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Você conhece o inseto que pode transmitir uma doença perigosa?

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Foto: Reprodução/Youtube-Ticksman

Você já viu um barbeiro? O inseto transmissor da Doença de Chagas apareceu dentro de uma casa em Rondônia. Fui pessoalmente até o local para resgatá-lo com segurança e levá-lo à coleção científica, onde será estudado e catalogado.

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O barbeiro pode transmitir o Trypanosoma cruzi, protozoário causador da Doença de Chagas, através de suas fezes. E o risco é real: basta que ele defeque perto da picada ou de mucosas, e a pessoa coce ou esfregue a região — pronto, o parasita entra no organismo.

Leia também: Doença de Chagas: conheça os cuidados para evitar a contaminação

Sobre o autor

Ticksman é o Flávio Aparecido Terassini, biólogo, professor universitário desde 2006, mestre em Ciências pela USP e doutorando pelo Bionorte.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Está em Belém para a COP30? Conheça 5 pontos turísticos da cidade

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Belém do Pará. Foto: Raphael Luz/Agência Pará

A COP30, maior evento climático do planeta, chegou a Belém (PA). Durante as duas semanas da reunião, são esperadas mais de 50 mil pessoas. Para quem estará na cidade durante o evento, conhecer Belém pode ser uma experiência única, que combina a efervescência de um evento global com a cultura amazônica autêntica.

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Para os milhares de visitantes que buscam conhecer a cidade entre uma agenda e outra, a Agência de Notícias do Turismo preparou um roteiro com cinco paradas.

Leia também: Por que Belém? Entenda como a capital paraense se tornou sede da COP30

São locais que contam a história de Belém, desde sua fundação até sua moderna gastronomia, oferecendo uma imersão completa na “capital da bioeconomia”.

Confira abaixo algumas das principais experiências que o turista pode ter durante a conferência:

Estação das Docas

A Estação abriga restaurantes de alta gastronomia, bares, lojas de artesanato e sorveterias locais. Foto: Divulgação

Os antigos galpões portuários de ferro, importados da Inglaterra, foram completamente revitalizados e hoje formam o complexo turístico mais acessível de Belém. A Estação abriga restaurantes de alta gastronomia, bares, lojas de artesanato e sorveterias locais, uma parada obrigatória para provar sorvetes de frutas amazônicas como açaí, cupuaçu e bacuri. É uma ótima opção para um passeio ao fim da tarde, apreciando o pôr do sol sobre a Baía do Guajará.

Mercado Ver-o-Peso

mercado ver o peso em belém Foto: Alexandre Costa/Alepa
O Ver-o-Peso é considerado a maior feira aberta da América Latina. Foto: Alexandre Costa/Alepa

Considerada a maior feira aberta da América Latina, o Ver-o-Peso é o verdadeiro coração pulsante de Belém. É uma imersão sensorial completa nos cheiros das ervas medicinais vendidas pelas “erveiras”, nas cores de frutas regionais exóticas e no sabor do verdadeiro açaí, que chega de barco diariamente. O visitante verá de perto a economia da floresta em ação.

Complexo Feliz Lusitânia (Cidade Velha)

O complexo arquitetônico concentra os edifícios mais importantes do período colonial. Foto: Daniel Vilhena/AID/Alepa

É aqui que a história de Belém começou. Este complexo arquitetônico concentra os edifícios mais importantes do período colonial, ideal para uma caminhada. O passeio inclui o Forte do Presépio, local da fundação da cidade com uma bela vista para a baía; a Casa das Onze Janelas, antigo hospital que hoje é um espaço cultural com restaurante; e a imponente Catedral Metropolitana da Sé, ponto de partida do mundialmente famoso Círio de Nazaré.

Mangal das Garças

mangal-das-garcas.jpg
Parque zoobotânico, localizado às margens do Rio Guamá. Foto: Divulgação

Para um contato com a fauna e flora amazônicas sem sair da cidade, o Mangal das Garças é uma ótima opção. Este parque zoobotânico, localizado às margens do Rio Guamá, apresenta uma síntese do ecossistema amazônico, com garças, guarás de um vermelho vibrante, um borboletário e um orquidário. O destaque é o Farol de Belém, um mirante que oferece uma vista panorâmica de 360° da cidade e do rio.

Ilha do Combu

Descubra a serenidade dos igarapés na Ilha do Combu. Foto: Divulgação/Agência Belém

Para uma imersão mais profunda no modo de vida ribeirinho, basta uma curta travessia de barco (saindo da Praça Princesa Isabel) para chegar à Ilha do Combu. Esta Área de Proteção Ambiental (APA) permite ao visitante entender na prática a bioeconomia da floresta. A dica é visitar o projeto “Filha do Combu”, onde Dona Nena produz cacau e chocolates orgânicos da Amazônia de forma sustentável, uma experiência premiada que conecta o visitante diretamente à origem do produto.

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Para quem tiver a oportunidade de estender a viagem para além da capital, o Pará se revela um universo de possibilidades. O estado é marcado pela presença de biomas importantes como a Floresta Amazônica e áreas de Cerrado, além de bacias hidrográficas gigantescas como a do Amazonas, do Xingu e do Tapajós.

Essa imensidão natural é o lar de uma densa tradição cultural. Na região do Baixo Tapajós, nos municípios de Santarém e Belterra, por exemplo, o visitante encontra festejos, o autêntico artesanato tapajônico e uma gastronomia premiada, tudo isso somado à forte presença de etnias indígenas como os Arapiuns e os Borari, que mantêm suas heranças culturais vivas e vibrantes.

*Com informações do Ministério do Turismo

Rondon, a República e o amor que ficou de fora da Bandeira Nacional

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Em 1958, seu sepultamento, envolto pela Bandeira Nacional. Colorização da imagem: Luís Claro

Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com

Rondon, a República e o amor que ficou de fora da Bandeira Nacional
Rondon em 1914, nos “sertões de Vilhena”, sul de Rondônia. Foto: Divulgação

No 15 de Novembro de 1889, enquanto o Império ruía, um jovem alferes mato-grossense, Cândido Mariano da Silva Rondon, entregava à Marinha o comunicado que oficializava a República. Tinha 24 anos e já carregava o peso da história. Era discípulo de Benjamin Constant, mentor do novo regime e propagador do Positivismo, igreja fundada pelo filósofo francês Augusto Comte — filosofia que inspirou o lema da bandeira: “Ordem e Progresso”.

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Mas faltou uma palavra: Amor. No túmulo de Rondon (FOTO), no Rio, está gravado o lema completo: “O Amor por princípio, a Ordem por base, o Progresso por fim”. O filósofo maranhense Raimundo Teixeira Mendes, criador da bandeira republicana, suprimiu o amor. Dizem que era subjetivo demais para um país militarizado. Outros acham que foi um erro filosófico. A discussão chegou ao Congresso em 2003, pois queriam incluir o amor. Não vingou.

Rondon seguiu fiel ao mestre. Batizou o filho de Benjamin, aderiu à Igreja Positivista. Começou sua saga pelas selvas, estendendo linhas telegráficas e promovendo o contato com povos indígenas. Andou o equivalente a duas voltas ao mundo. Foi indicado três vezes ao Nobel.

Hoje, Rondônia carrega seu nome. Terra de Rondon. E a bandeira nacional, embora verde e amarela desde o Império, ainda guarda mistérios. As cores não representam floresta ou ouro, como dizem por aí. São brasões da família real. O azul e o branco vêm de Portugal. E as estrelas? Representam estados, mas não seguem rigor astronômico.

