Projeto testa aquaponia como alternativa para criar peixe e produzir verduras no Amazonas

A aquaponia é uma possível alternativa na direção da produção de alimentos de forma sustentável. A pesquisa é realizada no município de Humaitá. 

A aquaponia é uma alternativa para diversificar a forma como se produz alimento. Conhecida e praticada há mais de 30 anos em países como Estados Unidos, Austrália, China e alguns da Europa, ela é  uma forma de criar peixe e produzir hortaliças sem a intenção de substituir a hidrocultura, nem a aquicultura, mas de somá-las para um melhor aproveitamento de ambas. Pesquisa realizada no Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA), situado no município de Humaitá, estuda a aplicação da aquaponia no Amazonas.

Muito praticadas no Amazonas, a hidrocultura ou hidroponia (técnica de cultivar plantas sem o uso de solo, normalmente em solução de água e nutrientes) e a aquicultura ou aquacultura (tratamento do ambiente aquático para a criação de peixes, mariscos, répteis, plantas e etc) costumam funcionar isoladamente. Mas por meio da aquaponia, as duas trabalham de forma complementar, já que esta trata todo o efluente (resíduo líquido dos tanques) – antes desperdiçado na hidrocultura e na aquicultura.

Arte: Repordução/Ufam

Desenvolvido com apoio da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em Humaitá, o projeto ‘Avaliação de um sistema de aquaponia em escala semicomercial como potencial fonte de alimentos frescos e saudáveis para populações urbanas’ foi selecionado no edital Nº 005/2018, do Programa de Apoio à Fixação de Doutores no Amazonas (Fixam), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), tendo o IEAA como local de aplicação. 

Coordenado pela pesquisadora Otilene dos Anjos Santos, o projeto está em fase final de execução.

“A aquaponia integra as técnicas de aquicultura (criação de peixes) e hidroponia (produção de plantas sem solo). A vantagem é que a técnica permite utilizar os dejetos dos peixes para adubar as plantas. Ou seja, é uma produção orgânica com benefícios sócio ambientais. A água com nutrientes circula no sistema de forma que não há necessidade de adição de fertilizantes como ocorre na hidroponia. Além disso, não faz uso de agrotóxicos para as plantas e nem antibióticos aos peixes. É, na verdade, um ecossistema vivo produzindo alimento de fonte animal e vegetal ao mesmo tempo”, 

revela a pesquisadora.

De acordo com a coordenadora, no Brasil, as pesquisas sobre aquaponia são realizadas principalmente com tilápias, mas ela e sua equipe estão utilizando a técnica para testar o efluente de tambaquis (Colossoma macropomum) como fonte de nutrientes para adubar as hortaliças, sendo este um dos dois principais problemas investigados no trabalho e que ainda não possui registro científico.

“Considerando que no Estado do Amazonas não é permitido o uso de espécies exóticas na aquicultura, é preciso investir em pesquisas com os peixes nativos e ver a viabilidade de criá-los em um sistema inovador”, explica. 

“O segundo problema é selecionar algumas espécies-chave que são mais efetivas na filtragem dos nutrientes e com isso melhoram a qualidade da água. Todo tipo de hortaliça folhosa pode ser produzida na aquaponia, mas umas são mais eficientes que outras e isso tem um peso grande quando estamos falando em tratar os efluentes da aquicultura”, expõe. 

Além dos dois primeiros problemas, os pesquisadores também precisam lidar com a ausência de dados sobre a viabilidade econômica e técnica do sistema em uma escala semicomercial para a região Norte. Como são pioneiros em trabalhar com um sistema dessa escala, é preciso avaliar se vale a pena investir nessa tecnologia inovadora para que ela seja acessível ao pequeno e grande produtor. “Estamos realizando testes como por exemplo, testando a eficiência de cariru (Talinum triangulare) e do manjericão (Ocimum basilicum) em limpar a água principalmente retirando compostos como nitrato e fosfato, dois dos principais nutrientes que causam eutrofização de rios, igarapés quando não tratados (na aquicultura). Os resultados preliminares mostraram que o cariru é bem mais eficiente que o manjericão”, aponta a coordenadora.

Supervisor da instituição de vínculo do projeto, no caso a Ufam, o professor André Bordinhon, é o responsável em auxiliar e oferecer toda a ajuda necessária para a execução do projeto no IEAA. “A aquaponia é uma possível alternativa na direção da produção de alimentos de forma sustentável. O desenvolvimento deste tipo de tecnologia precisa passar pelo processo de desenvolvimento que a Otilene está realizando”, declara o professor. “Então a viabilidade é uma construção. E essa pesquisa é um passo (ou alguns passos) nessa direção. É assim que eu vejo esse estudo”, completa.

O projeto deve ser concluído até abril de 2023. Segundo Otilene Santos, ainda serão realizados dois experimentos, além de material didático para servir de currículo para as universidades como ferramenta didática nas aulas práticas. “Os resultados ainda estão sendo analisados. Colhemos apenas dados do primeiro experimento. Essa técnica já é uma realidade em vários países, EUA, Austrália e muitos da Europa. São inúmeras fazendas aquapônicas ao redor do mundo produzindo alimentos de forma sustentável”, finalizou. 

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