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O que resta de floresta em Rondônia está nas áreas protegidas, mostra estudo

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Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

No trajeto até a Terra Indígena (TI) Karipuna, em Rondônia, antes de ultrapassar o limite demarcado do território, há pastagem e gado. Ao cruzar a linha que marca a entrada da área protegida, a floresta é retomada.

O mapa de Rondônia mostra que o estado inteiro é assim. As áreas protegidas funcionam como um escudo para a floresta, uma linha invisível que impede – não totalmente, mas de forma significativa – o desmatamento que avança no restante do estado. 

Leia também: Clareira de desmatamento é encontrada em Terra Indígena Karipuna

Os dados da plataforma MapBiomas mostram que, entre 1985 e 2024, a agropecuária avançou muito mais fora das terras indígenas (TIs) e das unidades de conservação (UCs) de Rondônia do que dentro delas. 

Nas TIs, a área ocupada pela agropecuária aumentou 499 km² — menos de 0,8% da extensão total desses territórios. Fora das terras indígenas, o aumento foi de 76.492 km², o equivalente a 41% da área não indígena. Um avanço mais de 50 vezes maior.

No caso das UCs, o crescimento foi de 5.127 km² dentro das unidades de conservação (cerca de 6% da área total) e de 71.888 km² fora delas (aproximadamente 40%). Ou seja, a expansão da agropecuária foi mais de seis vezes maior fora das UCs do que dentro.

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O custo de proteger a floresta é alto para os povos indígenas. Homologada em 1991 e com quase dois milhões de hectares, a TI Uru-Eu-Wau-Wau é sobreposta ao Parque Nacional de Pacaás Novos, a maior unidade de conservação de Rondônia. A região está entre as mais pressionadas pelo agronegócio e pela extração ilegal de madeira. As invasões são constantes, assim como o risco de conflito com grileiros e madeireiros. 

Demarcação de terras em Rondônia

No caso das unidades de conservação, mesmo aquelas de proteção integral — que não permitem o uso direto dos recursos naturais, nem por populações tradicionais ou locais —, sofrem pressões crescentes, inclusive do próprio Estado. Desde pelo menos 2020, a InfoAmazonia registra tentativas do governo de Rondônia de reduzir duas das principais áreas protegidas do estado: a Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná e o Parque Estadual Guajará-Mirim. 

Em maio deste ano, os deputados da Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO) aprovaram a Lei Complementar nº 1.274/2025, que anula automaticamente todas as multas e processos por infrações ambientais cometidas dentro da Resex Jaci-Paraná. Há, ainda, o caso do secretário-adjunto de Desenvolvimento Ambiental do Estado de Rondônia, Gilmar Oliveira de Souza, que pode estar envolvido em uma das maiores grilagens já identificadas dentro de uma unidade de conservação na Amazônia, na Resex Rio Cautário. 

De certa forma, esse cenário se repete em toda a Amazônia, em que as áreas protegidas funcionam como um escudo para a floresta — mesmo sob ataque constante. Por isso, os povos indígenas defendem que a demarcação de terras seja reconhecida como uma política climática e levam esse debate para a COP30. É também por isso que afirmam: “A resposta somos nós”

COP em mapas

Este é um dos episódios da série COP em Mapas da InfoAmazonia que traz dados sobre a COP30. Veja mais mapas que explicam o clima e a COP aqui.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela InfoAmazonia, produzido por Carolina Dantas, Carolina Passos e Renata Hirota

Guarda Municipal reforça segurança com Ronda Comercial em Boa Vista

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Agentes da GCM realizam patrulhamento preventivo, orientam comerciantes e coíbem furtos e vandalismo. Foto: Andrezza Mariot/PMBV

Presença constante em áreas comerciais de Boa Vista, a Guarda Civil Municipal (GCM), contribui diariamente para aumentar a segurança, garantir a ordem pública e fortalecer a parceria entre a instituição e a comunidade local. Durante as ações, os agentes fazem patrulhamento preventivo e comunitário, orientam comerciantes e a população, além de coibir práticas ilícitas, como furtos e vandalismo.

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Com atuação desde outubro de 2024, com base situada no parque Germano Augusto Sampaio, localizado na zona oeste da cidade, a Ronda Comercial é composta por 22 guardas municipais e três viaturas, distribuídos em escalas. De acordo com o inspetor de área da Guarda Municipal, José Carlos, a patrulha trabalha para garantir a segurança e o bem-estar da população.

“A Ronda Comercial trabalha diariamente das 7h às 18h, nos principais centros comerciais de Boa Vista. A nossa função é trazer aos comerciantes, a maior segurança no comércio e aos consumidores. Fazemos patrulhamento preventivo e comunitário a pé e nas viaturas. Constantemente, temos viaturas nas áreas oeste e central de Boa Vista, trazendo aos centros comerciais mais segurança”, disse.

Guarda Municipal reforça segurança com Ronda Comercial em Boa Vista
Ícaro Rian destaca a presença constante da Guarda Municipal nas áreas comerciais. Foto: Andrezza Mariot/PMBV

Comércio seguro

Equipada, a Ronda Comercial atua de forma proativa na cidade, com presença constante e visível da Guarda Municipal nas áreas comerciais. Vendedor há 5 anos em uma área comercial de Boa Vista, Ícaro Rian afirma que a Guarda Municipal é presença constante nas proximidades do comércio em que trabalha.

“Os guardas estão sempre passando por aqui, em contato com as pessoas e fazendo ronda. Com certeza, eu me sinto mais seguro, pois antigamente a incidência de roubos era um pouco maior e agora com a presença deles, as coisas ficaram mais tranquilas. É um serviço indispensável para o comerciante, para o trabalhador do comércio e para a população que passa por aqui diariamente”, apontou.

Leia também: Prefeitura reforça sensibilização para manter praias e rios limpos em Boa Vista

A GCM conta com Central de Monitoramento, acionada pelo (95) 98414-4413. Foto: Andrezza Mariot/PMBV

Contato com a população

Com o fim de ano se aproximando, as áreas comerciais tendem a aumentar de forma significativa a movimentação, pensando nisso, a Ronda Comercial também intensifica o patrulhamento preventivo e comunitário nesses ambientes para inibir a incidência de furtos, roubos e outros crimes. Vale lembrar que a Guarda Civil Municipal possui a Central de comunicação e Monitoramento que pode ser acionada pelo número de telefone (95) 98414-4413.

