Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. Foto: Divulgação
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, elencou as prioridades da pasta para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em novembro, no Pará. Ela ressaltou que os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos diariamente pelos povos indígenas. Para ela, o tema é urgente e exige um compromisso firme dos países desenvolvidos.
“Muitas pessoas e nós, povos indígenas, já sentimos os impactos das mudanças climáticas no dia a dia, com muitas alterações de estações, com grandes secas e grandes enchentes. É um tema urgente e precisamos cobrar o compromisso dos países desenvolvidos para que assumam acordos que venham, de fato, enfrentar as mudanças climáticas”, disse.
A ministra ressaltou que é fundamental acreditar no sucesso da Conferência a ser realizada no Brasil. “Eu acho que nós temos que focar, acreditar e apostar que essa COP precisa dar certo. É a primeira COP na Amazônia, estamos falando da COP da floresta, da participação, da inclusão e também da implementação. Eu prefiro focar sempre na parte positiva, daquilo que é urgente, do que precisa ser acordado”, afirmou a ministra.
Para Sonia Guajajara, o reconhecimento dos territórios indígenas é uma das pautas prioritárias para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Ela destacou que esses territórios são comprovadamente os mais preservados e detêm a maior biodiversidade do país, graças à forma de vida sustentável dos povos indígenas.
“O que estamos debatendo e apresentando é esse reconhecimento dos territórios indígenas como uma das alternativas eficazes para mitigar a mudança do clima. Comprovadamente são os mais preservados, têm maior biodiversidade e essa proteção é feita pelo próprio modo de vida dos povos indígenas. A gente traz como uma das pautas prioritárias e como uma das medidas para o Brasil alcançar as metas assumidas no Acordo de Paris, com as NDCs”, ressaltou.
Como parte das ações preparatórias para a COP30, a ministra destacou o Ciclo COParente, uma iniciativa estratégica composta por 14 encontros realizados em diferentes regiões do país. O objetivo é articular, informar, debater e mobilizar a participação dos povos indígenas, garantindo que suas vozes sejam ouvidas no evento global.
“Não é só chegar lá e cobrar do governo brasileiro, afinal de contas, a COP30 é um evento global das Nações Unidas e esses líderes precisam assumir compromissos conjuntos. Nós, do Ministério dos Povos Indígenas, estamos com várias iniciativas de preparação para a participação indígena. Estamos agora com o ciclo Coparente, que é essa preparação em todas as regiões do Brasil”, destacou.
*Com informações da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com
Indiscutivelmente, uma iniciativa das mais nobres e edificantes em torno da definição das vocações econômicas da Amazônia e da Zona Franca de Manaus, a promoção da UEA – Universidade Estadual do Amazonas em relação ao 4º Encontro Anual de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Enaepe) realizado nos dias 4 e 6 passados. O Encontro teve como tema “Universidade e Amazônia socialmente referenciadas e sustentáveis” focado em “promover a integração entre os pilares do Ensino, Pesquisa e Extensão, fortalecendo o desenvolvimento humano colaborativo e sócio cultural da comunidade acadêmica do Amazonas”.
O Enaepe destina-se eclusivamente à comunidade acadêmica da UEA, e visa promover a integração dos pilares do ensino, da pesquisa e da extensão, fortalecendo o desenvolvimento humano colaborativo e sociocultural de sua comunidade acadêmica.
Sede da UEA no Amazonas. Foto: Divulgação
O encontro contou com uma programação extensa incluindo painéis temáticos, ciclos de debates, exposições de trabalhos acadêmicos, estandes interativos, talk shows e diversas atrações culturais. A universidade e a Amazônia socialmente referenciadas e sustentáveis, o tema abordado pelo reitor da UEA, André Zogahib, em palestra magna realizada, na terça-feira, 5, quando da abertura do evento. Na ocasião, destacou a atuação da UEA no cenário do ensino superior e em relação às ações da universidade ajustadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que solidificam o compromisso da instituição com a sustentabilidade ambiental.
Para Zogahib, a UEA “atua na missão de promover a educação, construir o conhecimento científico e fomentar a inovação tecnológica para atender às demandas de integração com a sociedade de forma a superar o desafio de desenvolver a Amazônia com sustentabilidade”. Destacou, na oportunidade, que uma dessas iniciativas de maior alcance refere-se ao “projeto Selva”, plataforma inovadora criada para monitorar, em tempo real, queimadas, qualidade do ar, chuvas e descargas elétricas na Amazônia.