No fim, a República nasceu de um golpe militar, inspirada por filósofos pacifistas. E o amor, que deveria estar na bandeira, ficou apenas na lápide de Rondon — nosso Herói da Pátria. Um idealista quase romântico.

Foto: Divulgação

Leia também: Presidente da Biblioteca Nacional visita Rondônia

Sobre o autor

Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Brasil precisa transformar promessas em ações práticas na COP30, alertam pesquisadores

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Sala de negociação da COP30: artigo é assinado por oito pesquisadores, entre eles três do CEPID ARIES da FAPESP. Foto: Rafa Neddermeyer/COP30

Em meio às discussões da COP30, que pela primeira vez é realizada na Amazônia, em Belém (PA), um grupo de pesquisadores faz um alerta para a urgência de o Brasil liderar um caminho que transforme promessas em ações práticas no combate ao aquecimento global. Na visão deles, o país, como sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, precisa alinhar suas políticas internas a compromissos internacionais, destacando a conservação das florestas e a justiça climática.

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Os cientistas ressaltam a necessidade de “reverter políticas antiambientais, aplicar leis de combate ao desmatamento e fortalecer atores do desenvolvimento sustentável para transformar promessas em ações concretas por meio de reformas legislativas, da restauração do licenciamento ambiental e da proteção de direitos dos povos indígenas”.

O artigo foi publicado em 28 de outubro na revista científica International Environmental Agreements: Politics, Law and Economics.

É assinado por oito pesquisadores, entre eles três do ARIES (sigla em inglês para Instituto Paulista de Resistência aos Antimicrobianos), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDfinanciado pela FAPESP, com sede na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os demais signatários são das universidades de São Paulo (USP), Federal de Alagoas (Ufal) e da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Fiocruz).

“O Brasil tem que aproveitar toda essa visibilidade internacional para realmente colocar em ação o que se compromete a cumprir, buscando limitar o aquecimento global do planeta. E, mesmo sendo um evento mundial, a COP é uma oportunidade para trazermos propostas nacionais, como o Plano de Ação em Saúde de Belém”, diz à Agência FAPESP a bióloga Daniela Debone, primeira autora do artigo. Pós-doutoranda no ARIES, ela é apoiada por bolsa da FAPESP.

plano de ação foi apresentado pelo Brasil com o objetivo de fortalecer a adaptação e a resiliência da área de saúde frente às mudanças climáticas por meio do avanço de sistemas integrados de vigilância e monitoramento, além da promoção de políticas baseadas em evidências e da inovação. Faz parte da programação dos dias temáticos da COP30, que incluiu saúde (12 e 13 de novembro).

O tema se insere entre as abordagens do ARIES, cujo objetivo é produzir pesquisa para a compreensão dos mecanismos e evolução da resistência antimicrobiana, estimulando medidas inovadoras para mitigação e promovendo mudanças em políticas de saúde pública por meio de uma abordagem baseada nos conceitos de Saúde Única (One Health). Seu quadro de pesquisadores principais é composto por representantes de três universidades paulistas, além de especialistas nacionais e internacionais de mais de 20 instituições de ensino e pesquisa.

A resistência antimicrobiana (AMR, na sigla em inglês), que também está ligada às mudanças climáticas, é considerada pelas Nações Unidas como uma das principais ameaças à saúde pública global.

Leia também: COP30 lança Declaração de Belém para a Industrialização Verde; veja o documento

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que as alterações climáticas venham a estar relacionadas a cerca de 250 mil mortes por ano (entre 2030 e 2050) por desnutrição, doenças infecciosas e estresse térmico. Já a AMR pode ser responsável por 10 milhões de mortes anuais no mesmo período, além de um custo adicional aos sistemas de saúde de US$ 1 trilhão, de acordo com o Banco Mundial.

“Nós cientistas temos de traduzir os conhecimentos e achados das pesquisas para a sociedade, contribuindo com subsídios para políticas públicas. Nesse sentido, fazemos um alerta de que precisamos sair do plano do discurso. Contamos com uma massa crítica gerada pela ciência brasileira que é muito importante, inclusive com pesquisadores no IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], como o professor Paulo Artaxo. Podemos mostrar caminhos e exemplificar concretamente como passar para práticas mais sustentáveis”, avalia a professora Simone Miraglia, do ARIES e líder do Laboratório de Economia, Saúde e Poluição Ambiental (Lespa) da Unifesp. Miraglia e Artaxo também assinam o trabalho.

Ideia a partir da realidade

Debone conta que a proposta do artigo surgiu em maio, período em que começou a participar de uma série de eventos promovidos pela Comissão Unifesp para a COP30.

No mesmo mês, o Senado aprovou o projeto 2.159/2021 – a Lei Geral do Licenciamento Ambiental –, que posteriormente passou na Câmara dos Deputados e foi sancionado, em agosto, pelo Executivo, com 63 vetos.

Vista por alguns setores como uma forma de enfraquecer e esvaziar as regras de licenciamento e por outros como uma maneira de dar agilidade aos processos de liberação de obras, a lei é citada no artigo. Para os pesquisadores, é uma mudança que pode “agravar ainda mais os conflitos fundiários, sustentar a narrativa enganosa do ‘capitalismo verde’ e prejudicar os direitos dos povos tradicionais e indígenas”, apontados como responsáveis por conservar a floresta.

Além disso, os cientistas apontam como medidas antiambientais a construção de uma rodovia em Belém que desmatou hectares de floresta; a reconstrução do trecho central de 408 quilômetros da BR-319 (entre Manaus e Porto Velho) que afeta áreas da Amazônia; e as discussões do marco temporal, com impactos na demarcação de terras indígenas.

Pessoas em frente a fachada do pavilhão, chegam para participar de plenárias na COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Pessoas em frente a fachada do pavilhão, chegam para participar de plenárias na COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

O marco temporal é uma tese jurídica segundo a qual os povos indígenas têm direito apenas a terras que ocupavam ou já disputavam em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição. Foi estabelecido pela Lei 14.701/2023, aprovada pelo Congresso Nacional, contrariando à época entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF).

A tese e outros artigos chegaram a ser vetados pelo Executivo, mas os vetos foram rejeitados por deputados e senadores, que mantiveram o texto na íntegra. A lei está novamente sob questionamento no STF, que não tem prazo para decidir se ela é inconstitucional ou não.

Por outro lado, os cientistas citam como avanços do Brasil a redução do desmatamento e a queda da emissão de gases de efeito estufa. Entre agosto de 2024 e julho de 2025, a taxa de desmatamento na Amazônia Legal atingiu o terceiro menor patamar da série histórica (desde 1988), com 5.796 km² – redução de 11%.

Puxado pelo recuo do desmate, o Brasil registrou em 2024 o menor nível de emissão de gases de efeito estufa desde 2009, com uma queda de quase 17% – foram 2,145 bilhões de toneladas de CO equivalente (GtCOe).

Procurado por meio da assessoria de comunicação, o Ministério do Meio Ambiente, envolvido nas discussões da COP, não se pronunciou.

“As mudanças climáticas já vêm sendo debatidas há muito tempo. Agora todo mundo espera ações factíveis, que sejam desempenhadas de fato. Espero que essa COP sirva como um ponto de virada numa perspectiva mundial. Que a gente comece a ver ações que mudem as emissões de gases de efeito estufa e os demais fatores causadores dessas mudanças”, afirma o pós-doutorando no ARIES Ronan Adler Tavella, também autor do artigo e bolsista FAPESP.

