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A cidade Manaus pelo olhar do escritor imortal da ABL, Milton Hatoum

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Em comemoração aos 356 anos de Manaus, o autor fala sobre a sua relação com a cidade natal. Foto: Hamyle Nobre/Menina Miúda Producões Artísticas

Com uma população estimada de 2.303.722 pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE). Esses milhões de rostos que dão vida à capital amazonense são objeto de estudo e de escrita do mais recente imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Milton Hatoum. Em comemoração aos 356 anos de Manaus, o autor fala sobre a sua relação com a cidade natal.

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Cidade de Manaus. Foto: Divulgação

Entre as várias profissões de Milton, ele se destaca como escritor, professor e tradutor. Publicou oito livros, dos quais quatro são ambientados em Manaus:

  • Relato de um certo oriente (1989)
  • Dois irmãos (2000)
  • Cinzas do Norte (2005)
  • Órfãos do Eldorado (2008)

De postura carismática e com seu caráter observador, Milton contou um pouco sobre as memórias de infância e a preocupação com a situação atual de Manaus. Confira a entrevista na íntegra.

Leia também: 10 lugares reais em Manaus descritos nas obras de Milton Hatoum

Escritor Milton Hatoum — Foto: Wanezza Soares/Divulgação

Há quanto tempo o senhor se mudou de Manaus?

Milton: “Faz uns 25, 26 anos.”

Tem algum motivo específico?

Milton: Eu vim para terminar um doutorado na USP e acabei me casando aqui em São Paulo, com uma pessoa daqui e aqui fiquei. E eu também queria escrever. Queria mais tempo para meu trabalho de escritor. Aí, infelizmente, tive que me desligar da Ufam e viver da minha pena, dos meus escritos. Foi quando eu terminei o ‘Dois Irmãos’, aqui em São Paulo. Isso foi em 1999, 2000, por aí. Mas eu sempre volto para Manaus quando posso.

E por que é que o senhor volta?

Milton: Por uma questão muito simples. Eu tenho minha irmã, tia, primos, tenho minha família, da qual uma parte mora em Manaus. Aliás, toda minha família amazônica mora em Manaus. E eu, enfim, já não tenho muitos amigos (daí), mas tem os espaços da minha infância, tem o rio Negro, que foi um dos grandes acontecimentos da minha vida. Ainda é. Então eu sinto muita saudade de tudo isso. Embora essa Manaus de hoje seja muito diferente da Manaus da minha juventude.”

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Escritor Milton Hatoum — Foto: Divulgação

Diferente em que sentido?

Milton: Olha, Manaus nos anos 1960, década do século passado, era uma cidade relativamente pequena e calma, que tinha uma relação muito harmônica com a natureza, sabe? Os rios, os igarapés, os banhos, que eram o nosso lazer principal. Ah, era uma cidade com pouquíssima violência. Não era uma cidade hostil.

E depois a cidade, a partir dos anos 1970, cresceu de uma forma desordenada, caótica. Não houve planejamento para esse crescimento brusco ou abrupto. E o acumulado foi dando problemas durante essas décadas. Hoje Manaus é uma cidade complicada.

Você sabe, é complicada do ponto de vista da mobilidade urbana. É uma cidade que não é arborizada, o que é, vamos dizer, um contrassenso. Uma cidade de clima quente e úmido não ser arborizada? Quer dizer, uma cidade praticamente sem calçadas, sem lugar para a gente caminhar, e o ideal seria caminhar na sombra. Fora os problemas mais graves, como o saneamento urbano na periferia. Falta saneamento adequado para uma parte considerável da população. A violência também, claro.

Acho que tudo isso fez da minha cidade um lugar um pouco hostil, muito diferente daquela cidade da qual todos da minha geração se lembram muito bem. Que era uma cidade belíssima. E muita coisa foi destruída. E a gente precisa evitar isso, não é? Precisa-se revitalizar o Centro de Manaus, e fazer uma coisa inteligente. Por exemplo, limitar a circulação de automóveis em alguns pontos do Centro da cidade. Talvez fazer calçadões. É preciso humanizar a cidade, sabe? E é isso que eu espero dos administradores da minha cidade, humanizá-la.

As capas dos livros de Minton Hatoum. Imagem: reprodução/Portal Amazônia

Eu acho muito interessante como o senhor utiliza sempre o pronome possessivo, “minha cidade”, mesmo morando há mais de 20 anos fora daqui. O senhor pode falar um pouco mais sobre isso?

Milton: Eu nasci em Manaus. É a minha cidade. Não tenho outra. Quer dizer, eu gosto de tantas outras onde morei, no Brasil e no exterior. Mas a cidade da infância é, na verdade, a nossa cidade, do ponto de vista afetivo e simbólico. Então, é a cidade onde eu me sinto em casa. Mas a minha casa foi muito maltratada nessas últimas décadas. Eu não falo desse ou daquele administrador ou prefeito. Eu acho que de um modo geral foi maltratada.

Acho que é preciso formar uma equipe inteligente, que tenha amor pela cidade e pense no planejamento urbano, em estratégias urbanas e arquitetônicas, que humanizem a cidade. Que tornem a cidade um espaço de convívio. Isto acho fundamental. Mas não é só Manaus que é assim. Há tantas outras cidades complicadas no Brasil todo. Assim como Manaus, às vezes vou para o interior de São Paulo e vejo poucas árvores, e me pergunto: por que os prefeitos não arborizam suas cidades? O mundo todo está fazendo isso.

