibilidade de ampliação, pois necessitava de grandes investimentos e importação de materiais.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial de 1939 a 1945, os serviços decaíram tanto que em setembro de 1946, o presidente da república assina um decreto autorizando a intervenção federal na Manaus Tramways, a fim de assegurar a normalidade dos serviços. Em 1947 foi extinta a intervenção também por decreto presidencial, mas a companhia estava numa situação de penúria.
Em 11 de fevereiro de 1950 a Manaus Tramways foi encampada, quando já eram obsoletas e insuficientes as usinas de produção de energia elétrica. Por esse motivo e por economia de energia, os serviços de bondes foram interrompidos. A Serviços Elétrico do Estado, que incorporou a Manaus Tramways, foi obrigada a paralisar totalmente a produção de energia elétrica para a cidade e, por muitos meses Manaus viveu às escuras. A partir daí, foi criada a CEM – Companhia Elétrica de Manaus, que reorganizou os serviços elétricos e, em 1956, numa tentativa efêmera, coloca novamente os bondes em funcionamento. Havia, porém, somente nove bondes em tráfego e não existiam possibilidades de compra e reposição de novos carros e a expansão das linhas. Além disso, a antiga companhia inglesa ainda lutava nos tribunais pela posse de sua concessão, o que motivou a extinção definitiva dos serviços de bondes de Manaus, em 28 de fevereiro de 1957.
“[…] Vivendo esse ideal de modernidade e progresso, Manaus passou a buscar com mais intensidade a implementação dos serviços de locomoção, num período em que ocorriam na capital, além das interversões urbanísticas e sanitárias, a ampliação da malha viária, bem como edificação de suntuosos prédios públicos, praças e avenidas, gerando consequentemente a necessidade de veículos de locomoção eficientes para percorrer as áreas da cidade planejada”.³ Pág. 38, 39.
Fontes
CORRÊA, Waldemar Stiel. História do Transporte Urbano no Brasil. ¹ Pág. 195, ² Pág. 198.
MAGALHÃES, Soraia Pereira. O Transporte Coletivo Urbano de Manaus: Bondes, Ônibus de Madeira e Metálicos. Manaus: Edua, 2014. ³ Pág. 38, 39.
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.