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Cenário real no Brasil

Ao tratar da urgência climática, o grupo lembra que as temperaturas globais já subiram até 1,6 °C em relação aos níveis pré-industriais, com áreas continentais registrando elevação de até 2,1 °C, “evidenciando a aceleração dos impactos climáticos e a necessidade crítica de ação imediata”.

“A visão declarada pelo Brasil de uma bioeconomia amazônica próspera, em que a floresta em pé valha mais do que derrubada, só ganhará credibilidade se o país romper de forma decisiva com os modelos destrutivos do passado”, escrevem.

Nesse cenário, Tavella destaca um estudo recente publicado na Anthropocene Science, liderado por ele e Debone, para avaliar os efeitos de curto e longo prazo das chuvas extremas que devastaram vários municípios no Rio Grande do Sul, em maio de 2024.

Os resultados destacam a necessidade de repensar estratégias de gestão de inundações, principalmente em áreas urbanas, com a integração de projeções climáticas ao planejamento, de reforço da infraestrutura para controle de enchentes e da adoção de soluções baseadas na natureza para aumentar a resiliência (leia o estudo AQUI).

“Além das chuvas em maio, vimos ao longo de todo o ano passado inúmeros outros casos de enchentes e eventos extremos em todo o globo. Essa é uma realidade que tem se intensificado. E isso será uma preocupação constante, de todo o mundo”, completa o pesquisador.

O artigo Brazil’s climate leadership paradox: hosting COP30 amid domestic environmental rollbacks pode ser lido em: AQUI.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por Luciana Constantino.

COP30 lança Declaração de Belém para a Industrialização Verde; veja o documento

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Autoridades e representantes internacionais durante o anúncio da Declaração de Belém na COP30. Foto: Rafa Neddermeyer/COP30

Com a adesão de 35 países, organizações internacionais e iniciativa, foi lançada nesta sexta-feira (14), a Declaração de Belém para a Industrialização Verde, durante uma reunião de líderes na COP30. O documento reúne metas ambientais, econômicas e sociais que buscam transformar o cenário internacional, impulsionar a inovação tecnológica e garantir um modelo de crescimento sustentável.

Leia também: Por que Belém? Entenda como a capital paraense se tornou sede da COP30

Para isso, os países assumem esforços compartilhados, com ações coordenadas e iniciativas voltadas a acelerar a transição energética e promover a modernização do setor industrial e novas oportunidades para países em desenvolvimento na economia verde.

“As metas climáticas precisam acompanhar uma transformação econômica real. A indústria verde é sobre o avanço do setor e dos empregos para o futuro, garantindo que todos os países, especialmente do Sul Global, possam liderar e se beneficiar dessa nova era de prosperidade sustentável”, reforçou o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, ao enfatizar a importância de alinhar ambição climática e desenvolvimento.

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COP30 segue com debates após declaração

A visão foi compartilhada também pela CEO da COP30, Ana Toni. “A industrialização verde é um tema irreversível, e precisamos trabalhar em conjunto para garantir que todos os países avancem da melhor forma possível”, afirmou, celebrando o fato de que o tema passou rapidamente da fase de negociação para a agenda de ação.

“Podemos trazer outros países conosco, outras indústrias, e dialogar com governos e parlamentares para entender que tipo de quadro temos em cada caso”, completou.

Gerd Müller, diretor-geral da Organização para o Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas (UNIDO), ressaltou o caráter histórico do momento.

“Estamos conectando metas climáticas a ações concretas para a indústria, mobilizando inovação, investimentos e inclusão. A UNIDO tem orgulho de apoiar esse esforço ao lado dos parceiros para garantir não apenas a descarbonização industrial, mas também desenvolvimento, geração de empregos e avanço tecnológico”.

declaração de Belém é assinada durante a COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Mais empregos e inclusão social

Segundo Júlia Cruz, secretária de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a discussão sobre industrialização verde também envolve o compromisso com a inclusão social. Ela defende que a transição precisa considerar as populações diretamente ligadas às indústrias e às suas matrizes energéticas.

“Precisamos garantir empregos e benefícios para as comunidades. Se não houver estratégia de desenvolvimento para essas pessoas, elas vão procurar outras formas de lucrar e sobreviver, inclusive em mercados criminosos, como exploração ilegal de madeireira ou de mineração”.

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A Declaração de Belém prevê ações para assegurar coesão e coordenação entre as diferentes iniciativas conduzidas no âmbito da COP voltadas à transformação do setor industrial, alinhando e acelerando os trabalhos da agenda.

O compromisso também reconhece outros esforços essenciais para a industrialização verde, ao buscar apoio financeiro e técnico para a implementação de políticas sustentáveis em escala global. O documento permanece aberto para a adesão de países e organizações interessados em integrar esses esforços.

O documento foi publicado em inglês:

*Com informações da COP30 – Brasil

Culinária da Amazônia assusta ou impressiona? Chef paraense defende cultura amazônica

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Saulo Jeennings, chef que se negou a cozinhar menu vegano. Foto: Thiago Gomes/AFP

O chef paraense Saulo Jennings, conhecido por transformar os ingredientes dos rios e florestas da região Norte em alta gastronomia, às vésperas da COP30, chamou atenção por recusar um convite para preparar um jantar vegano que teria a presença do príncipe William, no Rio de Janeiro. O chef manteve a postura firme em defesa da culinária amazônica e a decisão gerou polêmica. 

“Eu não cozinho para ninguém se for sem peixe. O peixe é meu propósito hoje”, afirmou Saulo, em entrevista para a imprensa na época do ocorrido.  

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Jennings explicou, ainda, que não se tratou de uma crítica ao veganismo, mas que, para ele, excluir os ingredientes amazônicos seria o mesmo que apagar uma história. 

“Se me pedirem para fazer um evento 90% vegano, eu faço, mas muitas pessoas vivem desse peixe, só do nosso restaurante são mil famílias que fazem manejo sustentável”, afirmou.

A gastronomia do restaurante 

comidas do chefe
Foto: Reprodução/Instagram-@vaitapajos

Natural de Santarém, Saulo cresceu aprendendo que “tudo que era bom vinha do rio”. Esse ensinamento se reflete em sua cozinha, lugar onde o pirarucu, o tucunaré e o filhote – peixes da região – se mesclam com ingredientes como o tucupi e a maniva.

No mercado Ver-o-peso o chef escolhe pessoalmente os pescados e as ervas que abastecem os restaurantes de Belém, Santarém, São Paulo e no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. 

O convite para o jantar do projeto ambiental Earthshot, ligado ao príncipe William, no Museu do Amanhã, tinha uma proposta inicial de um menu 100% vegano que foi contra-argumentado pelo chef com uma sugestão de 80% de pratos sem produtos animais e 20% com peixes amazônicos.

A equipe do príncipe não tratou diretamente com o chef e o impasse levou ao cancelamento do contrato. No entanto, Saulo afirma que houve “insistência para tirar a essência da Amazônia do prato”.

Leia também: Mapa gastronômico inédito da culinária de Belém é produzido com foco na COP30

Culinária amazônida

A recusa vem de uma discussão que Saulo tem levado a fóruns nacionais e internacionais. Para ele, a sustentabilidade na Amazônia não se mede pelos mesmos parâmetros de outros lugares. “Ser sustentável aqui é respeitar o tempo da floresta e do rio. Não é excluir o que vem deles”, afirmou o chef em entrevista para a imprensa. 