Ronda Comercial intensifica fiscalização contra cobrança irregular de estacionamento. Foto: Andrezza Mariot/PMBV

Cobrança irregular de estacionamento

Ainda, a Ronda Comercial tem intensificado a fiscalização de cobrança irregular de estacionamento em áreas públicas da capital, geralmente feita por guardadores de veículos e lavadores, conhecidos como “flanelinhas”. A ação segue ao longo de todo ano, com as equipes atuando de forma constante nos corredores comerciais da cidade.

Os agentes já recolheram diversos objetos usados para reserva irregular de vagas, dentre eles, baldes, papelões e até arma branca. A fiscalização também ocorre nos eventos de grande porte realizados na cidade.

Materiais utilizados para reservar vagas de estacionamento, como cones, fitas e caixas são removidos e recolhidos pelos guardas municipais. Os envolvidos são orientados a buscar formas legais e seguras de trabalho em locais apropriados.

#PMBVPUBLI

Estudo revela que cápsulas de alho se mostram eficazes contra parasitas do pirarucu

Foto: Jefferson Christofoletti

Uma solução natural e acessível pode estar prestes a ganhar espaço no manejo da piscicultura brasileira. Pesquisadores da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), descobriram que cápsulas de alho (Allium sativum) vendidas em farmácias demonstraram eficácia no combate a parasitas que atacam alevinos de pirarucu (Arapaima gigas), peixe símbolo da Amazônia e de alto valor comercial. A alternativa pode reduzir perdas na produção, melhorar o bem-estar animal e diminuir a dependência de produtos químicos no setor. 

Leia também: Com manejo sustentável, pirarucu recupera estoque natural na região do Médio Solimões

O estudo, publicado na revista científica Veterinary Parasitology, mostrou que as cápsulas de alho foram capazes de reduzir significativamente a presença de dois inimigos comuns dos alevinos: os protozoários tricodinídeos e o verme das brânquias Dawestrema cycloancistrium. Esses parasitas podem causar mortalidade em larga escala nos criadouros de pirarucu, uma das espécies mais cultivadas no País. O tratamento pode ser utilizado de forma complementar ao uso do sal de cozinha, comumente utilizado nas criações de alevinos.

A pesquisa foi coordenada pela pesquisadora Patricia Oliveira Maciel Honda, da Embrapa, em parceria com a Universidade Federal do Tocantins (UFT) e a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS). O projeto recebeu financiamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Os tricodinídeos são protozoários de célula única, unicelular. Já os monogeneas são um helminto, conhecido como verme das brânquias. Ambos são comuns de serem encontrados nas brânquias e no corpo de alevinos de pirarucu e podem levar cardumes inteiros à morte.

A pesquisa utilizou diversas concentrações do alho para ao tratamento: 2,5 mg; 5 mg; 7,5mg e 10 mg por litro, expondo os peixes a 4 dias em banhos estáticos. No combate às monogeneas, houve uma redução de 33,5% a 42,9%, mesmo com a utilização de doses mais baixas – que, por sua vez, também não promoveram nenhum tipo de toxidade nos peixes.

“A intensidade de D. cycloancistrium nas brânquias foi significativamente reduzida nos peixes tratados em comparação ao controle (animais que não receberam tratamento), mas não foram observadas diferenças entre as concentrações testadas, indicando que as menores doses são eficazes”, destaca a pesquisadora.

No caso dos tricodinídeos, o experimento conseguiu uma eficácia de 77% para a dosagem de 5mg/L em 4 dias de tratamento, com redução dos protozoários nas brânquias.

Foto: Siglia Souza

A metodologia da pesquisa

As cápsulas de alho de farmácia têm duas apresentações. Cápsulas de mil miligramas (mg) e cápsulas de 500 mg de alho. A partir dessas apresentações, os pesquisadores testaram diferentes doses. “Colocamos, por exemplo, duas cápsulas de 1000 mg e uma cápsula de 500 mg em um litro de água, e fomos medindo para termos as concentrações de teste. Dessa forma, chegamos à dose de 2,5 mg por litro”, detalha Maciel.

Os peixes naturalmente infectados foram deixados em aquários com água e alho por 96 horas. Após esse período, foi coletado o sangue dos alevinos e foi raspado o muco dos animais para a verificação dos protozoários mortos. Os pesquisadores também verificaram as monogeneas presentes nas brânquias.

“Para a quantificação dos protozoários tricodinídeos no muco que estavam mortos após a exposição ao alho, utilizamos um corante que penetra nas células mortas. Então, levamos a amostra de muco ao microscópio e contamos as de coloração azul, indicadora da morte do organismo”, explica a cientista da Embrapa.

No caso, dos tricodinídeos, foi constatado que nas três maiores dosagens (5 mg/litro, 7,5 mg/litro e 10 mg/litro) houve uma quantidade maior de tricodinas mortos em comparação ao grupo controle. Para monogeneas, foi revelado que todas as concentrações utilizadas, desde a menor, com 2,5 mg/litro, até 10mg/litro provocaram uma redução significativa na carga de parasitos em relação ao grupo de controle.

Alternativa fitoterápica sem efeitos adversos registrados

“Não foram observadas mortalidade ou alterações comportamentais dos alevinos de pirarucu durante o experimento. Os resultados sugerem que o alho pode ser uma alternativa fitoterápica promissora para o manejo de ectoparasitas na piscicultura, particularmente na concentração de 5,0 mg/L por quatro dias de exposição”, sublinha a pesquisadora ao contar que, embora o alho tenha efeito imunoestimulante, não foi identificado esse benefício nos peixes analisados.

Momento ideal do tratamento

A pesquisadora lembra que a reprodução do pirarucu não é induzida; ou seja, os alevinos são coletados em viveiros após a reprodução natural do casal, o que acaba favorecendo com que os alevinos carreguem parasitos – e são geralmente os ectoparasitos monogeneas e os tricodinídeos e os parasitos internos nematóides os principais que são encontrados.