À oportunidade do 4º Enaepe cabe salientar que, na estruturação de processo revolucionário capaz de provocar mudanças não se pode perder a noção da extrema necessidade de investimentos em P,D&I. Destes resultarão sólidos fundamentos de uma universidade forte e integrada às idiossincrasias da região por meio de grades curriculares diferenciadas; centros de P,D&I dotados de equipamentos laboratoriais, recursos humanos e financeiros apoiando ininterrupta e consistentemente as exigências da pesquisa aplicada; investir no Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), ferramenta que identifica, cientificamente, as potencialidades oferecidas, de forma diferenciada, pelas mesorregiões econômicas do Estado.
Sede da UEA no Amazonas. Foto: Divulgação
Fundamental não perder a noção de que avanços disruptivos, inovadores, não se desenvolvem apenas por iniciativa unilateral do governo, via Decreto, mas por meio de investimentos em infraestrutura tecnológica, o conjunto de elementos físicos e os sistemas essenciais que dão suporte ao funcionamento de uma sociedade, cidade ou região, de sorte a viabilizar atividades econômicas e sociais. De acordo com o pesquisador Niro Higuchi, do Inpa, o ideal é que esses investimentos possam viabilizar um Vale do Silício amazônico, gerador de novo modelo econômico regional e para a ZFM, em particular, com o emprego de talentos e inteligências aqui formados, aptos a produzir soluções tecnológicas autóctones.
Viabilizar esse novo e necessário ciclo evolutivo pressupõe, penso eu, o conceito alusivo à criação de uma empresa estadual de Pesquisa e Desenvolvimento, com estrutura técnica infensa a influências político-partidários, destinada a promover a governança do sistema de P&D local, ora disperso, desestruturado e contaminado por individualidades sociais, culturais e tecnológicas. Passo fundamental, certamente, para a eliminação do grave distanciamento cristalizado entre o sistema de ensino e pesquisa, o setor privado e a estrutura de planejamento estadual. Certamente, um desafio que a UEA poderia assumir como braço estruturante do processo de construção de uma nova matriz econômica fundamentada na integração PIM/Bioeconomia.
Sobre o autor
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).
Dança, música, exercícios e teatro. Tudo isso e muito mais constou na programação do Verão Amazônico 2025 em Manaus (AM). O evento busca conscientizar a população sobre os cuidados com a saúde e também a consciência ambiental.
Projeto Verão Amazônico chama a atenção do público para ações como a limpeza de praias e rios, cuidados com a saúde, consumo consciente de água, prática de esportes e outros.
Veja um resumo de todas as atividades do Verão Amazônico em Manaus:
Verão Amazônico
O ‘Verão Amazônico’ é uma iniciativa do Grupo Rede Amazônica e integra campanha educativa, conteúdo jornalístico, pílulas nos intervalos com dicas de saúde e meio ambiente e ativação presencial. O projeto chama a atenção do público para ações como a limpeza de praias e rios, cuidados com a saúde, consumo consciente de água, prática de esportes e outros.
Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br
A rainha Veritas estava cansada de tanta polêmica. De cada assessor ouvia uma versão sobre Deus. Ao ouvir, dava razão a um, mas depois pensava que o que outro falava fazia sentido também. Um terceiro trazia novos argumentos, e isso vinha confundindo a sua cabeça, o que afetava todo o reino. A população já não sabia em quem acreditar, e a verdade era cada vez mais confundida com as fake news que, já na época, ameaçavam a felicidade. Se, por um lado, uma nova tecnologia trazia facilidades e comodidades, por outro, confundia ainda mais o que era e o que não era realidade. Cabia a ela, a Rainha Veritas, definir o que era a Verdade e dar um direcionamento ao seu povo. A questão a definir era: onde está Deus, afinal?
A rainha resolveu convocar uma grande audiência pública, onde ouviria dos principais interessados os seus argumentos e depois decidiria, por decreto, a Verdade sobre onde está Deus.
O reino parou nesse dia, e todos se deslocaram para a grande praça em frente ao castelo. Formaram-se torcidas organizadas, e as grandes correntes elegeram seus representantes. O clima era de decisão de um campeonato mundial. Mais do que isso. Afinal, o que estava em questão era Deus, uma força superior à própria Rainha. Veritas abriu a palavra para quem quisesse falar, de forma objetiva, em poucos minutos.