E no caso de Manaus e das outras capitais da Amazônia, elas são de uma região de clima equatorial. Então é mais um motivo para a gente pensar nas áreas de sombra e de conforto térmico. Eu até falei disso em alguns romances, como ‘Dois Irmãos’, ‘Cinzas do Norte’, que eu acho que têm um pouco da decadência da cidade e da destruição de seu Centro Histórico. O que é um absurdo.

Qual a sua mensagem para o aniversário de Manaus? Mesmo com todos os problemas e questões daqui, por que escrever e por que sentir Manaus?

Milton: Eu escrevi quatro romances ambientados em Manaus e alguns contos. Por que fiz isso? Porque todo escritor e toda escritora, de algum modo, escrevem sobre a sua infância e a sua juventude. E a memória desempenha um papel fundamental nisso. Mesmo ausente de Manaus, estou sempre voltando à cidade onde nasci.

*Com informação do g1 AM — Manaus. Escrito Por João Santana, sob supervisão de Jacqueline Nascimento.

Expedição científica reúne pesquisadores de todo o Brasil e pode revelar espécies inéditas na Amazônia

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Bolsista indígena Adão Galvão em campo. Foto: Divulgação/Projeto Tsiino Hiiwiida

A primeira expedição científica do projeto ‘Tsiino Hiiwiida: revelando múltiplas dimensões da biodiversidade de plantas e fungos no Alto Rio Negro’, realizada no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, resultou na coleta de cerca de mil amostras e na identificação de possíveis novas espécies da flora amazônica.

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Vinculado à iniciativa Amazônia +10 e com coordenadoria geral do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Charles Eugene Zartman, a expedição aconteceu em 16 dias e contou com três acampamentos, divididos em dois grupos de  pesquisadores,  bolsistas indígenas, além de parceiros da 2ª Brigada de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro no município de São Gabriel da Cachoeira.

Desafios e descobertas da expedição

Charles Zartman (coordenador) e Roberto Galvão com a possível espécie nova. Divulgação/Projeto Tsiino Hiiwiida

Após a definição dos locais de coleta, da logística e do protocolo de segurança com a oficina da expedição, os pesquisadores se dividiram para cobrir diferentes áreas que alcançam até 600 metros de altura, na região cercada pela rica diversidade biológica.

O primeiro grupo de coletas seguiu para a comunidade indígena Itacoatiara Mirim, na BR-307 e na localidade conhecida como Ilha do Açaí.

“O objetivo principal desse grupo terrestre liderado pelo Prof. Dr. Clístenes Williams Araújo do Nascimento (UFRPE) foi investigar plantas acumuladoras de metais pesados e outros elementos incomuns”, comentou o coordenador geral do projeto de pesquisa. 

O segundo grupo foi em direção à Serra do Curicuriari, conhecida popularmente como Serra da Bela Adormecida.

Leia também: Bela Adormecida da Amazônia: a serra amazonense que parece pintura

Apoio do exército. Foto: Divulgação/Projeto Tsiino Hiiwiida

“Esse grupo foi composto por oito membros, e teve o apoio de três bolsistas  da comunidade indígena São Jorge que passaram um total de oito dias em dois acampamentos, ambos nas cabeceiras do igarapé Arabo. A equipe acampou em dois locais diferentes para ampliar o número de localidades amostradas, podendo gerar uma maior diversidade de plantas catalogadas”, detalhou o pesquisador do Inpa.

De acordo com Zartman, foram realizadas coletas em florestas de terra firme, baixios, campinaranas, áreas de afloramentos rochosos e vegetações ripárias. Com o período de permanência foram coletadas cerca de mil amostras de fungos, líquens, e plantas, dentre elas: briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas, nas formas de vida terrícola, epífita e saprófita.

“As coletas, que estão atualmente na fase de secagem, triagem (herborização) e identificação já apresentam algumas possíveis espécies novas como, por exemplo, uma espécie de árvore emergente com parentesco com o uchi (Humiriaceae), além de outras coletas de plantas raras como um exemplar do gênero Zamia, uma planta de sub-bosque representante das Gimnospermas, grupo de plantas parentes dos pinheiros e araucárias”, revelou o coordenador geral do projeto.

Oficina com a comunidade. Foto: Divulgação/Projeto Tsiino Hiiwiida

Interação com as comunidades

Para o pesquisador, o sucesso da expedição do projeto “Tsiino Hiiwiida” também se deve à participação direta das comunidades, como um componente fundamental da parceria.

“O projeto Tsiino Hiiwiida, possui todas as licenças e anuências dos órgãos, associações, e das comunidades, para a realização da pesquisa. As comunidades indígenas são parceiras diretas do projeto, contando atualmente com seis bolsistas indígenas que desenvolvem atividades de campo e recebem treinamento dos pesquisadores, além de possibilitar uma troca intensa de conhecimentos locais sobre a diversidade de plantas regionais e técnicas de coleta e documentação da biodiversidade”, completou.

A viagem aconteceu entre 19 de julho e 02 de agosto e contou com a participação de pesquisadores do Inpa, além de especialistas:

  • do Instituto Federal do Amazonas (Ifam – São Gabriel da Cachoeira),
  • da Universidade Federal do Amazonas (Ufam),
  • do Instituto Federal do Maranhão (IFMA-São João dos Patos),
  • do Instituto Federal do Tocantins (IFTO),
  • da Universidade de Brasília (UnB),
  • da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
  • do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA – SP),
  • do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ),
  • da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
  • e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

Também contou com parceiros de outras localidades do Brasil e da expertise da logística da 2ª Brigada de Infantaria de Selva no município de São Gabriel da Cachoeira.