De acordo com Jennings, se os estrangeiros estão promovendo eventos para conhecer a realidade da floresta, eles precisam entender, inclusive, a cultura alimentar local. 

A culinária local na COP30

Durante a COP30, Saulo vai comandar uma equipe de mais de 200 profissionais que prometem apresentar ao mundo o retrato da Amazônia nos pratos. O destaque será a maniçoba, um ensopado de maniva cozida por sete dias, comparado pelo chef a uma feijoada ‘de floresta’.

culinária do chef
Foto: Reprodução/Instagram-@vaitapajos

Leia também: Culinária amazônica: de onde vem os sabores populares na região?

Para o chef, a comida amazônica é instrumento de ‘gastrodiplomacia’ uma forma de o Brasil comunicar sua identidade através do sabor. Mesmo após a polêmica, Saulo mantém o desejo de um encontro com o príncipe William desta vez, para dialogar. 

O sucesso do chef

Antes de se tornar um dos chefs mais influentes da gastronomia brasileira, Saulo dava aulas de kitesurf no Tapajós e servia petiscos aos alunos. O sucesso dos petiscos improvisados deu origem à Casa do Saulo, que hoje é referência em culinária amazônica e turismo sustentável.

A trajetória o levou a ser nomeado embaixador gastronômico da ONU Turismo, título que reflete seu papel na valorização de saberes tradicionais e práticas de manejo que unem alimento e conservação ambiental.

Chef paraense que se negou a cozinhar para o príncipe
Saulo Jennings. Foto: Vitor Alvarenga

Polêmica gastronômica não começou – e nem parou – aí

Apesar do posicionamento do chef paraense, as polêmicas em torno da culinária amazônica na COP30 já tinham tomado conta das redes, até mesmo em função de um edital que proibiu açaí, tucupi e maniçoba, comidas típicas paraenses, na Conferência.

A medida, após toda a repercussão e questionamentos, foi corrigida e um novo edital foi publicado. O próprio Ministro do Turismo, Celso Sabino, comentou na publicação do chef: “Foi isso que argumentei la, assim que soube. O edital já foi corrigido. Vai ter sim açaí, tucupi e maniçoba na cop. Mais uma crise resolvida! Vamos esperar a próxima. Atenção e vigilância ininterrupta e máxima, pra defendermos todos juntos o nosso amado Pará”, afirmou.

A mudança foi feita pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), após a atuação do governo federal, por meio do ministro e, em nota, a organização informou que, após análise técnica, foi publicada uma errata para incorporar a culinária paraense. As informações atualizadas sobre o sistema de alimentação na COP30 foi divulgado AQUI.

Outra dificuldade com relação à alimentação começou já nos primeiros dias da COP30, que teve início dia 10 e segue até dia 21: os valores dos alimentos. Uma água, por exemplo, chegou a custar R$ 25. Após repercussão, diversos itens tiveram preços ajustados, mas as ponderações sobre os preços executados seguem com críticas.

Caminhos sustentáveis: como a infraestrutura verde impulsiona a bioeconomia na região amazônica

Foto: Projeto Saúde e Alegria. Infraestrutura na Amazônia: sim para o amazônida!. Disponível em: https://saudeealegria.org.br/redemocoronga/infraestrutura-na-amazonia-sim-para-o-amazonida/

Por Yunier Sarmiento Ramírez e Jose Barbosa Filho

Com mais de cinco milhões de quilômetros quadrados de floresta tropical contínua, a região abriga ecossistemas de alta complexidade, populações tradicionais com saberes ancestrais e uma vasta rede de rios que sustentam modos de vida, economias locais e cadeias produtivas fundamentais para o desenvolvimento da região.

Apesar dessa importância, a Amazônia enfrenta desafios históricos relacionados ao modelo de infraestrutura tradicional, marcado pela expansão de rodovias, pela dependência de combustíveis fósseis, pela precariedade dos serviços urbanos e pela ocupação desordenada do território. Esses elementos contribuíram para ciclos recorrentes de desmatamento, degradação ambiental, vulnerabilidade climática e desigualdades socioeconômicas, dificultando a consolidação de um modelo de desenvolvimento compatível com a proteção dos ecossistemas amazônicos.

Nesse cenário, ganha força o conceito de infraestrutura verde, entendido como um conjunto de soluções baseadas na natureza que articula conservação ambiental, serviços ecossistêmicos e uso sustentável dos recursos naturais. A infraestrutura verde inclui corredores ecológicos, sistemas agroflorestais, manejo florestal sustentável, saneamento ecológico, mobilidade fluvial de baixo impacto, energia renovável e outras soluções capazes de integrar preservação ambiental e dinamização econômica.

Sua conexão com a bioeconomia é direta: ao fortalecer cadeias produtivas ligadas à sociobiodiversidade, ao conhecimento tradicional e à inovação tecnológica de base biológica, a infraestrutura verde se torna um elemento essencial para promover desenvolvimento sustentável com inclusão social no território amazônico.

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A relevância científica e prática deste tema reside na necessidade de compreender como novos paradigmas de infraestrutura podem contribuir para superar a lógica predatória historicamente associada à região e apoiar a transição para modelos produtivos mais resilientes, inovadores e ambientalmente responsáveis. A articulação entre infraestrutura verde e bioeconomia constitui, portanto, uma oportunidade estratégica para reposicionar a Amazônia no centro de uma agenda global de sustentabilidade e desenvolvimento territorial. Diante desse contexto, este artigo tem como objetivo: Analisar de que forma a infraestrutura verde contribui para o fortalecimento da bioeconomia na região amazônica.

1. Bioeconomia e Desenvolvimento Sustentável

A bioeconomia emerge, nas últimas décadas, como um paradigma orientado à transição para modelos produtivos sustentáveis, integrando ciência, tecnologia, biodiversidade e conhecimento tradicional. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a bioeconomia refere-se ao uso intensivo de recursos biológicos renováveis — como biomassa, microrganismos, plantas, animais e ecossistemas — para produzir bens, serviços, materiais e energia de forma inovadora. A perspectiva da OCDE privilegia a inovação tecnológica, a biotecnologia avançada e o desenvolvimento de cadeias produtivas baseadas em conhecimento científico.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), por sua vez, destaca uma concepção mais ampla que integra sustentabilidade ambiental, inclusão social e segurança alimentar. Para a FAO, a bioeconomia só se realiza plenamente quando promove o uso responsável dos recursos naturais, valoriza os sistemas alimentares sustentáveis e fortalece comunidades rurais e tradicionais. No contexto brasileiro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) enfatiza o potencial industrial da bioeconomia, especialmente na geração de novos produtos, bioprocessos e biomateriais capazes de dinamizar setores como química verde, cosméticos, farmacêutica e agricultura sustentável.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), na Estratégia Nacional de Bioeconomia, adota uma abordagem que articula biotecnologia, conservação ambiental e inovação. Para o MCTI, a bioeconomia é uma oportunidade estratégica para posicionar o Brasil — e, em particular, a Amazônia — como líder global em produtos de alto valor agregado derivados da sociobiodiversidade. Autores como Sachs (2009) e Leff (2012) ampliam esse debate ao destacar a necessidade de uma transição civilizatória baseada em novos modos de produção e consumo que rompam com a lógica predatória e coloquem a sustentabilidade como eixo estruturante do desenvolvimento econômico.