O primeiro a levantar a mão foi o representante dos agnósticos: — Grande Rainha Veritas, não existem evidências sequer da existência de Deus. Se ele existisse mesmo, não encontraria uma forma de se manifestar e se comunicar conosco?
O cientista prontamente tomou a palavra, fazendo calar a torcida dos agnósticos: — A natureza se manifesta todos os dias, quando amanhece e quando o Sol se põe. A função de cada célula, em cada órgão, e o seu papel para o funcionamento dos organismos, demonstram que existe uma inteligência na criação. A ciência, com métodos rigorosos, vem avançando, sem superstições ou crenças populares, na descoberta da Verdade. É preciso um distanciamento frio e objetivo, até um certo ceticismo, para não comprometer a isenção dos fatos. Só a ciência poderá, um dia, comprovar a existência de Deus. Se Deus existe, Ele está na ciência, onde se avança na compreensão da Verdade.
A torcida da ciência, sem euforia, batia palmas formalmente.
— Perdão, Vossa Majestade, mas é muita petulância dizer que Deus está na ciência — disse o sacerdote, que conseguiu, depois de uma acirrada disputa interna, sair como legítimo representante das religiões que, pelo menos, tinham uma crença comum: Deus estava na religião. — Todos sabem que Deus está nas igrejas, onde oramos e recebemos Suas bênçãos. Ele se comunica por meio de nossos Mestres e tem em nós, sacerdotes, seus verdadeiros representantes e agentes do bem. A Verdade, Grande Rainha Veritas, como a senhora bem sabe, é que Deus está na religião.
Desta vez, a massa parecia ir ao delírio, cada uma nos seus próprios ritos, louvando a Deus.
Os filósofos defenderam que somente a autorreflexão faria o homem encontrar Deus. Com criatividade, os artistas invocaram a riqueza da natureza, a música, a literatura, as artes cênicas e a própria beleza humana para demonstrar que Deus era arte e que era na arte que se encontrava Deus.
Por fim, os patrocinadores do evento foram chamados pela rainha, que perguntou: — O que pensam os empresários?
— Sua Majestade, somos concorrentes entre nós, e não conseguimos chegar a um consenso. A maioria de nós não mistura Deus com os negócios, mas busca por Ele quando as coisas estão difíceis. Outros acreditam que Deus protege a sua empresa, mas não a do concorrente. Uma boa parte pensa que, ao empreender e fazer o seu melhor para os diversos públicos, está fazendo a vontade de Deus. — Não houve manifestação do público.
Após refletir sobre o que cada um disse, a Rainha Veritas tomou a sua decisão, fazendo valer como A Verdade para todos os tempos. Os historiadores e arqueólogos ainda não localizaram o tal decreto. Sabe-se apenas que todas as torcidas saíram felizes do tal encontro, e que a Verdade e o progresso voltaram a prevalecer no reino da Rainha Veritas.
E, para você? Onde está Deus, afinal?
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
Estudo identifica cerca de 11 mil empreendimentos ligados à sociobiodiversidade. Foto: Divulgação/Observatório castanha da Amazônia
A categorização como bioindústria considera critérios de sustentabilidade ambiental, inclusão produtiva, agregação de valor local e uso de ativos da biodiversidade amazônica. Os empreendimentos também são avaliados quanto ao estágio de formalização, acesso a mercados, grau de inovação e práticas de beneficiamento ou transformação industrial.
A iniciativa está alinhada à Missão 5 da Nova Indústria Brasil (NIB) e tem como objetivo orientar políticas públicas e estratégias de investimento voltadas ao fortalecimento da bioeconomia amazônica. O estudo permanece em andamento e, até a conclusão prevista para dezembro de 2025, a expectativa é de que o número de bioindústrias mapeadas seja duplicado.
O levantamento priorizou cadeias produtivas com alto valor socioambiental, como açaí, castanha, cacau, guaraná, babaçu, buriti e mandioca. Um dos destaques é o Arranjo Produtivo Local (APL) de óleos vegetais e fitocosméticos no Vale do Juruá (AC), que reúne cooperativas como a Coopercintra e a Coopfrutos, apoiadas pelo Programa REM Acre – Fase II.
Estudo identifica cerca de 11 mil empreendimentos ligados à sociobiodiversidade. Foto: Divulgação/REM MT
Além dos empreendimentos, o estudo também identificou 589 registros de acesso ao patrimônio genético e 2.790 notificações de uso de conhecimento tradicional associado, conforme dados do Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen). Esses números refletem o cumprimento da Lei nº 13.123/2015, que regula o acesso ao patrimônio genético brasileiro e estabelece regras para a repartição de benefícios, reconhecendo e protegendo os direitos das populações tradicionais sobre seus saberes ancestrais.