O momento ideal para a aplicação do tratamento com o alho é durante o treinamento alimentar dos pirarucus, quando os produtores colocam os alevinos em caixas d’água (foto à esquerda) ou estruturas similares para ensiná-los a comer ração. Nesse momento, é importante observar se os peixes apresentam alguma sintomatologia, algum sinal clínico da doença, tais como inapetência, flashing (ficar se raspando nas laterais do tanque, como estivesse se coçando), apatia, ficar isolado do grupo. As brânquias podem ficar pálidas porque o peixe está anêmico. Isso porque as monogeneas se alimentam de sangue e células epiteliais do seu hospedeiro. Os animais também podem apresentar melanose, um escurecimento da pele.

“Quando são identificados peixes nesse estado, o ideal é descartá-los e tratar o lote restante, de modo profilático, porque quando o animal apresenta esses sinais clínicos, dificilmente tem cura”, alerta a pesquisadora.

Foto: Eliane Tie Oba Yoshioka

É possível confirmar a presença dos parasitos em exames de microscópio ótico, e o ideal é realizar o diagnóstico precoce. Uma vez identificados os parasitos, já deve-se iniciar o tratamento com alho durante o treinamento alimentar.

Segundo a médica veterinária, outro momento adequado para realizar o tratamento com alho é quando os alevinos são recolhidos dos viveiros e vão ser transportados. Geralmente os peixes veem do viveiro com alguma carga parasitária. “Esse tipo de manejo geralmente estressa o peixe, diminuindo seu sistema imunológico. Nesse período de aclimatação e preparação para o transporte também seria indicado fazer o uso do alho de forma profilática”, diz ela.

“O óleo de alho demonstrou ser eficaz no controle desses parasitos, com destaque para a concentração de 5,0 mg/L, que também não induziu toxicidade significativa”, afirma. No entanto, mais pesquisas são necessárias para melhor compreensão de seu uso a campo. Maciel defende mais pesquisas nessa área e maior disponibilidade de produtos aprovados para a aquicultura, com a respectiva avaliação de custos.

A Embrapa está aberta a parcerias com indústrias para desenvolver esse e outros fitoterápicos para a aquicultura. Empresas interessadas podem entrar em contato pelo e-mail: cnpasa.spat@embrapa.br.

Estudos já comprovaram a eficácia do sal de cozinha

Segundo Patrícia Maciel, embora não tenha havido uma pesquisa específica avaliando a eficácia do uso do sal e do alho usados conjuntamente no tratamento de parasitos na aquicultura, ela coordenou um estudo anterior publicado no Journal of Fish Diseases que comprovou a eficácia do cloreto de sódio no combate do parasita monogenea Dawestrema cycloancistrium no pirarucu.

A pesquisa foi realizada em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e contou com o financiamento do Sebrae.Na ocasião, foi testado o sal e o triclorfon, um produto químico muito utilizado em pisciculturas. Os testes avaliaram banhos curtos e longos.

Os banhos longos foram de 24 horas de exposição, 10g de sal por litro. Foram dois banhos com intervalo de 24 horas, com duração total do tratamento de três dias.Já nos banhos curtos, os peixes ficaram numa solução de 12 g de sal por litro durante 4 horas de banho, uma vez por dia durante 4 dias.

O triclorfon foi testado com a mesma posologia, ou seja, mesma forma de administração, mudando apenas a dose que foi de 5 mg do quimioterápico por litro.

“A nossa pesquisa constatou que a eficácia do sal foi de 91% nos banhos curtos. Nos banhos longos foi de 99%, porém houve maior mortandade de peixes. Já para o triclorfon a eficácia foi de 84% para os banhos curtos e de 97% para os banhos longos, também com maior mortalidade”, explica ela. “Nós concluímos que o banho longo não é indicado para o peixe que está muito parasitado, pois o animal está debilitado e não resiste ao tratamento”, conclui a pesquisadora.

Foto: Eliane Tie Oba Yoshioka

Outros estudos

O uso de fitoterápicos na aquicultura tem sido amplamente estudado como alternativa para o controle de ectoparasitas em peixes.Pesquisa recente da Embrapa Amapá revelou que óleos essenciais extraídos de plantas amazônicas se mostraram eficazes no controle de parasitas que atacam as brânquias (monogeneas) do tambaqui (Colossoma macropomum), espécie nativa mais cultivada no País.

A pesquisa aponta para uma alternativa natural ao uso de quimioterápicos, abrindo novas perspectivas para práticas mais sustentáveis na piscicultura brasileira (veja aqui).

O trabalho analisou óleos essenciais de três espécies do gênero Piper: P. callosumP. hispidum e P. marginatum. Os dois primeiros apresentaram resultados positivos na redução da infestação por vermesmonogeneas, responsáveis por comprometer a saúde dos peixes. Já o terceiro não demonstrou a mesma efetividade no tratamento.

A investigação foi conduzida sob a coordenação do pesquisador Marcos Tavares Dias, da Embrapa Amapá, em colaboração com a Universidade Federal do Amapá (Unifap) e a Embrapa Amazônia Ocidental (AM). O estudo contou com financiamento do CNPq, por meio do Edital Universal.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa

Escolas do povo Baniwa resgatam saberes tradicionais e incorporam inovação

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Escola Pamaali: estudantes do ensino médio e professores indígenas em atividade de pesquisa. Foto: Antônio Fernandes Góes Neto/USP

Os Baniwa são um povo indígena que vive na região das fronteiras entre o Brasil, a Colômbia e a Venezuela, tendo como epicentro de sua distribuição geográfica o rio Içana, um dos tributários do Negro. Sua população em 2025 é estimada em cerca de 20 mil pessoas, distribuídas por várias aldeias e também por centros urbanos, como São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos.

Nos ambientes mais bem informados das grandes metrópoles brasileiras, os Baniwa são conhecidos principalmente por seu requintado artesanato, pela produção da pimenta jiquitaia, muito apreciada em gastronomia, e pela atuação cultural de alguns de seus integrantes, como o artista plástico Denilson Baniwa e o antropólogo, filósofo, professor universitário e ativista Gersem Baniwa, da Universidade de Brasília (UnB).