Sobre a iniciativa Amazônia +10

O projeto ‘Tsiino Hiiwiida: revelando múltiplas dimensões da biodiversidade de plantas e fungos no Alto Rio Negro’ foi um dos 20 projetos de pesquisa selecionados no edital Expedições Científicas, lançado em novembro de 2023 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). 

Ao todo, são 77 grupos de pesquisadores vinculados a 18 diferentes Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), além das agências estrangeiras UK Research and Innovation (UKRI) do Reino Unido, e Swiss National Science Foundation (SNSF), da Suíça.

*Com informações do INPA

Artista usa aquarela para registrar aves que observa na Amazônia

Foto: Reprodução/Amazon Sat

Na Amazônia, entre as atividades em meio à natureza buscados por pesquisadores, ou até mesmo curiosos, está o birdwatching, a ação de observar as aves. Regiane Marques é uma artista e observadora de pássaros da etnia indígena Mura, no Amazonas, que usa da aquarela para retratar as aves que sua visão captura.

Leia também: Observação de aves: uma janela da Amazônia para o mundo

De acordo com Regiane, a aquarela é um método antigo, que utiliza da água para tonificar a tinta, e é bastante utilizada pelos observadores da natureza e artistas que gostam de retratar a fauna.

Artista usa aquarela para registrar aves que observa na Amazônia
Foto: Reprodução/Amazon Sat

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Aquarela educativa

No programa Amazônia Animal, do canal Amazon Sat, o biólogo Rodrigo Hidalgo conversou com Regiane sobre a prática de observação das aves e como é o processo de encontrá-las.

“É maravilhoso, você se apropria do conhecimento da importância que os pássaros tem para a ecologia e ajuda no fortalecimento cultural”, afirma Regiane.

Confira:

Gente do Norte Empresas: saiba quem é João Gonçalves

Gente do Norte Empresas: João Gonçalves. Foto: Reprodução/Amazon Sat

João Gonçalves é o CEO e fundador do grupo de supermercados Irmãos Gonçalves, a maior rede de mercados de Rondônia, que conta também com o IG Shopping Porto Velho, IG Shopping Ariquemes, IG Shopping Ji-Paraná e o IG Centro Comercial em Rolim de Moura.

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Em Jaru (RO), o Grupo conta com o maior frigorífico do estado e um dos maiores frigoríficos da Região Norte, o FRIGON, criando mais de 7 mil empregos diretos. Segundo o empresário, o que é arrecadado é aplicado no próprio estado, gerando mais riqueza e economia para os rondonienses.

João é natural de Monte Belo, em Minas Gerais, onde viveu grande parte da sua vida. Era agricultor e cuidava do sítio de sua família, mas sempre teve o desejo de abrir seu próprio comércio e empreender, desejo este que concretizou na Amazônia.

Veja também: Gente do Norte Empresas: saiba quem é Rosa Maia

Gente do Norte Empresas: saiba quem é João Gonçalves
Gente do Norte Empresas. Foto: Reprodução/ Amazon Sat

Em 1975, em suas pesquisas para achar uma cidade para começar sua vida comercial, João se encantou pela cidade de Jaru, em Rondônia. Desde então, iniciou as construções do Grupo. O CEO analisou o estado de Rondônia como uma terra oportuna de logística, já que suas rodovias estão interligadas com várias partes do Brasil.

O empresário é um dos convidados do programa Gente do Norte – Empresas, no Amazon Sat:

Pesquisa identifica potencial de resíduos de frutos oleaginosos amazônicos na redução do colesterol

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A pesquisa utiliza resíduos de andiroba, murumuru, tucumã e castanha-do-brasil, fornecidos por uma empresa de Ananindeua. Foto: Reprodução/IFMA

Resíduos de frutos oleaginosos da Amazônia, normalmente descartados após a extração de óleo, apresentaram potencial para reduzir o colesterol hepático e agir como antioxidantes, segundo resultados preliminares de uma pesquisa conduzida por um grupo de pesquisadores do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e do Instituto Butantan.

O estudo utiliza resíduos de andiroba, murumuru, tucumã e castanha-do-brasil, fornecidos por uma empresa de Ananindeua (PA), que atua no setor de extração de óleos e gorduras vegetais.

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Pesquisa identifica potencial de resíduos de frutos oleaginosos amazônicos
Resíduos de frutos oleaginosos da Amazônia, normalmente descartados após a extração de óleo, apresentaram potencial para reduzir o colesterol. Foto: Reprodução/IFMA

A pesquisa conta com a participação do professor do IFMA Campus Zé Doca, Marcelo Rodrigues Marques, nutricionista, doutor em Ciências e coordenador do Grupo de Inovação e Pesquisa em Alimentos e Nutrição (GIPAN). A investigação é conduzida ainda pela professora Luiza Helena da Silva Martins, Tecnóloga em Alimentos com doutorado em Engenharia Química; pelo professor Gustavo Fontanari, Nutricionista com doutorado em Ciência e tecnologia de Alimentos; e pelo pesquisador Daniel Carvalho Pimenta, Biomédico com doutorado em bioquímica.

Leia também: Resíduos de frutos amazônicos ricos em vitamina A servem de compostos para produção de corante natural

De acordo com o pesquisador do IFMA, as proteínas isoladas desses resíduos foram capazes de inibir a enzima responsável pela síntese do colesterol no fígado, além de apresentar atividade antioxidante.