De acordo com a diretora de Economia Sustentável e Industrialização da ABDI, Perpétua Almeida, o mapeamento contribui para o avanço de políticas industriais sustentáveis:
“Esse trabalho é fundamental para orientar investimentos e políticas públicas. A bioindústria pode ser a chave para aliar preservação ambiental e geração de renda para as populações locais”, afirma.
Estudo identifica cerca de 11 mil empreendimentos ligados à sociobiodiversidade. Foto: Divulgação
Foram mapeados ainda 42 Arranjos Produtivos Locais (APLs) e Indicações Geográficas (IGs) com potencial estratégico, com destaque para o APL do Açaí (PA), a IG da Castanha do Brasil (AC) e o APL do Guaraná de Maués (AM).
A metodologia do levantamento combina análises de dados secundários com coleta primária em campo — por meio de entrevistas, visitas técnicas e formulários — com apoio de uma rede de bolsistas e especialistas em bioeconomia atuando em toda a Amazônia Legal. Essa abordagem híbrida permite uma leitura mais aprofundada e territorializada das cadeias produtivas vinculadas à sociobiodiversidade.
Desafios e perspectivas
A pesquisa também identificou obstáculos que limitam o avanço da bioindústria na região, como lacunas normativas, insegurança jurídica, entraves fiscais e desafios logísticos.
Para a gerente de Cooperação e Inteligência Competitiva da ABDI, Cynthia Araújo, os dados levantados reforçam a importância de políticas públicas integradas para fortalecer a bioeconomia na região:
“A Amazônia ocupa papel central nas políticas de biodiversidade do país. Para transformar esse potencial em desenvolvimento concreto, é necessário avançar em ações que promovam a valorização econômica local, com sustentabilidade, segurança jurídica e o fortalecimento das capacidades existentes”.
Estudo identifica cerca de 11 mil empreendimentos ligados à sociobiodiversidade. Foto: Divulgação
Na mesma linha, a pesquisadora de Políticas Públicas do IPAM, Rafaela Reis, destaca que o ecossistema produtivo da bioindústria já está em curso e, com apoio necessário, pode crescer e se consolidar:
“A bioeconomia na Amazônia já existe. O que falta é criar o ambiente adequado para que ela se fortaleça e escale. Estamos falando de políticas que garantam acesso, visibilidade, estrutura e oportunidades para os empreendimentos que nascem e resistem nos territórios.”
Ela reforça que o estudo considera elementos estruturais fundamentais para o desenvolvimento sustentável da região:
“Quando falamos em estruturar uma bioindústria na Amazônia, falamos de construir um modelo que valorize o conhecimento tradicional, a inovação local e que esteja alinhado às políticas públicas nacionais e aos arranjos territoriais”.
Embalagens de chocolate indígena Ita’Aka
Cynthia Araújo acrescenta que a plataforma digital resultante do estudo será estratégica para consolidar essas ações:
“A plataforma vai organizar os dados e conectar atores, atraindo investimentos e garantindo que as comunidades locais sejam as primeiras beneficiadas. O objetivo é manter as informações atualizadas, evitando que o mapeamento seja apenas uma fotografia pontual”, conclui.
O lançamento oficial da plataforma com dados atualizados sobre a bioindústria na Amazônia está previsto para novembro de 2025, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém (PA).
O problema ambiental e de saúde pública causado por um lixão a céu aberto na cidade de Islândia, no Peru, preocupa moradores do município amazonense de Benjamin Constant, na fronteira Brasil-Peru-Colômbia. O depósito irregular de resíduos, que inclui restos de comida, plásticos e até frascos de soro, está localizado próximo ao rio Javarizinho — curso d’água que deságua nos rios Javari e Solimões, atingindo comunidades brasileiras.
Entre os mais afetados estão os moradores do Ramal Diana, comunidade ribeirinha de Benjamin Constant mais próxima ao lixão por via fluvial. Lá, vive Marluce Rodrigues, dona de casa, que depende diretamente do rio para o dia a dia.
“Eu tomo banho nessa água, eu lavo vasilha, lavo roupa, só não faço comida, mas o resto tudo é aí”, conta.