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Como aconteceu com outros povos indígenas, os contatos dos Baniwa com a sociedade envolvente foram marcados pela extrema violência colonial, pela exploração econômica e por tentativas de apagamento cultural praticadas por missionários católicos (salesianos) e evangélicos.

Mas uma experiência educacional iniciada no final dos anos 1980 converteu-se em um instrumento de resgate cultural e inovação social. Um estudo recente, conduzido por Antônio Fernandes Góes Neto, investigou como as escolas indígenas plurilíngues baniwa e koripako (que falam um dialeto da língua baniwa e vivem na Colômbia e no Alto Içana, no Brasil) e as organizações comunitárias presentes no território baniwa articulam currículo, projetos de cadeias de valor e saberes tradicionais, promovendo a permanência estudantil, a obtenção de renda e a governança local. Os resultados foram apresentados em capítulo do livro Equalizing the three pillars of sustainability.

Doutor pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), Góes Neto é atualmente professor visitante na Universidad Andina Simón Bolívar, no Equador. Sua pesquisa de campo foi apoiada pela FAPESP por meio do projeto “Educação escolar indígena: saberes aprendidos e inovação”, coordenado pelo professor Elie Ghanem.

“Chamamos de ‘paradigma irresponsável’ da escolarização aquela lógica de internatos e vigilância moral, que afastava jovens de suas famílias e interditava conhecimentos indígenas. Nossa pesquisa mostra como as escolas indígenas baniwa e koripako, hoje, são vetores para a reapropriação do território, da língua e da economia pelas comunidades”, diz Góes Neto.

A virada começou com o movimento associativista indígena do final da década de 1980 e da década de 1990, em meio à crise do garimpo e à mobilização por direitos territoriais. Surgiram, nessa época, entidades como a Organização Indígena da Bacia do Içana (Oibi), a Associação dos Professores Indígenas do Alto Rio Negro (Apiarn), a Associação das Comunidades Indígenas de Putyra Kapuamo (ACIPK) [Putyra Kapuamo significa “Ilha das flores” na língua yẽgatu], que convergiram na formação da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).

Representando 23 povos do Alto e Médio Rio Negro (Baniwa, Tukano, Desana, Baré, Tariana, entre outros), a Foirn, com sede em São Gabriel da Cachoeira, é hoje uma das organizações indígenas mais importantes do Brasil, atuando em defesa de direitos territoriais, educação, saúde, valorização das línguas e culturas e fortalecimento político das associações de base.

Com a homologação de terras e a criação do Território Etnoeducacional do Rio Negro (Decreto 6.861/2009), emergiu uma escola de base territorial, com gestão e docentes escolhidos pela comunidade. “As associações e as escolas tornaram-se espaços de manobra para preservar e fortalecer os saberes, ao mesmo tempo em que criam alternativas econômicas para que o ato de estudar não afaste os jovens das comunidades. A radiofonia comunitária, implantada com assessoria do Instituto Socioambiental [ISA], foi peça-chave na coordenação entre as associações e escolas”, informa o pesquisador.

O estudo foca a comunidade Cabari, na microrregião Aí Waturá, no município de São Gabriel da Cachoeira, onde a escola municipal homônima, gerida pela ACIPK, organiza currículo e projetos a partir da noção de kupixá (roça ou floresta) e de temas geradores levantados pela própria comunidade (plantas úteis, pesca, cerâmica, resíduos, saúde, história local etc.). O modelo é baseado em escolas-piloto do rio Içana, como a Escola Indígena Baniwa e Coripaco Pamáali e, mais recentemente, a Escola Baniwa Eeno Hiepole.

“A sala de aula tem fluxo com o território. Os alunos trilham, roçam, pescam, entrevistam os mais velhos, registram seus achados em línguas como baniwa, koripako ou yẽgatu e os apresentam à comunidade. Isso vira material didático. É a escola que constrói seus recursos de apoio por meio da pesquisa”, relata Góes Neto.

A ideia de “educar pela pesquisa” está alicerçada na obra do sociólogo Pedro Demo, professor emérito da UnB e ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), um autor referencial no campo da educação. Demo vê a pesquisa como princípio educativo por excelência, mobilizando aluno e professor, com base em critérios como autonomia e pensamento crítico. Sua abordagem foi profundamente absorvida pelos programas de Magistério Indígena no fim dos anos 1990 e início dos 2000.

Leia também: Ativista luta pela educação dos povos indígenas no Amazonas

A diversidade sociolinguística é um traço marcante: no Baixo Içana predomina o yẽgatu; do Médio para cima, o baniwa; no Alto Içana, o koripako. A grafia proposta pelo linguista franco-brasileiro Henri Ramirez, nascido na Argélia e chamado pelas associações baniwa para assessorá-las décadas atrás, vem sendo ajustada por professores indígenas. E há demanda para reconhecimento do baniwa e do koripako como patrimônio linguístico, dentro do Diagnóstico Sociolinguístico da Língua e Comunidade Medzeniako (Baniwa-Koripako), uma colaboração da Foirn com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e no Projeto de Documentação Linguística Baniwa e Koripako do Endangered Languages Documentation Programme (ELDP).

O resgate dos saberes ancestrais é uma ênfase. Mas a incorporação crítica de novos saberes, capazes de subsidiar a inovação com vistas ao bem viver, é igualmente valorizada. Em Cabari e em muitas outras comunidades isso se dá em três frentes: produção de cestaria com motivos tradicionais; produção de pimenta jiquitaia, inclusive com parcerias, visando, por exemplo, a fabricação de cerveja artesanal com pimenta; e turismo étnico, integrando trilhas, leitura de paisagens e de plantas, culinária e narrativas.

“Na produção da pimenta, o desafio foi dominar todas as etapas do processo: cumprir normas sanitárias, padronizar as embalagens e vender com identidade própria. No turismo, a comunidade percebeu que essa atividade só se sustenta quando a escola melhora, com pesquisa e formação de docentes, que são os próprios gestores desse tipo de atividade econômica”, comenta Góes Neto.