“Os resultados mais promissores em relação à redução do colesterol vieram da andiroba, do murumuru e da castanha-do-brasil, enquanto o tucumã se destacou pela ação antioxidante”, afirma Marques.

Os resíduos analisados são subprodutos gerados após a extração a frio do óleo que são direcionados e exportados para indústrias de cosméticos. Foto: Reprodução/IFMA

Os resíduos analisados são subprodutos gerados após a extração a frio do óleo que são direcionados e exportados para indústrias de cosméticos. Atualmente, a biomassa é descartada no meio ambiente ou reaproveitada por pequenos produtores como adubo e ração.

Leia também: Frutos amazônicos são testados no controle de doenças crônicas não transmissíveis

A equipe agora trabalha na identificação das moléculas responsáveis pelos efeitos observados, tarefa que será conduzida nos próximos meses pelo Instituto Butantan.

“Sabemos que há a atuação de peptídeos e compostos fenólicos, mas queremos entender de forma mais precisa como essas substâncias interagem”, explica o professor. A previsão é que os resultados sirvam de base para publicações científicas e possíveis registros de patentes.

A equipe agora trabalha na identificação das moléculas responsáveis pelos efeitos observados, tarefa que será conduzida nos próximos meses pelo Instituto Butantan. Foto: Reprodução/IFMA

Além dos experimentos, o professor Dr. Marcelo Marques também ministrou o curso “Uso de técnicas espectrofotométricas e de fluorescência para avaliação de moléculas bioativas” a estudantes da UFRA, fortalecendo a cooperação acadêmica e a formação de novos pesquisadores na área.

Leia também: Fipo Biopellet: startup amazonense transforma resíduos de frutos da floresta em bioplásticos de alta performance

Segundo o docente, o aproveitamento desses resíduos pode gerar impacto econômico e social na região amazônica. “A valorização de subprodutos pode estimular o cultivo de frutos nativos, abrir novas cadeias produtivas e criar oportunidades de renda sustentável para comunidades locais”, afirma.

Estudo de grupo de pesquisa envolvendo o IFMA, UFRA e Instituto Butantan. Foto: Reprodução/IFMA

A pesquisa tem apoio da Fapespa (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará), da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do CNPq. Já os resíduos são fornecidos pela Amazon Oil.

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*Com informação do Instituto Federal do Maranhão (IFMA)

25% das mortes infantis no mundo estão ligadas à poluição do ar, alerta relatório

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O estudo mostra que, todos os anos, centenas de milhares de crianças morrem devido à poluição. Foto: Divulgação

Um novo relatório da Zero Carbon Analytics revela o impacto letal da poluição do ar sobre crianças ao redor do mundo, com efeitos especialmente graves nos países em desenvolvimento. Baseado em dados do Global Burden of Disease (GBD), o estudo mostra que, todos os anos, centenas de milhares de crianças morrem devido à poluição, enquanto milhões sobrevivem com danos permanentes à saúde. Esses efeitos são intensificados por vulnerabilidades econômicas e barreiras estruturais, como infraestrutura precária, práticas insustentáveis de uso do solo e dependência de combustíveis fósseis.

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“A poluição do ar é uma agressão invisível que corrói silenciosamente o futuro das crianças”, alerta o pneumologista brasileiro Felipe Saddy. “Partículas, gases tóxicos e oxidantes inflamam seus pulmões, comprometem o desenvolvimento pulmonar, aumentam o risco de infecções e agravam a asma. Na gestação, o ar poluído ameaça o feto, elevando riscos de parto prematuro e baixo peso ao nascer”.

25% das mortes de crianças no mundo estão ligadas à poluição do ar
Poluição em Manaus. Foto. Filipe Jazz/TCE-AM

O levantamento

Segundo o levantamento intitulado “Structural dependencies perpetuate disproportionate childhood health burden from air pollution” (“Dependências estruturais perpetuam o fardo desproporcional da poluição do ar sobre a saúde infantil”), mais de 25% das mortes de crianças menores de cinco anos no mundo estão relacionadas à poluição do ar, e crianças morrem em taxas até seis vezes maiores que adultos por causa da exposição.

A poluição começa a afetar ainda no útero e pode causar doenças crônicas ao longo da vida. As comunidades mais pobres são as mais impactadas, devido a vulnerabilidades estruturais e dependências econômicas de combustíveis fósseis.

Tanto a poluição atmosférica externa quanto a doméstica causam sérios danos à saúde pública — provocando doenças crônicas e cardiovasculares, problemas respiratórios, câncer e até déficits cognitivos. Para ilustrar isso, o relatório analisa quatro estudos de caso: África do Sul, Brasil, Nigéria e Bangladesh e identifica fontes de poluição como geração de energia a carvão, incêndios florestais, cozinhas domésticas com combustíveis sólidos, emissões industriais e tráfego urbano.

Poluição no Estado do Acre. Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica AC

O Brasil

No Brasil, em 2021, quase 1.600 crianças morreram por causas ligadas à poluição do ar — quase quatro crianças menores de cinco anos por dia. A poluição externa, causada por incêndios florestais e queima de biomassa, é um dos principais fatores. Incêndios são uma emergência recorrente de saúde pública: na Amazônia e regiões centrais, 60% da população está exposta a níveis inseguros de poluição do ar, com crianças pequenas e idosos sendo os mais afetados.