Benjamin Constant vive preocupação com lixão em rio de cidade peruana vizinha. — Foto: Rede Amazônica
Pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) já identificaram contaminação nas águas da região. Segundo a pesquisadora Alcinei Pereira Lopes, responsável pelo monitoramento, a situação representa risco grave.
“Nós encontramos principalmente um pH baixo, oxigênio dissolvido baixo e presença de coliformes totais e termotolerantes em todos os pontos analisados. É um problema não só ambiental, é um risco à saúde pública”, alertou Alcinei.
Autoridades locais pedem ação urgente. O secretário de Meio Ambiente de Benjamin Constant, Gladson da Silva, afirma que a solução depende de articulação internacional.
“Se a gente não fizer nada, não tiver nenhum tipo de alternativa ou apoio, a problemática só aumenta. Temos que buscar alternativas para melhorar essa situação”, disse.
Islândia é a cidade peruana mais próxima ao Brasil. Foto: Man77/Wikimedia Commons
O Ministério do Meio Ambiente informou que o governo peruano pediu prazo para apresentar um estudo com soluções e que o Brasil seguirá as negociações diplomáticas. Há também a intenção de captar recursos para construir um aterro sanitário regional em Benjamin Constant, que possa atender as cidades do Alto Solimões.
Numa região onde predominam água e floresta, o lixão a céu aberto chama a atenção: é o lugar de descarte da cidade de Islândia, departamento de Loreto, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.
O vilarejo é conhecido como a Veneza peruana porque, assim como a cidade italiana, fica tomado por água boa parte do ano.
Agora, no período de vazante dos rios, a terra firme aparece e deixa ainda mais evidente tudo que é jogado fora: de restos de comida até o que poderia ser reciclado, como plásticos.
O problema se agrava durante o período da cheia. Há pouco mais de dois meses, a maior parte dos resíduos sólidos estava submersa. Frascos de soro indicavam, inclusive, um possível descarte irregular de lixo hospitalar.
*Com informações de Ruthiene Bindá, da Rede Amazônica
A Região Norte do Brasil, que abriga quase 18 milhões de habitantes, enfrenta como problema estrutural a precariedade do saneamento básico. A maioria de suas capitais destacam-se negativamente nas últimas posições do Ranking do Saneamento 2025, um estudo do Instituto Trata Brasil baseado em dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA) com ano-base 2023.
As cinco capitais que figuram nas últimas posições do Ranking 2025 são: Manaus (AM) na 87ª posição; Belém (PA) na 95ª; Rio Branco (AC) na 97ª; Macapá (AP) na 98ª; e Porto Velho (RO) na 99ª.
Indicadores de saneamento nas capitais da Região Norte. Fonte: SINISA 2023. Elaboração: GO Associados.
Nessas capitais, a média de atendimento de água é de 64,2%, índice significativamente inferior à média nacional de 83,1%. Em relação ao serviço de coleta de esgoto, o cenário é ainda mais alarmante, no qual, a média dessas cinco capitais é de apenas 17%, muito aquém da média nacional de 55,2%. Os índices de tratamento de esgoto são igualmente preocupantes, com uma média de apenas 23,4% do esgoto coletado sendo tratado – a média nacional é de 51,8%.
Esses indicadores precários têm um efeito direto na saúde e na qualidade de vida dos habitantes. A ausência de água tratada e de coleta e tratamento de esgoto fomenta a proliferação de doenças de veiculação hídrica, que afetam as atividades cotidianas da população, comprometendo tanto o estudo das crianças quanto a produtividade dos trabalhadores.
A Região Norte do Brasil, que abriga quase 18 milhões de habitantes. Foto: Divulgação
Há um longo caminho para que a Região Norte alcance as metas de universalização do saneamento até 2033, que envolvem atingir 99% de atendimento de água e 90% de coleta e tratamento de esgoto. Para isso, será imprescindível a estruturação de políticas públicas robustas e maiores investimentos na infraestrutura básica. A universalização do saneamento tem o potencial de melhorar a qualidade de vida, como também impulsionar todos os pilares da região nos âmbitos social, econômico e ambiental.
*Com informações do Trata Brasil
Veja: Realidade Amazônica: Igarapés de Manaus 2025
Amazonas lidera desmatamento da Amazônia em junho. Foto: Divulgação
Mesmo com uma leve redução no desmatamento da Amazônia em junho de 2025, os dados revelam um cenário preocupante no estado do Amazonas, que liderou a destruição da floresta no período. De acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), divulgado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), foram perdidos 326 km² de floresta em toda a região amazônica no mês — 18% a menos do que em junho de 2024. No entanto, o ciclo anual do desmatamento, que vai de agosto de 2024 a julho de 2025, já acumula aumento de 11% em comparação ao ano anterior.