Escolas do povo Baniwa resgatam saberes tradicionais e incorporam inovação
Maloca da Comunidade Assunção do Içana, onde está em curso um movimento de recuperação do xamanismo tradicional. Foto: Antônio Fernandes Góes Neto/USP

A espiritualidade ancestral e as práticas xamânicas foram fortemente estigmatizadas e demonizadas pelas missões católicas e evangélicas. Hoje, a grande maioria dos baniwa se define como cristã, em uma vertente ou na outra. Mas também nesse campo, especialmente delicado, há uma recuperação em curso. Ucuqui-Cachoeira é reconhecida como uma das comunidades católicas que mantiveram práticas xamânicas vivas, mesmo diante da forte pressão evangelizadora no século 20.

Segundo o antropólogo Robin Wright, Ucuqui-Cachoeira foi um dos principais centros de resistência e revitalização do xamanismo baniwa. Pajés dessa comunidade participaram de iniciativas como a Escola de Xamãs, projeto conduzido por Wright nos anos 1990, com o objetivo de registrar, fortalecer e transmitir saberes xamânicos.

Assunção do Içana é outro exemplo. Marcada por ter sido um dos grandes internatos salesianos da região, tornou-se, a despeito disso, um novo polo de fortalecimento do xamanismo. Reflexo da convivência histórica com não indígenas e casamento com mulheres do povo Baré, a maioria dos moradores não fala baniwa, mas yẽgatu, que foi uma língua franca amazônica, principalmente nos séculos 18 e 19.

Em 2022-2023, foi criada, em Assunção do Içana, a Escola Viva, um projeto comunitário com a finalidade de ensinar e difundir saberes tradicionais, incluindo o xamanismo e o desejo de voltar a falar a língua baniwa, considerando que ainda há alguns falantes dessa língua na comunidade. A liderança intelectual desse processo vem de pesquisadores e professores baniwa, como Francy Baniwa e Francisco Fontes Baniwa, autores do livro Umbigo do Mundo https://dantes.com.br/produto/umbigo-do-mundo/ (2023), que articula cosmologia baniwa e perspectivas femininas do povo baniwa.

“A maloca tradicional vem sendo reconstruída, como recinto cerimonial e centro de convivência. Mas há um consenso crescente de que escola é uma coisa e maloca é outra. A aula pode acontecer na maloca, ou em uma sala de alvenaria, palhoça, roça, porto ou trilha. O essencial é não diluir o tempo escolar e não reduzir a maloca à sala de aula”, sublinha Góes Neto.

O capítulo escrito pelo pesquisador e fruto de trabalho colaborativo entre a FE-USP e a Foirn, e de oficinas realizadas no período 2018-2020, sustenta que escolas indígenas superam o “paradigma irresponsável” dos internatos, escolas bíblicas e antigas escolas agrotécnicas, quando significam a vida local, mobilizam saberes do território e reduzem o êxodo das comunidades indígenas, ao articular currículo, língua, economia e gestão.

“Escola é laboratório de invenção: livros, jogos, mapas, vídeos, brinquedos, artesanato, desenho de cadeias de valor. Inovação, aqui, não é engenhoca; é agência coletiva para resolver problemas reais”, enfatiza Góes Neto. Atualmente, a FE-USP assessora as escolas Baniwa e Koripako em conjunto com a Universidade de Brasília (UnB) no Diagnóstico Sociolinguístico da Língua e Comunidade Medzeniako.

O texto Reassembling residual knowledge: an ethnographic overview of the Baniwa organizations in the northwest Amazon pode ser acessado em springerprofessional.de/en/reassembling-residual-knowledge-an-ethnographic-overview-of-the-/51328560.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por José Tadeu Arantes

Pesquisadoras alertam para armadilhas de mercantilizar pauta climática e prejuízos para a Amazônia

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

De Rio Preto, região no município de Marabá, no sudeste do Pará, o manganês é extraído e vendido para diferentes países, como Estados Unidos, México, Noruega, China e Índia. O metal é cobiçado por ser visto como um mineral estratégico para a transição energética ─ a substituição dos combustíveis fósseis por outras fontes de energia que gerem menos emissões de gases do efeito estufa, que agravam as mudanças climáticas.

O manganês está presente, por exemplo, em baterias dos carros híbridos e elétricos. Um estudo das pesquisadoras Ailce Alves e Larissa Santos, no entanto, mostra que, por trás do discurso de sustentabilidade, existe um rastro de impactos ambientais e sociais para a população local.

Poeira, lama, riscos de acidentes e de rompimento de barragem de rejeitos, e conflitos internos fazem parte da lista de impactos da mineração em Rio Preto. O que, para as pesquisadoras, é sinal de que a transição energética pode ser usada apenas como uma camuflagem para que mineradoras continuem reproduzindo dinâmicas destruidoras da natureza e das relações socioambientais e aprofundando desigualdades.

O estudo é parte da coleção de livros ‘Politizando o Clima: poder, territórios e resistências‘. Os três primeiros volumes impressos foram lançados na noite da última segunda-feira (20), no Rio de Janeiro. O quarto volume está previsto para o fim do mês.

Leia também: Conheça as principais riquezas minerais da Amazônia brasileira

marabá, no pará
Marabá, no Pará. Foto: Reprodução/Agência Pará

O trabalho é resultado da parceria entre a Fundação Rosa Luxemburgo, o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/UFRRJ), o Coletivo de Pesquisa Desigualdade Ambiental, Economia e Política e a Editora Funilaria.

A coletânea traz reflexões sobre as disputas em torno da política energética, sobre a gestão dos territórios e sobre mercantilização e financeirização da natureza. O objetivo é fortalecer articulações em defesa e promoção da justiça socioambiental, o enfrentamento ao racismo ambiental e ao colonialismo verde ─ a interferência de países ricos sobre as formas de preservação ambiental nos países em desenvolvimento.

“Buscamos analisar e problematizar as políticas, projetos e atores envolvidos nas discussões sobre as mudanças climáticas e as soluções propostas pelos agentes dominantes. Também destacamos as implicações territoriais, de classe, raça e gênero, e as assimetrias históricas entre o Norte e o Sul Global”, explica uma das organizadoras da coleção, a cientista social Elisangela Paim.