Secas impulsionadas pelas mudanças climáticas, somadas a práticas insustentáveis de uso da terra — principalmente desmatamento e queima de biomassa ligados à produção de carne bovina e soja — prolongam a temporada de incêndios e aumentam sua intensidade. A fumaça de queimadas percorre centenas de quilômetros, das áreas rurais da Amazônia até grandes cidades como São Paulo, provocando picos de doenças respiratórias e cardiovasculares.

Durante a temporada de incêndios de 2024, as internações por doenças respiratórias aumentaram 27,6% em todo o Brasil em relação a 2023, elevando o custo do atendimento em aproximadamente US$ 2,2 milhões. Em São Paulo, o número de crianças hospitalizadas por doenças respiratórias aumentou cerca de 77% em setembro de 2024.

imagem colorida mostra fumaça geradas por queimadas cobrindo a cidade de manaus em 2023
Poluição em Manaus. Foto: William Duarte/Rede Amazônica AM

Além dos danos respiratórios, os incêndios florestais representam riscos graves à saúde pré-natal e ao desenvolvimento infantil. A exposição materna à fumaça durante a gestação aumenta a probabilidade de parto prematuro em 41% no Sudeste e 5% no Norte, e de baixo peso ao nascer em mais de 18% no Sul.

A exposição a PM10 e monóxido de carbono também está associada a menores pesos ao nascer em São Paulo, além de aumentar as chances de defeitos congênitos, como anomalias respiratórias e do sistema nervoso. Em crianças em idade escolar, níveis elevados de PM2,5 e NO₂ prejudicam o desempenho acadêmico, sendo que alunos de escolas públicas são mais expostos do que os de escolas privadas, devido à proximidade com rodovias e áreas de incêndio.

O relatório alerta que esses impactos na saúde infantil são consequências diretas de um modelo de exportação baseado na conversão de terras para agricultura industrial, em que os preços das commodities raramente refletem os danos à saúde e ao clima nas regiões produtoras. Dentre as soluções estão padrões rigorosos de produção livre de desmatamento, rastreabilidade completa das cadeias produtivas e financiamento climático internacional, que apoiem a produção sustentável e a proteção das florestas.

“As crianças nos países mais pobres enfrentam taxas de mortalidade por poluição do ar até 94 vezes maiores do que nas nações ricas. Isso não é apenas uma questão ambiental — é uma questão de justiça. As mais jovens e vulneráveis estão pagando o preço por sistemas que não criaram. Romper esse ciclo exige ação global e transição para energia limpa, e não a continuidade de subsídios aos combustíveis fósseis”, alerta Joanne Bentley-McKune, pesquisadora principal do relatório.

*Com informação da Zero Carbon Analytics

Aleam aprova Projeto de Lei Complementar que atualiza valores de isenção do ITCMD

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Foto: Danilo Mello/Aleam

Por unanimidade, os deputados da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) aprovaram, no dia 21 de outubro, o Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 9/2025, encaminhado por meio da Mensagem Governamental nº 98/2025. A proposta altera a Lei Complementar nº 19/1997, que institui o Código Tributário do Estado do Amazonas, atualizando os valores de isenção do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD).

O presidente da Aleam, deputado Roberto Cidade (União Brasil), destacou que a atualização dos valores representa uma medida de justiça fiscal e sensibilidade social.

“Elevar o limite de isenção para heranças de até R$ 1 milhão é modernizar a legislação e tornar os processos de doação e sucessão mais simples e equilibrados. Essa decisão demonstra o compromisso da Assembleia Legislativa em proteger o patrimônio das famílias amazonenses e garantir uma tributação mais justa e adequada à realidade atual”, afirmou o parlamentar.

Leia também: Aleam aprova projetos que reforçam proteção infantojuvenil e valorizam a cultura

Mudanças no ITCMD

Entre as principais alterações no Código Tributário do Estado, o texto estabelece que, a partir de 2026, heranças de até R$ 1 milhão estarão isentas do imposto — atualmente o limite é de R$ 400 mil.

Outra mudança que beneficia a população diz respeito às doações em vida, cujo limite de isenção passará de R$ 50 mil para R$ 150 mil por ano, por pessoa beneficiada. Além disso, imóveis de até R$ 1 milhão poderão ser doados em vida, a cada cinco anos, também por pessoa beneficiada, sem cobrança do imposto.

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De acordo com a Mensagem Governamental nº 98/2025, a ampliação dos limites de isenção e a consequente redução da carga tributária contribuem para a proteção do patrimônio das famílias, facilitando processos de sucessão e doação. A medida promove mais justiça fiscal e reduz o peso dos tributos em momentos de reorganização patrimonial.

A proposta tem caráter social relevante, ao assegurar que a transmissão de bens e direitos ocorra de forma menos onerosa, especialmente para famílias de classe média e de menor renda no Amazonas.

Portal Amazônia responde: o que é banho de cheiro?

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Mercado Ver-o-Peso dispõe de dezenas de fragrâncias para todos os dias de problemas ou situações de vida. Foto: Paula Lourinho/Agência Belém

Você, amazônida, com certeza já recorreu ao banho de cheiro para renovar as energias, afastar a negatividade e atrair coisas boas. Essa prática, uma espécie de água misturada com algumas folhas, ervas e perfumes naturais, é uma tradição nos estados da região amazônica e vista como uma forma de proteção à alma e purificação da espiritualidade.