Imagem aérea de desmatamento registrada pelo Greenpeace durante sobrevoo no estado de Roraima em abril de 2021. Foto: Greenpeace Brazil
A pesquisadora do Imazon Larissa Amorim alertou que, apesar da queda momentânea, a área devastada ainda equivale a mais de mil campos de futebol derrubados por dia. “Essa baixa pode refletir os resultados das ações de prevenção e fiscalização, mas os números elevados indicam que a vegetação nativa segue sendo destruída em ritmo preocupante e reforçam a necessidade de intensificar essas medidas”, declarou.
O estado do Amazonas foi responsável por 28% da área desmatada na Amazônia em junho, à frente de Mato Grosso (26%) e Pará (25%). Juntos, os três estados concentraram 79% da destruição registrada no mês. No recorte por municípios, três dos dez mais impactados estão em território amazonense, com destaque para Apuí, que lidera o ranking pela terceira vez consecutiva desde fevereiro de 2025.
Além disso, o Amazonas concentra cinco dos dez assentamentos rurais mais afetados pelo desmatamento e cinco das dez terras indígenas com maior perda de cobertura florestal. Esses dados revelam a crescente pressão sobre áreas que, por definição legal, deveriam ser protegidas ou utilizadas de forma sustentável.
Desmatamento em Lábrea, Amazonas. Foto: Greenpeace Brazil
A pesquisadora do Imazon Manoela Athaíde chamou a atenção para a recorrência de áreas protegidas entre as mais desmatadas. “É preocupante a recorrência de algumas áreas protegidas no ranking, já que são destinadas ao uso sustentável. Isso significa a ocorrência de crimes ambientais dentro desses territórios. Por isso, eles devem ser o foco das ações de monitoramento e fiscalização, garantindo a proteção dos ecossistemas e das comunidades”, afirmou.
O desmatamento acumulado nos últimos meses também evidencia um agravamento nas dinâmicas de degradação florestal. No período entre agosto de 2024 e junho de 2025, a Amazônia perdeu 34.924 km² de vegetação degradada, uma área superior à da cidade de Porto Velho, capital de Rondônia. Isso representa um aumento de quatro vezes em relação ao mesmo intervalo anterior, impulsionado especialmente pelas queimadas ocorridas em setembro e outubro de 2024.
Em junho de 2025, a degradação atingiu 207 km², um aumento de 86% em comparação a junho do ano passado. Esse processo inclui tanto os danos provocados pelas queimadas quanto os causados pela exploração madeireira. Segundo Larissa Amorim, “essa época do ano, historicamente, não corresponde à fase mais crítica de queimadas na Amazônia. Então, a elevação que observamos representa um sinal de alerta”.
Embora o Pará tenha liderado em degradação no mês (com 57% do total registrado), os dados revelam que o Amazonas enfrenta uma combinação complexa e crescente de ameaças à integridade de suas florestas. A presença recorrente de municípios como Apuí nos rankings mensais, a devastação em terras indígenas e assentamentos, e a pressão contínua sobre áreas protegidas evidenciam a urgência de estratégias mais eficazes de combate aos crimes ambientais no estado.
“Ainda não posso acreditar como saí vivo desta aventura”
Com essas palavras, o mateiro Álvaro Paulo da Silva, conhecido como Mineiro Alto, resumiu o desfecho da tragédia que se tornou a expedição liderada pelo padre João Calleri em outubro de 1968, na floresta amazônica. Álvaro foi o único sobrevivente da missão que visava o contato pacífico com os indígenas Atroaris, grupo indígena isolado que ocupava as terras entre o rio Branco e os limites com a então Guiana Inglesa, hoje República da Guiana.
A jornada, embalada pela promessa da integração nacional e pelo avanço da BR-174, envolveu órgãos como a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), o Ministério da Aeronáutica e a Prelazia de Roraima.
Inspirada por Altamiro Veríssimo da Silveira, então chefe do 1º Distrito Rodoviário Federal, a expedição contava com nove integrantes,entre mateiros, técnicos e missionários, e partiu com o objetivo de conquistar a confiança dos silvícolas e afastá-los da área de influência da rodovia.
No entanto, a promessa de aproximação se transformou em uma das maiores tragédias envolvendo o contato entre indígenas e não indígenas na Amazônia brasileira.