Nesse sentido, a bioeconomia amazônica difere de modelos bioeconômicos convencionais. Ela não se limita ao uso de biomassa para fins industriais, mas está profundamente enraizada na diversidade ecológica e sociocultural da região. A Amazônia é um dos territórios de maior diversidade biológica e sociocultural do planeta, abrigando cerca de 20% das espécies vivas conhecidas e uma extensa rede de povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e comunidades extrativistas.

Essa condição confere à região um potencial ímpar para a consolidação de uma bioeconomia robusta e diferenciada. A biodiversidade não representa apenas um estoque de recursos naturais, mas sim uma base funcional de serviços ecossistêmicos, tais como regulação climática, fertilidade do solo, polinização, ciclagem de nutrientes e manutenção do regime hídrico — elementos indispensáveis à vida e à produção.

O conhecimento tradicional — acumulado ao longo de séculos de interação direta com a floresta — desempenha um papel igualmente fundamental. Povos e comunidades amazônicas desenvolveram formas sofisticadas de manejo agroflorestal, sistemas de roçados sustentáveis, cultivo de espécies nativas, usos medicinais e cosméticos de plantas, técnicas de aproveitamento de fibras, látex, resinas, óleos e frutos, além de práticas de manejo de lagos, igarapés e várzeas. Esse conhecimento se traduz em uma tecnologia social que articula saberes ecológicos e práticas culturais, constituindo uma verdadeira economia do conhecimento da floresta.

A integração entre biodiversidade e saberes tradicionais gera oportunidades concretas para o desenvolvimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade — como açaí, castanha, pirarucu, cumaru, copaíba, andiroba, óleos essenciais, artesanato, sementes e extratos florestais.

Essas cadeias são sustentáveis por definição, preservam a floresta em pé, fortalecem a autonomia comunitária e favorecem inclusão social e territorial, elementos essenciais para uma bioeconomia que respeite as especificidades amazônicas. Assim, a biodiversidade e o conhecimento tradicional não são apenas insumos, mas pilares estruturantes da bioeconomia amazônica, fornecendo a base material, cultural e tecnológica que diferencia este modelo de demais experimentos internacionais de bioeconomia.

O avanço da bioeconomia depende da capacidade de medir seus impactos econômicos, sociais e ambientais. Indicadores permitem avaliar a sustentabilidade das cadeias produtivas, a eficiência na utilização dos recursos naturais, a geração de renda e empregos, bem como os efeitos sobre a conservação dos ecossistemas. No plano econômico, destacam-se indicadores como:

  • valor agregado das atividades da sociobiodiversidade;
  • participação dos produtos bioeconômicos no PIB local;
  • número de empregos verdes;
  • densidade de arranjos produtivos locais sustentáveis;
  • formalização de empreendimentos comunitários;
  • e volume de exportações de produtos da bioeconomia.

Além disso, os investimentos públicos e privados em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) são considerados um dos principais motores da expansão bioeconômica, refletindo a capacidade de geração de tecnologias, novos produtos, processos biotecnológicos e soluções baseadas na natureza.

No campo ambiental, os indicadores revelam o quão sustentável é a trajetória das cadeias bioeconômicas. Entre eles estão: taxas de conservação da cobertura florestal; recuperação de áreas degradadas; intensidade de emissões evitadas; manutenção de serviços ecossistêmicos críticos (água, solo, clima); diversidade de espécies utilizadas nas cadeias produtivas; e indicadores de integridade dos sistemas hídricos. Outros indicadores ambientais relevantes incluem o grau de dependência de recursos fósseis, eficiência energética, pegada ecológica das cadeias produtivas e volume de resíduos gerados por unidade de produção biológica.

A combinação desses indicadores permite não apenas monitorar o desempenho da bioeconomia, mas também compará-la com modelos tradicionais intensivos em carbono e recursos naturais. No caso da Amazônia, tais indicadores são fundamentais para demonstrar que um modelo baseado na floresta em pé é não apenas ambientalmente superior, mas também economicamente viável e socialmente inclusivo. Assim, indicadores econômicos e ambientais atuam como instrumentos-chave para orientar políticas públicas, atrair investimentos, fortalecer arranjos produtivos locais e consolidar a bioeconomia como eixo estruturante do desenvolvimento sustentável.

Assim, a bioeconomia, quando orientada por princípios de justiça socioambiental e sustentabilidade, representa um caminho integrado para promover o desenvolvimento sustentável, especialmente em territórios de alta diversidade sociobiológica como a Amazônia. Seu potencial depende da capacidade de articular ciência, inovação, políticas públicas, saberes tradicionais e estratégias de conservação ambiental — elementos que serão fundamentais para compreender a relação entre infraestrutura verde e fortalecimento da bioeconomia na região.

2. Infraestrutura Verde

A infraestrutura verde tem ganhado centralidade nos debates internacionais sobre sustentabilidade, planejamento territorial e adaptação climática. Diferentemente da infraestrutura cinza — baseada em obras tradicionais como rodovias, barragens, hidrelétricas, grandes sistemas de drenagem ou edificações de concreto — a infraestrutura verde se fundamenta em soluções baseadas na natureza que integram funções ecológicas, sociais e econômicas.

sustentabilidade amazônia
Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

De acordo com a Comissão Europeia, infraestrutura verde consiste em uma rede estrategicamente planejada de áreas naturais e semi-naturais que oferece serviços ecossistêmicos essenciais e promove a resiliência territorial. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) reforça essa visão ao destacar que essas soluções reduzem impactos ambientais, aumentam a segurança climática e fortalecem economias locais de baixo carbono.

No contexto amazônico, o conceito de infraestrutura verde assume características particulares, pois parte de uma base ecológica complexa e de uma disponibilidade abundante de ativos naturais. A floresta, os rios, os sistemas agroflorestais, os corredores ecológicos, as áreas protegidas e os vastos ecossistemas de várzea e terra firme constituem, por si só, uma infraestrutura natural que presta serviços essenciais, tais como armazenamento de carbono, regulação do ciclo hidrológico, controle de erosão, fertilidade do solo, manutenção da biodiversidade e proteção contra eventos climáticos extremos. Assim, a Amazônia já possui uma infraestrutura verde intrínseca, que precisa ser reconhecida, fortalecida e integrada às estratégias de desenvolvimento.

A infraestrutura verde também inclui intervenções sustentáveis que reforçam a interação entre sistemas naturais e sociais. Entre os exemplos mais relevantes estão: sistemas agroflorestais e de manejo florestal comunitário; mobilidade fluvial sustentável; saneamento ecológico baseado em tecnologias descentralizadas; microgeração de energia renovável (solar, biomassa, mini-hídricas); recuperação de áreas degradadas com espécies nativas; jardins filtrantes; parques urbanos e áreas verdes planejadas; e soluções de drenagem natural como wetlands artificiais. Essas iniciativas não apenas reduzem impactos ambientais, mas também promovem inclusão social, geração de renda e melhoria da qualidade de vida, especialmente em áreas rurais e ribeirinhas.

O vínculo entre infraestrutura verde e bioeconomia é direto. Enquanto a bioeconomia depende de cadeias produtivas que valorizam recursos biológicos e serviços ecossistêmicos, a infraestrutura verde cria as condições ecológicas, territoriais e institucionais que permitem que essas cadeias prosperem. Sistemas agroflorestais aumentam a produtividade sem destruir a floresta; saneamento ecológico reduz a poluição hídrica e melhora a saúde; corredores ecológicos garantem continuidade genética e sustentam cadeias extrativistas; energia renovável reduz custos operacionais de empreendimentos da sociobiodiversidade; e áreas protegidas fornecem estoques naturais renováveis utilizados pelas comunidades.