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Mas, afinal, o que é o banho de cheiro? O que isso significa? De onde vem esse ritual? O Portal Amazônia conversou com Glacy Ane Araújo de Souza, doutora em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), para explicar tudo sobre essa prática oriunda dos povos originários e até hoje se faz presente no cotidiano regional.

O que é banho de cheiro?

De acordo com Glacy, o banho de cheiro é uma prática centenária que consiste num ritual cultural, espiritual e medicinal feita com ervas, flores e perfumes naturais, visando a pureza, o cuidado e a conexão espiritual.

“Trata-se da manipulação de ervas aromáticas da região amazônica, por vezes até essências cheirosas, que visam o equilíbrio espiritual e energético das pessoas. O banho de cheiro é uma prática popular muito comum nos terreiros de religiões de matriz africana, bem como no interior da Amazônia, em que se costuma realizar os banhos para proteção ou ainda para chamar espíritos”, explica a antropóloga.

Origem

A doutora detalha que o banho de cheiro surgiu na região amazônica, especialmente no Pará, e sua origem se remete ao conhecimento dos povos originários e de origem africana e a mescla com as influências trazidas pelos portugueses.

“Os povos originários e de origem africana sempre praticaram o banho de cheiro em seus rituais de religiosidades e crenças ancestrais. No Pará, bem como em outros Estados da Amazônia, essa tradição se somou ao conhecimento do colonizador português entre os séculos XVIII e XIX na conjunção de novas ervas e aquelas provenientes da floresta. Dessa forma, o banho de cheiro assume uma prática local de proteção e equilíbrio”, conta a antropóloga.

Leia Mais: Aroma do Pará: perfumes tradicionais que atraem amor, sorte e dinheiro

No Mercado Ver-o-Peso, em Belém, os banhos de cheiro são uma tradição no espaço público, com dezenas de erveiras oferecendo potes de vidros com inúmeros desejos para quem visita o local. Os pedidos são dos mais diversos: “Chama Dinheiro”, “Amansa Corno”, Afasta Chifre” e “Pega Rapariga” são alguns dos exemplos dessas fragrâncias.

Como se prepara o banho de cheiro?

A preparação do banho de cheiro começa com a seleção das ervas. As erveiras, como são popularmente conhecidas, são as mulheres responsáveis pela produção do banho e que possuem amplo conhecimento sobre plantas, cascas e raízes medicinais da flora amazônica. Elas selecionam e colocam as ervas para maceração, que é o ato de deixar os ingredientes de molho em água ou líquido aromático para liberar seus sucos e aromas.

“Antes do preparo do banho de cheiro, a erveira costuma se preparar espiritualmente, principalmente na evitação do álcool e cigarro. Grande conhecedora na manipulação das plantas energéticas, ela seleciona as ervas aromáticas que serão utilizadas e costuma macerar as folhas em água limpa. Lembrando que há ervas que precisam ser fervidas em seu preparo, depois se coa o banho e armazena em potes de barro”, explica Glacy.

erveira prepara banho de cheiro em Belém
Erveira no Mercado Ver-o-Peso. Foto: Paula Lourinho/Agência Belém

Tipos de ervas

A antropóloga reforça que as ervas são selecionadas conforme a necessidade ou situações de vida: atrair prosperidade, afastar energias negativas, proteção espiritual, dentre outras.

“O banho de cheiro possui algumas variações na Amazônia e também atendem a situações da vida como amarração de casais, lavagem da cabeça para o preparo espiritual ou mesmo banho atrativo e de proteção. E para cada uma dessas situações, são usadas ervas diferenciadas para o propósito a que se destina espiritualmente”, salienta.

Ervas são os elementos principais de um banho de cheiro. Foto: Reprodução/Agência Belém

Algumas das principais ervas indicadas para o banho de cheiro, segundo Glacy, sao:

  • Chega-te a mim
  • Manjericão
  • Vindicá
  • Patchouli
  • Arruda
  • Alfazema

Simbologia

O banho de cheiro representa uma tradição bem forte na região Norte do Brasil. Em Belém, no Pará, a prática é comum durante o Círio de Nazaré e nas festas juninas.

Relembre: Dicas de Beth Cheirosinha diretamente de Belém

Nas religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, os banhos servem de conexão com os orixás e a purificação da espiritualidade. Entre os povos indígenas, as ervas são usadas para a ligação com o mundo natural, seus deuses e os fenômenos da natureza.

“De modo geral, o banho de cheiro carrega a ancestralidade dos povos da Amazônia e produz uma conexão espiritual associada à Natureza. Ele reflete a energia ancestral passada de geração em geração e a sabedoria dos mais velhos até os dias de hoje”, finalizou Gracy, que desde 2001 trabalha com temas relacionadas à afrorreligiosidades, magia, povos e comunidades tradicionais.

*Por Dayson Valente, para o Portal Amazônia

Entre o verde da floresta que resiste e o cinza da cidade que cresce: o crescimento de Manaus

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Vista aérea mostra o limite entre a Reserva Florestal Adolpho Ducke e o bairro Cidade de Deus, em Manaus. Foto: Michael Dantas

Mesmo com o concreto, Manaus, que completa 356 anos nesta sexta-feira (24), ainda respira floresta. Entre avenidas movimentadas e bairros em expansão, a capital amazonense abriga áreas verdes que resistem ao tempo e à expansão da cidade.

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Esses espaços mantêm viva a conexão da cidade com a Amazônia e lembram, a cada pedaço de mata preservada, que a capital amazonense nasceu no coração da floresta.