De acordo com um texto publicado no Instituto Durango Duardo (IDD), a expedição de Calleri foi cuidadosamente planejada. Além de armamentos e mantimentos, o grupo levava presentes como facões, fósforos, anzóis e utensílios domésticos, objetos destinados a estabelecer relações amistosas com os atroaris.
Dois grupos foram formados no trajeto: um permaneceu na chamada Maloca Queimada, enquanto outro, liderado pelo próprio padre, seguiu adentrando a floresta.
Nos primeiros dias de contato, os sinais eram positivos. As trocas culturais aconteciam, os indígenas colaboravam com a montagem do acampamento, e o cacique Maruaga demonstrava abertura ao diálogo. Mas a cordialidade inicial cedeu espaço a tensões crescentes. Gesticulações agressivas, silêncio desconfiado e o recuo dos indígenas deram início ao clima de hostilidade.
Um incidente pontual pode ter acirrado os ânimos: Calleri teria advertido um índio por remexer em utensílios do acampamento, utilizando o termo “maripanã”, que os indígenas associam a “arma de fogo”. O gesto foi interpretado como uma ameaça.
Sentindo que o ambiente se tornava cada vez mais perigoso, o mateiro Álvaro pediu permissão para deixar o acampamento. O padre autorizou sua saída no dia 31 de outubro. Segundo o relato de Álvaro, ele partiu levando uma espingarda, um cachorro, algumas conservas e farinha.
Dias depois, ao passar pelas proximidades da Maloca da Esperança, avistou dois corpos. Fugiu pela mata, construiu uma jangada e foi resgatado por caçadores e geólogos. Suas declarações à Força Aérea Brasileira impulsionaram as buscas.
No entanto, seu testemunho foi inicialmente recebido com desconfiança. Um rádio entregue anteriormente por Calleri a um colega de missão relatava que o mateiro havia fugido no dia 28, três dias antes do que ele afirmava. Havia ainda dúvidas sobre como ele teria construído sozinho uma jangada e conseguido sobreviver à selva por tantos dias.
As dúvidas começaram a se dissipar no final de novembro, quando equipes encontraram vestígios do acampamento: objetos pessoais, remédios, ferramentas e alimentação deteriorada. Dias depois, os primeiros ossos foram encontrados. Restos mortais de oito pessoas, entre eles o crânio do padre Calleri, estavam espalhados em diferentes pontos da clareira.
A análise dos corpos revelou as cenas brutais da tragédia: crânios esmagados por trás, mãos amarradas com cipós, perfurações por flechas e costelas fraturadas. Tudo indicava que os membros da expedição haviam sido mortos a golpes de borduna, facão e flechas. A estratégia dos atroaris teria sido eliminar o grupo aos poucos, com calma e método.
Equipe encontra as ossadas. E na outra imagem, um dos possíveis assassinos. Foto: Reprodução/ISA
Lições e omissões
A tragédia gerou uma onda de comoção nacional e debate sobre a política indigenista da época. Muitos apontaram falhas graves na condução da expedição: desde a ausência de apoio militar na floresta até a estratégia de lidar com os indígenas.
O Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) foram criticados por delegar ao padre Calleri plenos poderes sem prever mecanismos de apoio ou segurança.
Especialistas argumentam que o padre, embora experiente e idealista, falhou ao lidar com a complexidade cultural dos atroaris. Acostumados a receber presentes sem contrapartidas, os indígenas teriam se revoltado diante da política de “troca justa” imposta pela missão.
A BR-174, cuja construção foi suspensa durante a expedição, já avançava na região com 180 km desmatados e 300 operários atuando. O avanço da estrada, sem um plano de proteção aos povos isolados, foi visto como uma ameaça direta ao modo de vida dos atroaris.
Imagens de algumas vítimas. Foto: Reprodução/IDD
O legado de Calleri
O padre João Calleri era uma figura respeitada na Igreja e na Comissão Pró-Índio da Prelazia de Roraima. Tinha como princípio que “índio não se pacifica, apenas se aproxima para evitar choques”. Sonhava ser missionário na África, mas encontrou na Amazônia seu destino final. Na contracapa de um de seus livros de cabeceira, ‘Canto do Amor na Floresta’, anotou: “Este é um homem que deve ser seguido até o fim”.
A última mensagem enviada por ele resume a tensão vivida nos últimos dias da expedição:
“Com extrema facilidade passam do sorriso aos gestos mais violentos para nos perturbar… A realidade é muito difícil. Aqui a boa vontade, a união e serenidade de toda a equipe é maravilhosa. Saudações, Pe. Calleri”.