“Vale lembrar que essas políticas não operam sem resistência. Ao contrário: nos diversos contextos analisados e vividos, emergem múltiplas formas de luta. É com essas resistências que a coleção dialoga e se compromete, oferecendo subsídios teóricos e políticos para fortalecer proposições e reexistências”, complementa.

Os debates presentes nos livros pretendem ir além das narrativas hegemônicas sobre mudanças climáticas e transição energética. Temas fundamentais que estarão presentes na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que vai ser realizada em Belém no próximo mês. Entre essas narrativas, apontam as autoras, destacam-se estratégias de governos e empresas que atuam no agronegócio, na mineração e na produção de combustíveis fósseis, que não promovem transformações estruturais e despolitizam o debate climático.

“Os textos da coleção mostram os impactos de uma pretensa transição verde, que resultou em um tipo de continuidade colonial no mundo. Criam-se duas condições, lideradas pelos países ricos: no próprio território, prioriza-se o verde, e os prejuízos ficam no exterior”, diz David Williams, diretor do Programa Global de Justiça Climática da Fundação Rosa Luxemburgo em Nova York.

“Os países industrializados, historicamente responsáveis pela maior parte das emissões, são obrigados a pagar pela mitigação, adaptação e reparação por perdas e danos no Sul Global. Mas essa promessa nunca foi cumprida. O que chamamos de ‘finanças climáticas’ continua baseado em empréstimos, e não em justiça”, complementa.

*Com informações da Agência Brasil

Prefeitura intensifica operação Tapa Buraco nas ruas de Boa Vista

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Ao todo, 376 ruas já foram recuperadas, totalizando mais 60 km asfaltados. Foto: Diane Sampaio/PMBV

Os trabalhos de recuperação asfáltica seguem de forma intensa por toda a cidade, por meio da operação Tapa Buraco. Ao todo, 376 ruas já foram recuperadas, em 56 bairros, totalizando mais 60 km asfaltados. Nesta semana, os bairros Cidade Satélite, Pedra Pintada e Mecejana foram contemplados com as equipes da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMOB).

As equipes da prefeitura atuam dia e noite com a operação. O empresário Epifânio Firmino, de 74 anos, está contente com os trabalhos que a prefeitura vem fazendo, principalmente na rua João Barbosa, bairro Mecejana, onde fica seu empreendimento.

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“As vias arrumadas facilitam o tráfego e evitam acidentes”, disse Epifânio Firmino. Foto: Diane Sampaio/PMBV

“Quero parabenizar o prefeito pelo trabalho. Estávamos precisando da operação Tapa Buraco aqui. As vias arrumadas facilitam o tráfego e evitam acidentes”, disse.

Leia também: Prefeitura reforça sensibilização para manter praias e rios limpos em Boa Vista

Como solicitar?

O mapeamento das áreas que necessitam de reparos é feito pela Central 156, que funciona 24 horas. A partir das solicitações registradas, a SMOB avalia as condições e organiza o cronograma de intervenções, priorizando os locais com o maior número de pedidos.

Rally da Safra: expectativa de colheita da soja em Roraima é de 470 mil toneladas na safra 2024/25

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Grãos de soja em Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/Arquivo/Rede Amazônica RR

A colheita de soja em Roraima na safra 2024/2025 deve chegar a cerca de 470 mil toneladas, segundo estimativa divulgada no dia 21 de outubro pela Agroconsult, em Boa Vista. O dado foi levantado durante o Rally da Safra 2025 – Etapa Fronteiras, uma expedição técnica que percorreu o estado.

Relembre: Colheita de soja 2025 tem previsão de ultrapassar mais de 430 mil toneladas em Roraima

O Rally da Safra em Roraima começou em agosto, junto com o início da colheita. A expedição percorreu propriedades rurais para coletar dados sobre a produção de grãos e avaliar o desempenho das lavouras. Esta é a primeira vez que a ação é realizada no estado.

Curiosidade: Em Roraima, o ciclo da soja ocorre de abril a outubro: do plantio à colheita, período que coincide com a entressafra do restante do Brasil, que é o intervalo em que as lavouras de outras regiões estão fora de produção, o que torna a produção roraimense estratégica.

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Segundo André Pessôa, CEO da Agroconsult, a área total de plantio de soja em Roraima foi estimada em 132 mil hectares. A produtividade média registrada no levantamento foi de 60.8 sacas por hectare.

“Encontramos uma produtividade média muito boa. A produtividade média do Brasil esse ano foi de 60 sacos por hectare. E aqui, no nosso levantamento, na cobertura que nós fizemos de boa parte da região produtora, chegamos a uma média estimada de 60.8 sacos por hectare, o que totaliza quase 470 mil toneladas de soja que teriam sido produzidas nessa safra aqui no estado”, explicou André Pessôa.

A Associação dos Produtores de Soja de Roraima (Aprosoja) havia estimado que o estado colheria cerca de 430 mil toneladas, com produtividade média de 55 sacas por hectare. A área plantada apontada também foi de 132 mil hectares. A movimentação econômica estimada ultrapassa R$ 900 milhões.

A cadeia produtiva da soja é considerada uma das mais importantes da economia roraimense. Atualmente, o grão é cultivado em 10 dos 15 municípios do estado e ocupa o primeiro lugar nas exportações.

Leia também: Colheita da Soja: mais de R$ 900 milhões devem ser movimentados em Roraima em 2025

Para o empresário Felipe Castro, mesmo sendo um estado jovem no setor, Roraima ganha uma projeção nacional com o Rally da Safra. Segundo ele, a expedição mostra a capacidade produtiva e o potencial do agronegócio local.

“Essa é uma matriz extremamente importante já na economia do estado de Roraima e que tende a fortalecer ainda mais o crescimento do estado, o seu fortalecimento, gerando riqueza, renda e, melhor do que isso ainda, muito emprego”, afirmou o empresário.

A expedição tem como objetivo identificar a produtividade, a qualidade das lavouras e os principais desafios do setor. A equipe utilizou uma metodologia própria, que incluiu medição de plantas, contagem de vagens e grãos, verificação de peso e análise das condições fitossanitárias.