Outro aspecto fundamental diz respeito à capacidade da infraestrutura verde de promover resiliência climática. Em uma região altamente sensível a secas severas, cheias extremas e eventos hidrometeorológicos intensificados pelas mudanças climáticas, soluções baseadas na natureza permitem amortecer impactos e reduzir vulnerabilidades. Intervenções como revegetação de áreas de várzea, restauração de margens de rios, manejo de bacias hidrográficas e uso de tecnologias naturais de retenção de água são essenciais para evitar desastres e proteger infraestruturas críticas.

A infraestrutura verde também cumpre uma função institucional e política. A adoção desse paradigma reposiciona a Amazônia como protagonista de uma transformação global voltada ao baixo carbono e ao uso sustentável dos recursos naturais, permitindo alinhar estratégias territoriais às agendas climáticas internacionais e às metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os ODS 6, 7, 9, 11, 13 e 15. Ao integrar inovação, conservação ambiental e inclusão social, a infraestrutura verde oferece uma alternativa ao modelo histórico predatório e estabelece as bases para uma bioeconomia que fortalece territórios, preserva ecossistemas e amplia oportunidades econômicas de modo equitativo.

3. Infraestrutura Verde e Bioeconomia na Amazônia

A relação entre infraestrutura verde e bioeconomia na Amazônia é intrínseca e estratégica. A região apresenta uma combinação singular de ativos naturais, diversidade sociocultural e ampla disponibilidade de recursos biológicos que, quando articulados a modelos sustentáveis de infraestrutura, oferecem condições favoráveis para a emergência de um novo paradigma de desenvolvimento. A infraestrutura verde, ao fortalecer serviços ecossistêmicos essenciais — como regulação climática, proteção de nascentes, fertilidade do solo, conectividade de habitats e manutenção da biodiversidade — cria um ambiente propício para que cadeias produtivas da sociobiodiversidade se desenvolvam com maior estabilidade ecológica, eficiência logística e resiliência climática.

Sob a ótica da bioeconomia amazônica, a infraestrutura verde representa não apenas um suporte ecológico, mas também um instrumento de dinamização econômica. Sistemas agroflorestais, manejo comunitário da floresta, áreas protegidas, corredores ecológicos e tecnologias sustentáveis de produção favorecem a continuidade e ampliação de cadeias produtivas baseadas em produtos florestais não madeireiros, como açaí, castanha, óleos essenciais, sementes, fibras e resinas. Ao mesmo tempo, tecnologias como energia renovável — especialmente solar e biomassa — auxiliam na redução de custos operacionais de empreendimentos comunitários e inovadores, ampliando a competitividade da bioeconomia regional.

Além da dimensão ecológica e produtiva, a infraestrutura verde também exerce papel crucial na redução de vulnerabilidades históricas da Amazônia. O modelo tradicional de infraestrutura, baseado na expansão de grandes rodovias, no transporte intensivo de cargas e na dependência de combustíveis fósseis, ampliou a pressão sobre ecossistemas sensíveis e gerou ciclos de degradação e desigualdade territorial.

Em contraste, soluções baseadas na natureza reduzem impactos ambientais, aumentam a adaptabilidade aos eventos climáticos extremos e fortalecem comunidades rurais e ribeirinhas, garantindo acesso mais seguro a água, energia, saneamento e mobilidade. Assim, a infraestrutura verde opera como uma estratégia de desenvolvimento territorial que vai além da conservação, articulando dimensões ecológicas, sociais e econômicas.

Outro componente essencial dessa relação é a governança multinível. A implementação de infraestrutura verde e a consolidação da bioeconomia dependem de políticas públicas integradas, institucionalidade robusta e capacidade de coordenação entre governos municipais, estaduais e federal, além da participação ativa de comunidades tradicionais, setores produtivos, organizações da sociedade civil e instituições científicas.

Programas como o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), o Fundo Amazônia, o Plano Amazônia 2040, o Bioeconomia da Amazônia Legal e iniciativas estaduais financiadas por agências como a FAPEAM contribuem para estabelecer diretrizes e financiar ações de conservação, restauração e inovação produtiva. Contudo, desafios persistem, como a fragmentação institucional, a insuficiência de recursos técnicos nos municípios e a dificuldade de ampliação de soluções em larga escala.

A infraestrutura verde também atua como ponto de convergência entre ciência e conhecimento tradicional. A bioeconomia amazônica depende de uma profunda compreensão ecológica do território, e isso envolve tanto pesquisas científicas — incluindo biotecnologia, genética, ecologia e engenharia florestal — quanto saberes ancestrais de manejo e uso da floresta. Essa articulação é central para garantir que a bioeconomia não reproduza práticas extrativistas predatórias, mas sim que se apoie em cadeias produtivas responsáveis, inclusivas e compatíveis com a conservação da floresta em pé.

A integração entre infraestrutura verde e bioeconomia reforça o posicionamento da Amazônia como protagonista na transição global para economias de baixo carbono. À medida que soluções baseadas na natureza vêm sendo reconhecidas como instrumentos de mitigação e adaptação climática, a região torna-se fundamental para agendas internacionais de sustentabilidade.

A combinação de conservação, inovação tecnológica, inclusão social e valorização do conhecimento tradicional posiciona a Amazônia não apenas como patrimônio ambiental, mas como laboratório vivo de modelos econômicos sustentáveis e replicáveis globalmente — fortalecendo, ao mesmo tempo, sua economia local, segurança ambiental e bem-estar das populações que nela habitam.

Com a colaboração de:

Prof. Dr, Yunier Sarmiento Ramírez possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Amazonas, mestrado em Gestão de Empresas pela Universidad de Holguín – Cuba e doutorado em Economia pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Atualmente é professor da Universidade Federal do Amazonas no Departamento de Economia e Análise – DEA e no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia – PPGSS. Desenvolve pesquisas na área de Economia aplicada, teoria econômica e métodos quantitativos

Sobre o autor

Prof. Dr, José Barbosa Filho possui graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Ceará (1989), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (1992) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Atualmente é professor Titular da Universidade Federal do Amazonas. Desenvolve pesquisas na área de Contabilidade Ambiental, Matemática Financeira e Econometria, com ênfase em Gestão Ambiental, atuando principalmente nas seguintes áreas: valoração ambiental, desenvolvimento sustentável, avaliação de impactos ambientais e gerenciamento de processos.

Contato: jbarbosa@ufam.edu.br

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Pesquisadores identificam vestígios que podem estar entre os mais antigos encontrados no Amazonas

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Seca revela sítio arqueológico pré-colonial em Urucurituba, no Amazonas. Foto: Divulgação/Sejuct Urucurituba

A seca do Rio Amazonas revelou novamente um sítio arqueológico na zona rural de Urucurituba, no interior do estado. O local fica às margens do rio, na vila Augusto Montenegro, e é conhecido pelos moradores há mais de uma década. 

Pesquisadores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) visitaram a área no dia 12 de novembro e identificaram vestígios de cerâmica e ossos que ajudam a contar parte da história dos povos que viveram na região há séculos.