Um exemplo desse contraste pode ser visto na região do bairro Cidade de Deus, onde uma vista aérea mostra o limite entre a Reserva Florestal Adolpho Ducke e parte da comunidade. Veja foto acima.

Além de embelezar a paisagem, as áreas verdes ajudam a regular a temperatura, servem de abrigo para animais e oferecem aos moradores um refúgio de contato direto com a natureza.

Em meio ao aumento das queimadas e do desmatamento no estado, o verde que sobrevive dentro dos limites urbanos representa mais do que um cenário bonito: é um símbolo de resistência ambiental e identidade manauara.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,78% dos domicílios urbanos de Manaus estão em vias públicas com arborização. A capital ocupa a 2.107ª posição entre os 5.570 municípios brasileiros nesse quesito.

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Entre o verde da floresta que resiste e o cinza da cidade que cresce: o crescimento de Manaus
Cidade precisa investir na preservação da Amazônia para o futuro. Foto: Adriano Liziero/Museu da Amazônia

Mesmo assim, Manaus está entre as cidades com maior cobertura vegetal do país, ocupando o 7º lugar no Ranking Nacional de Áreas Verdes, divulgado em dezembro de 2024.

Entre os locais que ajudam a contar essa relação entre cidade e floresta estão:

  • Museu da Amazônia (Musa) — com trilhas, torres de observação e viveiros de espécies nativas;
  • Bosque da Ciência — espaço de educação ambiental e pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa);
  • Praias e flutuantes do Tarumã — que seguem atraindo visitantes e pesquisadores.

MUSA: um pedaço de floresta no coração da cidade

O Museu da Amazônia (Musa), localizado na Zona Norte, abriga 1 km² de floresta primária dentro da Reserva Adolpho Ducke, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

O espaço, considerado o maior fragmento de mata preservada em área urbana no país, foi cedido pela União em 2011 e se tornou referência em educação ambiental e turismo científico.

Entre as atrações estão viveiros de orquídeas e bromélias, aquários, jardins sensoriais e o lago das vitórias-amazônicas. O Musa também abriga exposições sobre os povos originários, os ecossistemas amazônicos e até animais pré-históricos.

O ponto mais procurado pelos visitantes é a torre de observação de 42 metros, que permite ver o dossel da floresta — o topo das árvores — e oferece experiências ao nascer e ao pôr do sol. O museu possui ainda sete trilhas que levam o público a caminhar por dentro da mata.

O local ganhou projeção internacional com a visita do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Manaus, em 2024.

Foto: Janailton Falcão/Amazonsatur

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Bosque da Ciência: lazer e aprendizado sobre a Amazônia

Criado em 1995, o Bosque da Ciência ocupa 13 hectares na zona Centro-Sul e integra o complexo do Inpa. O espaço alia lazer e educação ambiental, despertando o interesse do público pela pesquisa científica e pela conservação da natureza.

Pelas trilhas educativas, os visitantes têm contato com a fauna e a flora amazônica e podem conhecer atrações como os tanques de peixes-boi, viveiro de ariranhas, orquidário, casa da madeira e o “abraço da morte”, estrutura que reproduz o entrelaçamento das raízes de árvores da floresta.

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Foto: Jamile Alves/Acervo/Rede Amazônica AM

Tarumã: refúgios naturais

Na zona Oeste, o bairro Tarumã reúne flutuantes e praias de água doce que se tornaram destinos populares entre os manauaras.

Durante o verão amazônico, as margens dos rios Tarumã-Açu e Tarumã-Mirim atraem banhistas, turistas e empreendimentos voltados ao ecoturismo.

Mesmo com os desafios do crescimento urbano, as áreas naturais de Manaus seguem resistindo — lembrando que a cidade nasceu e continua a viver em meio à floresta.

Ranking Nacional de Áreas Verdes

Manaus já foi conhecida como “Cidade Verde”, título que refletia a forte presença da floresta dentro do perímetro urbano. Mas a realidade atual é diferente: a capital amazonense enfrenta uma redução significativa das áreas de vegetação urbana nas últimas duas décadas.

De acordo com dados do MapBiomas, Manaus caiu para o 7º lugar no Ranking Nacional de Áreas Verdes Urbanas, com uma cobertura que passou de 28% em 2003 para 22% em 2023.

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O levantamento mostra que as cidades brasileiras têm, em média, 11% de vegetação urbana. Entre as capitais, Rio Branco (AC) lidera proporcionalmente, com 32,8%, enquanto o Rio de Janeiro (RJ) concentra a maior área absoluta, com 12.961 hectares.

Das 27 capitais brasileiras, 19 ganharam cobertura vegetal ao longo dos últimos 20 anos, enquanto oito perderam, entre elas Manaus, que luta para equilibrar crescimento urbano e preservação ambiental.

*Por Patrick Marques, da Rede Amazônica AM

Museu Goeldi recupera obra rara furtada há mais de 15 anos

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Esquerda para direita: Sônia Dias, Nilson Gabas Jr., Cledson Silva e Berenice Bacelar exibem a obra devolvida. Foto: Janine Valente

A terceira obra rara mais antiga do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) retornou à Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, em Belém (PA), no dia 17 de outubro. Após o furto identificado pela instituição em 2008, iniciou-se uma cooperação internacional e interinstitucional que permitiu recuperar “De India utriusque re naturali et medica”, em 2024, na cidade de Londres (Reino Unido).