Neste ano, a análise em Roraima foi feita apenas com a soja. A expectativa, no entanto, é que o levantamento inclua outras culturas, como milho e algodão, nos próximos anos.

colheita de soja
Foto: William Roth/Governo de Roraima

Rally da Safra e a colheita da soja

O Rally da Safra é uma expedição técnica realizada pela Agroconsult desde 2003. Ela percorreu mais de 1 milhão de quilômetros, avaliando mais de 30 mil lavouras de soja e milho no país.

A etapa em Roraima teve patrocínio da Aprosoja Roraima, Serra Verde Agroindustrial, Sementes Cajueiro, Agrosol, Potência Agrícola, Mamoré, Atacadão Rural, Green Máquinas e GranTerra.

*Com informações da Rede Amazônica RR

Região amazônica registra níveis próximos da normalidade após dois anos seguidos de seca severa 

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Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A maioria dos rios da região amazônica está em processo de vazante, mas com níveis próximos à normalidade após dois anos de seca severa. O cenário contrasta com o que foi observado no mesmo período em 2024, quando, no pico da estiagem, foram registradas mínimas históricas em estações dos rios Negro, Solimões, Acre, Purus, Madeira e Amazonas. Os dados estão apresentados no 42º Boletim de Monitoramento Hidrológico da bacia, divulgado nesta terça-feira (21). 

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A estabilidade dos níveis dos rios é favorecida pelo cenário de neutralidade climática com condições próximas à média histórica. Em 2023 e 2024, a seca extrema esteve associada a conjunção de um forte episódio de El Niño e de anomalias positivas nas temperaturas da superfície do mar no Atlântico tropical norte e sul.

Esses fenômenos associados elevaram as temperaturas e causaram déficit nas chuvas de forma generalizada na bacia Amazônica. O prolongamento desta situação entre a seca de 2023 e a cheia de 2024 dificultou a recuperação dos rios, colaborando para um cenário de seca ainda mais crítico em 2024.

“Neste ano, há um quadro de normalidade hidrológica, com cotas dentro da normalidade em praticamente todas as sub bacias monitoradas na região. Há pouquíssimas exceções na parte mais sul do Amazonas, onde os formadores do Juruá e do Purus apresentam níveis abaixo do esperado para a época”, explica o pesquisador em geociências Andre Martinelli, gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da Superintendência Regional de Manaus (SUREG-MA).

Os modelos climáticos internacionais indicam a consolidação do fenômeno La Niña para o próximo trimestre, o que normalmente contribui para o aumento de precipitação na região. Entretanto, ainda é cedo para afirmar se esse comportamento se confirmará de forma consistente ao longo dos próximos meses e se trará efeito na magnitude da enchente de 2026, observa Martinelli.  

Leia também: Portal Amazônia responde: como funcionam os processos de enchente e vazante dos rios?

seca na amazônia em 2024 - amazonas
Seca no Amazonas em 2024. Foto: Aguilar Abecassis

Cenário na bacia

Atualmente, os níveis dos rios ainda estão em processo de vazante na maior parte da bacia, com exceção do trecho mais à montante do rio Solimões, que já iniciou o processo de enchente. O cenário, se comparado com o mesmo dia do ano passado, mostra que o nível do rio Negro está aproximadamente 7 metros acima do observado durante a seca em 2024 na estação de Manaus (AM). 

Em geral, o pico da estiagem ocorre entre outubro e novembro nesta parte da bacia. As projeções do SGB indicam que haverá uma seca dentro da normalidade na capital, ou mesmo de baixa intensidade, com níveis previstos entre 18 m e 19 m e duração de estiagem entre 60 e 85 dias. Em 2024, a cota mínima foi de 12,11 m.

Nos últimos dias, foram registradas chuvas isoladas na região central da Bacia do Rio Negro, que abrange Manaus, o que gera a percepção de que o período chuvoso se iniciou antes do esperado. No entanto, foram episódios isolados e que não representam o início efetivo do regime de chuvas. Com base no acompanhamento hidrometeorológico da Bacia do Amazonas, os acumulados de precipitação do último mês indicam chuvas abaixo da média para o período em grande parte da bacia.

Para o rio Tapajós, em Itaituba (PA), a previsão é de seca moderada, com cota mínima estimada em 2,20 m e até 45 dias de estiagem. Em 2024, o nível chegou a 83 cm, o mais baixo da série histórica. Na estação do rio Amazonas em Itacoatiara (AM), as previsões apontam níveis entre 4,10 m e 5,15 m, caracterizando uma seca de intensidade moderada. Em 2024, o nível chegou a -11 cm.

Os dados do monitoramento realizado pelo SGB têm sido compartilhados em reuniões de acompanhamento promovidas pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e de outros órgãos.

Veja o comparativo entre 2025 e 2024

RioMunicípioCota em 21/10/2025Cota em 21/10/2024
NegroManaus (AM)19,74 m12,50 m
SolimõesTabatinga (AM)5,01 m1,14 m
SolimõesFonte Boa (AM)14,31 m7,27 m
SolimõesItapéua (AM)8,08 m2 cm
SolimõesManacapuru (AM)10,55 m2,37 m
AcreRio Branco (AC)1,80 m1,87 m
PurusBeruri (AM)11,39 m2,85 m
MadeiraPorto Velho (RO)3,29 m49 cm
MadeiraHumaitá (AM)10,99 m8,30 m
AmazonasCareiro da Várzea (AM)7,52 m3 cm
AmazonasItacoatiara (AM)6,41 m21 cm
AmazonasÓbidos (PA)2,63 m-63 cm
AmazonasAlmeirim (PA)3,65 m1,88 m

Relembre as cotas mínimas em algumas estações no ano de 2024

RioMunicípioCota mínima recorde em 2024
NegroManaus (AM)12,11 m
SolimõesTabatinga (AM)-2,54 m
SolimõesFonte Boa (AM)7,17 m
SolimõesItapéua (AM)-29 cm
SolimõesManacapuru (AM)2,07 m
AcreRio Branco (AC)1,23 m
PurusBeruri (AM)2,59 m
MadeiraPorto Velho (RO)19 cm
MadeiraHumaitá (AM)8,02 m
AmazonasItacoatiara (AM)-18 cm
AmazonasÓbidos (PA)-1,21 m

*Com informações do SGB

Dengue afeta mais negros e periféricos no Amapá, aponta pesquisa

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Pessoas negras e moradores de áreas periféricas são os mais afetados pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue. Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP

Um projeto realizado por estudantes do curso de enfermagem, com a participação de discentes de medicina e ciências biológicas da Universidade Federal do Amapá (Unifap) revela que pessoas negras e moradores de áreas periféricas são os mais afetados pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya.