Leia também: Cerâmicas milenares são encontradas em sítio arqueológico no Amazonas durante a seca

Com a redução do nível do rio nos últimos anos, artefatos passaram a aparecer com mais frequência. Por isso, a Secretaria Municipal de Cultura pediu apoio ao Iphan, que realizou a primeira visita técnica ao local.

Segundo o arqueólogo Marco Túlio, do Iphan Amazonas, os vestígios são de um sítio pré-colonial e estão entre os mais antigos já registrados no estado.

“Além das cerâmicas e fragmentos, encontramos material ósseo, vértebras de fauna aquática, muito provavelmente de golfinho ou boto. Essas peças bem preservadas indicam que o local foi ocupado por muito tempo, e que essas populações viviam basicamente da fauna aquática”, explicou.

Pesquisadores analisam vestígios

Os pesquisadores também identificaram terra preta indígena, um tipo de solo escuro e fértil formado pela ação humana ao longo dos séculos.

Esse solo é um dos principais indícios da presença de povos ancestrais na Amazônia, que modificavam a floresta antes da chegada dos colonizadores.

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Para o secretário municipal de Cultura, Maick Soares, a descoberta reforça a importância da memória e do patrimônio histórico da cidade.

“Eles localizaram artefatos, cerâmicas e ossos não só humanos, mas também de vida aquática. É um trabalho que permite resgatar a história dos povos que viveram aqui e valorizar a cultura e a memória da nossa região”, afirmou.

Os artefatos serão analisados e devem integrar o acervo histórico de Urucurituba. A prefeitura pretende abrir o local para visitação e promover atividades com escolas e universidades.

*Por Liam Cavalcante, da Rede Amazônica AM

5 museus históricos para entender a evolução de Belém

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Belém. Foto: Raphael Luz/Agência Pará

Belém é a capital do estado do Pará e uma cidade historicamente plural e com uma cultura diversificada.  Entre ruas centenárias e locais históricos que preservam o passado, os museus da capital paraense guardam parte da memória da região.

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A cidade está em foco durante o período da COP30, realizada entre os dias 10 e 21 de novembro, sendo a primeira capital amazônica a receber o evento que discute as mudanças do clima.

No sistema integrado de museus é possível obter informações sobre os ativos na cidade. Mas para quem está na capital paraense ou pretende visitar, cinco desses museus ajudam a contar sua história e evolução:

Museu do Estado do Pará

O Museu do Estado do Pará possui um conjunto de obras diversificado, como pinturas, mobiliário, acessórios, fotografias, sendo o próprio edifício um patrimônio que conta a história do Pará.

Os objetos culturais fazem parte da exposição de longa duração nos salões nobres do pavimento superior e no pavimento térreo, além de possuir as galerias Manoel Pastana e Antonio Parreiras destinadas a receber mostras de curta e média duração.

  • Endereço: Praça Dom Pedro II, s/n – Cidade Velha, 66020 – 240
  • Telefone: (91) 4009-8513
  • E-mail: museuhistoricodopara@yahoo.com.br
  • Horários: de terça-feira a domingo, das 9h às 17h
Museu do Estado do Pará
Museu do Estado do Pará. Foto: Reprodução/Secretaria de Cultura do Pará

Museu de Arte Sacra

O Museu de Arte Sacra fica localizado no antigo Palácio Episcopal, que antes era o antigo Colégio Jesuítico de Santo Alexandre, e foi aberto ao público em 28 de setembro de 1998. Integrada ao Museu está a Igreja de Santo Alexandre (originalmente Igreja de São Francisco Xavier), construída pelos padres da Companhia entre o fim do século XVII e início do século XVIII.

O museu passou por algumas mudanças arquitetônicas e decorativas e com isso, a Igreja herdou como estilo predominante o barroco e foi inaugurada em 21 de março de 1719.

  • Endereço: Praça Frei Brandão, s/n – Cidade Velha, 66020-240 (Complexo Feliz Lusitânia)
  • Horários: terça a quinta (9h às 14h) sexta, sábado e domingo (9h às 17h)
Museu de Arte Sacra. Foto: Reprodução/Secretaria de Cultura do Pará

Museu de Gemas do Pará

O Museu de Gemas funciona no Complexo São José Liberto, edifício que passou por um processo de adaptação entre os anos de 2000 e 2002. Integrado ao Sistema de Museus, o espaço preserva e valoriza a trajetória da gemologia no Pará, desde o século XVIII até os dias atuais.

Leia também: Museu das Gemas: o lugar ideal para conhecer gemas, minerais e pedras preciosas no Pará

Sua exposição aborda tanto a exploração das gemas quanto os aspectos culturais relacionados à arte de adornar, incluindo os ritos, a confecção de vestimentas e outros artefatos produzidos com as técnicas tradicionais dos povos originários da Amazônia.

O museu também destaca a diversidade e o brilho das gemas, minerais, pedras preciosas e joias inspiradas na história e na cultura regional, que continuam a servir de referência para os ourives e artesãos locais.

  • Endereço: Praça Amazonas, s/n – Jurunas, 66025-070 (espaço São José Liberto)
  • Telefone: (91) 3344-3507
  • Horários: de terça-feira a domingo, das 9h às 17h
Museu de Gemas. Foto: Reprodução/Secretaria de Cultura do Pará

Museu do Círio

E é claro que não poderia faltar o Museu do Círio. Criado em 9 de outubro de 1986, idealizado pelo jornalista e escritor Carlos Roque, teve como primeira sede o subsolo da Basílica de Nazaré. Foi transferido e reinaugurado em dezembro de 2002, passando a realizar suas atividades no Complexo Feliz Lusitânia, no bairro da Cidade Velha.

Possuindo um rico conjunto museológico e arquivístico, o Museu do Círio retrata e produz conhecimento acerca da história da devoção popular em torno da celebração do Círio de Nossa Senhora de Nazaré através de aproximadamente 2 mil peças, divididas em 11 coleções, que vão desde arte sacra do século XIX até a arte popular em objetos de miriti, destacando-se o numeroso acervo escultórico de ex-votos, entre outros itens que testemunham o Círio das origens até a contemporaneidade.

  • Endereço: R. Padre Champagnat, s/n – Cidade Velha, 66020-310
  • E-mail: museudocirio@gmail.com
  • Horários: de terça-feira a domingo, das 9h às 17h
Escultura do Museu do Círio. Foto: Reprodução/Secretaria de Cultura do Pará

Museu da Imagem e do Som

O Museu da Imagem e do Som do Pará foi inaugurado em março de 1971, pouco antes do falecimento de sua idealizadora, a escritora e jornalista paraense Eneida de Moraes. Criado inicialmente para preservar depoimentos de personalidades políticas e artísticas do Estado, o museu ampliou seu propósito ao longo do tempo, passando a registrar e salvaguardar diversas manifestações culturais paraenses, como shows, exposições, debates, palestras, festas religiosas e espetáculos de música, dança e teatro por meio de registros em áudio, vídeo e fotografia.

Atualmente, o museu reúne um acervo diversificado que inclui películas e materiais de cinema, com obras de nomes como Líbero Luxardo, Milton Mendonça e Pedro Veriano. Conta também com uma ampla coleção de folhetos, livros, revistas, catálogos, cartazes, fotografias, roteiros, partituras e programas musicais.