De autoria do médico e naturalista holandês Guilherme Piso e com publicação em Amsterdã, em 1658, o livro foi entregue em cerimônia presidida pelo diretor da instituição, Nilson Gabas Júnior, e pelo delegado da Polícia Federal, Cledson Silva.

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O ato ocorreu no Salão de Leitura da biblioteca do Museu Goeldi, localizada no Campus de Pesquisa, no bairro da Terra Firme, e contou com a presença de servidores da unidade de pesquisa pioneira na Amazônia.

Nilson Gabas Júnior destaca a importância da obra: “É uma obra monumental, construída a partir de observações do autor durante sua atuação na colônia holandesa. Essa obra descreve a flora, a fauna e algumas práticas médicas indígenas no território brasileiro. É uma das primeiras e mais relevantes obras sobre a história natural e medicina tropical do Brasil. O retorno dessa obra à nossa coleção é fundamental. É símbolo de um patrimônio que transcende séculos de história e conhecimento”.

A quinta das 60 obras desaparecidas foi localizada em Londres (Reino Unido) e reúne pesquisas científicas realizadas na região nordeste do Brasil, então colônia holandesa administrada por Maurício de Nassau. Foto: Foto: Janine Valente

O delegado Cledson Silva ressalta que “a Polícia Federal fica orgulhosa em realizar esta entrega. Por meio da cooperação interinstitucional e internacional, a gente consegue viabilizar a entrega desta obra e trazer ao Museu Goeldi”.

Leia também: Pesquisador do Museu Goeldi é um dos 10 cientistas com mais descobertas de aranhas no mundo

Obras recuperadas

Escrita em latim, a publicação reúne pesquisas científicas sobre história natural, geografia, meteorologia e etnologia. Ela foi impressa pelo editor holandês Louis Elsevier, fato que confere ainda mais raridade ao exemplar. As duas primeiras obras mais antigas do acervo são datadas de 1554 e outra de 1628.

A obra entregue nesta manhã faz parte de um conjunto de 60 publicações furtadas do Museu Goeldi. Quatro delas foram entregues à instituição pela Polícia Federal, em 2024 (veja lista abaixo).

A Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna possui 350 mil exemplares, entre eles, 4 mil obras raras. Referência nas áreas de Antropologia, Arqueologia, Botânica, Ciências da Terra, Ecologia, Linguística e Zoologia, a Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna atende o público especializado, de caráter acadêmico e científico. O acervo é composto por livros, periódicos, folhetos, separatas, mapas, CDs, fotografias, filmes, fitas e microfilmes.

Berenice Bacelar, curadora de obras raras e recém-aposentada, se sente gratificada com o momento. Foto: Janine Valente

Participaram da solenidade, a coordenadora substituta do Serviço de Biblioteca do Museu Goeldi, Sônia Dias, e as bibliotecárias Berenice Bacelar e Geisa Dias, curadora de obras raras recém-aposentada e a nova curadora, respectivamente.

“É gratificante. Estou saindo e estou recebendo uma das mais importantes obras. Obra raríssima, sobre um pedaço do Brasil que não era Brasil, era Holanda. Um pedaço do Brasil que teve desenvolvimento muito grande através de pesquisadores que foram trazidos por Maurício de Nassau. Os autores são médicos, mas, não são só médicos. São antropólogos, arqueólogos, botânicos, zoólogos. Um com 26 anos, o outro com 28”, descreve Berenice.

Segurança reforçada

Nilson Gabas Júnior ressalta que, com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), logo após a identificação do furto, “foram realizados investimentos estruturais robustos em segurança e conservação do acervo da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, hoje considerada uma das mais seguras do país”.

Entre as principais medidas adotadas, ela destaca a construção de uma sala-cofre, com acesso restrito à curadoria e à direção da biblioteca; a adoção de sistema eletrônico de controle de acesso e monitoramento contínuo, registrando todas as atividades no interior e entorno da sala; a implantação de um sistema de climatização e refrigeração para garantir temperatura e umidade estáveis, essenciais à preservação de materiais sensíveis; e o uso de monitoramento ambiental 24 horas e sistema de combate a incêndio, assegurando proteção integral ao acervo.

“Essas ações garantem que as obras raras do Museu Goeldi sejam preservadas com eficiência, segurança e durabilidade, assegurando às futuras gerações o acesso a um patrimônio bibliográfico de valor incalculável, testemunho vivo da história científica e cultural do Brasil e da Amazônia”, assegura o diretor.

Obras raras devolvidas ao Museu Goeldi

  • Título: Rerum medicarum nove hispanieae thesaurus, seu plantarum, simalium, mineralium
  • Ano de publicação: 1628
  • Autor: Francisco Hernandez
  • Resgate: 2014, em Nova York, Reino Unido
  • Título: Reise in Chile, Peru und auf dem Amazonenstrome
  • Ano de publicação: 1836
  • Autor: Eduard Poeppig
  • Resgate: 2023 em Buenos Aires, Argentina
  • Título: Delectus florae et faunae brasiliensis jussu et auspiciis
  • Ano de publicação: 1820
  • Autor: Johann Christian Mikan
  • Resgate: 2024 em São Paulo, Brasil
  • Título: Simiarum et vespertilionum Brasiliensium species novae
  • Ano de publicação: 1823
  • Autor: Johann Baptist von Spix
  • Resgate: 2024 em Londres, Reino Unido
  • Título: De Indiae utriusque re naturali et medica
  • Ano de publicação: 1658
  • Autor: Guilherme Piso
  • Resgate: 2024 em Londres, Reino Unido

*Com informações do Museu Goeldi