O projeto “Vigiaedes”, apresentado na Semana Nacional da Ciência e Tecnologia no Amapá, que acontece no Sebrae em Macapá até esta quarta-feira (22), analisou dados entre 2021 e 2022 e identificou desigualdades raciais nos casos de internações e mortes causadas pela doença.

Leia também: 1 mosquito e 4 doenças: conheça o Aedes aegypti, o “maldito do Egito”

Lyanna Barroso, de 20 anos, é pesquisadora do projeto. Ela explicou que a situação está diretamente ligada às comunidades historicamente marginalizadas.

“A dengue não atinge a todos da mesma forma. Os dados mostram que a população negra é a mais afetada, e isso está diretamente ligado às condições sociais em que vivem. Nosso objetivo é levar educação e saúde para escolas e comunidades, explicando como o mosquito se desenvolve e como podemos evitar sua proliferação”, disse.

Dengue afeta mais negros e periféricos no Amapá, aponta pesquisa
Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP

A pesquisadora também destaca que muitas pessoas negras, pardas, moradoras de periferia, enfrentam dificuldades para buscar atendimento médico.

“Não é que elas não se preocupem com a saúde, mas vivem em condições que dificultam esse acesso. Muitas vezes trabalham na informalidade, moram longe dos postos e, quando conseguem atendimento, não recebem o cuidado que deveriam”, conta.

Leia também: Como combater a dengue: 11 dicas práticas para evitar a proliferação do Aedes aegypti

Dados revelam desigualdade racial

A análise foi feita com base em dados oficiais do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Entre os 13.113 casos de dengue registrados no Amapá entre 2021 e 2022, 11.944 tinham informação sobre raça ou cor. Desse total, 81,4% atingiram pessoas autodeclaradas pardas.

Além disso, 88,8% das hospitalizações ocorreram entre pessoas negras (pretas e pardas). Entre a população branca, não houve evolução para óbito, seja por agravamento da doença ou por outras causas.

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“Essas pessoas vivem em áreas de ressaca, com água parada e pouca infraestrutura. São locais onde o mosquito se desenvolve com facilidade. Não é uma questão genética. O que causa esse impacto é o ambiente, o acesso à saúde e o racismo estrutural que ainda existe, além da falta de políticas públicas”, afirmou Lyanna.

Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP

Tipos de Dengue

O estudo também identificou a presença dos quatro sorotipos do vírus da dengue no estado: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.

A circulação simultânea desses sorotipos aumenta o risco de casos graves e reforça a necessidade de ações preventivas. O projeto atua em escolas e comunidades com campanhas educativas.

“Quando ensinamos sobre o ciclo do mosquito, as crianças levam esse conhecimento para casa. Queremos que a população seja protagonista na luta contra essas doenças”, diz a pesquisadora.

*Por Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP

Uma das menores espécies de sapo venenoso é descoberta no Parque Nacional Alto Purús, no Peru

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A “Ranitomeya hwata” vive exclusivamente em florestas de bambu nativo do gênero “Guadua”. Foto: Divulgação/Sernanp

Uma nova espécie de sapo venenoso do gênero Ranitomeya foi descoberta no Parque Nacional Alto Purús, que ocupa as regiões de Madre de Dios e Ucayali, no Peru, após anos de pesquisa na bacia do Rio Purús, na Amazônia brasileira e peruana, informou o Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas (Sernanp) no início de outubro.

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A descoberta, feita por uma equipe internacional de cientistas e publicada na revista científica Zootaxa, destaca a riqueza biológica das áreas naturais protegidas e o papel fundamental que desempenham na conservação de espécies ainda desconhecidas pela ciência.

A nova espécie de sapo, chamada Ranitomeya hwata, mede cerca de 15 milímetros de comprimento e é uma das menores espécies do gênero Ranitomeya, conhecida por suas cores brilhantes e comportamento reprodutivo único, de acordo com a agência especializada do Ministério do Meio Ambiente.

Ele também tem listras dorsais amarelas brilhantes, um padrão ventral finamente manchado e uma faixa preta separando a região gular da barriga.

Leia também: Nova espécie de marsupial é descoberta em Parque Nacional na Amazônia peruana

Nova espécie de sapo foi encontrada em florestas nativas de bambu

A espécie Ranitomeya hwata vive exclusivamente em florestas de bambu nativo do gênero Guadua, onde utiliza as câmaras naturais das plantas para se reproduzir. Ao contrário de seus parentes próximos, os machos desta espécie exibem comportamento polígamo, recrutando várias fêmeas por local de reprodução.

nova especie de sapo venenoso Ranitomeya hwata no peru 2 Foto Sernanp
Nova espécie de sapo venenoso é do gênero Ranitomeya. Foto: Divulgação/Sernanp

A pesquisa foi conduzida por Evan Twomey (Goethe University Frankfurt, Alemanha), Paulo R. Melo-Sampaio (Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil), Jason L. Brown (Southern Illinois University, Estados Unidos), Santiago Castroviejo-Fisher (Universidade de Sevilha, Espanha), Giussepe Gagliardi-Urrutia (Instituto Peruano de Pesquisa da Amazônia).

Também por José M. Padial (Universidade de Granada e Museu Americano de História Natural), Juan C. Chaparro (Museu da Biodiversidade do Peru) e Roberto Gutiérrez Poblete (pesquisador do Museu de História Natural da Universidade Nacional de San Agustín de Arequipa e especialista em Sernanp).

Segundo o Sernanp, a descoberta da nova espécie de sapo destaca o valor das áreas naturais protegidas como refúgios para a biodiversidade e espécies únicas e também amplia o conhecimento sobre a diversidade de anfíbios amazônicos, reforçando a necessidade de continuar conservando habitats como o Parque Nacional Alto Purús.

*Com informações da Agência Andina