O acervo sonoro abrange fitas cassete, CDs, fitas de rolo e discos de vinil, destacando-se as coleções dedicadas à memória musical de maestros e compositores como Waldemar Henrique e Altino Pimenta. Além disso, o Museu preserva equipamentos das primeiras emissoras de televisão do Pará, como TV Guajará e TV Marajoara, instrumentos musicais e outros itens de valor histórico e cultural.

  • Endereço: Centro Cultural Palacete Faciola, Av Nazaré, 138, Belém-PA
  • E-mail: mis.para@gmail.com
  • Horários: de terça-feira a domingo, das 9h às 17h
Museu da Imagem e do Som. Foto: Secretária de Cultura do Pará

Vale lembrar que os valores referentes às entradas nos museus devem ser consultados, pois dependem da temporada, exposições e outros fatores sazonais.

*Com informações da Secretaria de Cultura do Pará


Em área de fronteira, Acre se torna rota na busca de atendimento de saúde

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Transferência de bebê para Manaus ocorreu no dia 31 de outubro, por volta das 2h da madrugada. Foto: Alefson Domingos/Secom AC

O caso de uma família que saiu de Pauini, no interior do Amazonas, para buscar atendimento médico em Rio Branco, no Acre, para a filha de sete meses no fim de outubro reacendeu a discussão sobre o fluxo de pacientes no sistema de saúde acreano que, apesar de pequeno, atende também pacientes de estados vizinhos e até de países fronteiriços como Bolívia e Peru.

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A pequena Isadora, filha de Raimunda Nonata Avelino e Isaías Sobrinho, diagnosticada com cardiopatia congênita grave, que faz com que o sangue não circule corretamente entre o corpo e os pulmões, precisava de cirurgia urgente.

A família, então, se deslocou por mais de 267 km para pedir atendimento na capital acreana, já que a ida para Manaus ocorre somente por avião ou barco.

Sem estrutura para o procedimento no Acre, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) conseguiu uma vaga em um centro especializado em Manaus, para onde a família foi transferida na madrugada do último dia 31 e segue até então.

Ao Grupo Rede Amazônica, o pai da pequena Isadora, Isaías Sobrinho, atualizou que ela segue internada em Manaus, no aguardo da cirurgia. “Ela está bem, mas está tendo febre. A cirurgia dela está marcada pra quinta-feira [13], mas se a febre não passar, não vai ser feita”, complementou.

O caso mostra a complexidade dos fluxos de pacientes na Amazônia, onde as distâncias entre municípios e capitais são desafiadoras e, muitas vezes, o caminho mais rápido não é dentro do próprio estado.

Leia também: Saiba quais Estados da Amazônia brasileira fazem fronteira com a Amazônia Internacional

Atendimentos

Dados solitados pelo Grupo Rede Amazônica à Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) apontam que, de janeiro a outubro deste ano, foram atendidos quase 50 pacientes de cidades do Amazonas:

  • 23 pacientes de Envira;
  • 21 de Pauini;
  • 2 de Eirunepé; e
  • de Boca do Acre.

Deste último município, distante 220 km da capital acreana, estima-se que o número seja ainda maior, já que os pacientes costumam vir sem ser regulados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

“Estes são os casos que o Samu tem ciência. Porém, vem muito mais [pacientes] que ficam em casas de apoio fazendo tratamento nas unidades da capital”, complementou Necila Fernandes, coordenadora estadual do Samu no Acre.

Além dos quatro municípios citados acima, o Acre também faz fronteira com os municípios de Lábrea (ao oeste), Ipixuna e Guajará (ao leste, mais próximos de cidades como Cruzeiro do Sul).

A profissional explicou ainda que não há como ter controle dos casos que vêm por meios próprios, uma vez que muitos destes são pacientes eletivos ou que fazem tratamentos contínuos.

“A gente tem controle daqueles que vêm pela urgência. Então esses são regulados, ligam aqui no Samu ou muitas vezes nem ligam. Quando a gente menos espera, esses pacientes já estão no aeroporto e o próprio piloto, às vezes, é quem liga”, frisou.

Mais perto de Rio Branco do que de Manaus

A cidade de Pauini (AM), de onde veio os casos mais recentes, está a cerca de 270 km de Rio Branco por estrada, enquanto que para Manaus o trajeto só pode ser feito via aérea ou de barco, que pode durar até uma semana.

Por isso, é comum que famílias procurem atendimento em unidades do Acre, especialmente em cidades como Cruzeiro do Sul, Sena Madureira e Rio Branco, onde há maior estrutura hospitalar.

Situação semelhante ocorreu recentemente com uma gestante, também de Pauini, que também veio a Rio Branco para ter o filho. O bebê foi dado como natimorto após o parto, depois chorou no próprio velório. Este episódio de repercussão nacional levantou questionamentos sobre a logística de atendimento e o papel de cada estado nesses casos.

“Não existe nenhum recurso [de transferência para o estado nessas ocasiões]. O que poderia existir seria um termo de cooperação entre os outros estados com o Acre, repassando os recursos de atendimento desses pacientes, mas isso não existe. Uma vez que o paciente vem para cá e procura o atendimento aqui no estado, já passa a ser responsabilidade do estado”, destacou Necila.

Mapa mostra distância entre Rio Branco, no Acre,  e Pauini, no Amazonas
Distância entre Rio Branco e Pauini, no Amazonas, chega a 270 km. Foto: Reprodução/Google Earth

Fronteira tripla e sistema no limite

Por estar em uma região de tríplice fronteira, o Acre também recebe pacientes da Bolívia e do Peru, especialmente em municípios como Epitaciolândia, Brasiléia e Assis Brasil, quando dão entrada pelo sistema de saúde local. O Samu também não consegue quantificar o número de estrangeiros inclusos neste recorte.

Em um dos casos mais recentes, um adolescente boliviano foi atendido no Pronto-Socorro de Rio Branco após sofrer um acidente de trânsito em Epitaciolândia. Ele não resistiu e morreu 17 dias depois.

Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) seja universal e gratuito, a estrutura não é a mesma em todos os estados. A Necila Fernandes, coordenadora do Samu, destacou que o Ministério da Saúde precisa criar mecanismos específicos para regiões de fronteira, considerando o fluxo de pacientes entre estados e países.

“Às vezes esses pacientes são gravíssimos e eles, simplesmente, só colocam dentro de um avião, sem profissional de saúde, sem nada, e mandam para Rio Branco. Então é desse jeito: é uma regulação meio atravessada. Não existe, de fato, uma regulação responsável. Só colocam o paciente dentro de um avião e dizem assim: ‘tá indo para Rio Branco'”, ressaltou a coordenadora.

Ao Grupo Rede Amazônica, a assessoria do órgão federal informou que é preciso que a Secretaria de Saúde local notifique o Ministério da Saúde sobre a situação de pacientes de outros estados para que, assim, sejam adotadas políticas de apoio ao sistema local.

Já a Sesacre informou à reportagem que a questão relacionada ao atendimento de pacientes de outros estados já foi pauta em assembleias do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), bem como na Comissão Intergestores Tripartite (CIT), instância responsável por regulamentar a organização e o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

“O Acre reafirma que não fechará as portas para nenhum paciente que busque atendimento em sua rede, mas reforça que esse fluxo precisa ser organizado, de forma a garantir o equilíbrio na oferta de serviços e a sustentabilidade do sistema local”, complementou.

Enquanto isso, o Acre segue no papel de ponte humanitária para moradores do interior do Amazonas, de Rondônia e até de países vizinhos, em um sistema que depende da cooperação entre estados.

*Por Renato Menezes, da Rede Amazônica AC