O massacre da expedição do padre Calleri é um marco na história da política indigenista brasileira, um alerta sobre os perigos da arrogância civilizatória e da ausência de diálogo intercultural. Nas palavras do antropólogo Darci Ribeiro: “Na perspectiva de um índio, nós somos a tribo feroz.”
Roraima celebra colheita recorde de grãos. Foto: Nelo Figueiredo
A Fazenda Ouro Verde, localizada na Gleba Cauamé, em Alto Alegre, foi o palco da Abertura Oficial da Colheita de Soja 2025, um dos eventos mais aguardados do calendário do agronegócio roraimense. A cerimônia reuniu centenas de pessoas, entre produtores, autoridades, técnicos, empreendedores e visitantes, em uma programação que celebrou os avanços da produção agrícola no estado, neste sábado, 9.
Roraima atingiu 132.421 hectares de área plantada, vivenciando hoje um crescimento expressivo no setor de grãos. Foto: Nelo Figueiredo
Realizado em conjunto pela Aprosoja-RR (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Roraima), Faerr (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Roraima) e Governo de Roraima, o evento teve como destaque a colheita simbólica da soja, visita aos 31 estandes de empresas patrocinadoras e um almoço coletivo.
Com o tema alusivo ao início da colheita no lavrado roraimense, a programação contou com 57 patrocinadores de diversas áreas: agronegócio, insumos agrícolas, nutrição animal, venda de calcário, tecnologia com drones, maquinários, caminhões e combustíveis, refletindo o dinamismo e a diversidade do setor produtivo do estado.
O governador Antonio Denarium destacou os números da produção de soja em 2025. “A produção da soja em Roraima tem sido impulsionada por investimentos em pesquisa, infraestrutura e regularização fundiária. Em parceria com diversas instituições, o governo estadual tem oferecido assistência técnica e apoio aos produtores, incluindo a entrega de títulos rurais. A soja é o principal produto da pauta de exportação do estado, e a expectativa é de uma safra de cerca de 500 mil toneladas em 2025, impulsionando ainda mais o desenvolvimento e atraindo novos investidores e produtores de todo o Brasil”, pontuou.
A cerimônia reuniu centenas de pessoas, entre produtores, autoridades, técnicos, empreendedores e visitantes. Foto: Nelo Figueiredo
Roraima atingiu 132.421 hectares de área plantada, vivenciando hoje um crescimento expressivo no setor de grãos. Em apenas sete anos, entre 2018 e 2025, a área total plantada saltou de 56.887 ha para 163.251 hectares, um aumento de quase 200%.
O secretário Marcio Grangeiro reforça: “A soja é o carro-chefe do agronegócio local. Em 2018, eram 37.670 hectares cultivados; hoje são mais de 132 mil. A produtividade também subiu: de 47,9 sacas por hectare em 2020 para uma expectativa de 62,9 sacas por hectare em 2025. Esses números refletem o investimento em tecnologia, capacitação e manejo inteligente”, explicou o titular da Seadi (Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação).
“Estamos hoje com a maior área plantada de soja da história de Roraima. Superamos 132 mil hectares plantados, com uma expectativa de superarmos 500 mil toneladas de produção. Isso é um grande feito, fruto de um trabalho realizado pelo Governo do Estado com todos os produtores rurais, conhecimento e investimento em tecnologias”, complementou Grangeiro.
Integração, sustentabilidade e expansão
De acordo com estudo realizado pelo Governo de Roraima, via Seadi, em parceria com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), além da soja, a produção de milho e arroz também vêm crescendo no estado. O milho passou de 9.155 hectares (2018) para 17.770 hectares (2025); o arroz, de 10.062 hectares para 13.310 hectares no mesmo período.
Na edição 2025, foram visitadas 222 propriedades e 201 produtores foram entrevistados. Foto: Nelo Figueiredo
Na edição 2025, foram visitadas 222 propriedades e 201 produtores foram entrevistados. O levantamento apurou dados sobre área de plantio, produção, produtividade, previsão de safra e uso de tecnologias.
O estudo também revelou a existência de 31 silos em Roraima, sendo que 27 estão em operação, 2 desativados e 5 em construção. Os silos estão distribuídos nos municípios de Alto Alegre, Boa Vista, Bonfim, Cantá, Mucajaí, Rorainópolis e São João da Baliza.